Mostrar mensagens com a etiqueta arquitectura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta arquitectura. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, setembro 09, 2009

Vida de rato


Duas situações estranhas como só as coisas verdadeiramente estranhas podem ser.

Primeiro: um estranho e interessante conceito arquitectónico trazido por Alejandro Aravena, do Chile, no seu projecto Elemental. Num contexto de investimento de baixo custo, Aravena lidera uma equipa que projecta... meias casas! É isso mesmo, meias casas. A ideia tem o seu quê de genial. O arquitecto debate e "contrata" com as pessoas que irão habitar e usufruir do espaço, tendo em vista futuros acrescentos levados a cabo pelos habitantes (na imagem podemos ver o Elemental antes e depois dos acrescentos). É o conceito mais radical da criação artística contemporânea levado ao projecto arquitectónico. Muito interessante.

A segunda situação que me chamou a atenção tem a ver com Brad Pitt, esse sacana sem lei. Aqui há uns tempos li que o senhor Pitt ponderava a possibilidade de refrear a sua carreira como actor para se dedicar a uma outra paixão, a arquitectura. Ora toma! Como, pelos vistos, o grande Bradley continua a iluminar os écrãs com actuações interessantes, vai daí terá projectado uma casinha para os ratos dos filhos no valor de 57 mil dólares. Uma mansão, na qualificação da notícia que li. Ora então, temos um projecto de baixo custo com meias casas para pessoas (no Chile, no México e, em projecto, no Brasil) e um outro, de alto custo, para ratos, não sei onde.

Se isto não é estranho então não sei o que possa sê-lo.

terça-feira, março 18, 2008

Rota dos mamarrachos

O centro comercial conhecido como Fórum Almada (ou será Almada Fórum?), um forte candidato a figurar numa rota dos mamarrachos do concelho com a sua inenarrável sereia como ponto de interesse particular


Uma ideia para promover certas zonas dos país em termos quase turísticos: estabelecer rotas locais de mamarrachos. A minha querida cidade de Almada, por exemplo. Vítima do implacável correr do tempo, é uma cidade feia de meter medo. Debruçada nas costas do rio, mais para cá do que para lá, tem nas paisagens que rouba a Lisboa o ponto alto do interesse estético em termos urbanos.


A cidade, própriamente dita, é de fugir. A arquitectura caótica e a atávica ausência de um plano urbanístico fazem de Almada uma espécie de gigantesco projecto assinado por um qualquer engenheiro de quinta categoria. Horripilante e deprimente, são dois vocábulos que me assaltam a mente de imediato e sem esforço.



O ponto alto de Almada (literalmente) é o Cristo Rei. Mas os turistas deslocam-se em direcção a esse monumento ignorando a restante cidade. No lugar deles faria o mesmo. Mas, imaginemos, se houvesse uma promoção adequada de certos mamarrachos que não sei bem se desfeiam se alindam a cidade, talvez se pudesse aguçar uma certa curiosidade mórbida, levando os turistas a procurarem os locais indicados na perspectiva excitante de poderem gozar um pouco a desgraça alheia. Assim a modos que uma feira de enormidades com a mulher barbuda ou o homem-tronco a acender cigarros sem a ajuda de braços nem de pernas.



Quem diz Almada diz inúmeras urbes horrendas que pagam o preço de séculos de boçalidade e ignorância estética (para não falar da ausência de ética) e que pontuam o mapa de Portugal com os seus nomes tenebrosos. Aqui fica esta proposta, à atenção dos autarcas da minha terra: promovam-se as rotas dos mamarrachos. Façamos do horrível algo de belo, quanto mais não seja tentemos rir da nossa desgraça. Sem medos.

sábado, outubro 13, 2007

Efeito borboleta

A inauguração da nova igreja em Fátima é um acontecimento estrondoso. Se os pastorinhos nela entrassem decerto ficariam convictos de estarem a pisar o chão do Paraíso. E ninguém havia de os convencer do contrário.
Há 90 anos atrás as criancinhas da foto acima viram, algures na serra de Aire, "uma senhora mais brilhante que o sol" que identificaram como sendo a Nossa Senhora. Foi esta a sementinha que agora germina numa igreja devotada à mãe de Cristo, erigida com o dinheiro de esmolas e outras pias doações, pela módica quantia de 70 ou 80 milhões de euros (mais 10 ou menos 10 milhões é uma questão de pormenor) para glória de Deus nas alturas e espanto do Seu rebanho, cá em baixo, neste imenso vale de lágrimas que é o planeta Terra.
Não deixa de ser um desenvolvimento espantoso, um crescendo de fé imenso e espectacular. O altar da dita igreja parece-me, pelas imagens que tenho visto na imprensa e na TV, um cenário grandioso e ofuscante, coberto de ouro e representando figuras que evocam as formas artísticas das antigas basílicas bizantinas. Um misto de opulência estética e soberbo exibicionismo do poder da hierarquia católica, capaz de custear e mandar erigir tamanha monstruosidade e beleza. Com este templo regressa a velha questão: o dinheiro gasto na construção não poderia ser aplicado de um modo mais... católico?
Seja como for é mais uma imensa obra arquitectónica que abre as portas às multidões e lhes oferece visões de obras de arte que elevam este mundo a um patamar mais próximo do outro.