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Uma casa abandonada, negra por fora, como se as paredes tivessem sido pintadas com a noite, surgiu-me hoje na cabeça, já o dia se começava a despedir da chuva e do vento. O frio permanecia. Ler o jornal tem destas coisas. Saltamos de texto em texto, viramos as páginas e mudamos abruptamente de cenário e de argumento, com protagonistas muitas vezes sem face nem passado. A maior parte deles sem futuro. Amanhã o jornal irá para o saco de restos deste mundo com destino certo para o contentor da reciclagem.
Já me estou a perder. Foi a casa abandonada que me surgiu na cabeça a motivar este texto que não sei onde irá parar nem percebo muito bem de onde surgiu. Escrevê-lo é como passear numa ruela esconsa de um bairro pouco recomendável. Voltemos à casa arruinada.
A vida que ela já teve, a alegria que lhe iluminou as paredes por dentro e deixou sorrisos em quem passava na rua lá fora, tudo isso já nem recordações são. Restam apenas esquecimento e ervas daninhas, janelas partidas e portas desengonçadas. A casa está a meio caminho entre um passado remoto e uma eternidade a prazo.
A casa é uma metáfora do nosso planeta. E é isso que dói perceber. O mais certo é que lá fora, no espaço sideral, nem sequer passará nada nem ninguém que possa sentir saudade ou nostalgia do que fomos. E, mesmo que passasse, como iria recordar a humanidade ao olhar o nosso planeta decrépito e arruinado? Ao olhar a casa em ruínas quem se lembra das formigas?