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quarta-feira, março 08, 2023

Reflexos do passado (e do futuro)

     Não sou gajo de perder muito tempo defronte ao espelho. Com o andar da carruagem tenho-me tornado numa espécie de burro velho e grisalho, não sinto grande atracção pelo meu próprio reflexo. Isso não quer dizer que me estou absolutamente nas tintas para o meu aspecto. Nada disso. Apenas não perco muito tempo a pensar no que me transformei nem sinto particular saudade por aquilo que fui outrora. A barriga teima em ficar como está.

    Ainda assim, quando dou por ela, estico a nuca e tento manter uma certa postura ao caminhar na rua. Depressa esqueço e volto ao andar marreco. Estica, marreco, marreco, estica, sempre dá um certo colorido ao acto banal de pisar o passeio.

    Gosto de me imaginar como sendo jovial e bem-disposto. Daí que me ria bastante comigo próprio quando vejo o tal gajo grisalho, com a sua barriguita e meio marrequito a olhar-se no espelho depois de uma bela banhoca matinal. Sei que não sente grande tristeza por ser assim. Sei também que se vai tentando convencer de que a beleza é algo interior, uma confusão qualquer entre Ética e Estética, mas, lá no fundo, pensa que a beleza e a perfeição não precisam dele para nada. E ficamos bem assim.

domingo, setembro 30, 2018

A Arte não é para todos

 Um Amor Assim É Coisa Pra Não Ter Fim (2018)

Escrevo o título deste post e fico a pensar na diferença entre Arte e arte. Lembro-me de ser miúdo, quando, naquele mundo distante, os artistas eram os pedreiros e os carpinteiros. Depois cresci e fui modificando a forma como filtrava a palavra "artista". Durante muito tempo era sinónimo de vigarista ou de habilidoso, alguém que se safava na vida através de uma certa esperteza, as mais das vezes, saloia.


Estava longe de imaginar que um dia viria a ser considerado um artista. Nem pedreiro, nem espertalhão, mas um outro tipo de artista. Plástico.

Mas o que caracteriza um artista plástico neste Portugal do século XXI? Sinceramente, a resposta é algo que me escapa. Não sei como explicar. Tenho umas ideias...

Olhando para o panorama das artes plásticas tal como se me oferece através da janela dos meios de comunicação, quando a Arte é com "A", percebo que não faço parte daquela paisagem. Significa isso que, nas artes plásticas, há mais do que um mundo? Sim, obviamente.

Já aqui o escrevi mais do que uma vez: a minha arte é com "a". É o meu desejo, é a minha fé. Sonho produzir objectos que permitam estabelecer comunicação com um número alargado de pessoas, mesmo aquelas que desconfiam de mim e da minha arte por não terem o hábito nem a presunção de compreender o que está perante os seus olhos.

A meu ver a arte deve abrir hipóteses e oferecer possibilidades. Livremente e sem complexos. Sei bem que a Arte não é para todos.

terça-feira, novembro 22, 2016

Confissão

Eu gostava de ser bom como o Papa Francisco, gostava de ter aquela compaixão couraçada que ele mostra quando aconchega os fracos e os oprimidos e estica as orelhas aos exploradores e aos filhos da puta.

Eu gostava de ter a missão de espalhar a fé na justiça e na amizade entre os povos como vai fazendo António Guterres com aquele aspecto de suportar às costas um peso imenso sem nunca perder a coragem.

Oh, como gostava de sentir a inspiração das grandes causas, a força da esperança que outros depositassem em mim!

Mas não, sou um gajo com maus fígados. Dou por mim a desprezar certas pessoas que, se calhar, até nem merecem desprezo, a desejar que certos figurões se fodam forte e feio, não tenho a auréola de santo que gostaria de ter.

Enfim, sou obrigado a viver dentro de mim próprio, a suportar os pensamentos desviantes que me sopram aos ouvidos canções bandidas. É assim que sou. E, verdade, verdadinha, até que nem desgosto.

sábado, fevereiro 24, 2007

Ética para que te quero?

A Morte de Sócrates por J. L. David


O procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, disse hoje, em Coimbra, que “não há ainda em Portugal uma consciência ética forte que censure a corrupção”, comentando um estudo segundo o qual “os portugueses são permissivos face à corrupção”.
Talvez fosse boa ideia apostar numa disciplina de Ética nas nossas escolinhas. Agora que a Educação e Moral foi definitivamente posta no caixote do lixo da educação, onde é, nítidamente, o seu lugar, era de apostar na Ética. Mais disciplina menos disciplina nem havia de se notar...
Na Moral havia um madraço a vigiar as consciências daí que fosse mais fácil enxamear de vespas as cabeças da criançada. Deus, o pai, etc. e tal, não havia muito que enganar. Portas-te mal levas no focinho e ainda vais bater com os ossos no inferno. Linear.
Já na Ética será difícil encntrar macaquinhos para habitarem o sótão da consciência. Quem vigia quem? O próprio indivíduo? Está bem abelha, é um ver-se-te-avias de folguedo e depravação.
Temos de começar a pensar nesta merda com cabeça de gente. A Ética começa em casa, no seio da família, no grupo de amigos, na escola. Cada um de nós a ser modelo de si próprio para exemplo do outro.
Difícil, não? Mas apaixonante.