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1 de agosto de 2012

R.G. ARMSTRONG - 17/4/1917 - 27-7-2012


No mês de junho este blog publicou a biografia do ator R.G. Armstrong.
Um mês depois, R.G. veio a falecer, exatamente no último dia 27 de julho,
aos 95 anos. WESTERNCINEMANIA presta homenagem a esse vilão
peckinpahniano com um pequeno trecho de "Pat Garrett and Billy the Kid",
 western em que R.G. tem um de seus melhores, mais delirantes e brutais
desempenhos. Aparecem no vídeo James Coburn (Pat Garrett),
Kris Kristofferson (Billy the Kid), Matt Clark (Bell).


21 de junho de 2012

R.G. ARMSTRONG – O INTOLERANTE DOS WESTERNS DE SAM PECKINPAH


Ele é um daqueles atores que podem ser classificados na lista dos “Rostos que não esquecemos e nomes que não lembramos”. Comum também é alguém exclamar quando ele surge na tela: “Esse ator sempre faz papel de louco!” E essa impressão se deve às tantas vezes em que R.G. Armstrong interpretou pregadores intransigentes e enlouquecidos atacando os pecadores, grande parte dessas atuações em faroestes e quatro deles dirigidos por Sam Peckinpah.

NADA DE IGREJA - Robert Golden Armstrong nasceu no dia 7 de abril de 1917, no condado de Wylam, em Birmingham, no Alabama. O pequeno Robert cresceu vendo seu pai tratar os filhos com extrema violência, agredindo-os fisicamente todos os dias e Robert apanhava junto. Os pais de Robert eram cristãos fundamentalistas e o sonho da senhora Armstrong era ver o filho Robert num púlpito pregando as lições da Bíblia. O problema é que isso nunca agradou ao menino que cresceu numa fazenda do Alabama. Quando foi para o colégio Robert era um dos mais altos e mais fortes da sua turma, destacando-se no futebol norte-americano. Ao chegar à faculdade o grandalhão Robert se interessou pela Literatura e passou a escrever poesia e peças para teatro, chegando mesmo a atuar em algumas delas. Recrutado pelo Exército, Robert adiou seus planos artísticos até retornar da II Guerra Mundial quando conseguiu uma bolsa na Universidade da Carolina do Norte, conseguindo o grau de Mestre em Arte Dramática. Naquela Universidade Robert ensinou por um ano mas não queria ensinar e sim ser um autor inspirado como seu ídolo William Faulkner.

AJUDA DE ELIA KAZAN - A vida teatral norte-americana centrava-se em Nova York, para onde Robert G. Armstrong se mudou e conheceu Eva Marie Saint que o introduziu no Actor’s Studio. Em 1954 Armstrong foi tentar a sorte em Hollywood e sua estréia no cinema se deu numa produção independente de baixo orçamento chamada “Garden of Eden”. Sem novas oportunidades na capital do cinema, Armstrong retornou a Nova York onde fez parte do elenco da peça “Gata em Teto de Zinco Quente”. Essa peça era o maior sucesso da Broadway, com Elia Kazan dirigindo o texto de Tennessee Williams que atingiu 694 apresentações. Já reconhecido como bom ator, Armstrong foi convidado para o papel principal de uma nova peça de Tennessee Williams que se chamou “Orpheus Descending”. Como muitos atores oriundos do Actor’s Studio faziam sucesso no cinema, lá foi Armstrong tentar novamente a sorte em Hollywood, só que desta vez ajudado por Elia Kazan. O famoso diretor lhe conseguiu um pequeno papel em “Um Rosto na Multidão” estrelado por seu ex-colega de turma da Universidade da Carolina do Norte, o ator Andy Griffith.

Acima Armstrong em "Caçada Humana"
com Don Murray e Malcolm Atterbury na
foto; abaixo com Audie Murphy.
PRIMEIROS FAROESTES - Em 1958 Robert Golden era um homem maduro, já com 41 anos. No teatro havia adotado o nome artístico de R.G. Armstrong e com esse nome trabalhou bastante na TV e no cinema. Foi nesse ano que R.G. atuou em “Império de um Gângster”, que tinha no elenco o jovem Steve McQueen. Foi nesse ano também que R.G. estreou num gênero novo para ele, o faroeste e o filme foi “Caçada Humana” (From Hell to Texas), de Henry Hathaway. Nesse western Armstrong tem um papel de destaque interpretando um sádico rancheiro. Em 1959 Armstrong era um dos únicos amigos do pistoleiro interpretado por Audie Murphy em “Balas que Não Erram” (No Name in the Bullet). Relembrando os tempos da Broadway, R.G. interpretou mais uma vez um personagem de Tennessee Williams, desta vez em “Vidas em Fuga”, em que era um sheriff que o rebelde personagem de Marlon Brando respeitava. O rosto diferente de R.G. Armstrong começava a se tornar familiar no cinema.


R.G. Armstrong em "Vidas em Fuga", com Marlon Brando; abaixo o judiado
Jaguar XK-120 de Joanne Woodward com Marlon e R.G. observando.

R.G. acima em "Pistoleiros do Entardecer";
no centro com o 'Major Dundeea Charlton
Heston; abaixo enxotando 'Cable Hogue'
Jason Robards.
ENCONTRO COM SAM PECKINPAH - Em 1960 um fato importante ocorreria na carreira de R.G. Armstrong e não foi a sua participação no western “Ten Who Dared”, com Ben Keith e Ben Johnson no elenco. Foi nesse ano que Armstrong atuou no segundo episódio da série “The Westerner”, série criada e dirigida por um jovem chamado Sam Peckinpah. O diretor percebeu que R.G. possuía uma pouco comum expressão no olhar. Aquela expressão diabólica que Peckinpah sempre admirou. Sam e R.G. ficaram amigos e o próximo trabalho do diretor seria no cinema com o filme “Pistoleiros do Entardecer” (Ride the High Country). Nesse western havia para Armstrong um papel que ninguém faria melhor que ele, o de um fanático seguidor da Bíblia. Novamente dirigido pelo amigo Peckinpah, Armstrong praticamente repetiu o papel de fanático religioso em “Juramento de Vingança” (Major Dundee). Foram dezenas as participações de R.G. em séries de TV, mas na série policial “T.H.E Cat”, estrelada por Robert Loggia, Armstrong interpretou um Capitão da Polícia em doze episódios. Em 1966, mostrando versatilidade, R.G. foi um simpático fazendeiro em “Eldorado”, contracenando com John Wayne. Depois de alguns filmes menos notáveis, em 1970 R.G. se reencontrou com Sam Peckinpah em “A Morte Não Manda Recado” (The Ballad of Cable Hogue), interpretando um banqueiro sovina e sem visão comercial. Nesse mesmo ano R.G. atuou em “A Grande Esperança Branca”, drama sobre boxe de Martin Ritt.

R.G. em "Pat Garrett e Billy the Kid";
no centro com Luke Askew, Cliff Robertson e
Wayne Sutherlin em "Sem Lei e Sem
Esperança"; abaixo com Terence Hill
em "Meu Nome é Ninguém".
R. K. ARMSTRONG - Quando um filme torna-se Cult é porque poucos o assistiram. Esse foi o caso de “Sem Lei e Sem Esperança” (The Great Northfield Minesotta Raid) em que R.G. Armstrong tem um dos principais papéis como um bandido que se junta aos irmãos James e Younger. Muito aclamado também foi o filme seguinte de R.G. Armstrong, pela quarta e última vez sob a direção de Sam Peckinpah, “Pat Garrett and Billy the Kid”. Neste western primoroso R.G. em uma memorável atuação interpreta um sheriff que descarrega seus tormentos pessoais no prisioneiro Billy the Kid. Daí em diante R.G. Armstrong se tornou um dos atores coadjuvantes mais disputados do cinema e muitos roteiristas criavam personagens pensando nele. Nessa época R.G. havia se divorciado da primeira esposa, com quem permaneceu casado por 10 anos e com quem teve seus quatro filhos. Em 1973 o ator se casou novamente e fez sua única experiência no cinema europeu, numa pequena mas marcante atuação em “Meu Nome é Ninguém” (Il Mio Nome è Nessuno), estrelado por Henry Fonda. Acostumados a trocar nomes, a produção italiana creditou Armstrong nesse spaghetti-western como R. K. Armstrong. Com os faroestes em baixa, R.G. Armstrong atuava sem parar em outros gêneros, sempre se impondo com seu rosto de poucos amigos e olhar aterrador. Entre esses filmes os mais importantes foram “O Céu Pode esperar”, com Warren Beatty e “O Guarda-Costas”, de Bob Rafelson, com Jeff Bridges. 1976 marcou o fim do segundo casamento de Armstrong que entrava nos seus 60 anos de idade.

Uncle Lewis Vendredi
ASSUSTAR É MINHA PROFISSÃO - Assim como se tornara amigo de Sam Peckinpah, R.G. Armstrong era também bastante estimado por Warren Beatty que nos anos 80 era um dos nomes mais fortes do mundo do cinema. Beatty chamou Armstrong para a superprodução “Reds”, que apesar do grande elenco foi mal nas bilheterias. O alemão Wim Wenders contou com R.G. no elenco de seu filme norte-americano “Hammett – Mistério em Chinatown”, de 1982. Em 1984 R.G. participou de “Colheita Maldita”, baseado em história de Stephen King. Em 1986 R.G. interpretou um general em “Predador”, um dos muitos sucessos de bilheteria de Arnold Schwarzenegger. Na série de TV canadense “Sexta-Feira 13” R.G. Armstrong apresentou-se para a nova geração de espectadores criando o assustador 'Tio Lewis Vendredi' que não deixava ninguém dormir sem sobressaltos após assisti-lo na série.

Acima R.G. Armstrong como 'Pruneface';
abaixo fotos mais recentes.
HOMEM AFÁVEL E EDUCADO - Um dos grandes sucessos do cinema de 1990 foi “Dick Tracy”, dirigido e produzido por Warren Beatty que o chamou para interpretar o cruel 'Pruneface' E Armstrong, ao lado de B'ig Boy Caprice '(Al Pacino), 'Mumbles' (Dustin Hoffman) e 'Flattop' (William Forshyte), formou um time incomparável de vilões que infernizaram a vida do famoso detetive criado por Chester Could para as histórias em quadrinhos. Depois de se divorciar da segunda esposa, em 1976, Armstrong só voltaria a se casar em 1993, então beirando os 80 anos. A nova esposa era uma moça 30 anos mais nova que fez o ator muito feliz. E mesmo octogenário Armstrong não parava de trabalhar, no cinema e na TV, como na refilmagem de “O Homem da Máscara de Ferro”, de 1998. Em 1999 R.G. Armstrong apareceu em “Purgatório”, western feito para a TV estrelado por Sam Shepard. Em 2001, aos 84 anos, R.G. fez o papel principal no terror “The Waking”, filme pouco digno para encerrar uma carreira tão brilhante em que assustou o público em mais de 80 filmes. Curiosamente, Robert Golden Armstrong, o ‘Bob’ para os amigos, é um homem afável, educado, caloroso, completamente diferente dos tipos que criou nos filmes. Armstrong ficou viúvo em 2003 e somente abandonou o cinema e os palcos devido a ter ficado praticamente cego. Bob completou 95 anos em abril último. Mas seus pequenos olhos nunca saíram das retinas dos cinéfilos, mesmo daqueles que não lembravam seu nome.

R.G. Armstrong e seus pequenos e penetrantes olhos.