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31 de março de 2012

SÉRIES WESTERNS DE TV - "O TEXANO"


Assim como Jesse James, Billy the Kid, John Wesley Harding e outros notórios bandidos do Velho Oeste foram transformados em heróis pelo cinema, o mesmo aconteceu com Bill Longley, fora-da-lei que virou mocinho na TV, sendo interpretado por Rory Calhoun na série “O Texano”.

Acima o verdadeiro Bill Longley
O BANDIDO BILL LONGLEY - William Preston Longley nasceu em Austin, Texas e viveu apenas 27 anos, o suficiente para aterrorizar as cidades por onde passou, roubar bancos, desertar da Cavalaria dos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão, assassinar pelo menos cinco pessoas (a primeira quando tinha 15 anos), até ser preso e executado em Galveston, no Texas. Esse sádico facínora era apropriadamente chamado de ‘Bloody Bill Longley’ ou também ‘The Texan’ e foi com este último apelido que a televisão o mostrou de maneira totalmente diferente da realidade. Na TV o bandido Bill Longley foi transformado num homem corajoso, defensor da lei e dos oprimidos, sendo rapidíssimo no gatilho. A história da série que no Brasil recebeu o título de “O Texano” começou quando Rory Calhoun e o produtor Victor M. Orsatti acreditaram que era o momento de lançar uma série de TV estrelada pelo ator. Calhoun e Orsatti já se conheciam pois Rory havia atuado no filme “Vôo para Hong-Kong” e nos faroestes “O Revólver Mercenário” (The Hired Gun), “A Lei do Oeste” (Ride Out for Revenge), “Dominó Kid, o Vingador” (Domino Kid), “O Poder da Vingança” (Apache Territory), todos produzidos por Orsatti para o cinema. Esses filmes custavam pouco e davam lucro, mas não o suficiente para deixar o produtor e o ator satisfeitos. Foi então que Rory Calhoun e Victor Orsatti decidiram criar a Rorvic Productions e produzir um seriado de aventuras para a televisão com a ação passada no mar, bem longe do Velho Oeste.

Rivais na TV: John Payne e Rory Calhoun
RORY CALHOUN X JOHN PAYNE - Victor M. Orsatti era vizinho de Desi Arnaz pois moravam na mesma rua e Desi era dono da famosa Desilu Productions em sociedade com a esposa Lucille Ball. Arnaz propôs então a Victor Orsatti que fizessem uma parceria e produ-zissem um projeto que a Desilu guardava há tempos com carinho numa prateleira, uma série faroeste que seria intitulada “O Texano”. Orsatti gostou da idéia e a Rorvic e a Desilu se juntaram para produzir a nova série estrelada por Rory Calhoun, ao custo de 40 mil dólares por episódio. O primeiro episódio foi ao ar no dia 29 de setembro de 1958 com o titulo “Law of the Gun”. A série era filmada nos estúdios da Desilu produtora que havia comprado todo o lote da extinta RKO Pictures. As cenas externas eram normalmente rodadas perto dali, em Iverson Ranch, em Los Angeles. A série “O Texano” era exibida pela CBS, às segundas-feiras à noite, com episódios de 25 minutos de duração, concorrendo no mesmo horário com a série “Restless Gun”, estrelada por John Payne, exibida pela NBC. “Restless Gun” já tinha um público cativo pois começara a ser exibida em 1957 e prejudicada por essa concorrência “O Texano” nunca chegou a ser uma série campeã de audiência sendo seu melhor resultado a 15.ª colocação nos índices de levantamento do número de telespectadores. A pergunta que cabe é por que a programação de duas séries faroestes no mesmo dia e mesmo horário. A explicação é simples: havia apenas três redes – a CBS, a ABC e a NBC – e nada menos que 48 séries westerns eram produzidas naquela temporada de 1958/59, ou seja, poucas opções de horários nas grades das emissoras.

À esquerda Rory Calhoun em "O Colosso de Rodes".
28 MILHÕES DE TELESPECTA-DORES - Mesmo sem ter alcançado grande audiência “O Texano” emplacou a segunda temporada e para desespero de Rory Calhoun que era sócio da Rorvic que era parceira da Desilu, ele pratica-mente não via a cor do dinheiro dos patrocinadores Viceroy (cigarros) e Lever (sabonete). A princípio Rory Calhoun estava bastante satisfeito com a série que estrelava na TV, afirmando que mesmo juntando muitos dos westerns que fizera para o cinema na década de 50, jamais conseguiria ser visto por 28 milhões de telespectadores numa só noite, que era o número que a Nielsen Ratings (o Ibope norte-americano) indicava como público de “O Texano”. Ao final da segunda temporada (1959/1960), a CBS manifestou interesse na continuação da exibição da série, mas Rory Calhoun entendeu que atuando apenas como ator ele poderia ganhar mais dinheiro que acumulando também a arriscada função de produtor. Após 78 episódios de “O Texano” Rory Calhoun fez as malas em 1960 e foi atuar na Europa, onde foi dirigido inicialmente por um quase desconhecido diretor italiano chamado Sergio Leone em “O Colosso de Rodes”. A seguir, ainda na Europa, Calhoun atuou em “O Segredo de Monte Cristo” e em “As Aventuras de Marco Polo”.

Acima à esquerda Rory e seu dublê
Reg Parton; à direita Douglas Kennedy,
o primeiro Bill Longley da TV;
abaixo Rory Calhoun e Lita Baron
PARTICIPAÇÃO DE LITA BARON - Rory Calhoun conhecia bem a história de Bill Longley, até porque em 1954 a série de TV “Histórias do Século” (Stories of the Century) havia focalizado o fora-da-lei, que foi interpretado naquele programa por Douglas Kennedy, de forma realista, mostrando-o como verdadeiro bandido. Calhoun, no entanto, queria que seu personagem ‘Bill Longley’ fosse uma espécie de Robin Hood do Oeste, o que sem dúvida conseguiu, ainda que distorcendo totalmente os fatos referentes à biografia de ‘Bill Longley’. Na série “O Texano” Rory Calhoun montava um cavalo pinto chamado Dominó e assim como nos filmes em que atuava, faroestes ou não, Calhoun era dublado nas cenas de perigo por Reg Parton. Algumas vezes creditado como Regis Parton, esse stuntman também atuava como ator no cinema, aparecendo também em vários episódios de “O Texano”. A então esposa de Rory Calhoun, a atriz espanhola Lita Baron, nascida em Almería, também participou de alguns episódios de “O Texano”, interpretando uma personagem chamada ‘Dolores’. Rory e Lita permaneceram casados por 22 anos (1948-1970). Durante a segunda temporada da série “O Texano” ocorreu a tentativa de contar histórias em três ou até mesmo em quatro episódios, com a intenção clara de segurar a audiência e ainda poder editar os episódios e posteriormente lançá-los como longa-metragem no cinema, o que acabou não acontecendo.

O RORY CALHOUN BRASILEIRO - “O Texano” foi exibido no Brasil na década de 60 e tinha boa audiência entre as séries westerns. Entre os telespectadores daqueles anos havia um chamado Décio Maffezzoni, gaúcho de Erechim radicado em São Paulo e que certamente pode ser apontado como um dos grande fãs de Rory Calhoun. Décio sempre colecionou os filmes de Calhoun, seu ator favorito em qualquer gênero, especialmente nos faroestes e para ele nenhum outro ator, nem mesmo John Wayne ou Clint Eastwood, supera Rory Calhoun. Entre seus amigos o gaúcho Maffezzoni é conhecido como ‘Décio Rory Calhoun’, o que o enche de orgulhosa satisfação. Alguns episódios de “O Texano” podem ser encontrados no Brasil, geralmente dublados, e os fãs da série aguardam que seja lançado por aqui o box-set com 10 DVDs que foi lançado nos Estados Unidos em 2008. Essa caixa contém 70 dos 78 episódios exibidos originalmente, com excelente qualidade de áudio e imagem e comprovam que “O Texano” foi uma das inesquecíveis séries westerns da TV.
Nas fotos à direita Décio Rory Calhoun Maffezzoni (acima);
a caixa com as duas temporadas
de "O Texano" ainda não
lançada no Brasil.

Rory Calhoun