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29 de abril de 2014

NEIL SUMMERS, ATOR, STUNTMAN E ESCRITOR COMPLETA 70 ANOS DE IDADE


Nada é mais engraçado que um inglês se fazendo passar por cowboy. Está certo que Richard Harris e Stewart Granger até que se saíram bem nas diversas oportunidades em que atuaram em westerns, mas a fleugma britânica fazia deles estranhos no ninho. Victor McLaglen que também era inglês era sempre um irlandês na Cavalaria. E como esquecer John Cleese como o esquisito Sheriff Langston em “Silverado”? Um inglês, no entanto, passou sem problemas por homem do Velho Oeste e demonstrou como poucos seu amor pelo faroeste, não só como fã do gênero mas e principalmente participando de filmes na condição de dublê e muitas vezes como ator. Esse inglês ainda escreveu livros essenciais sobre as séries westerns de TV e ao completar 70 anos mantém-se em invejável atividade se fazendo presente em praticamente todos os eventos que envolvem a Velha Guarda do Western nos Estados Unidos. Seu nome pode ser menos conhecido, mas o rosto com formato de roedor de Neil Summers todo fã de faroeste conhece.

atores ingleses em faroestes: Stewart Granger, Richard Harris, John Cleese
e Victor Mclaglen.

Neil Summers com o dublê de John Wayne,
o grande Chuck Roberson.
Aos 20 anos com John Wayne - Neil Summers nasceu em 28 de abril de 1944 emKent, próxim a Londres, na Inglaterra. O pai de Neil, Walter Summers era um conhecido esportista campeão de ciclismo Em 1958 sua família se mudou para Phoenix, no Arizona e a grande diversão do adolescente Neil era assistir faroestes pela TV. Justamente nessa temporada foi atingido o ápice do número de séries westerns produzidas pelas três grandes redes de televisão norte-americanas (NBC, CBS, ABC), com 48 programas exibidos semanalmente. O adolescente Neil assistiu ao melhor que o gênero apresentava na telinha dos televisores e ainda havia o cinema com John Wayne comandando uma elite de atores que nos brindava com grandes westerns, secundados pelos incansáveis Randolph Scott e Audie Murphy com os saborosos westerns de menor orçamento. Aos 18 anos, após concluir a Camelback High School, em Phoenix, Neil Summers já havia decidido que iria se aproximar de seus ídolos e a melhor maneira seria conseguir trabalho substituindo-os nas cenas arriscadas, tornando-se dublê. Afinal de contas seu pai, Walter Summers beijara o chão muitas vezes, ciclista famoso que fora na Inglaterra. O primeiro filme em que Summers atuou como stuntman foi “Quando um Homem é Homem” (McLintock), de 1963, estrelado por John Wayne. Esse faroeste teve grande número de stuntmen para as muitas cenas perigosas, algumas delas filmadas num autêntico lamaçal. Summers teve nessa produção da Batjac a companhia de dublês famosos como Tap e Joe Cannut, Jerry Gatlin, Boyd ‘Red’ Morgan, Hal Needham, o ‘Bad Chuck’ Roberson, o ‘Good Chuck’ Hayward e o lendário Tom Steele dos seriados da Republic Pictures. Melhor início de carreira impossível!

Summers acima em "Roy Bean, o
Homem da Lei" e abaixo em
"Meu Nome é Ninguém".
Chance pelas mãos de Sergio Leone - Aos 20 anos de idade Neil Summers teve a honra de trabalhar como dublê num filme de John Ford, mais precisamente o último faroeste do Mestre das Pradarias que foi “Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn), de 1964. Vieram a seguir trabalhos arriscados, entre outros filmes em “Shenandoah”, “Duelo em Diablo Canyon” (Duel at Diablo), “Eldorado”, “A Noite dos Pistoleiros” (Rough Night in Jericho) e, dirigido por Monte Hellman, em “A Vingança de um Pistoleiro” (Ride in the Whirlwind). Nesse western que tinha Jack Nicholson no elenco o diretor Hellman deu a primeira oportunidade como ator a Neil Summers, percebendo que ele poderia ser mais que um simples stuntman. Summers começou a aparecer mais vezes como ator entre os muitos trabalhos que fazia como dublê, um deles em “Roy Bean, Homem da Lei” (The Life and Times of Judge Roy Bean), protagonizado por Paul Newman e que foi assistido por Sergio Leone. O notável diretor italiano notou a presença de Neil Summers interpretando um personagem chamado ‘Snake River Rufus Krile’ e fez contato com Summers convidando-o para uma participação especial em sua nova produção intitulada “Meu Nome é Ninguém” (Il mio Nome è Nessuno). Entre diversos atores norte-americanos que participaram desse filme, cuja direção é atribuída a Tonino Valerii, estavam Henry Fonda, Geoffrey Lewis, R.G. Armstrong e Leo Gordon e mesmo assim Neil Summers se destacou numa sequência que foi dirigida pelo próprio Leone que inventou para Neil o engraçado personagem ‘Squirrel’ (Esquilo).

Dois volumes do primeiro livro escrito
por Neil Summers.
O autor Neil Summers - Bastante conhecido entre os stuntmen, não faltava trabalho para Neil Summers que também era contratado como ator, como aconteceu em diversos episódios das séries “Gunsmoke” e “Bonanza”. Com isso Neil realizou outro sonho, o de trabalhar com seus ídolos da TV James Arness, Lorne Greene e os demais ‘Cartwrights’. E nos anos 80 Neil apareceu em “Duro na Queda” (The Fall Guy), em que o protagonista Lee Majors vive as aventuras de um... dublê como o próprio Summers. A literatura sobre cinema ou mais especificamente sobre o gênero western era crescente nos Estados Unidos nos anos 80, mas o mesmo não se podia dizer de livros editados sobre séries de televisão. Apaixonado pelas séries de TV, clássicas ou não, Neil Summers se propôs a preencher essa lacuna editorial com a publicação do “The Official TV Western Book”, trabalho gigantesco diante do número enorme de séries a serem pesquisadas. Em 1986 foi lançado o volume 1 que seria seguido pelos lançamentos de outros três volumes, num trabalho que só alguém duro na queda poderia completar. Os quatro livros compõem um dos mais ricos levantamentos fotográficos já editados e têm como bônus fotos recentes dos veteranos atores das séries, muitas delas na companhia do autor (ator e dublê) Neil Summers. E não é demais afirmar que poucos fizeram tantos amigos em Hollywood quanto o inglês Neil Summers.

Livros de autoria de Neil Summers.
Prosseguimento na carreira de ator - O sucesso desse primeiro projeto editorial levou Neil Summers a editar nos anos seguintes “Candid Cowboy, volumes I e II” (1989) e “The Unsung Heroes” (1996), este último sobre os anônimos dublês que substituem os personagens dos filmes nas cenas de perigo. O preço desse livro é quase proibitivo pois custa (novo) a bagatela de 306 dólares na Amazon. Em 2002 novo lançamento falando sobre séries de TV: “The Official TV Western Round Up Book”, capa dura ao custo de 122 dólares. Neil Summers não lançou outros livros desde então, mas mantém-se em plena atividade como dublê em dezenas de filmes de gêneros diversos e também como ator. Neil Summers teve pequenas participações em filmes de sucesso como “Coração Selvagem” (Wild at Heart), “RoboCop, o Policial do Futuro” (RoboCop), “Dick Tracy”, “Lucky Luke”, “Quatro Mulheres e um Destino” (Bad Girls), “Um Sonho de Liberdade” (The Shawshank Redemption), “A Volta de Trinity” (Botte di Natale) e “Appaloosa – Uma Cidade Sem Lei” (Appaloosa). Em 2010 Neil Summers participou dos filmes “Jordan” e “Rancho do Amor”, até agora seus últimos trabalhos como ator.

Neil Summers, que acabou na companhia
de John Wayne...
Memorabilia e muitos amigos - Neil Summers é dono de uma das maiores ‘memorabilia’ cinematográfica (coleção de objetos relacionados ao cinema, TV e filmes em geral) voltada para o faroeste. Grande parte dessa memorabilia está exposta no Gene Autry Museum of Western Heritage, em Los Angeles. O público fica fascinado ao se deparar com Colts, cinturões, chapéus e todo tipo de objetos que pertenceram aos mocinhos da TV, itens que são, geralmente, presenteados a Neil Summers. Ativo participante dos encontros entre os remanescentes dos filmes do gênero western, nenhuma dessas reuniões está completa sem a presença de Neil Summers, uma verdadeira enciclopédia viva. E mais que isso, Neil é uma figura extremamente simpática e que conviveu com os grandes nomes do faroeste do cinema e da TV. Segundo suas próprias palavras, “Tudo que eu queria era estar na tela com meus heróis Roy Rogers, Gene Autry, The Lone Ranger, Matt Dillon, Ben Cartwright e outros. Não só tive a felicidade de conseguir isso como ainda estive ao lado de John Wayne, Clint Eastwood e outros grandes da tela. Só o Duke me matou cinco vezes em seus filmes...” Essa vida venturosa foi um prêmio para Neil Summers que foi um verdadeiro ás entre os dublês do cinema norte-americano. Neil Summers reside em Albuquerque com sua esposa Karen. A ele os parabéns pelos 70 anos excepcionalmente bem vividos próximo de nossos maiores ídolos.

Aspectos do Museu Gene Autry, no qual muitos itens expostos vieram
da coleção particular de Neil Summers.

Neil Summers em "Robocop"; em "Quatro Mulheres e um Destino"
e em "Dick Tracy.

Neil Summers com seus amigos Victor French, Randolph Scott e Al Wyatt;
Summers muito bem acompanhado por Penny Edwards e Vera Hruba Walston.

Neil Summers fazendo figuração em "Nevada Smith", em cena com
Steve McQueen e Martin Landau. na foto menor numa pose clássica

segurando uma Winchester.