UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN
Mostrando postagens com marcador Bio - A - Julie Adams. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bio - A - Julie Adams. Mostrar todas as postagens

18 de abril de 2012

JULIE ADAMS, ESTRELA ‘B’ DE BONITA E DE BOA ATRIZ DE MUITOS FAROESTES


O melhor filme da carreira de Julie Adams foi o western “E o Sangue Semeou a Terra” (Bend of the River), mas Julie se imortalizou com um filme ‘B’ de terror, o clássico “O Monstro da Lagoa Negra”. Ainda hoje, aos 85 anos, Julie Adams é sempre lembrada pelos fãs de faroestes pelos muitos deles em que atuou, mas a sua imagem que ninguém esquece é a da linda moça do maiô branco por quem o monstro anfíbio, habitante da Lagoa Negra, se apaixona.

DE OHIO PARA HOLLYWOOD - Betty May Adams nasceu no dia 17 de outubro de 1926 na cidade de Waterloo, em Ohio e seus pais eram alcoólatras, o que levou a menina a se mudar para a casa de uma tia em Little Rock, no Arkansas. Na adolescência Betty May mudou-se novamente, desta vez para a casa de uma outra tia em Long Beach, em Los Angeles, ali próximo do universo do cinema chamado Hollywood. Betty May trouxe consigo um fortíssimo sotaque adquirido em Little Rock, sotaque que em nada a ajudou quando se tornou uma moça muito bonita, daquelas que só se vê no cinema. Betty May trabalhava como secretária e fez um esforço intensivo para perder o sotaque carregado do Arkansas. Depois disso Betty May que era muito bonita, morena com lindos olhos verdes, passou a peregrinar pelos grandes e pequenos estúdios cinematográficos em busca de oportunidade para atuar no cinema. Sua primeira chance foi fazendo figuração em “Brasa Viva”, estrelado por Betty Hutton e Victor Mature, filme da Paramount, que sequer lhe ofereceu um contrato.

O nome Betty Adams em destaque no lobby-card
acima, num faroeste B da Lippert.
CHANCE NA POVERTY ROW - Oportunidade melhor, em forma de contrato curto, apareceu na minúscula produtora Lippert Pictures, perto de quem a Republic Pictures parecia uma das majors (MGM, Paramount, Fox, Warner, RKO, Universal e Columbia). A Lippert, situada na chamada ‘Rua da Pobreza’ (Poverty Row) de Hollywood, era especializada em faroestes e tinha como contratados Lash LaRue (o nosso Don Chicote), Bob Steele, James Ellison e Russell Hayden. Nessa pequena produtora um excêntrico escritor e ex-soldado chamado Samuel Fuller conseguiu filmar, no final dos anos 50, três filmes B bastante reverenciados que são os faroestes “Eu Matei Jesse James” (I Shot Jesse James) e “O Barão Aventureiro” (The Baron of Arizona) e o filme de guerra “Capacete de Aço”. Mas não foi em nenhum desses filmes feitos com reduzido orçamento que Betty May Adams fez sua estréia no cinema e sim em filmes ainda mais pobres, aqueles faroestes filmados em quatro ou cinco dias e que pareciam todos iguais. Com o nome artístico de Betty Adams, a bonita morena de olhos verdes fez o principal papel feminino em “The Dalton Gang”, western estrelado por Don ‘Red’ Barry. Dois dos mocinhos contratados pela Lippert eram James Ellison e Russell Hayden, curiosamente ambos ex-pardners de Hopalong Cassidy na série com o personagem criado por Clarence Mulford. Com a dupla de mocinhos Ellison e Hayden a esperançosa Betty Adams atuou em seis faroestes da Lippert Productions realizados em 1950, todos em apenas um mês. Percebendo que não havia futuro na pequena Lippert, Betty Adams continuou em busca de melhores oportunidades e chegou a participar da comédia “Apuros de um Anjo”, com Clifton Webb, na 20th Century-Fox, mas para seu azar suas cenas foram cortadas na edição final. Mas as coisas iriam melhorar no ano seguinte, em 1951.

UM GRANDE WESTERN DE ANTHONY MANN - A Universal Pictures era o menor dos grandes estúdios e por isso mesmo apostava em futuras promessas como Tony Curtis, Rock Hudson, Richard Egan, George Nader e Piper Laurie. Juntou-se a esses futuros astros uma nova estrelinha que a Universal contratou e se apressou em mudar o nome para Julia Adams, lançando-a com certo destaque em produções menores como o policial “Assassinato entre Estrelas”, com Richard Conte; o drama “Só Resta a Lembrança”, com Arthur Kennedy; e a comédia “Finders Keepers”, com Tom Ewell. Depois que o rosto de Julia Adams se tornou razoavelmente conhecido através desses filmes e das fotos em revistas especializadas, a Universal entendeu que ela já estava pronta para atuar em um filme importante. Esse filme intitulado “E o Sangue Semeou a Terra” (Bend of the River) foi dirigido por Anthony Mann e estrelado por James Stewart, fazendo parte da excepcional quina de faroestes da dupla Mann-Stewart. O público e a crítica não deixaram de notar a excelente atriz que teve desempenho à altura de atores do porte de James Stewart e Arthur Kennedy. Em “E o Sangue Semeou a Terra” Julia Adams interpretou aquele tipo de mulher aparentemente frágil mas com muita força interior e grande coragem, tipo que seria visto em muitos outros filmes. (Nas fotos acima à direita Julie com James Stewart; abaixo Rock Hudson, Arthur Kennedy e Stewart.)
Esta revolucionária mexicana é a suave Julia Adams  no filme
"Revolta do Desespero", de Budd Boetticher.


Julie acima com Robert Ryan;
com Rock Hudson; com Glenn Ford,
Chill Wills e Hugh O'Brian; abaixo
com Tyrone Power e Piper Laurie;
com Joel McCrea.
SEQUÊNCIA ININTERRUPTA DE WESTERNS - A impressão causada por Julia Adams foi tão boa que a Universal a colocou em diversos outros faroestes que foram seus filmes seguintes: “O Tesouro Perdido” (The Treasure of Lost Canyon), de Ted Tetzlaff, com William Powell; “Império do Pavor” (Horizons West), dirigido por Budd Boetticher e estrelado por Robert Ryan e Rock Hudson; “Bando de Renegados” (The Lawless Breed), de Raoul Walsh, com Rock Hudson interpretando o pistoleiro John Wesley Harding; “O Aventureiro do Mississipi” (The Mississippi Gambler), de Rudolph Maté, com Tyrone Power; “Revolta do Desespero” (Wings of the Hawk), de Budd Boetticher, com Van Heflin e Julia Adams interpretando uma revolucionária mexicana; “The Stand at Apache River”, de Lee Sholem, com Stephen McNally. Esta série de faroestes ainda teria o ótimo “Sangue por Sangue” (The Man from the Alamo” em que Julia Adams foi novamente dirigida por Budd Boetticher neste western estrelado por Glenn Ford. Depois de fazer de Julia Adams uma atriz constante nos faroestes, a Universal decidiu que era hora de uma mudança radical.



The Gill-Man, a criatura cheia de ternura
pela inesquecível Julie de maiô branco.
DESPERTANDO A PAIXÃO DA CRIATURA - Se há um gênero em que a Universal Pictures sempre acertou foi no horror. E o gênero foi renovado nos anos 50 com ingredientes fortes como a ficção-científica e exibição no assustador processo de 3.ª Dimensão. O novo projeto da Universal se chamava “O Monstro da Lagoa Negra” (Creature from the Black Lagoon), com uma história que seguia o modelo ‘a bela e a fera’. A fera no caso era uma criatura aquática que habitava uma tenebrosa lagoa situada na Amazonia e que assassinava quem no local se aventurasse. A bela deveria ser uma atriz de corpo muito bonito, com pernas perfeitas capazes de atrair não só a criatura mas também os olhares da platéia. Como “O Monstro da Lagoa Negra” era uma produção B, não havia dinheiro para pensar em pernas como as de Cyd Charisse, Jane Russell ou Ann Miller. A solução, porém, estava no próprio estúdio e se chamava Julia Adams, atriz que havia mostrado apenas os tornozelos nas telas, desde que se tornara atriz conhecida. Espertamente a Universal passou a veicular a notícia que as pernas de Julia Adams haviam ganhado um prêmio como as pernas mais perfeitamente simétricas do mundo, sendo seguradas em 125 mil dólares. Claro que o público se interessou ainda mais em assistir “O Monstro da Lagoa Negra” que fez enorme sucesso e se tornou um clássico absoluto no gênero. Toda uma geração certamente sonhou com ‘Kay Lawrence’ (Julia Adams), a moça de maiô branco da expedição que vai ao Amazonas, com seu inesquecível balé aquático. E além das belas pernas Julia mostrou ser boa atriz dramática e dona de um charme único em Hollywood, algo poucas atrizes possuíam que era a aparência de mulher íntegra e confiável.



Julie dams com Richard Egan
e abaixo com Charlton Heston.
CARREIRA EM FILMES MEDIANOS - Apesar de bastante conhecida do público, Julia Adams parecia ter sido estigmatizada como atriz de filmes B pois seus filmes seguintes foram a comédia “Francis entre as Boas”, com Donald O’Connor e as boas eram Julia Adams e Mamie Van Doren; a aventura “Hienas Humanas”, com Rory Calhoun e Ray Danton; o drama “Seu Único Desejo”, com Rock Hudson; a comédia “A Guerra Íntima do Major Benson”, com Charlton Heston; o filme de guerra “Barcos ao Mar”, com Jeff Chandler; o drama “Quatro Garotas, Quatro Destinos”, Jack Sher, com George Nader. Em 1955 Julie atuou ao lado de Tony Curtis em “Dominado pelo Crime” e passou a usar o nome de Julie Adams. Em 1957 Julie Adams fez parte do elenco do excelente drama policial “Assassinato na 10.ª Avenida”, uma espécie de “Sindicato de Ladrões” ‘B’, com brilhante atuação de Dan Duryea. Em 1958 Julie Adams atuou ao lado de Ray Danton, no filme de guerra “Mensagem Fatal”. No ano seguinte Julie faria seu último filme da década, o faroeste “Vésperas da Morte” (The Gunfight at Dodge City), de Joseph Newman, com Joel McCrea interpretando Bat Masterson.

Julie e Elvis; Julie no "Jimmy Stewart Show".
CONQUISTANDO ELVIS PRESLEY - Na sua vida pessoal, Julie Adams foi casada com o escritor Leonard Stern de 1953 a 1955, divorciando-se para se casar em 1955 mesmo com o ator Ray Danton. Julie e Danton tiveram dois filhos e já sem contrato com a Universal Pictures, Julie passou a se dedicar mais à TV. Tornaram-se esporádicas suas participações em filmes, um deles foi em 1962 a ficção-científica “The Underwater City” (Frank McDonald), que não obteve êxito. Em 1965, aos 39 anos, Julie Adams interpretou uma dona de um rancho já madura que consegue atrair a atenção de Elvis Presley em “Cavaleiro Errante”, talvez o filme de maior sucesso em que Julie Adams participou, desde “O Monstro da Lagoa Negra”. Julie atuava sem parar como atriz convidada em dezenas de séries, uma delas em “Bonanza”, no episódio intitulado “The Courtship”. Nesse episódio Hoss Cartwright se apaixona perdidamente pela personagem de Julie Adams, viúva viciada em jogatina e que está unicamente interessada no dinheiro do mais inocente dos Cartwrights, numa inesperada interpretação como mulher má. Em 1971 Julie Adams recebeu o convite para interpretar a esposa de James Stewart na série “The Jimmy Stewart Show”, série que apesar do renome do protagonista teve apenas 20 episódios sendo então cancelada. Não deve ter sido nada fácil para Julie Adams deixar a companhia de Jimmy Stewart para ser dirigida a seguir por Dennis Hopper que também estrelou “The Last Movie”, em 1971, inteiramente filmado no Peru. Talvez Julie acreditasse que Hopper repetisse com esse filme o estrondoso sucesso de “Sem Destino”, o que não aconteceu.

Julie Adams no episódio de Bonanza "The Courtship", como uma
viciada em jogatina que quase leva Hoss Cartwright para o altar.
Julie e o detetive John Wayne;
Julie e o maluco Dennis Hopper.
ENCONTRO COM JOHN WAYNE - Julie Adams atuou em sua carreira com alguns dos maiores astros do cinema de todos os tempos, entre eles Charlton Heston, James Stewart, Tony Curtis, Rock Hudson, Glenn Ford, Elvis Presley, Tyrone Power, Van Heflin, Robert Ryan e Arthur Kennedy. Em 1975 ela teria a oportunidade de contracenar com John Wayne, mas infelizmente não em um faroeste e sim no policial “McQ – Um Detetive Acima da Lei”, filme ainda por cima dirigido por um dos grandes diretores de faroestes que foi John Sturges. Nesse mesmo ano Julie Adams foi dirigida por seu marido Ray Danton em “Psychic Killer”, com Jim Hutton. A partir de então, tendo chegado aos 50 anos, Julie Adams viu não só os convites para filmes rarearem, mas também os papéis serem cada vez menores. Em 1990 Julie Adams foi convidada por Dennis Hopper para participar de “Atraída pelo Perigo”, com Jodie Foster e o veterano Vincent Price. Hopper atuou e dirigiu este suspense. Dos anos 90 em diante Julie Adams continuou em atividade, podendo ser vista em séries como “Lost”, “Melrose Place”, “Barrados no Baile”, “Arquivo Morto” e outras. Seu último trabalho para o cinema foi em 2006 no filme de Oliver Stone “As Torres Gêmeas”, sobre a tragédia de 11 de setembro de 2001, filme em que aos 80 anos de idade Julie teve uma pequena participação.


Julie Adams por ocasião do lançamento de sua
autobiografia; no centro Julie participando de um
dos muitos eventos em que é a maior atração; abaixo
em foto recente e numa capa de Cinelândia de 1955.
ETERNAMENTE SIMPÁTICA - Julie divorciou-se de Ray Danton em 1978 (Danton faleceu aos 60 anos em 1990) e em 2011 Julie lançou sua autobiografia escrita com a ajuda do filho Mitchell Danton. O título desse livro é “The Lucky Southern Star: Reflections from the Black Lagoon” e nele Julie conta histórias de bastidores acontecidas em seu filmes, muitas delas acompanhadas de fotos jamais publicadas anteriormente. Dentre os atores com os quais atuou, Julie Adams fala com enorme carinho e respeito de James Stewart, para ela o melhor de todos os atores de cinema e um grande amigo fora das câmaras. Também com afeto Julie lembra de Rock Hudson e Tony Curtis. Sobre Elvis ela diz que gostou muito de trabalhar com ele e confessa que não era grande fã do Rei do Rock. Julie fala dos amigos artistas e cita Rock Hudson, Sally Kellerman, o diretor Bob Rafelson, Robert Blake e Neville Brand, como pessoas com quem manteve boas amizades. Em seu livro Julie afirma que não é verdade que as filmagens de “The Last Movie, no Peru, tenham sido repletas de orgias e bacanais, como contou Dennis Hopper em sua autobiografia. Julie disse que o que Dennis e outros faziam depois das filmagens não era da conta dela e que ela sempre foi respeitada por todos e jamais viu algo que pudesse reprovar, como uso de drogas por exemplo. Entre suas maiores emoções Julie diz que foi atuar com Barbara Stanwyck num episódio da série "Big Valley". Quando adolescente Julie não perdia um único filme de Barbara que foi uma de suas inspirações para ser atriz. Julie é uma das mais festejadas presenças nos encontros dos fãs de ficção-científica que ocorrem em diversas cidades norte-americanas. Conservando ainda traços de sua beleza, Julie Adams é da poucas atrizes do passado que não escondem as marcas do tempo. Comparece a todos os eventos para os quais é convidada, onde se destaca pela radiante simpatia e o conhecido e largo sorriso, distribuindo abraços para todos os fãs e posando para fotos, mesmo com aqueles que só lembram dela por sua participação em “O Monstro da Lagoa Negra”. Para os fãs de faroestes Julie Adams é um pouco mais que isso, é uma querida heroína de muitos faroestes, bonita e muito boa atriz.

Quem não quer abraçar Julie Adams? Rock Hudson, Glenn Ford
e abaixo à esquerda Stephen McNally.