Rafael Galvão |
Dime novel contando uma aventura de Buffalo Bill. |
Stagecoach), 1939 – John Ford
É o início de tudo. Em um tempo em que
o western ‘primitivo’ de Tom Mix e depois Roy Rogers tinha entrado em
decadência, “Stagecoach” marca a estréia, em sua forma definitiva, de
praticamente todos os elementos constitutivos do western como o entendemos. O
primeiro grande filme de John Wayne e de John Ford, o primeiro filmado em
Monument Valley, e todos os recursos dramáticos que mais tarde seriam usados à
exaustão no gênero que chegou a ser o mais popular no mundo inteiro. “Stagecoach”
é o marco inicial do faroeste, e isso não é pouco.
(Red River),
1948
Howard Hawks
O faroeste clássico de Hawks, com John
Wayne e Montgomery Clift, é um retrato de um fenômeno efêmero da história do
oeste: os verdadeiros cowboys originais, tropeiros que levavam gado nos
primórdios das ferrovias. É esse o cenário que emoldura uma disputa entre pai e
filho, com os mesmos valores, perfeitamente conduzida por Hawks.
(High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
Embora tenha sido concebido como metáfora
e denúncia do Macarthismo, o que realmente interessa em “High Noon” é a
parábola sobre a coragem e sobre o valor do indivíduo diante da vida. É um
faroeste atípico, mas que acaba reforçando os valores intrínsecos do gênero,
como o heroísmo diante da adversidade. É também cheio de detalhes sobre o
perfil psicológico dos protagonistas, bem ao gosto de Zinnemann.
(Shane), 1953
George Stevens
Tem gente que acha esse o maior western
de todos os tempos, como o Paulo perdigão, que antes de morrer até escreveu um
livro inteiro sobre ele. Tem gente que não. “Shane” é propositalmente
arquetípico e esquemático, narrado através dos olhos de uma criança. É um
faroeste definitivo, que consolida as convenções do gênero de maneira
singularmente bela.
Quanto
mais vejo este filme, mais deslumbrado fico com a maestria absoluta de John
Ford. Da sequência inicial, com Dorothy Jordan abrindo a porta – a porta pela
qual John Wayne está condenado a jamais entrar, metaforicamente – à última
cena, em que outra porta se fecha, o que se tem é provavelmente um dos mais
perfeitos westerns feitos em todos os tempos, em que tudo se casa à perfeição:
roteiro, fotografia, atuações. É provavelmente, a melhor atuação de John Wayne em
toda a sua carreira. É uma obra-prima absoluta.
Concebido
como uma resposta direitista a “High Noon”, “Onde Começa o Inferno” é
provavelmente o último grande filme de Howard Hawks. Tão bom que ele o
refilmaria alguns anos mais tarde como “Eldorado” com Robert Mitchum no lugar
de Dean Martin e James Caan no lugar de Ricky Nelson, e com resultados bem
inferiores. Um faroeste clássico, com a divisão entre os bons e maus
extremamente clara, e uma performance inesquecível de Dean Martin.
Refilmagem
de um filme de Akira Kurosawa, “Sete Homens e um Destino” definiu um padrão que
vários filmes de ação dos anos 60 seguiriam: uma espécie de versão em celulóide
do jogo de tabuleiro “resta um”: depois de uma longa preparação, boa parte dos
protagonistas morrem na ação final do filme. O modelo foi seguido por filmes
como “Os Doze Condenados”, de Robert Aldrich, e “Fugindo do Inferno”, de John
Sturges.
(The Man Who Shot Liberty Valance)
1962 – John Ford
É
o filme que marca o fim do ciclo americano do western. Uma visão mais madura de
sua lenda, em retrospecto, e que poderia ser resumida por uma das frases finais
do filme: “Entre o fato e a lenda, imprima-se a lenda” (ou algo parecido). É a
redenção tranquila da formação da mitologia americana, em um filme
absolutamente brilhante e sensível.
Nota do Editor - A frase dita no filme é: "When the legend becomes fact, print the legend". (Quando a lenda se torna um fato, imprima-se a lenda).
Depois
do esgotamento total nos anos 50, quando praticamente todas as possibilidades
criativas do western foram exploradas, coube ao italiano Sergio Leone renovar o
gênero com a “Trilogia do Dólar” que este filme encerra. (Os outros filmes são “Por
um Punhado de Dólares” e “O Dólar Furado”). Transportando a ação da
grandiosidade de Monument Valley para a aridez da região de Almería, na
Espanha, o western spaghetti transformou o gênero definitivamente e o levou um
pouco mais além, dando-lhe uma sobrevida que seria impossível nos Estados
Unidos. De versão americana dos contos de cavaleiros andantes na recriação de
sua história, o faroeste passou a ser a visão européia da moral dúbia da vida
na fronteira. Leone acrescentou a tudo isso um certo tom operístico que levou o
western ao seu último estágio.
(C’Era una Volta Il West), 1968
Sergio
Leone
Mas
é em “Era Uma Vez no Oeste” que Leone eleva ao ápice sua visão da conquista do
oeste como pedra fundamental da civilização americana – uma visão amorosa,
reverente, mas ainda assim extremamente crítica. É um dos poucos westerns a ter
como personagem central uma mulher. E a música de Ennio Morricone sedimenta, de
maneira inigualável, esta grande “ópera da morte”, como já definiram esse filme.
(Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood
Foi Eastwood quem retirou o
western de sua tumba e conseguiu dar-lhe um último grande filme, sobre velhos
pistoleiros cumprindo uma última missão. O tom amargo e niilista do filme não
se refere a velhos pistoleiros imperdoados em seus finais de vida; mas a todo
um gênero. “Os Imperdoáveis” é um epitáfio adequado a um gênero que nasceu com
o cinema e, de certa forma, se tornou maior do que ele.