UMA REVISTA ELETRÔNICA QUE FOCALIZA O GÊNERO WESTERN
Mostrando postagens com marcador Top-Ten Rafael Galvão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Top-Ten Rafael Galvão. Mostrar todas as postagens

23 de janeiro de 2013

TOP-TEN WESTERNS DE RAFAEL GALVÃO, UM JOVEM FÃ DE FAROESTES


Rafael Galvão
O gênero western há muito deixou de ter o prestígio que possuiu nas primeiras seis décadas do cinema. O lançamento de um faroeste é um fato cada vez mais inusitado, como acontece agora com “Django Livre”, novo filme de Quentin Tarantino. Engana-se porém quem acredita que não haja jovens cinéfilos fãs de westerns e que conhecem a fundo esse gênero de filmes. Um exemplo disso é Rafael Galvão, que vive em Aracaju, no Sergipe, e que com pouco mais de 40 anos gosta e muito de faroestes. Rafael Galvão elaborou sua lista de Top-Ten Westerns apresentada por WESTERNCINEMANIA, juntamente com pequenos comentários de autoria do próprio Rafael Galvão. O Top-Ten Westerns de Rafael Galvão é publicado em ordem cronológica de ano de produção e, "por nunca ter sido bom em Matemática", conforme ele mesmo confessa, a lista tem onze títulos. Secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, Rafael Galvão é um pioneiro na publicação de blog, o que faz desde 2003. Seu blog intitulado ‘Rafael Galvão’, fala de tudo um pouco e até mesmo de faroestes, sempre com inteligência e afiado humor. A seguir o Top-Ten Westerns de Rafael Galvão:


Dime novel contando uma aventura
de Buffalo Bill.
O western é o mais puro gênero cinematográfico. Todos os outros tinham tradições anteriores respeitáveis na literatura ou até mesmo no teatro. Drama, comédia, épico, aventura, romance, ficção-científica. O faroeste, por outro lado, só tinha as dime novels do fim do século XIX, puro lixo literário; quando muito, teve o show de Buffalo Bill. Foi apenas no cinema que o western pôde se realizar completamente, provavelmente porque nesse gênero o cenário é parte fundamental da trama. Só ali, naquele momento histórico e naquele ambiente amplo, o faroeste tem sua razão de ser. E isso só poderia ser mostrado adequadamente no cinema. O western cumpriu um papel importante na história americana. Ajudou o país a mitificar sua própria história, emprestando a ela a tradição que sua trajetória ainda curta lhe negava. Mais de uma pessoa já falou em como os EUA recriaram, na saga da conquista do oeste, as histórias medievais européias de cavaleiros galantes. Em vez de escudo, um chapéu; em vez de espada, um Colt Peacemaker.

No Tempo das Diligências
Stagecoach), 1939 – John Ford
É o início de tudo. Em um tempo em que o western ‘primitivo’ de Tom Mix e depois Roy Rogers tinha entrado em decadência, “Stagecoach” marca a estréia, em sua forma definitiva, de praticamente todos os elementos constitutivos do western como o entendemos. O primeiro grande filme de John Wayne e de John Ford, o primeiro filmado em Monument Valley, e todos os recursos dramáticos que mais tarde seriam usados à exaustão no gênero que chegou a ser o mais popular no mundo inteiro. “Stagecoach” é o marco inicial do faroeste, e isso não é pouco.

Rio Vermelho
(Red River),
1948
Howard Hawks
O faroeste clássico de Hawks, com John Wayne e Montgomery Clift, é um retrato de um fenômeno efêmero da história do oeste: os verdadeiros cowboys originais, tropeiros que levavam gado nos primórdios das ferrovias. É esse o cenário que emoldura uma disputa entre pai e filho, com os mesmos valores, perfeitamente conduzida por Hawks.

Matar ou Morrer
(High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
Embora tenha sido concebido como metáfora e denúncia do Macarthismo, o que realmente interessa em “High Noon” é a parábola sobre a coragem e sobre o valor do indivíduo diante da vida. É um faroeste atípico, mas que acaba reforçando os valores intrínsecos do gênero, como o heroísmo diante da adversidade. É também cheio de detalhes sobre o perfil psicológico dos protagonistas, bem ao gosto de Zinnemann.

Os Brutos Também Amam
(Shane), 1953
George Stevens
Tem gente que acha esse o maior western de todos os tempos, como o Paulo perdigão, que antes de morrer até escreveu um livro inteiro sobre ele. Tem gente que não. “Shane” é propositalmente arquetípico e esquemático, narrado através dos olhos de uma criança. É um faroeste definitivo, que consolida as convenções do gênero de maneira singularmente bela.

Rastros de Ódio (The Searchers), 1956 – John Ford
Quanto mais vejo este filme, mais deslumbrado fico com a maestria absoluta de John Ford. Da sequência inicial, com Dorothy Jordan abrindo a porta – a porta pela qual John Wayne está condenado a jamais entrar, metaforicamente – à última cena, em que outra porta se fecha, o que se tem é provavelmente um dos mais perfeitos westerns feitos em todos os tempos, em que tudo se casa à perfeição: roteiro, fotografia, atuações. É provavelmente, a melhor atuação de John Wayne em toda a sua carreira. É uma obra-prima absoluta.

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), 1959 – Howard Hawks
Concebido como uma resposta direitista a “High Noon”, “Onde Começa o Inferno” é provavelmente o último grande filme de Howard Hawks. Tão bom que ele o refilmaria alguns anos mais tarde como “Eldorado” com Robert Mitchum no lugar de Dean Martin e James Caan no lugar de Ricky Nelson, e com resultados bem inferiores. Um faroeste clássico, com a divisão entre os bons e maus extremamente clara, e uma performance inesquecível de Dean Martin.

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), 1960 – John Sturges
Refilmagem de um filme de Akira Kurosawa, “Sete Homens e um Destino” definiu um padrão que vários filmes de ação dos anos 60 seguiriam: uma espécie de versão em celulóide do jogo de tabuleiro “resta um”: depois de uma longa preparação, boa parte dos protagonistas morrem na ação final do filme. O modelo foi seguido por filmes como “Os Doze Condenados”, de Robert Aldrich, e “Fugindo do Inferno”, de John Sturges.

O Homem que Matou o Facínora
(The Man Who Shot Liberty Valance)
1962 – John Ford
É o filme que marca o fim do ciclo americano do western. Uma visão mais madura de sua lenda, em retrospecto, e que poderia ser resumida por uma das frases finais do filme: “Entre o fato e a lenda, imprima-se a lenda” (ou algo parecido). É a redenção tranquila da formação da mitologia americana, em um filme absolutamente brilhante e sensível.
Nota do Editor - A frase dita no filme é: "When the legend becomes fact, print the legend". (Quando a lenda se torna um fato, imprima-se a lenda).

Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo), 1966 – Sergio Leone
Depois do esgotamento total nos anos 50, quando praticamente todas as possibilidades criativas do western foram exploradas, coube ao italiano Sergio Leone renovar o gênero com a “Trilogia do Dólar” que este filme encerra. (Os outros filmes são “Por um Punhado de Dólares” e “O Dólar Furado”). Transportando a ação da grandiosidade de Monument Valley para a aridez da região de Almería, na Espanha, o western spaghetti transformou o gênero definitivamente e o levou um pouco mais além, dando-lhe uma sobrevida que seria impossível nos Estados Unidos. De versão americana dos contos de cavaleiros andantes na recriação de sua história, o faroeste passou a ser a visão européia da moral dúbia da vida na fronteira. Leone acrescentou a tudo isso um certo tom operístico que levou o western ao seu último estágio.

Era uma Vez no Oeste
(C’Era una Volta Il West), 1968
Sergio Leone
Mas é em “Era Uma Vez no Oeste” que Leone eleva ao ápice sua visão da conquista do oeste como pedra fundamental da civilização americana – uma visão amorosa, reverente, mas ainda assim extremamente crítica. É um dos poucos westerns a ter como personagem central uma mulher. E a música de Ennio Morricone sedimenta, de maneira inigualável, esta grande “ópera da morte”, como já definiram esse filme.

Os Imperdoáveis
(Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood
Foi Eastwood quem retirou o western de sua tumba e conseguiu dar-lhe um último grande filme, sobre velhos pistoleiros cumprindo uma última missão. O tom amargo e niilista do filme não se refere a velhos pistoleiros imperdoados em seus finais de vida; mas a todo um gênero. “Os Imperdoáveis” é um epitáfio adequado a um gênero que nasceu com o cinema e, de certa forma, se tornou maior do que ele.