Muitas são as lembranças da Cinelândia
Carioca. Mas além daquele famoso conjunto de salas exibidoras havia na Cidade
Maravilhosa um segundo e menos conhecido grupo de cinemas muito próximos uns
aos outros. Situada no Bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, e tendo por centro a Praça Sáenz Peña,
havia uma Segunda Cinelândia Carioca, atendendo aos moradores daquele simpático
bairro e dos bairros vizinhos. Praticamente
os mesmos filmes que eram exibidos nos cinemas da Cinelândia localizados na
Praça Marechal Floriano Peixoto passavam também na Cinelândia da Tijuca. E era
ali que dia sim, dia não e às vezes dia também, João Alfredo Vieira Nogueira saciava sua fome
de filmes.
Acima a Praça Sáenz Peña; abaixo o Flamengo dos tempos de Dida e Zagallo. |
Ava Gardner |
Dois gêneros de filmes mais atraíam o
adolescente João Alfredo: musicais e faroestes, numa mescla perfeita de
sensibilidade e emoção. Incontáveis vezes João Alfredo entrou no Metro-Tijuca
para assistir Gene Kelly, Cid Charysse, Mario Lanza, Vera Ellen, Bob Fosse, Ann
Miller, Howard Keel, Kathryn Grayson, Fred Astaire e Ava Gardner. “O Barco das Ilusões” foi
assistido repetidas vezes pelo jovem que se arrepiava ao escutar “Ol’ Man
River” e se deixava hipnotizar por Ava Gardner. No entanto eram exibidos muito
mais faroestes que musicais e João Alfredo assistia praticamente a todos, com
prioridade para os estrelados por Alan Ladd, Burt Lancaster, Kirk Douglas, Gary
Cooper, Anthony Quinn, Glenn Ford e Gregory Peck. Pouco importava ao jovem quem eram os
diretores, fossem eles John Ford, Anthony Mann, Howard Hawks ou qualquer outro
cujos nomes ele não guardava, nomes que só passariam a fazer sentido muitos
anos depois.
Dos incontáveis faroestes que João Alfredo
assistiu nos anos 50 e 60 na Segunda Cinelândia Carioca, alguns o marcaram
bastante, tanto que foram revistos em reprises e com o advento da fita VHS e mais
tarde do DVD, nesses tipos de mídia adquiridos para sua coleção particular. Essa coleção ocupa grande
parte da estante principal do apartamento de João Alfredo, em Santos, cidade do
litoral paulista que João escolheu para viver com sua esposa após a merecida aposentadoria. E
é em Santos, que João Alfredo mantém o hábito de ir ao cinema, três vezes por
semana, ainda que os filmes atuais e as salas Multiplex tragam uma imensa
saudade dos cinemas da Praça Sáens Peña e proximidades. WESTERNCINEMANIA
solicitou a João Alfredo que relacionasse os dez westerns que mais apreciava e
prontamente o cinéfilo elaborou não uma, mas duas listas. A primeira o
Top-Ten, encabeçado pelo filme que mais gosta; a lista complementar é composta
de outros dez faroestes que o autor considera igualmente excelentes e que
ajuda a delinear seu gosto pessoal. Abaixo esses 20 westerns, os dez primeiros deles comentados por João Alfredo Vieira Nogueira:
1.º)
Os Brutos Também Amam
(Shane), 1953 – George Stevens
Sem dúvida o faroeste da minha vida e
não apenas pela emoção que transmite mas por ser um filme realizado com inspiração
e arte, assim como uma escultura de Michelangelo. Perfeito em todos os aspectos,
partindo das interpretações, passando pela fotografia deslumbrante, música
inesquecível e diálogos expressivos.
2.º) Rastros
de Ódio
(The Searchers), 1956 –
John Ford
O cenário do Monument Valley nunca
esteve mais majestoso como palco da longa busca de John Wayne e de Jeffrey
Hunter. O melhor faroeste de John Ford, o que por si só tem enorme significação.
3.º)
O Homem que Matou o Facínora
(The Man Who Shot Liberty Valance), 1962
John Ford
Na contramão da verdade John Ford expõe
a força mitológica dos personagens do Velho Oeste na figura de advogado que
ganhou fama imerecidamente. Entre os conflitos do triângulo amoroso do filme
discute-se a educação, a política e a Lei que chega para civilizar aquelas
paragens.
4.º) No Tempo das Diligências
(Stagecoach), 1939 – John Ford
Se as relações entre os personagens da
diligência criam uma atmosfera única para um faroeste, há ainda a fantástica
perseguição por parte dos apaches. E John Wayne se sobressai como a maior
figura do gênero que ali começava a ser.
5.º) Os
Imperdoáveis
(Unforgiven), 1992 – Clint Eastwood
Clint Eastwood como ator e diretor
mostrou o talento que, através dos anos e experiências de cinema, só aumentou e
foi sublimado neste triste e perfeito western. Uma pena que Clint nunca mais nos
tivesse brindado com outros filmes portentosos como “Os Imperdoáveis”.
6.º)
Meu Ódio Será Sua Herança
(The Wild Bunch), 1969 – Sam Peckinpah
Um espetáculo assombroso de violência
que foi muito imitado mas que é impossível de ser igualado. A delirante maestria
de Sam Peckinpah realizou o mais impressionante conjunto de sequências de ação
que o gênero conheceu.
7.º) Matar
ou Morrer
(High Noon), 1952 – Fred Zinnemann
Brilhante estudo psicológico da
covardia humana mostrando um homem acuado e que se vê sozinho diante da morte
certa. A ação se passa em Hadleyville, mas é percebida em qualquer época ou
lugar. Gary Cooper simplesmente maravilhoso.
8.º)
Minha Vontade é Lei
(Warlock), 1959 – Edward Dmytryk
A lei e a ordem nem sempre são impostas pelo herói certinho e corajoso. Homens do Velho Oeste tinham também seus
problemas de relacionamento humano e este filme é de extrema coragem ao mostrar
de forma alegórica o ‘aleijão’ humano do personagem de Anthony Quinn.
9.º)
Sete Homens e um Destino
(The
Magnificent Seven), 1960
John Sturges
Filme para quem gosta de ação de
primeira qualidade na mais emocionante brincadeira de mocinhos contra bandidos já
levada à tela. E tudo embalado por uma trilha sonora magistral. Todos parecem se divertir e Steve McQueen e Eli Wallach se destacam no grande elenco.
10.º)
A Face Oculta
(One-Eyed
Jacks), 1960
Marlon Brando
É inacreditável que depois desse
belíssimo faroeste Marlon Brando não tenha voltado a dirigir outro filme no
gênero. Brando cria um cínico anti-herói perfeito na vestimenta, nos gestos e faz o
espectador sentir-se cúmplice na cruel vingança que arquiteta. O versatil Karl Malden é o bandido.
LISTA COMPLEMENTAR - Filmes que poderiam fazer parte da
lista de dez melhores, quase que em pé de igualdade com alguns deles.
Era
Uma Vez no Oeste (C’Era Uma Volta Il West), 1968 –
Sergio Leone
Vera
Cruz (Vera Cruz), 1954 – Robert Aldrich
Os Profissionais (The Professionals), 1966 – Richard Brooks
Hombre (Hombre), 1966 – Martin Ritt
O
Álamo (The Alamo), 1960 – John Wayne
Caminhos Ásperos (Hondo), 1953 - John Farrow
Caminhos Ásperos (Hondo), 1953 - John Farrow
Silverado
(Silverado), 1985 – Lawrence Kasdan
Atire
a Primeira Pedra (Destry Rides again), 1939 – George
Marshall
O Matador (The Gunfighter), 1950 – Henry King
Da Terra Nascem os Homens (The Big Country), 1958 – William Wyler