A queda de um mundo - Texto de Nuno Júdice (Extracto)- Recolhido em Livres Pensantes
«Um dia , Angela dissera-me : «Nas alturas de crise surgem as pessoas mais inesperadas; aqueles que pensávamos que tinham desaparecido para sempre vêm ter connosco e falam-nos como se os tivéssemos deixado na véspera.» E eu, que queria falar com alguém sobre o presente, a Europa, a crise, encontrara no sósia de Lenine o interlocutor ideal. Pertencíamos à mesma geração; tínhamos lido os mesmos livros; talvez tivéssemos acreditado nos mesmos ideais. Agora, era como se a História voltasse para trás. Nos países ocupados, os nazis tinham descoberto a solução para se verem livres dos judeus: metê-los em guetos: E para os enganar, faziam-nos eleger chefes que, muitas vezes, porque pensavam que assim protegiam o grupo, cumpriam as ordens do Reich: reduzir rações, confiscar os bens, deixar morrer os velhos, os doentes, as crianças. Era nisto que a nova Europa se estava a tornar: os guetos eram os países sob confisco, e em cada um deles tinham arranjado governos dóceis que cumpriam as ordens que vinham do centro de decisão. Leia este tema completo a partir de 15 de Julho carregando aqui.
XXII Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana para Nuno Júdice - Texto Recolhido em Livres Pensantes
Nuno Júdice vence Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana
Dez anos depois de Sophia de Mello Breyner ter recebido o prémio em 2003.
«O poeta Nuno Júdice foi nesta quinta-feira galardoado com o XXII Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional Espanhol e pela Universidade de Salamanca, no valor de 42.100 euros.
O prémio reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante para o património cultural partilhado pela comunidade ibero-americana.
O júri considerou o poeta, ensaísta e ficcionista português como autor de uma poesia «muito elaborada, de um classicismo depurado», mas, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com a realidade, segundo a agência EFE.
Nesta edição, o júri foi constituído por 18 personalidades ibero-americanas da área da filologia, da literatura e do ensaio literário, entre os quais José Rodriguez-Spiteri Palazuelo, presidente do Património Nacional, Daniel Hernández Ruipérez, reitor da Universidade de Salamanca, José Manuel Blecua Perdices, da Real Academia Espanhola, e Víctor García da la Concha, director do Instituto Cervantes.
Nuno Júdice afirmou à agência Lusa que o prémio ajudará à projecção da sua obra e sublinhou que evidencia «a importância da poesia portuguesa» no contexto ibero-americano. «Vai dar projecção à minha obra, mas mais importante que isso, mostra que a poesia portuguesa continua a ter um papel importante neste contexto [ibero-americano]», disse o autor, que confessou estar «contentíssimo» com o galardão.
Nuno Júdice, que está publicado em Espanha e em vários países da América Latina, reconheceu que é «razoavelmente conhecido, mas não foi isso que terá contribuído para o prémio», que foi «uma surpresa quando soube», na manhã desta quinta-feira. O poeta está a trabalhar num novo livro de poesia, ainda sem título, que «deverá ser editado no final deste ano ou no princípio do próximo».
Nuno Júdice, de 64 anos, é autor de 30 livros de poesia, entre os quais A Matéria do Poema e Guia dos Conceitos Básicos, editado em 2010. O autor, que começou a publicar poesia em 1972 – A Noção do Poema e O Pavão Sonoro –, tem escrito também obras de ensaio, teatro e ficção. A Dom Quixote publicou, no passado mês de Fevereiro, a novela A Implosão. Além do universo hispânico, Nuno Júdice tem obras traduzidas em Itália, Inglaterra e França.