Mostrar mensagens com a etiqueta Tino Cabrália. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Tino Cabrália. Mostrar todas as mensagens

sábado, 30 de março de 2013

vinte e poucos anos atrás - Texto de Tino Cabralia

 
vinte e poucos anos atrás - Texto de Tino Cabralia
 
Há vinte e poucos anos atrás eu era o cara aí na foto abaixo. Estava na Europa no inverno muito bem acompanhado das amigas e irmãs Acosta de Porto Rico; conforme se verifica usava um casacão do meu avô, cachecol branco e tinha muitos sonhos e muito mais cabelo como é fácil constatar.
 
Desde essa época já escrevia com constância no meu «Diário» com a minha Remington portátil e guardava algumas coisas em pastas para «posteridade». As religiões passaram, os espasmos atléticos, os ideais políticos, os fartos cabelos, a Remington portátil.... mas a literatura ficou em minhas entranhas, no meu modo particular de encarar as coisas e suportar a loucura do cotidiano.
 
De todos os escritores que li talvez tenha como maior ídolo Charles Bukowski que certa vez confessou: «essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura».
 
E é mais ou menos nessa pilastra que a coisa toda se sustenta.
Num momento de nostalgia , gripe forte e falta de inspiração começo a reler essas coisas antigas, muito ruins, diga-se, mas que me protegeram e me ajudaram em algum momento da vida. Recomendo ler e escrever como forma de terapia gratuita, de auto-conhecimento.

 
E para não dizerem que estou mentindo aí vai um trecho do antigo «Diário»:
 
«24/08/1992 – Hoje me vejo por outro ângulo. Abaixo do chão. Sem pretensões faraônicas, desejos demoníacos, sonhos onipotentes. Mais um mero mortal em busca de sexo, prazer, dor, aceitando suas imperfeições.
 
 Leia este tema completo a partir de 1 de Abril carregando aqui.
 
 

 

domingo, 17 de março de 2013

O HOMEM SEM SORRISO - Texto de Tino Cabralia

 
O HOMEM SEM SORRISO - Texto de Tino Cabralia
 
«Vejam bem. O panaca leva um cascudinho e logo vai denunciar o colega para a diretora da escola ou para a Ong mais perto de sua casinha de bonecas. Se dependesse dos educadores de hoje, Flaubert jamais cogitaria em «Madame Bovary»... Henry Miller e Conrad não existiriam, e Kafka resolveria todos os seus problemas simplesmente soltando a franga. Tudo muito simples e colorido» (Marcelo Mirisola no conto «quatro alfinetes negros» do livro «Proibidão»)
 
Depois da interminável noite em mais uma festa literária de sorrisos falsos e letras apagadas, sem contar duas putinhas e o «ménage à trois» naquele hotel barato e sem estrelas...acordei com uma ressaca maior do que a Ilíada e a Odisseia juntas. Com a cabeça martelando repisadamente como uma música de Erik Satie fui tomar umas brejas na mercearia da esquina.
 
Lá encontrei os bêbados escrevinhadores de sempre em acalorada discussão sobre os poemas de Dylan Thomas. Tudo ia bem na minha mesmice confortável até aquele momento em que após uma piada maledicente sobre um conhecido escritor em que todos os presentes esboçaram uma gargalhada geral, unânime e burra o meu sorriso não veio. (???). No centro do Coliseu todos me olharam como se Nietzsche em carne e osso aparecesse entre as prateleiras da mercearia travestido de apóstolo ensandecido proclamando o retorno do Messias.
 
Preocupado com a situação assaz constrangedora terminei meu estranho «mise-em-escène» e saí à francesa em direção ao banheiro.
 
Após uma bela «castigada na porcelana» que deixaria Marcel Duchamp orgulhoso, ao lavar as mãos, olhei fixamente no espelho quebrado e tentei em vão exercitar o sorriso.
 
Tentei lembrar piadas antigas, fiz cócegas no próprio corpo, gargarejos homéricos.....e nada! Tentei então levantar os cantos dos lábios com as mãos e em pânico «munchiniano» percebi que minha boca estava petrificada como um David de Michelangelo, e o que é pior, na horizontal, como um horizonte púrpura, triste e distante...
 
Depois de duas horas de tentativas frustradas e sob os protestos veementes dos demais bêbados escrivinhadores que em fila aguardavam ansiosamente a vez de entrar no «WC», tive um «insight» ou um «satori» que seja. Olhando no «fundo do âmago do meu ser» e dos olhos cansados percebi e disse a mim mesmo. « - Meu Deus! Sou um escritor velho e rancoroso em um mundo hipócrita e agora sem a capacidade de sorrir!!!!!! O que fazer?»
 
 
 
 

 
 
 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia

 
O Atleta e o Velho Safado - Texto de Tino Cabralia 
 
2028, o Brasil como a maior potência econômica mundial é sede pela primeira vez dos Jogos Olímpicos. (futurismo ou delírio???).
 
O rapaz de quarenta e dois anos acorda às onze e trinta com uma terrível ressaca em uma manhã chuvosa, negra e poluída na cidade de Santo André/SP. Ele é solteiro, tem quarenta e dois anos mas aparenta bem mais.
 
Pesa exatos oitenta e nove quilos e meio o que não lhe cai bem considerando ter um metro e sessenta e nove de altura. (um a menos do que este pobre cronista que abaixo subscreve).
 
A barriga proeminente e flácida cultivada em anos de sedentarismo encobre o cinto em torno da calça; as olheiras da ressaca em torno de seus olhos negros lhe dão uma aparência de zumbi, misturado com vampiro, o que de certo combina muito com seu cabelo cumprido e ensebado que não vê uma tesoura a tanto tempo.
 
Sua roupa maltrapilha e suja lhe dá uma aparência de mendigo vagabundo, o que aliás só não é verdade porque desde um ano após as Olimpíadas de Pequim recebe uma vergonhosa aposentadoria por invalidez da Previdência Social que lhe possibilita beber pinga e ligar para o disk-putas sem ter que pedir dinheiro nas esquinas da cidade.
 
Aposentou-se após sofrer os horrores da síndrome de «burn-out» ou para os puristas - crise aguda de estresse decorrente de sobrecarga no trabalho.
 
Olhou no espelho e não gostou do que viu. «As aparências enganam...os outros!»(pensou e sorriu sarcasticamente). Ligou a televisão e os canais só falavam da porra da merda das Olimpíadas de São Paulo. Desligou rapidamente. «– Que porra!» Gritou sozinho.
 
Saiu na rua e encontrou sua irmã toda atleta, toda animada, toda exemplo como sempre foi. – «Quer ir para São Paulo? Hoje é a abertura das Olimpíadas. Tenho ingresso!» Com um olhar perdido no horizonte e uma dor dilacerante no peito, recusou-se a responder....virou às costas e foi para o famoso bar do «copo sujo» de seu compadre Genésio como fazia todos os dias na hora do almoço desde que se aposentou.
 
Cumprimentou respeitosamente todos os bêbados que começavam a enfileirar garrafas na mesa. Pediu uma branquinha para variar, jogou dois dedos no chão para o santo do dia e começou a fazer sua fileira irregular de mini-copinhos de geléia.
 
A televisão do bar mostrava a porra da merda da festa de abertura Olímpica. -«Oooo Genésio desliga está merda!?»- Foi atendido prontamente.
 
 
 

 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Gibis e literatura. Nerd eu? Longe disso... - Texto de Tino Cabralia

 
Gibis e literatura. Nerd eu? Longe disso...  - Texto de Tino Cabralia
 
Minha relação com os quadrinhos vem dos confins da infância. Era um menino sozinho mas muito curioso com uma irmã cinco anos mais velha com uma prateleira cheia de Mônicas, Cebolinhas, Bolinhas, Brotoejas e Luluzinhas.
 
Depois numa mudança da minha prima Dulcinha herdei uma série de Zé Cariocas, Pato Donalds dentre os primeiros números de tais coleções (inclusive). Coleção essa que foi roída por traças urgh!
Teve também aquelas férias em Araruama que comprei «Lulu e Bolinha nas férias» e viajei por Paris e Nova Iorque numa rede da varanda da casa do Tio Joel .
 
Mas a febre começou mesmo com a Tia Guiomar que me deu o primeiro Tintim e depois o primeiro Asterix e a paixão não teve mais fim. Tenho a coleção completa dos dois até hoje. A adolescência chegou e com ela muitos Mads, «Animal», Chicletes com banana, Rebordosas, Luke Lukes e Cia ltda (guardo todos com muito zelo no meu escritório).
Necessário frisar que nunca gostei de Batmans, Robins e Super-homens e outros heróis mascarados. Necessário frisar número dois que entendo os quadrinhos como literatura e não vou ficar falando aqui «graphic novels», porque isso é uma «frescura du caralho» com o perdão da expressão. E é  «quadrinhos» mesmo, GIBI, estórias em quadrinhos e tenho dito. Sou nerd? Longe, muito longe disso....
 
Gostaria de frisar número 3 que os quadrinhos quando bem feitos nos remetem a uma outra dimensão da literatura. Temos uma imagem mais nítida da própria imagem que o autor tenta nos passar; uma imagem mais próxima da imaginação do autor/escritor.
Porém ao contrário do cinema essa imagem não esgota tanto a nossa própria imaginação, não satura o nosso cérebro. O desenho por mais realista que seja não esgota a imagem em si. E uma sobreposição de imagens do autor com as nossas loucuras imagéticas que criamos no ato da leitura. Em resumo: um barato sem necessidade de qualquer ácido.
 
 
 
 

 

domingo, 9 de dezembro de 2012

uísque para Jim Morrison - Texto de Tino Cabralia

 
uísque para Jim Morrison - Texto de Tino Cabralia
 
Definitivamente na nossa breve passagem por aqui fazemos coisas totalmente loucas e sem sentido.
Pois sabendo que tia Maria Augusta estava indo morar um ano em Paris, de súbito tive uma ideia: escrevi o bilhetinho abaixo em inglês com nome e endereço do remetente (como se fosse possível o cara ler e responder), juntei uma foto minha com uma guitarra bem como uma garrafinha de uísque daquelas de hotel (como se ele pudesse beber), tudo corretamente embalado e colocado numa caixinha preta personalizada para a longa viagem...
 
Titia falou que vai cumprir a «missão» com muito gosto! (risos). Essas tias maravilhosas....
 Agora resta esperar o seu retorno para ver o desfecho desta crónica gonzo a la Hunter Thompson.
 
«To Jim:
 This is not the end my lonely friend
 Hugs to eternity»
 
Prezada Tia Maria Augusta,
 
Desculpe incomodá-la, mas gostaria de lhe pedir esse favor: Desde a minha adolescência sou fã confesso do Jim Morrison do «The Doors»; o cara me influenciou muito em todos os sentidos...
 
 
 
 

 
 
 

sábado, 3 de novembro de 2012

Uma Carta para Hilda Hilst - Texto de Tino Cabralia

 
Uma Carta para Hilda Hilst - Texto de Tino Cabralia
 
Hilda,
 
 Li o seu livro «Contos D’Escárnio», onde as estranhas experiências sexuais de Crasso e sua aguçada crítica ao comportamento de suas amantes e amadas e a si próprio, tornam-se uma crítica generalizada para toda classe artística, aos leitores, ao próprio autor (você se questionando) e a toda sociedade.
 
 Você tenta educar o leitor desesperadamente, usa o seu personagem ou seus personagens para desfraldar uma série de ataques à pobreza da literatura nacional e porque não de toda cultura impregnada de mesmice. Seu cinismo perante essa situação é mortal, irónica até o fim do túnel, retratando um País no fim do poço.
 
 Seus contos com tema erótico/pornográfico, talvez um meio termo entre os dois, revelam uma beleza plástica literária jamais imaginada nos livros do gênero. «Avis rara».
 
O vocabulário vastíssimo é exemplo de respeito e admiração pela língua portuguesa, ficando muito distante do rebuscamento desnecessário, revelando uma riqueza pouquíssimo explorada, tão importante para uma comunicação diferenciada, estudada e de alto nível, para um leitor (em geral) tão mal acostumado e acomodado buscando a simplificação.
 
Você quebra tabus, demonstra uma visão aberta, banalizando e desnudando tudo aquilo que vivemos tentando esconder; esse lado animal, não civilizado – o sexo em conflito com o intelecto – a busca e a não busca de explicações para o inexplicável, o homem inserido no contexto natural, impulsivo, a magia do ser humano e tudo o que lhe cerca. O mistério.
 
 Assim também me senti ao ler «Cartas de um Sedutor», impressionado com a qualidade do seu texto...tanta riqueza...tanto humor refinado neste País tão pobre, sem referências e sem graça.