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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

João Aguiar - A voz dos deuses

 
João Aguiar - A voz dos deuses 
 
«Não é de ânimo leve que um homem, mesmo corajoso, se acerca de uma necrópole durante a noite, pois nunca se sabe que espíritos ou entidades errantes poderão andar em tais lugares.
 
No entanto, decidi arriscar um encontro com os mortos porque os vivos, naquela altura, podiam ser mais perigosos; a praia que fica próxima da velha necrópole cartaginesa de Gadir era um lugar abrigado e solitário onde seria possível aguardar o embarque em segurança.
 
Bem abafados contra o ar nocturno, esperámos sentados na areia fria. O mar ali é sempre sereno e o barulho das ondas reduzia-se a um chapinhar surdo, mas o ar estava cheio de murmúrios. Mantivemo-nos calados para não atrair a atenção dos defuntos.
 
Finalmente, ouvimos o ruído de remos ferindo a água e uma pequena embarcação tornou-se visível e aproximou-se até encalhar quase silenciosamente. Fui ao encontro do seu único tripulante, que me olhou com atenção, como para ter a certeza de que eu era um ser de carne e osso, e pronunciou a senha combinada: «Eunois».»
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Introduzo, previamente, o esclarecimento de que considero o romance que apresento, A Voz dos Deuses, de leitura obrigatória.
 
O meu interesse pessoal, pela obra surgiu a par da recolha de informação sobre Viriato, o mítico líder da Lusitânia. De facto, esta obra literária submete-nos à necessidade de visitar o século II a.C., altura em que a Península Ibérica se encontrava dividida em diversas tribos desunidas que pelejavam arduamente contra a ânsia romana de dominá-las sob o comando e a influência de Viriato.
 
Trata-se de um clássico romance histórico contemporâneo que ficciona a vida deste comandante dos exércitos peninsulares, do II século a.C., que evita que os Romanos esmaguem as tribos da Ibéria durante os sete anos que nela prevalecem as suas tropas. João Aguiar leva-nos a admirar um Viriato homem de valores, comandante incontestado, magnífico estratega militar e diplomático com uma componente humana quase invulgar para a época.
 
O narrador Tôngio, velho sacerdote do Templo de Endovélico (um dos principais do culto ibérico à época a que a narrativa nos remete) conta, chegando ao final da sua vida, a forma como nasceu, cresceu e viveu numa Península Ibérica invadida pelos Romanos, na tentativa de expandirem o seu Império até ao Atlântico.