Em BRAGA - dia 4 de Abril (5ªfeira), vai ser apresentado um livro de que sou autor.
Uma oportunidade para se trocarem ideias sobre o socialismo e a Europa.
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quinta-feira, 28 de março de 2019
quinta-feira, 21 de março de 2019
Dia Mundial da Poesia - 2 poemas de Carlos de Oliveira
DOIS POEMAS DE CARLOS DE OLIVEIRA
Participando na celebração do Dia Mundial da Poesia , evoco Carlos de Oliveira (1921/81), através de dois dos seus seus poemas. E assim homenageio também todos os poetas do "Novo Cancioneiro", bem como toda a resistência poética ao fascismo português.
Acusam-me de mágoa e
desalento
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Cantiga do Ódio
O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
[ in "Mãe Pobre"]
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Em Coimbra, revisitar António Sérgio no próximo dia 28.
Em COIMBRA, no próximo dia 28 de fevereiro ( 5ª feira), vai decorrer na Casa da Escrita, de manhã e à tarde, um Colóquio evocativo de António Sérgio.
É um justo tributo prestado a um dos mais destacados vultos culturais e políticos do Século XX em Portugal.
É um justo tributo prestado a um dos mais destacados vultos culturais e políticos do Século XX em Portugal.
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
DIREITA - inflação de partidos ou procura?
DIREITA - inflação de partidos ou procura?
1. Independentemente das subjectividades individuais dos seus membros, os partidos políticos da direita funcionam objectivamente como protecção
e salvaguarda do sistema económico vigente, o capitalismo. A complexidade das circunstâncias históricas , as conjunturas nacionais e a qualidade política
dos seus protagonistas condicionam o desempenho desse papel. A vozearia que lhes dá vida é muitas vezes uma simples cortina de fumo.
Por isso, saber se à direita há um, dois, três ou quatro
partidos, é secundário, ainda que possa ter alguns efeitos circunstanciais. É que, verdadeiramente, todos eles funcionam, no essencial, como se fossem marionetas manipuladas por um todo-poderoso ventríloquo. E assim, por detrás das várias modulações de voz, realmente, as falas que se ouvem são afinal de
um único ventríloquo, que não vemos nem conhecemos.
A desvantagem desta proliferação está no facto de a multiplicidade
de partidos à direita poder transformar uma força em várias fraquezas, com consequências
devastadoras na representatividade eleitoral de todas elas. Por isso, se
excluirmos o folclore corrente, isso só acontece em termos relevantes quando se pense que o modo de representação política vigente da
direita está em crise, ou pode ser muito melhorado. É o que acontece agora, em Portugal.
Por isso, está em
curso um período experimental de verificação politico-partidária que no seu termo permitirá apurar se
realmente era necessário e possível promover um reordenamento político-partidário
da direita em Portugal. Mas não se trata de uma experimentação laboratorial dirigida por um
comando único, coerente estrategicamente e obedecido. Trata-se de uma convivência
entre processos distintos com um baixo grau de articulação, cada um dos quais
apostado num caminho próprio.
Temos o estilo tribunício de matriz trovejante
que se imagina épico e portador de bandeiras exaltantes, se possível
radicalmente portuguesas. Temos o estilo rasca do lixo ideológico que procura
juntar toda a lama que possa conseguir nos
subterrâneos da vida. Temos o estilo liberal assético, tecnocrático e modernaço, apostado em fazer-nos ser engolidos pacifica e inteligentemente pela garganta fria do
neoliberalismo.
Aproveitando esta sofreguidão partidista, oriunda das
oligarquias sociopolíticas da direita nacional, entrou já também no
espaço mediático a ameaça humorística de uma política de arraial , seguramente
animada por farto foguetório, bem regada por um tinto forte e de boa cepa.
2. Mas, marcado talvez por uma prudência excessiva, eu atrevo-me a recomendar às
esquerdas :” Não continuem
a fruir docemente o vosso repouso estratégico, como se estivessem adormecidas”.
É que este frenesim da direita não é uma contenda de
gatos num saco fechado. Pelo contrário, vai ser cada vez mais uma disputa entre
várias maneiras de enganar o povo, de afastar de qualquer das esquerdas uma
parte daqueles que fazem parte delas, ou que têm interesses objetivos que os deveriam tornar seus apoiantes naturais. Que as esquerdas se permitam continuar o doce
repouso estratégico, é deixar os “gatos” sozinhos seduzindo o povo, sem o necessário
contraditório a contrariá-los.
Não me cabe a mim (nem saberia como fazê-lo) dar as
táticas que abram às esquerdas a porta do êxito. Mas cabe-me, mais do que o
direito, o dever de opinião. O dever de uma opinião cidadã dada dentro do povo
de esquerda.
Excluída a persistência do sonolento repouso como desígnio estratégico, não me parece também concebível que a maneira de as
esquerdas se afirmarem como vivas possa centrar-se numa intensificação de
acrimónias mútuas, numa retórica de um “eu é que sou presidente da junta”
coletivo e recíproco.
Também não me parece realista despejar no espaço público
toneladas de banalidades esperançosas, repetidoras óbvias de passados, ainda que
agora embrulhadas numa retórica digital e esvoaçante, quer pousando ao de leve na
Europa, quer arranhando-a discretamente.
Fazer com que as pessoas , que cada cidadão se possa
sentir por dentro das propostas , dos desígnios, do horizonte, não por ser um
eleitor cujo voto é almejado, mas por ser um cidadão desafiado a envolver-se num processo
social que poderá tornar a sua vida melhor, deixando futuro ás gerações vindouras.
Para isso, não é preciso ser complicado. É, pelo contrário, necessário ser simples e claro;
autêntico e sem subterfúgios. Fazer compreender para se ser apoiado. Ir à raiz
última dos problemas para que fique claro o que pode ser resolvido a curto
prazo e o que só pode ser resolvido a médio prazo se fizermos evoluir toda a
sociedade, transformando-a estruturalmente.
Os partidos de esquerda quando são Governo têm a obrigação de gerir
a sociedade tal como ela é. Sem dúvida. Mas não serão vistos como tais, se só fizerem isso, renunciando a serem
protagonistas da luta por uma sociedade outra, livre e justa. Será mais fácil, se for
caso disso, perdoar-lhes por se terem movido erradamente em direção a um horizonte dignificante do que por terem ficado
tolhidos na repetição do passado.
3. O ventríloquo instalado confortavelmente nos centros
de poder do capital financeiro vai manipulando discretamente as suas marionetas que gesticulam com entusiasmo como se tivessem voz própria. Por isso, o povo de esquerda espera dos seus partidos que combatam e neutralizem essas
marionetas, sejam elas duas, três, quatro ou cinco.
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sábado, 2 de fevereiro de 2019
Em COIMBRA - no próximo dia 15 de Fevereiro
Na FEUC, no próximo dia 15 de Fevereiro, vai decorrer a Conferência de Abertura da 10ª edição da Pós-Graduação em Economia Social
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sábado, 26 de janeiro de 2019
O DEMÓNIO DA SAÚDE
O DEMÓNIO DA SAÚDE
Um fantasma dos anos passados apossou-se do espírito
do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e (a fazer fé numa nuvem
mediática em curso) transportou-o para o tempo em que era Presidente do PSD.
Uma vez aí, levou-o fazer a uma
importante comunicação pública. A de que o referido Presidente da República não
aceitaria que a futura Lei de Bases da Saúde fosse aprovada na Assembleia da
República sem o apoio do PSD.
Se pelo menos tivesse permanecido desperta a vasta
região da mente de Marcelo Rebelo de Sousa especializada em Direito
Constitucional, o supracitado fantasma teria sido avisado de que a nossa Constituição
não dá legitimidade a um Presidente da República para exigir à Assembleia da
República que aprove a lei A ou a lei B, apenas quando ela for do agrado do partido de que o atual
Presidente em tempos foi líder.
Um fantasma destes é decerto obra do
demónio. É urgente um rápido exorcismo!
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
NÃO HAVIA NECESSIDADE!
NÃO HAVIA NECESSIDADE!
O conhecido fabricante de factos
políticos Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou uma sonolência acidental do Presidente
da República Marcelo Rebelo de Sousa e entrou-lhe insidiosamente no espírito .
Foi então que fez com que ele nomeasse para a liderança simbólica do próximo 10
de junho um azougado trauliteiro mediático de nome Tavares, alegadamente sociólogo de largo
espetro.
Dizem os mais prudentes que não
havia necessidade de assim serem ofendidos retroativamente os escolhidos para
os anos precedentes, Sobrinho Simões, João Caraça e Onésimo de Almeida; todos
eles figuras públicas de verdadeiro prestígio.
Receiam os mais céticos que em
próximos assomos equivalentes, em idênticas oportunidades, o bom povo português
seja brindado com a Cristina Ferreira ou, quem sabe, com a Lili Caneças.
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sábado, 19 de janeiro de 2019
Unidade da Esquerda
Se olharmos com atenção
para o modo como, ao longo do tempo, em diversos casos, com vários pretextos,
as várias áreas políticas da esquerda são atacadas pelo complexo
institucional-mediático da direita ostensiva ou implícita, podemos ver como a
esquerda já atingiu a sua unidade enquanto alvo.
Será por isso prudente
que cada uma das suas partes não caia na tentação de se associar à direita, quando o alvo
do dia for algumas das outras esquerdas.
E seria inteligente uma estratégia de combate conjunto contra a grande operação de longo prazo para menorizar a esquerda que está em curso. Os dispositivos mediáticos à disposição da direita são poderosos. Não podem ser combatidos com superficialidade e com precipitação, nem improvisadamente. Será estulto se a campanha em causa for ignorada ou menosprezada.
E seria inteligente uma estratégia de combate conjunto contra a grande operação de longo prazo para menorizar a esquerda que está em curso. Os dispositivos mediáticos à disposição da direita são poderosos. Não podem ser combatidos com superficialidade e com precipitação, nem improvisadamente. Será estulto se a campanha em causa for ignorada ou menosprezada.
Insisto: não esqueçamos
que para a direita todas as esquerdas estão dentro do mesmo alvo.
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Votos de um bom ano de 2019!
Com amizade e fraternidade, aqui vos deixo através de um
poema meu, estes votos de saudação.
Reforço-os, acompanhando-os com a
reprodução de uma obra do pintor russo Marc Chagall.
Desta maneira, também agradeço e retribuo os
votos de Boas Festas que me enviaram.
Rui Namorado
Bom
ano de 2019
flor do tempo o ano que há de vir
espera por nós ainda sem limites
espera por nós como se fosse sombra
das portas que ficaram por abrir
em si terá também as emboscadas
que os nossos dedos ágeis vão rasgar
caminharmos por ele é a aventura
em que espera por nós a liberdade
[Dezembro de 2018 - Rui Namorado]
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Carta aberta ao presidente Lula
Uma carta para LULA de um juiz brasileiro.
Neste fim de ano, que antecede um tempo especialmente dramático
para o Brasil, faz sentido enviar uma
mensagem tácita de solidariedade para com o Presidente Lula, transcrevendo da página virtual da revista brasileira
CartaCapital uma carta pessoal do juiz brasileiro Luís Carlos Valois que é juiz de direito no Amazonas, mestre e doutor em
direito penal e criminologia pela USP, pós-doutorando em criminologia em Hamburgo
– Alemanha, membro da Associação de Juízes para Democracia e do Instituto
Brasileiro de Ciências Criminais.
Sem deixar de ser um texto político, tem uma tonalidade pessoal que lhe transmite uma particular humanidade , sublinhando especialmente quão bárbaro é o que a direita brasileira, através das instituições que domina, está a fazer a LULA. Eis a carta:
Lula, meu caro, faz tempo que estou querendo te escrever. Esse pessoal do
meio carcerário tem uma espécie de tara por proibir as coisas, então não sabia
se minha carta ia chegar a ti, já que muita gente importante sequer conseguiu
entrar para trocar umas palavras contigo, razão pela qual resolvi escrever por
intermédio da internet mesmo, um dia tu vais ler.
Cara, eu sei que tu não és santo, nem eu sou, nem ninguém é, então todos
nós temos um monte de culpa por aí, mas o crime que tu cometeste realmente ninguém
sabe até agora qual foi. Bem, você sabe disso, você já disse que aceitaria a
pena tranquilamente se te mostrassem provas de um crime, só estou repetindo
porque a carta será publicada e porque quero ressaltar uma coisa.
Hoje em dia com tanta culpa por aí, já nem precisa de crime para se
condenar uma pessoa, basta querer condenar alguém que todo mundo já acha esse
alguém culpado. É como um juiz me falou certa vez, que ele não sabia porque
estava condenando o cidadão, mas o cidadão sabia porque estava sendo condenado.
É mais ou menos assim que estamos vivendo, e é cada um por si.
No teu caso, um recibo de pedágio, a tua visita a um apartamento, mais dois
ou três presos dedos-duros loucos para ganhar a liberdade, e pronto, está
formada a prova necessária para a tua condenação, mesmo que ninguém diga onde
está o teu dinheiro, onde está o benefício que tu tiveste nisso tudo, ninguém
diz. E ninguém quer saber.
Pode ser que digam que há mais coisas no teu processo,
pode ser que haja, mas tenho certeza que se houvesse algo tão sério já teria
sido divulgado aos quatro ventos, porque uma das coisas que mais se discute
aqui fora é justamente a tua culpa, ou não culpa, e até agora só essa tua
visita no apartamento que, obviamente, não é teu.
Xará (acabei de me tocar para o fato que temos o mesmo nome…rs…), a coisa
tá difícil. Não quero entrar aqui na questão política, se fizeram tudo para te
tirar da eleição, se têm ódio de ti porque és nordestino, um nordestino que
teria chegado onde incomoda muita gente, e feito outros tantos nordestinos
incomodarem mais gente por chegarem onde chegaram, não quero falar dessas
questões políticas, quero conversar contigo sobre a tua situação atual.
Tenho trabalhado com presos a vida inteira e sei o quanto é difícil,
principalmente em situação de isolamento, o encarceramento. Eu queria
inclusive, com esta carta, te mandar uns livros, mas também não sei se
chegariam até ti, são meios subversivos, acho que tu tens que ler algumas
coisas subversivas, sabe? Tu tens que conhecer o sistema a fundo para entender
a tua própria situação de encarcerado.
Um dia Nilo Batista disse que todo preso é um preso político. Pena que a
maioria dos presos não sabe disso. O sistema, nele incluído o sistema penal,
tem uma função primordial em fazer todos acreditarem, inclusive os próprios
presos, que tudo funciona na mais perfeita ordem e, se tu estás preso, é porque
devias estar preso.
Aliás, falando em Nilo Batista, e desviando do assunto novamente para a
política, esse sim era um nome que tu devias ter nomeado para o Supremo. Poxa,
tu não nomeaste nenhum penalista, e agora o que acontece, acontece que a maior
parte dos integrantes do Supremo não sabe o que é uma prisão, dá para manter
todo mundo preso sem um pingo de peso na consciência, convalidam mandado de
busca e apreensão como se fosse um mandado de penhora, permitem condução
coercitiva como se fosse uma intimação para depor em juizado, autorizam
execução antecipada da pena como se ninguém corresse um grande risco de morrer,
assassinado ou por doenças, atrás das grades.
Eu sei, eu sei, tu vais dizer que já percebeste isso, afinal estás preso e
muitos dos que te mantiveram preso foram nomeados por ti. Eu também sofri na
pele uma medida policial, uma busca e apreensão na minha casa autorizada à
Polícia Federal por um magistrado nomeado por ti, mas até agora, pelo menos
após a violência da busca, não tenho nada para dizer do juiz, apenas que ele
não é da área penal, e ser da área penal é muito importante, porque o direito
penal é como uma metralhadora, só serve para provocar dor e mortes. Não basta
boa vontade para manusear uma metralhadora.
Qual a justificativa dessa medida contra mim? Alguns presos me elogiavam em
interceptações telefônicas. O juiz não pode ser respeitado por preso, juiz deve
ser odiado, essa é a imagem com a qual o poder judiciário tem buscado
legitimidade frente a uma população sofrida por causa da criminalidade
crescente, demonstrando-se rigoroso, mais um temido órgão de repressão. Mas
depois eu volto a falar dos presos, dos outros presos.
Olha, esse fato acima parece irrelevante, mas é a prova de que eu podia
muito bem achar bem feito o que aconteceu contigo, querer te ver preso, mas
não, não quero. Seja pela tua idade, seja pelo que você representou para o Brasil,
seja porque prisão não resolve nada, seja porque ainda não vi efetivamente o
que tu usufruíste do crime, que também não sei qual é, que te imputam.
O mais interessante é que, e isso deve te deixar
louco, tem um monte de gente pega com malas de dinheiro, helicóptero com
cocaína, motorista milionário, ou seja, gente com dinheiro de verdade na conta,
coisa mais fácil de provar, dinheiro na conta, mas estão todos soltos.
E, pior, nessas horas eles alegam o princípio da presunção de inocência, o
devido processo legal, a ampla defesa, essas garantias jurídicas facilmente
manuseáveis, principalmente em uma sociedade de memória fraca.
Sabe o que é, Lula, o sistema capitalista é feito de dinheiro, status,
aparência e malícia, muita malícia, mas acima de tudo o sistema é feito de
instituições, todas funcionando sob a mesma base, a que privilegia o acúmulo de
capital, a que privilegia o mercado financeiro, em detrimento dos pobres.
Lá estou eu falando de política novamente. Nesse assunto, do mercado
financeiro, nem quero tocar mesmo, porque seria a única coisa que estragaria
esta carta, pois poderia falar coisas mais pesadas, a ponto de te deixar
chateado comigo. Fostes muito bom para os bancos, para o mercado financeiro.
Bem, deixa pra lá, pode ser que tu não tenhas tido outra saída, pois, afinal,
ninguém ajudou mais os pobres do que você.
O fato é que tu és, além de tudo, um cara simpático. Não sei se vou te
conhecer pessoalmente um dia, mas se isso acontecer, tenho muito mais coisa
para te falar do que permite uma carta, “privada” (na condição em que tu estás
nada é privado, e esse é um agravamento da pena, os presos perdem além da
liberdade, a privacidade) ou principalmente pública, como essa que escrevo
gora.
O que é importante é ter força, cara, as coisas mudam muito rapidamente
nesse mundo. Nunca abaixe a cabeça, porque a esperança combina com cabeças
erguidas, e há milhares de pessoas que ainda acreditam em ti, estão te
esperando aqui fora, e isso deve ser capaz de te dar uma força tremenda.
Já recebi, na vida, milhares de cartas de presos, e em resposta a quase
todas eu vou até o presídio e falo pessoalmente com o preso, mas essa é a
primeira vez que escrevo a um preso. E não podia encerrar sem te dizer isso,
Lula, mesmo que você tivesse cometido o crime mais bárbaro do mundo, todos os
presos são seres humanos, todos os presos têm, acima de tudo, direito, se não
porque são seres humanos, porque esse direito está na lei e na Constituição, de
serem tratados com dignidade.
Espero que saias daí logo, possas voltar a conviver
com os teus familiares, teus netos, mas não esqueças nunca essa situação de
encarceramento, percebas o que muitas pessoas passam e passam em condições
muito mais severas, em celas imundas, lotadas, com ratos e baratas, do que
essas que tu estás vivendo.
Falo isso porque tu és, ainda és, um porta-voz do povo, de boa parte do
povo, brasileiro, e grande parte desse povo está atrás das grades.
No mais, quero te desejar sorte, muita sorte. Que as pessoas que te odeiam,
que também não são poucas, percebam a covardia que é espezinhar de uma pessoa
presa, porque, acredite, Lula, não há limites para o ódio à pessoa encarcerada.
Sorte, meu caro, não só tu como todos os brasileiros vão precisar neste novo
ano de sorte. Não sou um cara religioso, posso até me considerar um ateu,
embora essa conceituação não seja lá de muita importância para mim, mas te
desejo muita sorte e, ainda com pouca fé, que tu fiques com Deus.
Grande abraço,
Luís Carlos Valois
sábado, 29 de dezembro de 2018
A RTP e uma pixordice bolsonariana
1. Todos os cidadãos portugueses estão obrigados a obedecer ao que está disposto na Constituição em vigor. Por maioria de razão, as entidades públicas portuguesas não podem deixar de se comportar de harmonia com a Constituição, estando-lhes evidentemente vedado tomar posições públicas que ostensivamente a contrariem. Este imperativo de obediência à Constituição é especialmente relevante no caso dos meios de comunicação social públicos.
O art.º 46 no nº 4 da Constituição
diz expressamente que “não são consentidas organizações (…) que perfilhem a
ideologia fascista”. Não há pois qualquer dúvida quanto à ilegitimidade de ser
feita propaganda ideologicamente fascista nos meios de comunicação social
públicos em Portugal.
2.Ontem, 28 de dezembro,
no telejornal da RTP 1 foi anunciado com especial destaque que a respetiva redação
tinha escolhido como personalidade internacional do ano de 2018 Jair Bolsonaro.
Para sublinhar bem o significado da escolha foram amplamente mencionadas
algumas das suas posições indubitavelmente próprias de uma ideologia fascista.
3. Ficámos assim a
saber que, completamente ao invés do povo português, a ideologia fascista é maioritariamente
bem aceite no seio da redação da RTP 1.
Por um lado, isso ajuda
a compreender o modo como as questões políticas aí, muitas vezes, são tratadas.
Por outro lado, é
escandaloso que uma emissora de televisão pública publicite ostensivamente uma
preferência da sua redação por uma figura internacional claramente identificada
com posições ideológicas fascistas; o que traduz uma transgressão grosseira da Constituição
em vigor.
Que os redatores da RTP
sejam pessoalmente admiradores de Bolsonaro é algo que é da esfera da sua
consciência, não deixando de nos mostrar que espécie de gente nos entra todos
os dias pela casa dentro, paga pelo erário público.
Que usem o potencial de
propaganda do meio de comunicação social onde trabalham para prestigiarem uma
ideologia que a nossa Constituição deslegitima é absolutamente intolerável.
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
Homenagem a Romero Magalhães
Homenagem
a Romero Magalhães
Nunca se está preparado
para que os amigos nos deixem. Mas há casos em que o inesperado da partida se
sublinha a si próprio, quando chega bruscamente. Foi o que aconteceu com Romero
Magalhães. Estando eu longe de Coimbra, foi-me impossível participar na cerimónia
de despedida. Mas longe não deixei de percorrer a sua memória. Não me
limitei a percorrer o vazio de não voltarmos a falar. Acompanhei-o com saudade,
recordando o seu percurso cívico, universitário, cultural e político. Um
percurso que fez integrado na aventura coletiva que em Portugal vivemos nas
últimas décadas.
Agia e trabalhava sem
se deixar aprisionar pelo fugaz brilho das ribaltas efémeras. Movia-o apenas a
sua subjetividade mais profunda, as suas convicções firmes e perenes, a sua
curiosidade intelectual e a sua ética republicana. Não dava lições a ninguém,
talvez sabendo que a única verdadeira lição que pode ser dada é a que possa ser
lida no modo como cada um viver. A dar essa lição não se furtou.
Foi estudante de
Coimbra nos mágicos anos sessenta do século passado, onde começou a viver
cultura, aprendendo com Paulo Quintela no TEUC, do qual viria ser Presidente. Foi
o primeiro Presidente da Direção-Geral da AAC, eleito após a crise de 1962.
Após a Revolução de Abril, viria a ser deputado à Assembleia Constituinte pelo
Partido Socialista e Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos
presididos por Mário Soares (1976-1978). Foi Presidente da Assembleia Municipal
de Coimbra durante vários mandatos.
Licenciou-se em
História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo ingressado
como docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde se
doutorou, obteve a agregação e foi Professor Catedrático até se jubilar. Aí
desempenhou reiteradamente funções dirigentes. Foi Comissário-Geral da Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002) e Membro
da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011).
A sua obra como
historiador é vasta, importante e reconhecida, o que foi justamente sublinhado,
já no decurso do corrente mês de Dezembro, pela Universidade do Algarve ao atribuir-lhe
um doutoramento honoris causa.
É tempo de saudade, mas
é também tempo de memória. Uma memória limpa , sem floreados para ser digna da
sua lembrança, mas fazendo-nos recordar sempre como de Romero Magalhães não
seria nunca de esperar a hipocrisia da
amabilidade fácil, nem a deslealdade mesmo subtil.
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Sempre atento!
Num Hospital de Lisboa, quando deviam estar de serviço dois médicos anestesistas, apenas um pode funcionar durante dois dias. Mostrando a sua vocação vigilante o Presidente da República, a propósito da tão relevante falta de um médico durante dois dias, declarou pública e solenemente que estava atento.
Fiquei deslumbrado pela minúcia com que o Alto Magistrado vigia a coisa pública.
No Olimpo, os deuses trovejaram a sua aprovação por este dileto filho que não cessa de os surpreender. Zeus confessou mesmo que também ele queria tirar uma selfie com Marcelo, quando voltasse a encontra-lo.
Fiquei deslumbrado pela minúcia com que o Alto Magistrado vigia a coisa pública.
No Olimpo, os deuses trovejaram a sua aprovação por este dileto filho que não cessa de os surpreender. Zeus confessou mesmo que também ele queria tirar uma selfie com Marcelo, quando voltasse a encontra-lo.
terça-feira, 27 de novembro de 2018
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
Meio Século - O cortejo da Tomada da Bastilha de 1968
O cortejo desfila na Rua Ferreira Borges. Neste momento, bandeira desfraldada, vai a passar a República dos Inkas.
Meio Século – uma leve respiração do tempo.
-o cortejo da Tomada da
Bastilha de 1968
Ouvi há poucos dias , num programa televisivo de referência que relembrava
1968, exaltar-se como transcendente uma discussão estudantil vivida em Lisboa entre paredes e cobrir-se de silêncio o que então se
passou nas ruas de Coimbra. Também por isso, vale a pena trazer à superfície um ligeiro perfume
de verdade histórica. Confesso que fui também para tal acicatado por uma troca
de mensagens entre o Zé Dias, o Matos Pereira e o Rui Pato acerca do cortejo da Tomada da
Bastilha de 1968. Um episódio que viria a contribuir para o que aconteceu em Coimbra alguns meses depois.
Vou para isso, recorrer ao meu livro “Abril antes de Abril ─ A crise universitária de Coimbra de 1969” ─ limitando-me a citá-lo.
Na
sua página 55, pode ler-se:
“No novo ano letivo
(1968/69), prosseguindo a dinâmica potenciada em setembro, a CPE[ Comissão
Pró-Eleições] manteve a atividade para que tinha sido escolhida. Nos momentos
chave de todo esse processo o Secretariado do Conselho das Repúblicas (SCR),
foi uma estrutura coadjuvante de grande importância. A CPE e o SCR sempre
agiram concertadamente.
Em Outubro de 1968,
foi-se tornando claro que o movimento pró-eleições na AAC ganhava força crescente, pelo que se sentia que as
eleições académicas não tardariam. Quando isso foi patente, entendeu-se que era
acertado (até como meio suplementar de pressão) dar as eleições como facto
adquirido e desde logo lançar uma lista candidata à AAC. E optou-se por fazê-la
sair das mesmas estruturas que haviam criado a CPE, concebendo o processo do seu lançamento de modo a
aproveitar o prestígio desta Comissão, sem deixar de tornar evidente a novidade da lista.
aproveitar o prestígio desta Comissão, sem deixar de tornar evidente a novidade da lista.
Na sequência da entrega
do abaixo-assinado dos estudantes de Coimbra a exigirem eleições na AAC ao
Ministro da Educação (Hermano Saraiva) numa visita que ele fez a Coimbra, a CPE
foi oficialmente recebida por ele no Ministério da Educação, em Lisboa.
Em 25/11/68, dia da
Tomada da Bastilha, a CPE anunciou que o Reitor da Universidade lhe havia
comunicado a próxima realização de eleições, embora em termos não totalmente coincidentes
com os reivindicados por ela. Em 27/11/68, a CA anunciou que as eleições se
realizariam em princípios de Fevereiro. Entretanto, a lista do CR fora
publicamente divulgada em 23/11/68.”
Mais adiante pode ler-se na página 77:
“O cortejo tradicional da Tomada da Bastilha
foi uma impressionante marcha de protesto contra a CA na AAC, tal como nós
tínhamos programado, e não a manifestação política que os dirigentes de Lisboa
tinham sonhado vir fazer a Coimbra. Isso mesmo foi assegurado
pelo próprio Conselho das Repúblicas que organizou o desfile”. E em nota de rodapé acrescenta-se : “ Vale
a pena recordar um episódio relevante no processo de preparação do Cortejo.
Para isso, veja-se o Anexo nº 14
(pag. 175 )”.
Na
primeira parte anexo 14, explicava-se o que é a Tomada da bastilha na Academia
de Coimbra : “O ponto alto das comemorações era o
cortejo das repúblicas a que se associava toda a Academia e que descia atá à
Baixa por onde passava, para voltar para Praça da República. Foi o que
aconteceu também em 1968”.
Na
segunda parte, narrava-se o episódio em causa: “Ciente, a partir dessa manhã, dos problemas
criados em torno do Cortejo da Tomada da Bastilha, pelos colegas de Lisboa, e
aproveitando o facto de estarem presentes todas as repúblicas, no Sarau
Cultural integrado nas comemorações, realizado essa tarde no Teatro Avenida, o
Secretariado do Conselho das Repúblicas convocou de urgência uma reunião do
Conselho.
A reunião decorreu nos
bastidores do Teatro Avenida com todos os seus participantes de pé. E aí foi
decidido que, sendo o cortejo das Repúblicas, elas se iriam responsabilizar por
fazer com que ele decorresse de acordo com a orientação preconizada pelos
dirigentes do movimento estudantil de Coimbra. E assim, o cortejo seria
dividido em 22 segmentos claramente demarcados (um por república), cada um dos
quais seria colocado sob a responsabilidade exclusiva de uma das repúblicas, a qual
seria, portanto, responsável por tudo o que decorresse dentro dele.
Todos os estudantes que
quisessem participar no cortejo iriam distribuídos por esses 22 segmentos, não
havendo portanto cortejo fora deles. O cortejo seria silencioso até que em
locais predeterminados se gritassem apenas duas palavras de ordem: “ Fora a
CA!” (leia-se Comissão Administrativa da AAC) e “ Eleições
Já!” (eleições na AAC, claro).
O cortejo seguiu o percurso tradicional, tendo
atravessado a baixa da cidade mais de três mil estudantes, que nos momentos
adequados gritaram as palavras de ordem combinadas. O efeito foi enorme,
transmitindo uma imagem de coesão e força de grande impacto.
A propalada tentativa
de fazerem do cortejo uma manifestação ostensivamente política, mesmo ao
arrepio da vontade dos organizadores do cortejo, que se dizia estar na mente
dos colegas de Lisboa, foi assim reduzida a nada. Soube-se que foram esboçadas
algumas tentativas, nesse sentido, pronta e implacavelmente anuladas pelos
“repúblicos” responsáveis pelo espaço em que surgiram. O cortejo foi assim uma
manifestação imponente de apoio aos objetivos imediatos da luta dos estudantes
em Coimbra e como se sabe as eleições realizaram-se pouco depois com os
resultados conhecidos”.
Evoco o que aconteceu homenageando
fraternalmente todos aqueles que atravessaram o tempo naquela noite fria de
novembro há cinquenta anos.
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domingo, 25 de novembro de 2018
Não deixemos que a memória se apague!
Vamos contribuir para que a memória não se apague, recebendo condignamente em Coimbra Helena Pato, no próximo dia 28 de novembro, 4ª feira, às 18 horas. Vai ser-nos apresentado um livro seu, através do qual nos vai ser dado testemunho de como as vidas verticais não deixaram fechar as portas da esperança, quando a noite cercava o nosso povo.
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segunda-feira, 19 de novembro de 2018
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Suplício e Paixão do Socialismo
Vou publicar um livro sobre o socialismo. Vai ser apresentado em COIMBRA no próximo dia 22 de Novembro , ( quinta-feira), na Casa da Cultura, às 18 horas.Estão convidados . Serão bem-vindos.
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sábado, 10 de novembro de 2018
PENSAR A ECONOMIA SOCIAL
Chamo a atenção a quem se interesse pela economia social ou por qualquer das suas vertentes (cooperativa, mutualistas,solidária, comunitária ou autogestionária), para esta iniciativa do Partido Socialista que vai decorrer em Coimbra no próximo dia 17 de Novembro.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2018
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