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segunda-feira, 20 de maio de 2019

PARA ALÉM DO UMBIGO DA EDUCAÇÃO





PARA ALÉM DO UMBIGO DA EDUCAÇÃO

O perverso furacão Bolsonaro assola o Brasil. Entre as devastações mais graves, a que atinge a educação dos brasileiros. Da autoria de Ana Luiza Basilio, foi publicado um texto sobre educação,  na página virtual da prestigiada revista de grande circulação CartaCapital.

No essencial, apela-se para que o tosco poder atual olhe para alguns exemplos positivos dados por outros países através do mundo. São mencionados cinco exemplos: Finlândia, Canadá, Alemanha, Estónia e Portugal.

Para além de alguns detalhes discutíveis,o texto mostra em si próprio que  Portugal é visto como projetando no campo da educação uma imagem global suficientemente positiva, para suportar a sua invocação como exemplo.

E,no entanto, na última década temos sido tolhidos por um grande desperdício de energias, desviadas para aspetos menores da problemática educativa ou para maneiras tóxicas de abordar aspetos relevantes dessa problemática. É tempo de arripiar caminho.

Se partirmos do essencial,provavelmente, criaremos condições para superar sem dificuldades de maior  algumas das crispações que têm grassado entre nós nos  últimos anos, sem benefício para ninguém e com prejuízo para o país.

Olhemo-nos tal como somos visto no texto seguinte e aprendamos a aprender com os outros países dados como exemplo ao nosso lado. Não para os imitarmos acefalamente mas para  tirarmos deles as lições que nos possam dar.
Eis o texto que mencionei.

*****************

5 países que apostam, e muito, na educação
(fica a dica, Bolsonaro)


Conheça a trajetória de nações que valorizam os professores e são exemplos de modelos educacionais do mundo

Se é difícil encontrar paralelo no mundo com o que se passa no Brasil de maneira geral, é quase impossível detectar uma experiência semelhante quando se trata de educação. Na maioria dos países, ricos ou pobres, ao Norte ou ao Sul, a compreensão do ensino como esteio da civilização e da prosperidade é disseminada e defendida pela sociedade. Ninguém se atreveria a cortar o orçamento das universidades sob a alegação de “balbúrdia”, interromper o pagamento de bolsistas de mestrado ou doutorado sem critérios claros ou chantagear os eleitores com a possibilidade de secar as torneiras caso uma reforma da Previdência não seja aprovada. O mais provável destino de um governo que assim se comportasse seria uma breve temporada no poder – e o ostracismo político.
Na Europa, berço do Estado de Bem-Estar Social, o ensino, do maternal à universidade, é público e gratuito, salvo raras exceções, e não há líder populista de direita capaz de convencer a população de que o sistema prejudica a economia e estimula o privilégio. Ao contrário. A educação universal e às expensas do Estado é vista como uma condição básica para garantir a igualdade e o desenvolvimento. Nas nações em que escolas públicas e privadas convivem, o ensino pago é preenchido por uma minoria – ou filhos de milionários ou estudantes com dificuldades de adaptação.
Não bastasse, enquanto o governo Bolsonaro escolhe a educação e a ciência como os inimigos número 1, nações que há muito tempo atingiram a universalização do ensino preparam-se para a nova etapa do capitalismo: a revolução industrial e tecnológica chamada de 4.0, tsunami que destruirá milhares de profissões e milhões de empregos ao redor do mundo nas próximas décadas. Corrida para a qual, obviamente, o Brasil se torna cada vez menos competitivo.
A seguir, listamos cinco países que, em diferentes medidas, redobraram seus esforços para adaptar os cidadãos à nova fase do desenvolvimento:
Portugal
Desde que a OCDE, a organização das nações desenvolvidas, começou, em 2000, a aplicar um sistema de avaliação entre seus afiliados, Portugal registra melhoras constantes nos indicadores. Em 2015, os estudantes do país conseguiram notas acima da média em ciências, leitura e matemática. Um dos segredos é o maciço investimento nas famílias e nos primeiros seis anos de uma criança. Entre 2003 e 2015, o total de mães com ensino secundário completo subiu 41%. Quanto maior a escolaridade materna, mostram os estudos, maior o rendimento dos filhos na escola. Nem a crise econômica que devastou Portugal em 2008 interferiu nas políticas públicas.
A educação básica em Portugal é dividida em três ciclos e leva 12 anos para ser concluída. O Ensino Superior contempla dois sistemas: universitário e politécnico. No primeiro, são conferidos aos estudantes os graus de licenciatura, mestrado e doutorado. Os institutos politécnicos concentram-se na formação profissional prática.
Finlândia
Referência mundial, a Finlândia constantemente aparece no topo das avaliações de qualidade da educação. A revolução no ensino começou ainda nos anos 1960, quando os impostos gerados pela indústria de papel e celulose sustentaram a adoção das políticas de Bem-Estar Social. O ensino gratuito e universal foi adotado na década de 70 e desde então mira o conhecimento interdisciplinar e não estanque. Matemática, ciência e música são apresentadas aos estudantes por meio de projetos integrados, forma de combinar os conteúdos e adaptá-los ao cotidiano dos alunos. Como a individualidade é estimulada e não reprimida, uma sala reúne até cinco níveis de estudantes em torno de uma mesma tarefa.
O governo incentiva a adoção de novas tecnologias e modelos de aprendizagem. Os professores são valorizados e exigidos. É preciso mestrado para dar aulas em uma escola de Ensino Fundamental. Na Finlândia é mais difícil ser professor – em 2015, a taxa de aprovação nos cursos de formação de professores foi de 4,2% – do que médico, cujo índice de aprovação nas faculdades é de 8,8%.

Canadá
Em 2015, o país ocupou o terceiro lugar do ranking da OCDE em leitura e ficou entre os dez melhores na avaliação geral. O sistema canadense organiza-se a partir de províncias autônomas, ou seja, não há um sistema nacional, mas políticas distintas em cada localidade. Um traço comum no sistema é, no entanto, a igualdade de oportunidades. Há um esforço para integrar o grande contingente de migrantes que todos os anos aporta no país. Em geral, um aluno de fora leva três anos para alcançar uma performance semelhante aos estudantes de origem canadense.
São também expressivos os investimentos em alfabetização, treinamento de professores, bibliotecas e reforço para alunos com dificuldade de aprendizagem.
Os bons índices refletem ainda a homogeneidade socioeconômica. Há pouca diferença de rendimento escolar entre os alunos mais e menos pobres. No último Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, a variação de notas causada por diferenças socioeconômicas foi de apenas 9%, em comparação aos 20% da França e 17% de Cingapura, para citar dois casos.
A rede pública abriga o maior número de estudantes. Em Ontário, 94% dos alunos estão matriculados em unidades públicas. De maneira geral, o sistema repele a lógica “academicista”, de fixação de conteúdos, e estimula a autonomia. Aos 14 anos, os canadenses podem escolher as disciplinas que mais interessam e montar a própria grade curricular. A educação obrigatória vai até os 16 anos.
Alemanha
Depois de um contingenciamento na última década causado pela crise econômica de 2008, a Alemanha anunciou a retomada dos investimentos públicos. Serão 160 bilhões de euros a mais entre 2021 e 2030 para universidades e centros de pesquisa científica independentes. “Com isso, estaremos garantindo a prosperidade do nosso país no longo prazo”, afirmou Anja Karliczek, ministra da Educação, durante o anúncio dos novos investimentos.
Além de mais dinheiro para a contratação de professores, as universidades terão acesso a um fundo de 150 milhões de euros destinado a projetos especiais.

Estônia
Na última edição do Pisa, o ranking da OCDE, a Estônia apareceu em terceiro lugar, atrás apenas de Cingapura e Japão. O sucesso educacional recente do pequeno país báltico sustenta-se em um tripé: acesso universal e gratuito em todas as etapas do ensino, autonomia garantida a professores e escolas e valorização da educação pela sociedade.
O governo investe atualmente 6% do PIB em educação. Enquanto o Brasil gasta 6,6 mil reais com estudantes do Ensino Fundamental, a Estônia aplica o equivalente a 28 mil reais. Boa parte do dinheiro garantiu o aumento de renda dos professores, que cresceu 80% nos últimos dez anos. O piso salarial é de 1,2 mil euros, cerca de 5 mil reais.
Um currículo nacional orienta os ciclos de aprendizagem, mas as escolas têm autonomia para aplicá-lo da maneira que acharem melhor. Como na Finlândia, as disciplinas são integradas e não respeitam limites burocráticos. Ética e educação digital estão entre os temas mais explorados. Exige-se no mínimo mestrado dos professores.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

SOCIALISTAS.



Cidadã francesa, nascida em Marrocos, Najat Vallaud-Belkacem  foi em França , mais do que uma vez, Ministra , durante o mandato presidencial de François Hollande. Recentemente, foi posto à venda o nº 1 da nova série  da revista  mensal « Magazine Littéraire », publicada em Paris. 

A referida ex-Ministra da Educação do governo francês escreve aí um artigo ( « Elogio da imperfeição em política » ) em que se debruça sobre as dificuldades atuais do socialismo democrático em França e na Europa, bem como  sobre as suas perspetivas  futuras .


Quero chamar a vossa atenção para um excerto do seu texto : « Hoje enquanto as esquerdas europeias se fraturam, quer se trate da Espanha, da França ou da Suécia, há ainda experiências que têm êxito, como é o caso de Portugal, para nos fazer lembrar que a plataforma das esquerdas tendo os socialistas como « pivot » não está de modo nenhum condenada pela história. »


Enquanto socialistas portugueses,não esqueçamos as nossas dificuldades, mas não menosprezemos os nossos méritos. Em política, é tão perigosa a pesporrência balofa que ignore as limitações  próprias, como a modéstia encolhida que nem se apercebe  dos méritos próprios.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

RAÍZES ?



Há três grandes vetores implícitos das políticas públicas impostas pela União Europeia a Portugal, como pressupostos para a concessão de apoio, que talvez valha a pena recordar na atual conjuntura.

Primeiro ─ valorização da agricultura empresarial e destruição da pequena agricultura camponesa, subsidiando a atividade da primeira e a inatividade da segunda.

Segundo ─ encorajamento da substituição da atividade  dos serviços públicos por encomendas a entidades privadas dessas atividades.

Terceiro ─ privatização de serviços públicos essenciais, como, por exemplo, as telecomunicações.

Aos membros da União Europeia era dada a pequena liberdade de se moverem no quadro destes e de outros dogmas, esforçadamente inventados por legiões de lobistas que em Bruxelas iam convertendo em  pura ciência económica os prosaicos interesses estratégicos dos seus poderosos clientes. 

À Santa Globalização atribuía-se o poder desse milagre. Um milagre que para muito poucos era paraíso imediato para muitíssimos era um milagre sempre adiado que ainda hoje não lhes chegou.

Os três vetores acima mencionados tiveram consequências: colapso da pequena agricultura, despovoamento e desertificação dos campos, degradação da prestação de serviços públicos essenciais, quebra de confiabilidade nas telecomunicações.

Estes problemas não podem ser esquecidos e não pode ser afastada a hipótese de se reverter  esse tipo de medidas ou de se percorrerem caminhos que nos façam sair da insalubridade das suas consequência.

Se vamos procurar as raízes do que facilitou os dramas humanos e sociais vividos recentemente por causa dos incêndios florestais temos que as buscar até ao fundo, não esquecendo  nenhuma .Embora também o devamos fazer, não podemos limitar-nos a valorizar o que é importante, esquecendo os bloqueios essenciais. Bloqueios ou distorções que são principalmente sistémicos e  só em pequena medida funcionais; bloqueios que as alterações climáticas tendem, cada vez mais, a tingirem das cores negras da tragédia.

domingo, 15 de outubro de 2017

O sono da razão cria monstros



Os teóricos da mentira inventaram a pós-verdade para se lavarem a si próprios.

Esperemos que os linchadores mediáticos não se associem aos burocratas do direito para inventarem o pós-direito como ocultação do arbítrio, como regresso à lei do mais forte.

A justiça ver-se-ia assim forçada a descer do seu pedestal, deitando fora a balança, tirando a venda que lhe tapava os olhos e brandindo a espada como um gume sem norte.


O Estado de direito converter-se-ia numa expressão vazia e a civilização entraria num prolongado sono de angústia.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Valorizar Coimbra para se valorizar Portugal


Em Coimbra, valorizar Portugal valorizando-se Coimbra.

Fazer com que o PS ganhe as eleições em Coimbra para não serem dadas á direita armas de combate á atual solução governativa, ao atual Governo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O homem do fato cinzento diz FMI.




O homem do fato cinzento diz FMI.

O homem do fato cinzento disse: “Ficámos surpreendidos com os resultados a que chegou a economia portuguesa”.
O homem do fato cinzento devia ter dito: “Enganámo-nos nas previsões pessimistas que fizemos quanto á economia portuguesa.”
O homem do fato cinzento acrescentou: “Mas devem ser feitas mais reformas estruturais”.
Eu pergunto ao homem de fato cinzento: “Se te enganaste porque nos dás os mesmos conselhos que darias se tivesses acertado?”
O homem do fato cinzento indica, embrulhando-as num economês internacional, quais são as suas reformas estruturais. Se traduzirmos pacientemente o seu economês internacional para português corrente, facilmente veremos que se reduzem a três tipos: prejudicar os trabalhadores, favorecer o capital e enfraquecer o Estado.
Como vemos é muito importante valorizar o português corrente, já que em economês internacional os portugueses como todos  os povos  podem ser enganados, mas em português corrente  os portugueses são muito mais dificilmente ludibriados. E os políticos-megafone do FMI em Portugal não podem ser tão desenvoltos como ainda não deixarem de ser, sob pena de correrem o risco de esqualidez eleitoral.
Duas perguntas me assaltam incomodativas, em conclusão:
1ª Por que razão milhares de cérebros sofisticados, pagos regiamente por dinheiros públicos, espremem a sua inteligência durante anos e anos para acabarem por recomendar  no essencial uma dócil obediência aos sonhos mais primários de qualquer patrão de esquina que esqueça a inteligência estratégica e a generosidade humana?
2ª Por que razão cabe aos Estados pagar e credenciar uma burocracia tecnocrática ostensivamente posta ao serviço do capital financeiro mundial?

Não espero que o homem do fato cinzento saiba responder.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Portugal, aluno modelo?



Portugal, aluno modelo?

É este título interrogativo que encabeça um texto sobre a situação atual do nosso país que acaba de ser publicado no número de setembro do magazine francês, Alternatives Economiques. (nº349 – setembro de 2015). São seus autores, Sandra Moatti e Alexis Toulon.
No seu início, pode ler-se a seguinte frase destacada:” Portugal retomou o crescimento e libertou-se da troika, mas o seu endividamento público e privado, continua colossal e a sua economia muito frágil”.
Dele vou traduzir a segunda parte desse texto, tecendo depois alguns comentários acerca do respetivo conteúdo. Atentemos no texto que mostra como é grande o embuste com que a direita quer enganar os portugueses, através de uma propaganda mentirosa e desonesta. Eis o extrato que referi, cujo subtítulo é significativamente,


Enormes Fragilidades

“Menos punitiva do que para a República helénica, a cura deixou no entanto marcas profundas sobre no tecido económico e social. O investimento afundou-se 35% desde 2008. A taxa de desemprego subiu até aos 17,5% em janeiro de 2013 e atinge ainda  12,4% em junho de 2015, e 31,6% entre os menores de 25 anos. Um refluxo que se explica em boa parte pela emigração massiva: mais de 100.000 portuguese deixam o país em cada ano desde o início da crise, em maioria jovens diplomados, e a população ativa recuou 350.000 pessoas entre 2008 e 2015. Os bancos, no entanto recapitalizados, continuam frágeis, como o mostrou o resgate do Banco Espírito Santo em 2014 e o falhanço do Banco Comercial Português nos testes de resistência do banco central Europeu (BCE) em outubro passado.
E se  enfim a atividade económica arrancou a partir do segundo trimestre de 2014, fê-lo em bases frágeis. No primeiro trimestre de 2015, a produção portuguesa continuava mais de 7% aquém do seu nível do início de 2008 e mesmo abaixo do seu nível de 2001. Com um setor industrial que continua a representar 20% do PIB e os salários que baixaram 5,3% entre 2010 e 2014, o país reencontrou realmente uma certa competitividade custo: uma hora de trabalho portuguesa custa 9,80 euros, todos os encargos considerados, contra 14,40 euros na Grécia. O que permitiu dopar as exportações, nomeadamente, no seio da união Europeia. Mas a produtividade da mão-de-obra continua ela também muito fraca: um trabalhador gera apenas 17,10 euros por hora trabalhada, contra 20 euros na Grécia e 32 ao nível da União.
Portugal continua a depender fortemente da indústria com fraco valor acrescentado, como é o caso do têxtil, que representa 10% das suas exportações. O nível de educação dos portugueses continua a ser um dos mais baixos da Europa: somente 43% dos mais de 25 anos concluíram o ensino secundário (contra 68% na Grécia e 76% no conjunto da União). Uma situação que a crise degradou ainda mais com os cortes orçamentais que amputaram um investimento público já pouco elevado, bem com as despesas com a educação.
Contrariamente às economias grega ou espanhola, a economia portuguesa não tinha tido nenhum “boom” antes da crise ela tinha vegetado durante toda a primeira parte dos anos 2000. Beneficia hoje da energia e de um euro não caros enquanto a política activa do BCE faz baixar os custos de financiamento. Mas o crescimento continua demasiado frágil para permitir que os agentes económicos se desendividem. Portugal é com efeito um dos países da União onde o endividamento total é mais pesado. Ele representa 486% do PIB, bem mais do que os 364% da Grécia ou dos 321% da média da zona euro. A dívida pública de Portugal que , como na Grécia, continuou a crescer com a ação da troika, passou de 111% do PIB em 2011 para 129% em 2014. Mas a daas famílias é também colossal, 120% do PIB, tal como a das empresas não financeiras que é de 237%.
Apesar disto, o país conseguiu escapar às garras da troika em maio de 2014 e o seu Estado financia-se a taxas historicamente baixas: menos de 3%. Mas, mesmo baixas, as taxas de juro pagas pelos agentes económicos continuam superiores à taxa de crescimento dos seus rendimentos, e num tal contexto o peso das dívidas não pode baixar. Tal como a Grécia, Portugal precisará de um política de investimento massivo e de um apagamento da dívida para que a sua economia verdadeiramente recupere. Aquando das tensões surgidas nos últimos meses por causa da situação grega, a taxa das obrigações portuguesas voltou a subir. Antes de voltar a descer depois do acordo de julho passado. Se o Grexit tivesse ocorrido, todos sabemos que Portugal seria o que viria a seguir na lista.”

Comentário:

Este excerto mostra quão descarado é o embuste assumido pelos partidos da direita que formam o atual governo, quando ficcionam um país viçoso e economicamente saudável graças aos seus méritos imaginários. A coligação que nos governa é um desastrado grupo de capatazes do capital financeiro, cuja agenda neoliberal segue docilmente, não sem que se tenham desgraçadamente aprimorado num fatal excesso de zelo que muitos e muitos portugueses pagaram duramente. Para se desembaraçarem da sombra do servilismo perante interesses estrangeiros, os do capital financeiro internacional, vestiram-se de um nome – disfarce, usando o nome de Portugal para esconderem quanto dele se têm afastado.
O gang do grande capital internacional, onde se destaca o FMI, o BCE, as agências de notação financeira, a alta burocracia da União Europeia e os principais dirigentes do PPE, com especial destaque para os alemães, comporta-se como se Portugal estivesse a respirar saúde com as mesmas motivações que antes o levaram a ficcionar desastres e a construir uma ameaça de bancarrota. Os alegados mercados ajudam à festa, mostrando bem o que realmente os move. Dispostos a “salvar” países, na estrita medida em que tal seja necessário para “salvar” bancos, vestem a pele de credores, mas verdadeiramente apenas usam essa posição para impor políticas e agravar sujeições.
A sua generosidade, em face de um “status quo” económico-social  que permanece desastroso, só tem paralelo na sua intransigência hostil, quando deram à troika o papel de garante da aplicação de uma política de direita ( não só antipopular como antinacional) que em democracia os portuguese nunca teriam aceitado. Os seus dóceis mandatários que nos governaram nesta ultima legislatura são agora levados ao colo, mas não entram pela porta principal, continuando a servir as bicas aos senhores.

Não enxotar de vez esta coligação de criados de libré do grande capital financeiro, pode suscitar os aplausos da Sr.ª Merkel ou do afogueado Camarão britânico, mas arrastará o nosso país para o risco de um colapso civilizacional. Se o soubermos ler, é isto quee nos mostra o texo acima transcrito.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

SOLIDARIEDADE EUROPEIA

Duas observações:1) os nossos empresários capitalistas merecem bem que lhes baixem os impostos pelo patriotismo que os seus actos mostram tão bem; 2 ) as nossas empresas merecem bem que lhes baixem os impostos para contribuírem para o progresso de economia holandesa.

Pergunta inconveniente: que estranho mecanismo é este que leva a que as regras europeias permitam que os países ricos do norte, como a Holanda, suguem os países pobres do sul, como Portugal ?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

LIGEIRA ALJUBARROTA


Portugal, enquanto claque, lavou ontem a alma batendo a Espanha por 4 a 0 no jogo de futebol realizado em Lisboa. Bater a Espanha tem sempre um sabor a Aljubarrota, mesmo quando se trata de um jogo amigável. Estava fresca a memória da derrota sofrida na África do Sul, a nossa selecção estava a sair de uma fase difícil. Afinal, Portugal arrasou.

Passei os olhos pela imprensa estrangeira, de onde respiguei 15 reacções ao desfecho do jogo acima citado. Utilizei jornais brasileiros, espanhóis, franceses, italianos, ingleses, mexicanos e argentinos. Eis as quinze alusões seleccionadas:


1. Portugal surpreende e aplica 4 a 0 na campeã Espanha

2.
Portugal faz barba, cabelo e bigode contra a Espanha: 4 a 0

3.
Portugal goleia a Espanha em clássico-
portugueses estragaram a festa espanhola em jogo que promovia Copa conjunta dos dois países

4. Nuevo papelón del campeón del mundo en un amistoso

5. Humilla Portugal 4-0 a España

6. Portugal vapulea a la campeona

7. España derrocha prestigio

8. Portugal golea a España liderada por Nani y el madridista y retrata a una campeona del mundo que se arrastró en Lisboa.

9.
Vendetta Portogallo: 4-0 alla Spagna

10. Spagna, clamorosa debacle.

11.
Le Portugal corrige les champions du monde espagnols

12.
Une sacrée revanche

13.
Le Portugal écrase les champions espagnols 4-0.


14. Spain suffered defeat by Portugal in Lisbon, their heaviest loss since Scotland beat them 6-2 in 1963

15. Portugal eventually beat the World Cup holders 4-0, but the game was goalless when Ronaldo turned Gerard Pique inside out and dinked a glorious shot over Iker Casillas.

sábado, 3 de julho de 2010

Não fui eu que disse !


Não foi o "mau perder" dos portugueses, não fui eu num delírio de fanatismo futebolístico, foi Maradona que protagonizou o episódio que a seguir se mostra. De facto, numa edição recente do “El País", periódico espanhol , certamente insuspeito de "lusitanite", li hoje em letras garrafais: “Maradona asegura que España ganó a Portugal gracias al árbitro”.
E de imediato , acrescenta-se, em sub-título :
“ El entrenador argentino ha afirmado que el gol de Villa se produjo en un "fuera de juego tan grande como este Mundial" .
Logo de seguida, pode ler-se:
“ Diego Armando Maradona ha arremetido contra la actuación del colegiado Héctor Baldassi en el partido de octavos de final que enfrentó a Portugal y a España, en el que la Roja se impuso 1-0. "No dejó a Portugal llegar al arco rival porque cada pelota dividida era para España. Soy amigo de Baldassi, pero me pareció un arbitraje horrible", ha dicho el Pelusa durante una rueda de prensa, después de que se le preguntara por un posible enfrentamiento con España en semifinales.
Maradona comparó el gol del Guaje, que le dio el triunfo a España, con el de Carlos Tévez contra México. "Dicen que el de Tévez era fuera de juego, pero el de Villa fue un fuera de juego tan grande como este Mundial. El árbitro estuvo mal, pero el juez de línea era Andrea Bocelli", ha asegurado el técnico, en referencia al cantante italiano invidente.
"No dejaba avanzar a los portugueses. No pitó dos o tres agarrones y todo eso va sumando. Luego España agarra la pelota y te hace mucho daño", añadió.”

sábado, 12 de junho de 2010

As sondagens como aviso

A infografia acima transcrita do semanário Expresso traduz os números de uma recente análise de intenções de voto da responsabilidade da Eurosondagem. Por aí se vê que o PSD atinge 0s 34,9% contra os 34,8% do PS. O CDS fica com 10,1 %, o BE com 7,7 e o PCP com 7,5 %. Se tivermos em conta apenas estes cinco partidos, não se compreende muito bem à custa de quem tem vindo a subir o PSD. De facto, parece que ele subiu mais do que a soma das descidas dos outros. Talvez isso possa dever-se aos pequenos partidos.

Mas a infografia mostra também a evolução das intenções de voto, desde Novembro passado. Há uma quebra suave mas continuada, do PS, uma subida do PSD, em aceleração nos últimos três meses; e ligeiras descidas dos outros três partidos.

É visível também o relativo êxito da nova liderança do PSD e o aproveitamento concentrado neste partido do desgaste relativo sofrido pelo PS. Tudo linear e de certo modo espelhando a percepção pública do que se passa. Duas observações a fazer, todavia.

Primeiro, a vantagem do PSD é de apenas uma décima, o que reflecte os limites da sua subida e a apreciável resistência do PS. É curioso, aliás, recordar como no ano passado, quando, havendo sondagens que davam entre 1,5% e 2% de vantagem ao PS, alguma comunicação social falava em empate técnico. No entanto, esses mesmos órgãos de comunicação social esqueceram-se por completo da história do empate técnico, quando se trata agora de sublinhar a facto de o PSD ter ficado à frente do PS pela diferença de 0,1 %.

Segundo, tendo havido nos últimos meses uma acção convergente de todas as oposições numa furiosa contestação do Governo e do PS, verifica-se que, sendo o alarido anti-PS feito por todos, dele só colhe frutos o PSD. Assim, estando embora o BE e o PCP motivados na sua hostilidade ao PS por razões muitas vezes distintas das que movem a direita, a verdade é que é esta quem parece ter tirado todo o proveito do esforço do BE e do PCP. Na verdade, a soma dos votos do PSD e do CDS, fazendo -se fé na sondagem, permitiria muito provavelmente uma maioria parlamentar de direita.

À semelhança de algumas outras sondagens, o PS é mais uma vez avisado, o PSD ainda não foi entronizado e ao BE e ao PCP é dada uma nova oportunidade para reflectirem sobre o risco de verem todo o seu trabalho político transformado na abertura de uma estrada, por onde passe a direita a caminho do poder.

Os partidos que forem capazes de analisar com racionalidade todos os sinais que têm vindo a ser dados, ficarão com boas possibilidades de reverterem o que lhes for desfavorável ou de acelerarem o que lhes for favorável. Os que insistirem na simples mastigação das suas rotinas actuais arriscam-se; e arriscam-se muito.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Brasil e Portugal - política.

1. Há uns dias atrás, extraí do site do jornal brasileiro Folha de S.Paulo o seguinte excerto:

“A nove meses de deixar o governo e em campanha aberta para eleger Dilma Rousseff sua sucessora, o presidente Lula atingiu a sua melhor avaliação desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2003: 76% da população consideram seu governo ótimo ou bom. É o recorde para um presidente desde que o Datafolha iniciou o levantamento, em 1990."

Se nos lembrarmos que Lula está no fim do seu segundo mandato de quatro anos, que o seu Partido nunca teve, por si só, maioria nem no Congresso nem no Senado, que sofreu uma feroz campanha de descredibilização de carácter na parte final do seu primeiro mandato, que teve sempre contra ele uma parte largamente dominante da comunicação social brasileira, podemos fazer uma ideia do que significam estes resultados.

Aquando da primeira eleição foi lançada uma campanha internacional de alarme pelo alegado risco Lula, largamente enraizada nos círculos dos poderes fácticos brasileiros e na respectiva direita. Afinal, os governos de Lula deram uma nova projecção mundial ao Brasil e estiveram muito longe de ter feito desmoronar a economia brasileira.

E, tendo sido Lula eleito pela força imparável dos mais pobres, não os desiludiu nem frustrou. Não lhes deu o paraíso, mas aliviou muitos da miséria; não os livrou de todas as dificuldades, mas restituiu-lhes uma dignidade nova e abriu-lhes um caminho, mostrando-lhes que há no futuro uma esperança, um outro horizonte possível.

Note-se que esse percurso teve na base coligações heterogéneas e instáveis e não um sólido bloco político. Sofreu o natural combate de uma direita saudosa da ditadura militar, que engoliu com dificuldade a presença de um operário metalúrgico na Presidência da República. Viu saírem das suas fileiras fracções que combateram ( e combatem) Lula e o PT sem estados de alma. Primeiro, foi a cisão do PSOL ( uma espécie de Bloco de Esquerda dos brasileiros), ainda no decurso do primeiro mandato; mais recentemente, foi a saída da senadora Marina Silva ( ex- Ministra do governo de Lula) para se candidatar pelos Verdes à Presidência da República, contra Dilma Roussef a candidata do PT.
Mas não se julgue que ficam por aqui as hostilidades que Lula tem que enfrentar vindas de dentro da própria esquerda brasileira. Por inacreditável que pareça, o PPS ( Partido Popular Socialista), que antes de ter adoptado esta designação foi o Partido Comunista Brasileiro ( do lendário Luís Carlos Prestes), é um dos três partidos que constituem o núcleo duro da oposição a Lula e ao PT, apoiando a candidatura do actual governador de S.Paulo, José Serra. Os outros dois partidos desta santa aliança de direita contra Lula são o PSDB ( a que pertence o Presidente Fernando Henrique Cardoso que antecedeu Lula e o próprio Serra) e os Dem ( os democráticos, que até há pouco se chamava Partido da Frente Liberal, constituídos por antigos apoiantes da ditadura militar).

É claro, que o PT de Lula tem outros aliados dentro da esquerda brasileira, como é o caso do Partido Socialista Brasileiro ( ao qual pertenceu Miguel Arraes e a que agora pertence Ciro Gomes ), do Partido Democrático Trabalhista ( fundado por Leonel Brizolla), do Partido Comunista do Brasil ( que é o herdeiro da cisão pró-chinesa do Partido Comunista Brasileiro, acima referido, consumada há décadas atrás). No entanto, o que é estranho é que haja forças, alegadamente de esquerda, que se virem contra Lula e o PT, em aliança clara e ostensiva com a direita brasileira.

Apesar de tudo isto, a popularidade de Lula é a que acima se constata.

Não sou um apoiante acrítico de Lula e do PT. Não são perfeitos , não são infalíveis. Quem o é ? Aliás, não sou apoiante acrítico de ninguém. Mas não posso deixar de admirar a extraordinária capacidade política, duravelmente demonstrada por Lula, bem como a força do PT, na sua diversidade; e tudo isso com as limitações e dificuldades de quem está a abrir um caminho político novo. Um e outro, tal como não são infalíveis, não são invencíveis, mas não vai ser fácil vencê-los.

Mas, o grande mérito que têm, para mim, é o de que no essencial ( e não certamente escolhendo sempre os caminhos que eu julgaria preferíveis) foram fiéis aos seus, à sua base social, aos que dependem da realização do programa de Lula e do PT para subirem na escala da inclusão social, da felicidade, da dignidade, da cidadania. Podem ter pactuado (e pactuaram) com áreas distantes deles no espectro político, podem ter sido, algumas vezes, mais transigentes do que parecia necessário, mas, no essencial, não traíram a confiança do seus


2.Penso, procurando comparar com a situação brasileira, a actual conjuntura portuguesa. Adoptando o ponto de vista de militante do PS, que sou, procuro olhar para lá da espuma cinzenta destes dias arrastados, escapar dentro do possível à volatilidade acelerada das circunstâncias. Ignoro o fogo rasteiro das oposições, reduzido a uma deriva sectária que parece não ter fim. E, olhando para a conjuntura, colho a impressão de que o mais urgente para o PS é, hoje, a preparação do médio prazo.

Não estou com isto a menosprezar os deveres conjunturais de quem governa, nem as suas enormes dificuldades, agravadas por este cerco enraivecido de uma inesperada matilha de sombras, que a si própria se dispensa de ter uma política que não seja a de combater o governo e o PS. Mas sinto a política, ancorada no imediato, como se ela não fosse mais do que o enchimento de um cântaro furado. Podemos ser mais ou menos eficazes a enchê-lo. Não é pouco, ser eficaz a enchê-lo. Não há que absolver a ineficiência do processo de enchimento. Mas o essencial do nosso problema é que o cântaro está roto. Enquanto não o substituirmos, de pouco valerá o nosso trabalho de Sísifo de o encher dia após dia.

O PS, sem deixar de continuar a porfiar para que o cântaro se não esvazie por completo, tem que começar por admitir que o cântaro está roto. De facto, se não reconhecemos um problema como poderemos resolvê-lo ? Reconheccendo-o, o PS encontrar-se-á de imediato com o essencial da sua identidade: ou seja, este não é o seu cântaro, mas aceita a responsabilidade de o ir enchendo, enquanto não o consegue substituir.

Este é, para mim, o cerne da problemática que o PS enfrenta, a qual é, aliás, de algum modo, a sua própria razão de ser, como realidade social historicamente situada. E é por isso que me parece que o futuro do nosso país se joga no êxito ou no fracasso do PS como protagonista de uma resposta global a essa problemática. O que , naturalmente, exige, desde logo, uma renovação radical da sua maneira de se inserir na sociedade portuguesa, bem como um alargamento significativo da amplitude das suas tarefas e uma transformação completa do seu modo de funcionar.

Saber quais as etapas que nos esperam nesse caminho, é algo que devemos procurar, desde já, cientes que será no decorrer dessa jornada que se irão precisando os contornos dos percursos que nos são exigidos e dos horizontes que iremos construindo. Mas temos, à partida, que nos afirmar como elementos incontornáveis de qualquer futuro pós-capitalista, de modo a que as nossas políticas não possam ser aprisionadas pela lógica de sobrevivência de um sistema económico -- o capitalismo que é injusto, ademocrático, liberticida e conduz a humanidade para um suicídio colectivo. Não esqueçamos: o cântaro está furado.


E, seguramente, para os socialistas portugueses, para o PS, para este governo, será muito mais patriótico e futurante correrem o risco de ser vencidos num combate travado em prol dos seus valores, das suas ideias e em consonância plena com povo de esquerda (verdadeiramente, a nossa gente), do que colher pequenas e efémeras migalhas de um alegado êxito europeu, concedidas pela cínica mistura do Partido Popular Europeu com os grandes agentes da especulação financeira internacional que tem decidido os destinos da União Europeia. Uma mistura cínica e sem norte que rege baçamente uma Europa aprisionada neste arrastar injusto dos anos que a vão reduzindo a uma imensa melancolia histórica, dia a dia saudosa de um futuro que parece escapar-lhe.

E é por isso que o contributo que os socialistas europeus podem, hoje, dar à Europa, para que ela retome a sua viagem, é o de serem eles próprios, o de trazerem para a cena política europeia a sua própria identidade política, as suas ideias historicamente sedimentadas, os seus valores. E, principalmente, o de construirem com celeridade uma visão de futuro que se afaste de qualquer tipo de cópia resignada deste presente triste e abafado que parece cercar-nos.
O que não podemos é continuar a ser uma espécie de pajem obsequioso e discreto de um neoliberalismo agonizante que asfixia os europeus e lhes confisca o amanhã. Chegou um tempo de encruzilhada: ou a Europa deixa de ser a quinta privada do Partido Popular Europeu ou vai aproximar-se rapidamente de um tempo de abismos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Portugal : energias renováveis



Qualquer português que se julgue bem pensante tem uma teoria sobre Portugal. E uma boa parte dessas respeitáveis cabeças, que nos concedem a graça de pensar em nós, olham para o país como se fosse uma caverna escura e sem saída. Uns outros, talvez mais toscos, olham para o mundo como se fosse um campeonato de futebol e torcem por Portugal. Seria talvez criativo metê-los todos num mesmo saco, deixando-os resolver o problema entre si, ferozmente.


É um pouco para ajudar a sair desse saco doentio que vos dou a conhecer um texto, publicado ontem pelo diário espanhol "El País"da autoria do jornalista espanhol Francesc Rellea. O texto fala da política energética seguida por Portugal. Vale a pena lê-lo.



Portugal hace de la necesidad virtud

El Gobierno quiere situar al país a la vanguardia mundial en las energías renovables

FRANCESC RELEA
09/11/2008

Portugal apuesta por las energías renovables para reducir la dependencia del petróleo y lograr un desarrollo sustentable. El país tiene recursos naturales inmejorables para la producción de energía eléctrica, térmica y biocombustibles. Sol, viento, mar en abundancia. Y pocos habitantes. En tiempos de crisis, el mensaje oficial recomienda más ahorro y menos contaminación, y las autoridades predican con el ejemplo. En los tejados del palacio de Belem (Lisboa), que alberga la presidencia de la República, 126 paneles solares miran al cielo para aprovechar los rayos del astro rey. En los jardines del palacio de São Bento, sede del primer ministro, las aspas de una microturbina eólica giran al ritmo del viento.
Sin petróleo, carbón, ni gas, y sin tecnología nuclear, Portugal asume el reto de liderar la revolución en Europa por una energía más limpia. La mayor central solar del mundo está en una gran planicie de Alentejo, en el sur; entre las montañas del norte, junto a la frontera con Galicia, se levantan los aerogeneradores del primer parque eólico de Europa; Portugal es desde septiembre pionero en la producción de electricidad a partir de la energía de las olas; y la compañía eléctrica estatal EDP Renovables ha inaugurado su decimocuarto parque eólico en Estados Unidos.
La Unión Europea estableció a través de la directiva comunitaria 2001/77 la meta de lograr en el año 2010 una cuota de consumo de energía de fuentes renovables del 22%. Portugal ya cumple con creces este objetivo, pues el año pasado estaba en torno al 42,1%, que le sitúa en el tercer lugar de la UE, detrás de Austria y Suecia. España ocupa la quinta posición, con el 29,4%.
La energía eólica es la punta de lanza y la más promisoria de las energías alternativas en el país vecino. En los últimos ocho años el crecimiento anual de los parques eólicos representó el 59,5% de la potencia total instalada de renovables, según un informe publicado hace unas semanas por el servicio de investigación del Banco Espirito Santo. En 2007, este banco fue líder en Portugal y tercero en el mundo en financiación de proyectos eólicos.
Entre los objetivos para 2010, el Gobierno del socialista José Sócrates pretende pasar de 2.526 megavatios instalados en junio de 2008 a 5.700 megavatios de energía eólica, con una inversión de 3.333 millones de euros, de un total de 5.500 millones de euros en renovables.
Una carretera empinada y sin asfaltar desde la localidad de Valença hacia la sierra de Anta conduce al parque eólico Alto Miño 1, en el extremo norte de Portugal, junto a la frontera con España. Diseminados a lo largo de 27 kilómetros de valles y montes de pino, eucalipto y carvalho (árbol autóctono de la zona), 120 aerogeneradores producirán 240 megavatios a final de año, cuando estén todos a pleno rendimiento. Se trata del campo eólico de mayor potencia de cuantos hay instalados en Europa, según datos de José Miguel Oliveira, director de Empreendimentos Eólicos do Vale do Minho (EEVM), la empresa que desarrolló Alto Miño 1, con participación de Endesa (32%).
En lo alto del monte y entre las nubes bajas asoma una pala de un molino de viento gigantesco que gira lentamente. Es un aerogenerador o turbina eólica, de 78 metros de altura. Más allá hay otro, y otro, y otro... Hasta 120 artefactos de los cinco subparques de Alto Miño 1, unidos en uno que enlaza con la red. El río discurre en paralelo a seis kilómetros, a lo largo de la frontera. "Antes de construir un parque eólico hay que estudiar a fondo el viento, las temperaturas de la zona, la lluvia. Durante cuatro años medimos el viento, que dividimos en tres categorías: débil, medio y muy fuerte. Aquí tenemos de las dos últimas", explica Oliveira.
Abajo se ve Anhoes, un pueblecito de 200 habitantes. Los pobladores de estos valles están felices con los enormes artefactos. Es cierto que afean el paisaje, piensan, pero al mismo tiempo han comprobado que el parque eólico ha traído dinero fresco. La empresa paga una buena suma a cada una de las 16 freguesías (consejos), que son los propietarios de las tierras: 840.000 euros al año. Además, los cuatro ayuntamientos recibieron una participación del 15%, que posteriormente vendieron por 20 millones de euros.
El parque eólico evita las emisiones de CO2, unas 370.000 toneladas al año, lo que constituye su mayor virtud desde el punto de vista ambiental. Pero no hay que engañarse. Este tipo de instalaciones, sin duda más ecológicas que una central térmica por ejemplo, tiene también un impacto en el medio ambiente, según admite José Miguel Oliveira. Durante la fase de construcción hubo tala de árboles y algunos animales autóctonos desaparecieron del medio. Ya en funcionamiento, algunas aves y, sobre todo, murciélagos son diezmados por las aspas, que alcanzan los 40 metros de altura.
En el otro extremo del país, en la región con más horas de sol de Europa (3.000 al año), un mar de espejos gigantes ocupa 320 hectáreas, entre campos de olivos y encinas. La central solar de Amaraleja está en el sur de Portugal y es la más grande del planeta. Tiene nada menos que 262.080 paneles que, perfectamente alineados, se mueven durante todo el día en un sistema de seguimiento del sol que optimiza la producción eléctrica. "Ésta es la mejor zona de Portugal, tiene más horas de sol que el norte de África", dice el ingeniero Francisco Aleixo, director de esta central, que pertenece al grupo Amper Central Solar (propiedad de Acciona Energía).
Los paneles de silicio policristalino captan la luz solar, que es transformada en electricidad, de corriente continua a corriente alterna, en colectores desperdigados en toda la central. La planta tendrá una potencia máxima de 46 megavatios, que garantiza el suministro de 30.000 viviendas. La inversión total fue de 260 millones de euros, lo que indica que la energía solar sigue siendo la más costosa de las renovables. "Cuanto más se invierta, más bajará el precio", esgrime el ingeniero Aleixo.
En estos campos estaba el aeródromo abandonado Cifka Duarte (aviador portugués de los años treinta), que durante la Guerra Civil española fue utilizado por grupos de apoyo a Franco y más tarde por la aviación alemana durante la Segunda Guerra Mundial.
"Portugal ha sabido aprovechar la fragilidad energética en Europa. El Gobierno y los agentes económicos convirtieron fragilidad en oportunidad", dice Aníbal Fernandes, consejero delegado de Eólicas de Portugal, empresa con participación de Endesa. "En términos relativos, Portugal está entre los cinco primeros países del mundo en cuanto a energías renovables". Fernandes está convencido de que el mundo camina hacia un nuevo concepto energético. "Antes había grandes centros de producción lejos de los centros de consumo. Actualmente, hay varios centros medios (parques eólicos) con redes de interconexión, mientras la microgeneración abastece a pequeñas familias".
Portugal es desde el 23 de septiembre el primer país del mundo que produce seriamente electricidad a partir de las olas. El parque de olas de Aguçadoura, en Póvoa de Varzim, al norte de Oporto, fue inaugurado después de varios meses de retraso. La inversión ronda los 10 millones de euros. Antonio Sarmento, director del Centro de Energía de las Olas, una asociación privada fundada en 2003 que estudia y promueve esta forma de producir electricidad, asegura que es un proyecto claramente pionero. De momento, no está garantizada la viabilidad económica del invento.
Según este centro, hay 62 tecnologías posibles para el aprovechamiento energético de las olas. Algunas ya se han probado, como la columna de agua oscilante de Ilha de Pico (Azores) o el sistema Arquímedes. La costa portuguesa tiene un potencial para instalar unos 5.000 megavatios de potencia en energías de las olas. El costo de producción se antoja muy elevado, sólo comparable con la energía fotovoltaica. Es tres veces más caro que la energía eólica y dos veces más que la biomasa. La tarifa por el sobreprecio de la producción de energía del mar es de 245 euros por megavatio/hora, que significa el 250% más que la energía eólica y el 60% del coste de la energía fotovoltaica.
Portugal será también pionero en la comercialización de vehículos eléctricos. El Gobierno ha firmado un acuerdo con la alianza entre Renault y Nissan, que se ha comprometido a entregar 4.000 vehículos eléctricos en el año 2011. Una cantidad simbólica en un país con 5,6 millones de automóviles.
El economista Jeffrey Sachs, hoy director del Earth Institute de la Universidad de Columbia, escribía recientemente: "El mundo rico debe empeñarse en financiar un vasto programa de desarrollo tecnológico -energías renovables, automóviles de bajo consumo, edificios verdes- y un programa de transferencia de tecnología para los países en vías de desarrollo". Portugal ha asumido el desafío.