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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Homenagem a Romero Magalhães




Homenagem a Romero Magalhães

Nunca se está preparado para que os amigos nos deixem. Mas há casos em que o inesperado da partida se sublinha a si próprio, quando chega bruscamente. Foi o que aconteceu com Romero Magalhães. Estando eu longe de Coimbra, foi-me impossível participar na cerimónia de despedida. Mas longe não deixei de  percorrer a sua memória. Não me limitei a percorrer o vazio de não voltarmos a falar. Acompanhei-o com saudade, recordando o seu percurso cívico, universitário, cultural e político. Um percurso que fez integrado na aventura coletiva que em Portugal vivemos nas últimas décadas.

Agia e trabalhava sem se deixar aprisionar pelo fugaz brilho das ribaltas efémeras. Movia-o apenas a sua subjetividade mais profunda, as suas convicções firmes e perenes, a sua curiosidade intelectual e a sua ética republicana. Não dava lições a ninguém, talvez sabendo que a única verdadeira lição que pode ser dada é a que possa ser lida no modo como cada um viver. A dar essa lição não se furtou.

Foi estudante de Coimbra nos mágicos anos sessenta do século passado, onde começou a viver cultura, aprendendo com Paulo Quintela no TEUC, do qual viria ser Presidente. Foi o primeiro Presidente da Direção-Geral da AAC, eleito após a crise de 1962. Após a Revolução de Abril, viria a ser deputado à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista e Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos presididos por Mário Soares (1976-1978). Foi Presidente da Assembleia Municipal de Coimbra durante vários mandatos.

Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo ingressado como docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde se doutorou, obteve a agregação e foi Professor Catedrático até se jubilar. Aí desempenhou reiteradamente funções dirigentes. Foi Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002) e Membro da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011).

A sua obra como historiador é vasta, importante e reconhecida, o que foi justamente sublinhado, já no decurso do corrente mês de Dezembro, pela Universidade do Algarve ao atribuir-lhe um doutoramento honoris causa.

É tempo de saudade, mas é também tempo de memória. Uma memória limpa , sem floreados para ser digna da sua lembrança, mas fazendo-nos recordar sempre como de Romero Magalhães não seria nunca de esperar  a hipocrisia da amabilidade fácil, nem a deslealdade mesmo subtil.