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domingo, 13 de novembro de 2011

UM PASSADO COM FUTURO

Algumas centenas de antigos militantes do MES comemoraram, ontem, na Costa da Caparica, os trinta anos da sua extinção. Estiveram presentes protagonistas das principais cisões e vários rostos da vida completa do MES. Estiveram presentes cidadãos que usaram a sua vida sem protagonismo na esfera pública, militantes de diversas causas generosas, militantes políticos sem exposição mediática, detentores de prestígios exteriores à política, deputados e ex-deputados, ex-Ministros, ex-Secretários de Estado, ex-Secretários Gerais do Partido Socialista, um ex-Presidente da República. Sem mesas de honra, sem primeiras filas, sem vénias, mas com um grande calor humano, com uma fraternidade subtil mas patente, bem dispostos. Gente com uma auto-imagem suficientemente afirmativa para pensar que o que fez, em conjunto, sob aquela bandeira, por pouco que tivesse sido, foi importante; mas com a auto-ironia bastante para saber que essa importância não justifica a empáfia da grandiloquência.

Se um voo rápido da imaginação nos levasse a ver toda aquela gente, apostando numa iniciativa política comum, é realista pensar-se que a paisagem política portuguesa seria outra. E mesmo que, num assomo de modéstia, a imaginação se limitasse ao espaço de um único partido (pensando naquele a que pertenço, penso no PS), é realista pensar-se que, se aqueles que ali estavam e são militantes do PS, traduzissem o sentido que atribuíram aos sonhos ali comemorados numa imaginação política actual, em que todos se reconhecessem, rapidamente nos afastaríamos de qualquer cinzentismo abafado. Mas todos sabemos que essa imaginação não é realizável, embora a devamos deixar pairar como sombra orientadora ou como amável e virtuosa ameaça, ainda que frágil e suave.

O tempo deixou, no que cada um de nós viu no rosto dos outros, a sua implacável marca e uma discreta melancolia. A memória foi-nos reconduzindo aos rostos dos nossos passados, num intercâmbio de recordações dispersas e calorosas, por vezes simplesmente intuídas, às vezes passageiras, sempre luminosas. As diferenças antigas tornaram-se pequenas e amigáveis. O essencial ficou de pé, como uma saudade da razão.

Vivemos um tempo em que algumas narrativas das grandes esquerdas já foram encerradas nos atalhos da história, enquanto outras parecem ter perdido o futuro, quando se deixaram extraviar demasiadas vezes nos seus presentes. Mas o tempo cruel do capitalismo agonizante não conseguiu fechar, na arca dos impossíveis e do esquecimento, as desamparadas narrativas das pequenas esquerdas. Elas que nasceram frágeis e minoritárias (quando eram enormes as narrativas dum realmente existente, que afinal não existia), questionando-se ao mesmo tempo que questionavam, subsistem com simplicidade, abertas a novos sonhos e a novas maneiras de sonhar um futuro.

Cientes da diversidade de opiniões ali presente, mas que a ninguém embaraçou, aquelas centenas de cidadãos, sob a superfície emocionada de uma simples efeméride, penso eu, que homenagearam a semente de utopia que há trinta e quarenta anos os animou. Uma utopia feita de palavras simples, virtuosamente indissociáveis, sedentas de uma sinergia insubstituível: liberdade e democracia; igualdade e justiça; fraternidade e solidariedade. Ou seja, sair do capitalismo pela mão do povo, através da sua vida e da sua força, através de mutações sociais politicamente sustentadas, com a ajuda (apenas ajuda, ainda que importante) de um Estado que seja democraticamente seu. Numa palavra, levar a democracia ao extremo de si própria.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

INTERPELAÇÃO À ESQUERDA SOCIALISTA

1. Durante cerca de uma semana, esperei uma tomada de posição pública da corrente de opinião interna do PS, Esquerda Socialista[ES], a propósito de uma notícia amplamente difundida na comunicação social. Esperei na mimha qualidade de militante socialista, que aliás no mais recente Congresso do PS afirmou explicitamente que não apoiava, nem nenhuma das moções, nem nenhum dos candidatos. Isso não me impede de respeitar a vontade expressa pelos militantes do PS, no seio dos quais quero continuar um combate político que integro no exercício da minha cidadania. Mas contribuiu, também, para essa minha expectativa o facto de eu ter sido um dos fundadores da Esquerda Socialista, da qual só me desvinculei no passado dia 21 de Abril.

Esperei uma tomada de posição da ES, a propósito da seguinte notícia que transcrevo do site de um grande jornal diário, que fazia ecoar um outro:

“O militante socialista Henrique Neto revelou ao “Diário de Notícias” que não vai votar no PS no próximo dia 5 de Junho. Não estando ainda certo sobre quem recairá o seu voto, Neto diz que a opção deverá ser o PCP.“Vou votar, mas não vou votar no PS. Tenho consciência de que isso levanta grandes problemas mas o País está primeiro”, justificou Henrique Neto ao “DN”.Já em Novembro do ano passado, numa entrevista arrasadora ao Negócios, Henrique Neto disse que
José Sócrates é “um vendedor de automóveis" e que "está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto".Henrique Neto foi militante comunista até 1975 e mais tarde ingressou no Partido Socialista.”

E esperei essa tomada de posição, pelo facto de Henrique Neto integrar a Comissão Nacional do PS, por via da Moção apresentada pela “Esquerda Socialista”, sendo portanto um dos seus representantes na direcção do PS.

2. Na verdade, sendo trivial e natural que qualquer cidadão exprima publicamente as suas simpatias e antipatias políticas, bem como as suas preferências partidárias e o seu sentido de voto em eleições, já o mesmo não acontece se esse cidadão é dirigente de um partido político que concorre a essas eleições. Na verdade, quem há pouco mais de um mês aceitou ser eleito para uma Comissão Nacional, no âmbito do mesmo processo que em fase anterior tinha reconduzido José Sócrates à liderança do PS, certamente não porá em causa a legitimidade do processo que o escolheu a ele e a Sócrates. E assim não terá como eximir-se a uma ética de respeito pelas regras de funcionamento do Partido que se comprometeu a cumprir, quando a ele aderiu livremente e ao qual ninguém o constrange a continuar ligado.

De facto, eu não vislumbro qual é a ética política que pode legitimar esse comportamento; ou seja, haver alguém que sendo ( e continuando a ser) dirigente nacional do PS diga publicamente o que Henrique Neto disse. De facto, sendo certo que o Governo será liderado pelo PS ou pela direita, o que é ali dito é que HN prefere um governo liderado pela direita do que liderado pelo PS. Muitos ( mas nem todos os ) portugueses pensam como ele, mas não são dirigentes nacionais do PS; e espero que não sejam a maioria.

3. Ora, eu tenho bem presente que a ES na sua moça de orientação Portugal Positivo afirma: “ Colocamos a Ética no topo das preocupações da nossa intervenção”. E, sendo assim, eu acho poder perguntar: A Esquerda Socialista aceita como natural , quer em termos éticos, quer em termos políticos, a tomada de posição acima citada, publicamente tomada por Henrique Neto, que foi eleito para a Comissão Nacional do PS por indicação sua? Os membros da ES partilham, todos eles a posição assumida publicamente pelo seu camarada de corrente? Se não partilham que consequências práticas daí retiram?

4. Para concluir, vou comentar brevemente uma frase, que também me envolve, extraída de um documento recente da ES, publicado no respectivo site : “ A saída dos camaradas de Coimbra (processo que vem de longe) assinala claramente a mudança de natureza (Clube de Reflexão) para Corrente Política”.

Pode parecer na sequência desta pequena alusão que eram apenas desse tipo as razões que levaram a totalidade dos membros de Coimbra da ES a saírem dela. Ora, para desfazer essa eventual impressão, acho útil lembrar um extracto do documento em que foi comunicada essa saída : “… ficou clara uma diferença de atitudes políticas em face do partido e da conjuntura que atravessamos.

Nomeadamente, viu-se que a intensidade do nosso cuidado em nunca sermos objectivamente confundíveis com os adversários externos do PS, em nunca deixarmos que possa sequer parecer que somos absorvidos pela agenda política e pelos argumentos da direita, não era partilhada por muitos, nomeadamente, por alguns dos presentes, quer com papel liderante na reunião, quer com apreciável visibilidade mediática. “

O episódio que suscitou este texto mostra que os nosso receios não eram imaginários. Espero pois que a ES encontre em breve uma oportunidade par tornar pública a sua posição, enquanto corrente de opinião interna do PS, sobre a notícia acima transcrita.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ESQUERDA SOCIALISTA

Verifiquei que a estrutura de coordenação da corrente de opinião interna do PS, Esquerda Socialista, deu por consumada a desvinculação da corrente dos vinte e um elementos que constituiam o Núcleo de Coimbra, a pedido deles. Considero, por isso, que nada impede agora que seja tornada pública essa desvinculação.

De facto, a seguir ao Congresso do PS, foi enviado por mim em representação dos membros do Núcleo de Coimbra para a Comissão Coordenadora Nacional da COES o seguinte texto:


"Coimbra, 21 de Abril de 2011


À Comissão Coordenadora Nacional da COES,

Caros Camaradas:

1. No mais recente Plenário Nacional da COES, para além de ter sido tomada uma decisão importante e estratégica, que mereceu o desacordo de todos os elementos de Coimbra presentes, ficou clara uma diferença de atitudes políticas em face do partido e da conjuntura que atravessamos.

Nomeadamente, viu-se que a intensidade do nosso cuidado em nunca sermos objectivamente confundíveis com os adversários externos do PS, em nunca deixarmos que possa sequer parecer que somos absorvidos pela agenda política e pelos argumentos da direita, não era partilhada por muitos, nomeadamente, por alguns dos presentes, quer com papel liderante na reunião, quer com apreciável visibilidade mediática.

Paralelamente, foi também nítida a diferença entre o registo ideológico e político da maioria conjuntural, mas muito expressiva, encontrada nesse Plenário (a qual, aliás, marcou o rumo da corrente para os próximos tempos) e o do núcleo de Coimbra, nomeadamente, quanto ao que deverá ser uma estrutura deste tipo dentro do PS.

O que aconteceu desde então não trouxe qualquer dado novo susceptível de atenuar essa distância que, por isso, se conserva bem marcada.

2. Na sequência disso, teve recentemente lugar em Coimbra uma reunião plenária do respectivo núcleo distrital da COES, na qual todos os presentes decidiram desvincular-se dela. Foram individualmente contactados todos os camaradas que não participaram na reunião, para se saber quem assumia a posição tomada.

Foi ainda decidido nessa reunião que, uma vez apurada com segurança a posição de todos os inscritos na COES em Coimbra, ela seria comunicada à Coordenadora Nacional, por mim.

É o que estou a fazer, quando vos digo que se desvincularam da COES os seguintes membros do núcleo distrital de Coimbra, os quais aliás correspondem à totalidade dos vinte e um inscritos:
(..... ..... ....... .......)

3. Em meu nome e em nome deles, peço-vos pois o favor de eliminarem os nomes atrás mencionados dos ficheiros da COES e de os retirarem da listagem dos membros de Coimbra da Esquerda Socialista que consta do vosso site.

Esperamos que o vosso trabalho seja profícuo e possa contribuir para o desenvolvimento do PS. Pela nossa parte, estamos a elaborar um documento político que projecte no presente o que de essencial é a herança ideológica e política da “Margem Esquerda”, para, com base nele, constituirmos um novo clube político ou uma nova corrente de opinião dentro do PS.

Peço-vos o favor de acusarem a recepção desta mensagem, da qual será dado conhecimento a alguns outros camaradas.

Com as mais cordiais saudações
Rui Namorado"

segunda-feira, 7 de março de 2011

O ZERO E O INFINITO


Por amável deferência dos próprios, tive conhecimento de uma intensa polémica espraiada pelo ciberespaço, entre sólidos esteios da candidatura de AFF e da própria COES.

Analisei à lupa os argumentos aduzidos e, numa tergiversação quiçá compreensível, não me inclinei para nenhum dos lados. De facto, não pude deixar de dizer para mim próprio: “Estão todos cobertos de razão!”

Foi então que um provérbio, alegadamente chinês, me assaltou sem cerimónias, dizendo-me, numa surdina cúmplice:

“Por mais que olhes para o teu umbigo, nunca verás o infinito!”

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ESQUERDA SOCIALISTA - separar as águas

1. Na página da Esquerda Socialista foi incluída a entrevista que Henrique Neto deu ao jornal I há uns dias atrás. Achando sintomático que essa publicação tenha ocorrido, ela obriga-me politicamente a comentá-la.
Na verdade, a entrevista espelha bem o tipo de posições que Henrique Neto há anos vem assumindo publicamente com apreciável eco mediático. Não pretendo estender-me na apreciação crítica do conteúdo da entrevista, embora adiante possa comentar brevemente dois aspectos específicos dela.


Tendo-lhe sido perguntado nessa entrevista qual a sua ligação ao PS, respondeu: “Sou militante de base e estou atento. Tenho participado numa tendência que existe no PS chamada esquerda socialista”. Presumindo que ele se está a referir à corrente de opinião interna do PS Esquerda Socialista, a cuja Comissão Coordenadora Nacional pertenço, acho que devo esclarecer algumas coisas.
Esta corrente de opinião, a Esquerda Socialista, tem como principal vector identitário o núcleo de ideias centrais do manifesto político do clube Margem Esquerda, fundado em 2001, do qual fui um dos impulsionadores e em cuja redacção colaborei. Esse vector foi reforçado, desenvolvido e actualizado pela Moção Mudar para Mudar, apresentada em 2009 no Congresso do PS, a qual serviu de base á criação da COES ; e em cuja redacção também colaborei fazendo parte do pequeno grupo que lhe elaborou a versão final. Henrique Neto não teve qualquer participação na elaboração do manifesto da ME e, embora tenha sido um dos subscritores desse Manifesto, viria a ter uma participação na vida do clube muito reduzida. Também não teve qualquer intervenção no processo de elaboração da moção Mudar para Mudar, em 2009, não integrou as respectivas listas de candidatos ao Congresso do PS, não foi eleito delegado por essa moção, não é um dos membros da Comissão Nacional ou da Comissão Política Nacional em sua representação. A sua participação na actividade da COES tem também sido esporádica.


Quem se der ao trabalho de ler, quer o manifesto da Margem Esquerda, quer a moção “ Mudar para Mudar”, de modo a detectar o seu fio condutor, a lógica estruturante das suas ideias e da sua atitude política, comparando-as depois com o sentido e a lógica das posições políticas assumidas publicamente por HN, aliás bem ilustradas pelo conteúdo da entrevista que suscita este reparo, verificará a enorme distância que existe entre uma coisa e outra. Como continuo a rever-me na linha estratégica seguida por esses dois documentos estou tão distante do essencial das posições de HN como eles estão.


Esses documentos não são dogmas intocáveis e a corrente de opinião Esquerda Socialista não é uma prisão das ideias dos seus membros, não tendo que impedi-las de irem mudando, mas também não podem deslegitimar-se as posições dos que entendam continuar a rever-se no essencial dos dois documentos em causa e não na perspectiva politico-ideológica que transparece das posições de HN. Aliás, a minha leitura de umas e outras aponta mais para a sua incompatibilidade essencial do que para uma hipotética complementaridade entre ambas.


Ora um clube como a ME ou uma corrente de opinião como a ES só podem ser úteis se exprimirem e desenvolverem um ideário estrategicamente consistente, partilharem uma visão do mundo e da sociedade semelhantes, e se tiverem uma atitude perante o conjunto do partido em que se integrem que obedeça a padrões conviviais idênticos. Por isso, a minha impressão neste momento é a de que não faz sentido que continuem amarrados entre si os que continuam a rever-se no essencial dos documentos fundadores atrás referidos e os que se sentem em consonância com a lógica estruturante das posições assumidas principal e mais claramente por HN.


Não há nenhum mecanismo que identifique em política o certo e o errado de uma maneira absoluta. Não caio por isso na ingenuidade primária de considerar que as posições em que me reconheço estão absolutamente certas e as que eu acho que HN partilha são absolutamente erradas. Apenas estou certo que permanecermos todos misturados só pode atrapalhar uns e outros.


Por isso, entendo que o esforço, que teria de ser enorme, para chegar a um documento de toda a actual COES seria penoso, talvez inglório e seguramente estéril, numa perspectiva politica virada para o futuro. Melhor seria que a COES fosse um espaço de rápido amadurecimento das posições políticas até agora parcialmente latentes que nela se manifestem. Duas estão acima identificadas, mas não excluo que possam existir outras. Todas lucrariam com a possibilidade de levarem até ao fim a sua lógica sem estarem inibidas pela preocupação de se compatibilizarem com outras, no esforço de fazer com que no seio da COES se fizesse ouvir uma única voz.


2. Na entrevista ao jornal I no passado dia 10/02/2011, foi perguntado a Henrique Neto :
As eleições antecipadas poderiam ser uma solução?
Ao que ele respondeu: “Acho que é impossível resolver qualquer problema com o José Sócrates à frente do poder. Nestas condições qualquer solução é melhor que a actual. Um governo PS sem José Sócrates, um governo de coligação, um governo do PSD. Ele hoje é o poder, os ministros não contam para nada. O partido não conta para nada. O que ele quer é o que se faz e o que ele quer infelizmente é quase sempre errado”.

Desta resposta que espelha bem o sentido da posição de HN, quero sublinhar aqui um aspecto: HN disse expressamente que achava um governo PSD uma melhor solução do que o actual governo. Se isto não é uma posição de direita, o que lhe falta para o ser? Que alguém ache que pode defender publicamente esta posição e continuar tranquilamente integrado no partido que tão radicalmente rejeita é algo que diz respeito à sua própria consciência. Mas que se possa pensar que uma posição destas é compatível com a identidade política da COES é que me parece inconcebível. Parece-me inconcebível, mas admito que haja na COES quem assim não pense. De uma coisa estou certo: por mim, não me integro em iniciativas políticas dentro do PS, em conjunto com quem acha que é melhor um governo do PSD do que o actual governo PS.
Felizmente, esta minha posição não entra em contradição com a via que acima preconizo de separação de águas, pelo que nenhuma perturbação prática trará ao que eu acho que deve ser feito.

3. Nessa mesma entrevista, o jornalista perguntou a HN: “Independentemente de Sócrates vir a ter adversários, a verdade é que essa visão crítica da governação e do PS não é partilhada pela esmagadora maioria dos dirigentes do partido”.
Ao que HN responde: "É verdade, mas também é verdade que nas reuniões da comissão nacional, por exemplo, o presidente do partido, Almeida Santos, controla tudo. Só dá a palavra verdadeiramente a quem quer, corta a palavra, diz que não há tempo…. "
E mais adiante o jornalista inquire: “O que está a dizer é que há censura nas reuniões da comissão nacional?”
E HN responde: “Sim, há censura. O presidente do PS, com o estatuto que tem, inibe as pessoas de dizerem aquilo que pensam e mesmo quando dizem há uma censura imediata. Há um clima de pressão, mesmo não sendo preciso, porque seriam críticas isoladas. Tem sido um processo contínuo de limitação da liberdade interna.”

HN não integra actualmente a Comissão Nacional do PS, eu integro-a, bem com à Comissão Política Nacional, em representação da COES. Falei durante estes dois últimos anos, quer numa quer noutra, todas as vezes que me apeteceu, tendo dito o que entendia sem que ninguém me tentasse impedir de falar, nunca me tendo sentido inibido e muito menos vítima de qualquer censura. Que eu tenha dado conta, os diversos elementos da COES ,que tantas vezes usaram da palavra na Comissão Nacional, também podem dizer o mesmo que eu.


As limitações de tempo sempre foram dirigidas a todos os membros da CN e não apenas a quem fizesse uma intervenção crítica. A indevida falta de sequência prática que atingiu algumas iniciativas nossas, sem deixar de ser criticável, não corresponde ao que HN acima disse. De facto, desde sempre que o PS tem um estilo de funcionamento da CN e da CPN que me parecem inadequados e a necessitarem de uma profunda alteração. Esse é o verdadeiro problema. É quanto a ele que são úteis ideias novas. Mas isso nada tem a ver com o que HN disse.


Portanto, posso afirmar que nas frases que acima transcrevi atribuídas a HN pelo jornal I não é dita a verdade. Por isso, só posso lamentar que a nossa corrente, ainda que apenas indirecta e reflexamente e sem que disso tenha culpa, possa ser descredibilizada por tais falsidades.

Não foi agradável escrever este texto. Mas este é um tempo em que se deve procurar que as coisas sejam tão claras quanto se consiga dentro da COES.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Nunca renunciar a um horizonte socialista


O texto que se segue integrou o documento político fundador do clube político Margem Esquerda (ME), instituído no PS pouco depois da viragem de século. No âmbito da auto-reflexão permanente que, julgo eu, está inscrita no código genético da Corrente de Opinião Esquerda Socialista (COES), merece que o recordemos para reapreciar ou aprofundar o seu conteúdo, para calibrarmos com mais rigor as ideias expressas, para as tornarmos mais claras. E o texto que se segue, é tanto mais importante, quanto constitui o cerne da nossa identidade político-ideológica, no seio da constelação socialista. Uma identidade que deu sentido à existência do referido clube e, na minha perspectiva, está na base da criação da COES, na medida em que marcou o sentido estratégico mais fundo da moção”Mudar para Mudar”.

Falo em reapreciar e aprofundar o seu conteúdo, melhorando-o, uma vez que sendo este texto de grande amplitude conceptual, faz sempre sentido procurar melhorá-lo. Melhorá-lo, mas não esquecê-lo ou passar a recusá-lo como matriz da nossa identidade, pois se assim acontecesse seria esta que estaríamos a mudar e não apenas um texto.

Ora, uma mudança tão essencial teria exigido um processo explícito de reexame, que nunca ocorreu. E, é claro, que nem me passa pela cabeça, que se deva sequer pôr a hipótese de que essa possível mutação tivesse ocorrido sem que o tivéssemos querido ou sem que disso nos tivéssemos apercebido.

E, sublinho, isto vale tanto para a Margem Esquerda como para a Esquerda Socialista, já que a nossa corrente surgiu assumindo a continuidade política com o clube. Ora, se ela tivesse querido romper com a identidade referida, essa continuidade teria desaparecido e haveria de ter sido ao menos mencionada se, facto, tivesse ocorrido. Não foi isso que aconteceu. E, falando por mim, eu nunca teria aderido à ES se ela não tivesse sido a continuidade da ME.

Por isso, parece-me que será este território conceptual o primeiro que devemos percorrer para tornarmos ainda mais claros e inequívocos os alicerces político-ideológicos da COES. Eis o texto:




Nunca renunciar a um horizonte socialista


Mais de dois séculos decorreram desde a Revolução Francesa. Não foram, contudo, suficientes para apagar muitas das chagas sociais e humanas que continuam a desafiar o mundo.
A aceleração do tempo histórico e do progresso tecnológico, com a dinâmica de mudança que implica, tornou-se um factor social de uma importância decisiva, surgindo como um desafio que tem que ser enfrentado com uma eficácia muito maior do que aquela que até agora tem sido conseguida. Mas não podemos confundir o relevo da aceleração da mudança com uma certa retórica ilusionista da modernidade, que ignora a complexidade das sociedades actuais, encarando-as numa perspectiva redutora, de índole economicista e anti-humanista, que, em larga medida, se destina a servir de cortina de fumo para ocultar alguns dos problemas mais graves do mundo de hoje.
Se o socialismo se quer afirmar como a juventude do mundo, não pode ficar preso a um passado que já não existe, isto é, tem de saber compreender as novas tendências de mudança das sociedades actuais. Mas, sob pena de perder a alma, de deixar de ser ele próprio, tem de aprender a reencontrar-se mais profundamente com os seus valores históricos. Não pode alhear-se dos flagelos sociais que estão na raiz da sua existência e que se mantêm ou se agravaram. Não pode ficar indiferente aos problemas e às angústias dos traba­lhadores, bem como de todos os que sofram exclusão, exploração ou opressão.
Muitos serão os problemas e os temas dignos de atenção que elegeremos como objectos de reflexão e debate. Queremos, no entanto, desde já destacar duas áreas de incerteza, entre as várias que podiam ser escolhidas, que merecem ser exploradas, para que possamos compreender melhor tudo o que com elas se relaciona.
A primeira diz respeito à fluidez do conceito actual de socialismo, ao carácter discutível do que significa um horizonte socialista como objectivo e como possibilidade histórica que se mantém em aberto.
A segunda diz respeito à dificuldade em aferir com precisão em que medida as grandes linhas de orientação política por que optamos, bem como os objectivos políticos genéricos que assumimos conjun-turalmente em termos programáticos, nos aproximam ou nos afastam de um horizonte socialista. E essa dificuldade aumenta, quando estão em causa medidas políticas pontuais de significado limitado.
Os socialistas têm que ser capazes de fazer sempre uma dupla ava­liação das suas orientações e das medidas políticas que preconizam. Têm de saber em que medida elas perturbam ou melhoram o fun­cionamento corrente da sociedade, em que medida elas são harmo­nizáveis ou contraditórias com a procura de um horizonte socialista e com a trajectória a percorrer para dele nos aproximarmos.
Isso nunca foi fácil, mas o desmoronamento do modelo soviético tornou possível uma consciência mais aguda da sua dificuldade. Não porque ele tenha atingido directamente os partidos da Internacional Socialista, mas porque tornou evidente que o problema da alternativa ao capitalismo deveria ser colocado em termos mais complexos do que até então.
De facto, mesmo não tendo inscrito no seu código genético o sonho
do assalto a um Palácio de Inverno como acto fundador e purificador, era dominante na Internacional Socialista a valorização da ideia de uma espécie de "grande noite eleitoral", que abrisse abruptamente um novo tempo, em que os socialistas, a partir do governo de um único país, aí construíssem democraticamente uma sociedade dife­rente.
A Internacional Socialista recusava-se a caminhar para o socialismo, sacrificando a democracia. Na sua identidade era central a ideia de que só em democracia era possível alcançá-lo. No entanto, ainda que difusamente, encarava a falta de democracia como o problema essencial do modelo soviético,
Com o seu desmoronamento, todavia, ficou claro que o modelo soviético não foi um simples atalho histórico, penalizado apenas por ter escolhido uma rota que sacrificou a democracia para atingir mais depressa uma sociedade justa. Foi, sim, um colectivismo produtivista de Estado, globalmente diferente do socialismo, que em vez de con­duzir rapidamente ao um futuro libertador, deixou milhões de seres humanos divididos entre uma miragem que afinal nunca existiu e um passado a que é impossível voltar.
Hoje, é mais fácil perceber que não será o simples exercício do poder político num determinado Estado que, por si só, nos aproximará deci­sivamente de um horizonte socialista.
Hoje, é mais fácil perceber que a actualidade da ideia socialista se radica na possibilidade do socialismo ser um horizonte qualificante da democracia e da civilização humana, para o qual a sociedade no seu todo caminhará ou não, com naturais sobressaltos e retrocessos, no quadro de um processo prolongado, ainda distante do seu termo. Horizonte que não deve confundir-se com um destino pré-defenido, já
que é antes uma referência que sustenta uma ambição reformadora radical, fundada num projecto aberto sempre em evolução. Uma ambição guiada pelos valores do socialismo, em permanente cons­trução crítica no quadro de uma atitude prospectiva, realista e incon­formada, que não aceita que o capitalismo seja o fim da história.
Renunciar a esse horizonte é perder a identidade socialista. Valori­zá-lo é uma opção que está longe de estar balizada e caracterizada, podendo dizer-se que estamos perante um espaço problemático e não perante um conjunto de orientações reflectidas e testadas.
Está em causa um processo de amadurecimento social que deve contar com um importante protagonismo do Estado, mas que está muito longe de lhe ficar circunscrito. A evolução do tecido social terá de conjugar-se com o exercício do poder político, numa sinergia vir­tuosa. A valorização do Estado como expressão plena da política é uma prioridade que implica uma renovada atenção sobre as suas crescentes responsabilidades reguladoras e uma rigorosa dinâmica reformadora da administração pública. Mas não pode dispensá-lo também de um novo tipo de relacionamento com as dinâmicas soci­ais de base, que constituem uma vertente insubstituível do desen­volvimento social, assumindo-se como instância de permanente encorajamento e de apoio crítico às suas iniciativas.
Neste contexto, percebe-se que a estatização dos meios de produção não seja encarada como etapa necessária de uma evolução socia­lista. Ficou mais nítido o seu carácter instrumental, bem como os riscos de, por si só, poder não conduzir aos objectivos que a justifi­cavam, ou contribuir mesmo para nos afastar deles.
No entanto, também não parece sustentável querer substituir um fundamentalismo económico de pendor estatizante, por um funda-
mentalismo privatizador, radicado no neo-liberalismo como numa ver­dadeira religião do mercado.
Na época da globalização, em que é visível o seu carácter contra­ditório, temos de assumir a incomodidade de um pensamento crítico. Um pensamento capaz de combater as ideias feitas, mediaticamente inculcadas peio aparelho ideológico-cultural dominante, como se re­presentasse a verdade definitiva. Um pensamento crítico que nos impeça de confundir a realidade com aquilo que gostaríamos que ela fosse, mas que esteja longe de aceitar aquilo que existe.
Por isso, em cada conjuntura, devemos procurar perceber sempre qua! é a força propulsora principal, qual é o obstáculo mais difícil. Estarão estes aspectos devidamente ponderados nas questões que ocupam a ribalta das nossas ideias? E estarão estas irremediavel­mente ancoradas na nossa experiência histórica, correspondendo, por isso, a uma sociedade que já é passado? Por que outras vias de­veremos prosseguir? Com base em que novas referências? Alguma vez transformaram os homens a sociedade, a não ser a partir da va­lorização das questões que lhes ocorreram? Se não devemos va­lorizar as questões que refiectidamente nos ocorrerem, que questões devemos, então, valorizar?
Sem nunca renunciarmos a uma atitude anti-dogmática, poderemos orientar-nos melhor nesta multiplicidade de interrogações, se con­frontarmos sempre o presente com o horizonte socialista que nos identifica e que ambicionamos como futuro.
É, por isso, preciso que estejamos atentos às transformações do ca­pitalismo, sabendo que elas podem, eventualmente, conduzir a pro­fundas alterações da própria natureza da luta política, sem nunca cairmos na ilusão de que o capitalismo se extinguiu.
Seria de facto a suprema ironia que os socialistas renunciassem a combatê-lo, com a alegação de que já não existe, precisamente num tempo em que os seus arautos decretaram a sua irreversível vitória histórica.
Isto não significa que encaremos o capitalismo numa óptica simplista e redutora, que menospreze a sua complexidade, os seus aspectos ambivalentes, as suas virtualidades de dinamização económica. Significa antes, que o consideramos incapaz de eliminar a pobreza e a marginalidade, de suscitar a felicidade humana e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, generalizada e sustentadamente, dado o facto de ser predominantemente predatório e desumanizante. Nesta medida, é decisiva a nossa capacidade para revitalizar os va­lores socialistas da liberdade, da justiça, da igualdade, da frater­nidade, da solidariedade, do respeito pela natureza, da cooperativi-dade, da criatividade cultural, da inovação organizacional, subme­tendo-os a uma permanente reactualização crítica, que os complete e enriqueça. No fundo, será talvez um caminho para encarar o socia­lismo como um humanismo que possa aproximar o mundo de hoje da felicidade, livrando-o dos pesadelos colectivos que continuam a povoá-lo.
Por tudo isto, o território conceptual assinalado pelo leque de hipóte­ses e de interrogações que acabamos de percorrer constituirá um dos principais objectos da nossa atenção e da nossa actividade.

sábado, 15 de maio de 2010

Fim de incidente ou risco de crise ?

No passado dia 9/5/10, escrevi aqui um texto intitulado "Esquerda Socialista-incidente", ao qual replicou Rómulo Machado com um outro intitulado "Esquerda Socialista Plural", tendo eu respondido com "Esquerda Socialista- o incidente continua" e ele replicado com "O Pluralismo Continua". Todos estes textos estão disponíveis no site da Esquerda Socialista, bem visível neste blog, mesmo aqui ao lado. É nesta cadeia de argumentação que este meu texto de hoje se insere.

1. O Rómulo Machado acha que eu não devia achar algo que de facto achei sobre o Henrique Neto. Parece-me que todos esses achamentos somados não chegam a ter uma importância suficiente para que se gaste tempo a esmiuçá-los.

Talvez por isso, as palavras trocadas a propósito do incidente em causa não me parecem suficientes para que possamos falar de um debate e muito menos para que nos entusiasmemos com essa troca de ideias tão simples. Claro que exercemos um direito ao trocá-las, mas não há razão para que nos entusiasmemos demasiado com isso. Aconteceu, não temos de que nos arrepender nem de que nos orgulhar.

Pela minha parte, não fui mais explícito quanto às posições de Henrique Neto de que discordava, por não querer exagerar a importância do acontecido nem crispar desnecessariamente o tom em que a elas me referisse.

Chegados aqui, sou forçado a dizer que não me sobra tempo para diletantes esgrimas de pequenas palavras, demasiado presas à trivialidade daquilo que as ocupa. Por isso, para mim a esgrima acabou.


2. Mas o mesmo não pode acontecer com o incidente comentado em si próprio e com tudo o que se lhe seguiu. De facto, foi tudo isso que accionou alguns dos meus mecanismos de alerta.

Estou hoje convencido, na esteira de tudo isso, que a nossa corrente tem que abrir, quanto antes, um processo de debate interno, para que se apure se por detrás de aparentes discordâncias de fundo apenas se perfilam alguns equívocos conceptuais ou de linguagem, ou se realmente, no seio da COES coexistem posições políticas radicalmente distintas e entre si bem distantes.

Ora, se num partido como o PS a heterogeneidade ideológico-politica é, em si própria , uma riqueza que deve ser organizada e aproveitada e não abafada, numa corrente de opinião interna como a ES a falta de coesão ideológica e de consonância política podem paralisá-la e roubar-lhe qualquer fecundidade .

Não está em causa arregimentar dois ou três bandos ideológicos para que lutem entre si até haver um vencedor. Está em causa apurarmos se tem sentido continuarmos politicamente juntos ou se devemos separar-nos, para que cada uma das novas correntes assim surgidas, adquirindo uma nova homogeneidade, possa travar um combate político mais eficaz dentro do PS, continuando e potenciando o que até agora a Margem Esquerda e a Esquerda Socialista conseguiram.

Sem essa clarificação arriscamo-nos a deixar que cresça uma atmosfera de pequenas crispações, de desconfianças, de mal-entendidos, que acabarão por nos paralisar politicamente e por fazer degradar as nossas relações pessoais. Uma atmosfera que provavelmente irá ficando mais e mais carregada, até nos fazer explodir sem glória.


Rui Namorado

15-05-2010

domingo, 9 de maio de 2010

Esquerda Socialista - incidente.


Ontem, a corrente de opinião do PS, Esquerda Socialista, reuniu-se em plenário nacional, em Santarém. Uma parte do que dela resultou é conhecida. Espero, num dos próximos dias, escrever um comentário político a tudo o que lá ocorreu. Hoje, venho apenas dar conta da minha reacção a um infeliz efeito colateral produzido indirectamente pela reunião. Eis uma carta que enviei hoje para os membros ou simpatizante da corrente ES, de cujos endereços dispunha:


Caros camaradas:

Pelo menos na TSF, em notícias difundidas no decorrer do dia de hoje, Henrique Neto surgiu objectivamente como porta-voz da Esquerda Socialista, a nossa corrente de opinião dentro do PS, difundindo as posições tomadas na Reunião Nacional, realizada no passado dia 8 em Santarém.

Como membro da respectiva Comissão Coordenadora e como participante na reunião de Santarém, tenho que recordar que Henrique Neto não tem qualquer mandato para falar em nome da Esquerda Socialista. Aliás, foi esta a primeira reunião nacional em que participou e, que eu saiba, só muito recentemente aderiu à ES.

Embora tenha subscrito a nossa moção apresentada no mais recente congresso do PS, não desempenhou qualquer papel na sua elaboração, nem teve um papel activo nos trabalhos inerentes a esse Congresso, onde a Moção Mudar para Mudar foi apresentada. Continuou fora dos trabalhos da ES, até há pouco tempo atrás.

Não tem pois qualquer legitimidade formal ou substancial para ser porta-voz da ES ou para falar em nome da corrente, seja em que circunstância for. Por isso, o que Henrique Neto tenha dito ou venha a dizer em quaisquer circunstâncias públicas só a ele o responsabiliza.

De facto, a última coisa a que, pela minha parte, estarei disposto é a que me possam confundir com os apoiantes de algumas das infelizes posições e opiniões que Henrique Neto tem exprimido publicamente, nos últimos tempos. E embora eu possa achar estranho que tenha aderido à nossa Moção e se sinta bem dentro da ES quem sustente tais opiniões, enquanto elas forem expressas a título pessoal situam-se dentro de um normal exercício da liberdade de opinião e nada tenho a ver com elas nem a opor-lhes, mas se quem as tiver proferido for porta-voz formal ou informal de uma corrente política a que eu pertença, aí o caso muda de figura: não posso pactuar com situações dúbias.

Lamento que quem nada teve a ver com o esforço paciente de anos que precedeu o ponto a que chegámos, tenha objectivamente assumido um papel tão contraproducente.

É pena que eu tenha sido obrigado a tomar esta posição formal, mas não me foi deixada alternativa.

Coimbra, 9 de Maio de 2010

Rui Namorado