Fez cinco anos que o "Imperador" e alguns dos seus acólitos encenaram nos Açores uma dança guerreira.
Poucos dias depois, os USA e alguns apêndices a que chamou aliados, com destaque para Blair, esse expoente de uma terceira via que ele próprio extraviou, invadiram o Iraque, à margem da ONU e num grosseiro desrespeito pelo Direito Internacional.
Hoje, é um dado de facto, que ninguém pode questionar com seriedade, que todos os pretextos usados para justificar o ataque ao Iraque eram falsos. Aquela equipa ( Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso) ganhou, na verdade, jus ao epíteto de "Clube dos Mentirosos".
Na verdade, os resultados da invasão para os iraquianos tornaram-se num pesadelo que se traduz numa estimativa de centenas de milhares de mortos, os americanos perderam cerca de 5000 soldados, havendo mais de trinta mil feridos. O Iraque está reduzido a escombros e a guerra, para além do seu pesado custo em vidas humanas, é um factor de ruína para o erário dos ocupantes.
O terrorismo internacional não foi enfraquecido pela invasão. Passados cinco anos, Bin Laden continua sem ser preso e a violência no mundo não esmoreceu.
Algumas mentes ingénuas acalentaram a esperança de que se gerasse uma consequência colateral virtuosa: o fim do conflito israelo-palestiniano. Puro engano. Mais realista será dizer-se que recrudesceu.
A administração bushista mostrou como é, politicamente, de uma incompetência pasmosa, constituindo um dos grupos mais perigosos para a paz mundial que até hoje se deu a conhecer.
O desastre iraquiano, promovido pela administração americana e pelas suas sombras europeias, entre as quais se destacaram os membros do "Clube dos Mentirosos", causou directa e indirectamente, muito mais mortos do que todos os atentados terroristas, perpetrados nos últimos 25 anos, por pessoas ou organizações não-estatais.
E há responsáveis por esse morticínio que têm o despudor de, frequentemente, se assumirem como juízes distribuidores de sentenças que decidem quem é e quem não é terrorista. Como se lhes pudesse ser reconhecida legitimidade para emitirem com credibilidade ética juízos de valor sobre a humanidade seja de quem for.
Aliás, na minha opinião, uma das causas do fracasso da luta-anterrorista da comunidade internacional é o facto de ter como protagonistas principais, no combate aos morticínios do terrorismo não-estatal, alguns dos responsáveis maiores por outros morticínios ainda maiores, cuja legitimidade é igualmente nula, à luz da moral e do direito, e cuja impunidade resulta apenas de serem Estados suficientemente fortes , do ponto de vista militar, para estarem a coberto da qualquer retaliação armada.
Realmente, porque deverá considerar-se como terrorista um dirigente do Hamas, por ter dado ordem a um militante-bomba para se explodir entre civis; e não o deverá ser um ministro israelita que manda um avião arrasar uma zona de uma cidade, onde moram civis ?
Por que devem ser considerados terroristas os iraquianos que põem uma bomba num mercado, matando 20 civis e não o devem ser os soldados norte-americanos que bombardeiem uma zona habitada e matem 20 civis ?
Nunca é de mais repeti-lo: os personagens do " Clube dos Mentirosos" foram os responsáveis políticos por uma guerra justificada com mentiras , mas que originou um inimaginável massacre que, aliás, ainda não acabou; são os culpados por um retrocesso dramático no caminho para um mundo sem guerra e onde seja natural a fraternidade entre os povos da Terra.
Alguns afastaram-se ou foram afastados da vida política. Mas o que é inacreditável é que todos eles não tivessem, desde logo, renunciado a todas as responsabilidades públicas , depois de terem pedido desculpa pelo mal que causaram a centenas de milhares de pessoas.
Se um presidente americano foi demitido por ter mandado"grampear" um telefone e por ter mentido acerca disso, como pode aceitar-se que quem inventou uma guerra como a do Iraque continue no activo, mesmo depois de ser inequívoco que o ditador iraquiano não dispunha de armas de destruição maciça, tal como nada teve a ver com o atentado do 11 de Setembro.
Se foram essas as razões decisivas evocadas e se são falsas , não haveria outra saída. E se tudo isto vale para o Presidente Norte-Americano, também vale para o Presidente da Comissão Europeia, que aliás teve o mau-gosto de lembrar que apesar de ter mentido quanto aos motivos da guerra continuava a chefiar os Comissários Europeus.