O meu rumo é o que o mar quiser
De horizonte ausente
De horizonte ausente
na penumbra silenciosa
atravesso madrugadas
sem fronteiras,
invento rumos, rotas e marés,
desfraldo as velas do sonho
e navego entre ondas de espuma
Deixo o meu mundo para trás
e dissolvo-me em místico nevoeiro,
pois sei que haverá um momento
em que me perderei na bruma,
o sol me queimará o rosto,
e alvas e alterosas ondas
serão nossos lençóis agitados
nas correntes loucas do desejo.
Nos lábios rubros da manhã,
molhados de sal e orvalho
haverá um impulso metafísico
de mergulhar neles num afago,
e neles voar como gaivota,
partindo livre e clandestino
até a um pôr-de-sol eterno…
Oiço-me então no meu silêncio!
Fecho os meus olhos de espanto.
E na avidez de tanto te amar,
descubro no imenso abismo azul
montes de páginas em branco
que haveremos de escrever
em bordados de espuma,
nos revoltos lençóis do oceano
com as cores da nossa paixão!...
Autor : Albino Santos
Imagem : Frank Melech