Penso que sonho. Se é dia, a luz não chega para alumiar o
caminho pedregoso; se é noite, as estrelas derramam uma claridade desabitual.
Caminhamos e parece tudo morto: o tempo, ou se cansou já
desta caminhada e adormeceu, ou morreu também. Esqueci a fisionomia da paisagem
e apenas vejo um trémulo ondular de deserto, a silhueta carnuda e torcida dos
cactos, as pedras ásperas da estrada.
Chove? Qualquer coisa como isso. E caminhando sempre, há em
redor de nós a terra cheia de silêncio.
Será da própria condição das coisas
serem silenciosas agora?
Autor : Carlos de Oliveira
in Terras da harmonia