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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Se

 

Se eu tivesse um carro
havia de conhecer
toda a terra.

Se eu tivesse um barco
havia de conhecer
todo o mar.

Se eu tivesse um avião
havia de conhecer
todo o céu.

Tens duas pernas
e ainda não conheces
a gente da tua rua.

Autor : Luísa Dacosta
Imagem : Omar Ortiz

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Negação


O rio do teu corpo
não me foi margem.
Só na noite interior
das minhas pálpebras
provei a tua boca

Autor : Luisa Dacosta
 in A Maresia e o Sargaço dos Dias 
Imagem : aleah michele

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O tu e o eu na paisagem


Não é o restolhar do vento.
É a tua lembrança
que se ergue em mim.

Não é a rosa do sol a esfolhar-se.
É a minha boca -sede e romã-
que sangra na tarde.

Não é a noite que desce.
É a sombra dos teus olhos
a fechar o horizonte.

Autor : Luísa Dacosta
 in A Maresia e o sargaço dos dias

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Fatalidade

Não sei tecer
senão espumas,
nuvens
e brumas.

Coisas breves,
leves,
que o vento desfaz.

Como prender-te
em teia tão frágil?

Autor : Luísa Dacosta
in A Maresia e o Sargaço dos Dias

quarta-feira, 27 de março de 2019

Rosto

Platon Yurich
Nunca vieste
quando o desejo
fazia um entalhe de sofrimento e apelo
na polpa, madura, do dia.

Nunca vieste
quando um golpe de luar
abria ao lado do meu corpo
um lençol fresco, para acolher-te.

A tua boca não prendeu
a flor dos meus lábios.
Nunca calei no teu beijo
a indizível palavra.

Nunca vieste

Respirei-te no sonho.
A morte terá o teu rosto desconhecido.

Autor : Luísa Dacosta
in A maresia e o sargaço dos dias

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Entretenimento

Alexey Polkiy

Como quem procura conchas à beira do mar
 escolho as palavras para te dizer
 quando o silêncio dos teus braços
 vestir o frio dos meus ombros

Autor : Luísa Dacosta

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Palavras

Mirella Santana

Tocam-me
 como lábios,
 como beijos.
 Pássaros, sedentos de ramos
 e de sombra,
pousam-me nos ombros.
 A movimentos de asa,
 desenham-me ainda um corpo
certa arquitectura de água,
 rasgada no vento.

Autor : Luísa Dacosta

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Apelo


Atravessa os campos da noite
e vem.

A minha pele
ainda cálida de sol
te será margem.

Nas fontes, vivas,
do meu corpo
saciarás a tua sede.

Os ramos dos meus braços
serão sombra rumorejante
ao teu sono, exausto.

Atravessa os campos da noite
e vem.

 Autor : Luísa Dacosta
in «Cem  Poemas Portugueses no Feminino»,