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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Cântico de Barro

Inquieta chuva, inquieta me dispersa,
esquecida a tradição e o cansado som.

Dentro e fora de mim tudo é deserto
como se as ervas fossem arrancadas
ou se esgotasse a dor por que se chora.

Na grande solidão me basta, e a contemplo
para o sonho interior que me resolve!
Tão fácil é esperar, que já nem sinto
o que vem a dormir ou a morrer
na mesma angústia que o silêncio envolve.

Autor : Maria Alberta Menéres
Imagem : cocu liu

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

...

Aqui posso medir tudo o que digo
pelo eco em montanhas indomáveis:
toco a crosta da terra e de repente
logo um som me anuncia em claridade.
Ouvir fica para lá de qualquer voz
junto à fonte mais triste onde se guarde
uma pequena lágrima que esqueça
o que de mim se lembra em tenra idade.

Autor: Maria Alberta Menéres
In O Jogo dos Silêncios
Imagem : Amy Spanos

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Água - Memória

ezgi polat

Que súbita alegria me tortura
alegria tão bela e estranha
tão inquieta
tão densa de pressentimentos?
Que vento nos meus nervos
que temporal lá fora
que alegria tão pura, quase medo ao silêncio?

Pára a chuva nas árvores
pára a chuva nos gestos,
interiores contornos
divisíveis distâncias
ultrapassáveis gritos
que alegria no inverno,
que montanha esperada ou inesperado canto?

Autor : Maria Alberta Menéres.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Queria dizer-te que não sei





Queria dizer-te que não sei
que há qualquer coisa
talvez desperdiçada talvez não
Tu sentiste-a disseste que era como
qualquer uma outra coisa que
esqueci
A tarde era talvez já fosse tarde
e a noite não vinha
─ como sempre
Queria dizer-te mas não sei se agora
me saberás ouvir


Autor  : Maria Alberta Menéres
Foto: Anna O.photograph

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Queria dizer-te que não sei

Kyle Thompson

Queria dizer-te que não sei
que há qualquer coisa
talvez desperdiçada talvez não
Tu sentiste-a disseste que era como
qualquer uma outra coisa que
esqueci
A tarde era talvez já fosse tarde
e a noite não vinha
─ como sempre
Queria dizer-te mas não sei se agora
me saberás ouvir


Autor  : Maria Alberta Menéres

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Porque não cai a noite de uma vez?!

Ildiko Neer

Por que não cai a noite, de uma vez?
– Custa viver assim aos encontrões!
Já sei de cor os passos que me cercam,
o silêncio que pede pelas ruas,
e o desenho de todos os portões.

Por que não cai a noite, de uma vez?
– Irritam-me estas horas penduradas
como frutos maduros que não tombam.

(E dentro em mim, ninguém vem desfazer
o novelo das tardes enroladas.)

Autor : Maria Alberta Meneres

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Respira. O oxigénio espera da tua esfera

Julie Waroquier


Respira. O oxigénio espera da tua esfera
de cor o teu afago a tudo.
O oxigénio é meigo. Ele às vezes consegue
sair das folhas verdes sem ruído no escuro.

Como um ladrão que rouba o próprio sangue
e o leva ao inimigo assim ele anda
à procura de casa onde se aqueça
vendo que em pedra e telha a traz consigo

Respira. O oxigénio espera o teu relógio
de luz o teu sorriso claro.
O oxigénio é meigo. Ele às vezes constrói
Uma impossível casa à beira do teu lábio

Autor : Maria Alberta Meneresin Cem Poema Portugueses no Feminino