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terça-feira, 25 de julho de 2023

Ondas

 

Tempestade
Marés vivas
Relâmpagos
Fúria do orvalho
Não é isto o amor?

Autor : Gonçalo Salvado
in Corpo Todo
Imagem Barbara Cole

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Em ti

 

Em ti o chão exausto de meu desejo. A flor aberta
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.

Em ti a inclinação dos ramos. A tranlucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raízes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.

Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.

Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.

Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.

Autor : Gonçalo Salvado in " Ardentia "

sábado, 27 de junho de 2020

O meu amor

O meu amor
choveu
sobre ti.
Caiu em gotículas 
sobre o teu calor.
Deixou-se 
trespassar por tua luz.
Tu o tornaste 
em arco-íris.
Depois 
fez-se caudal,
correu 
vasto e
fecundo, 
invadiu tuas margens,
atravessou tuas colinas, 
teus vales,
teus prados, 
tomou
o rumo 
de teu ventre,
penetrou 
em tuas terras.
Inundou-te. 
Como um
manancial. 

Autor : Gonçalo Salvado
in CORPO TODO

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Este vento

Brooke Shaden

Sem ti
sou apenas este vento
que investe contra
as árvores
e as desfolha longamente
muito antes do outono.

Autor : Gonçalo Salvado, in Vento/ Viento,
Antologia de Poesia Ibérica, Celya, 2004

sábado, 23 de julho de 2016

Se

David Garrett

Se o mar escrevesse música
escolheria o teu corpo
para pauta.

Autor : Gonçalo Salvado
in Outra Nudez

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Nudez



E era a terra
vastamente seca,
longamente nua,
que a ti se abria.
E eras tu, amor,
por mim despida,
o único verde
que a cobria.

Autor : Gonçalo Salvado

sábado, 28 de maio de 2016

Embriaguez

Richard Blunt

Toda a noite bebi vinho.
Mas foi o teu corpo
que me embriagou.

Autor  : Gonçalo Salvado

terça-feira, 17 de maio de 2016

Aragem

juan carlos boveri

Como aragem perfumada
a mim te entregas, minha amada.

E não sei se existes ou se te sonho:
meu desejo te nomeia
pura brisa de folhagem.

Que aroma me envolve quando te despes?

Esta fragrância que me inebria
vem do teu corpo ao desnudar-se
ou da luz rosada que amanhece?


Autor : Gonçalo Salvado