Às vezes questiono-me quem sou e de onde sou.
Nasci num País de uma cidade que mudou o nome. Isso também não é relevante pelo menos, para mim.
Registaram-me no consulado numa data que talvez nem seja a verdadeiramente correcta.
Cresci aos trambolhões por locais e cidades que não me lembro os nomes.
Íamos com o pai que tinha uma profissão que o fazia andar de cais em cais de País em País.
As minhas raízes estão obscuras, porque assim alguém quis. E se escrevo é para não relembrar nem falar em passado, que acho não tive.
Todos tem passado eu só tenho presente e assim de vez em quando parto em busca de mim, mas sem sucesso e nem me importo muito, pois, acho que nunca tive nada.
Ou se calhar o que tive ou julguei ter, nunca foi totalmente meu. Foi tudo um empréstimo que paguei com juros.
Não sei se magoei alguém, pelo menos intencionalmente não creio que o tenha feito, mas houve pessoas e coisas que me magoaram, e muito.
Amei muito, e fui amada. Sei que em algum lugar do mundo ainda devo ter quem me queira bem, e se lembre de mim.
Agora quem me desprezou, não odeio nem renego, pois terão sempre a recompensa que será o arrependimento para toda a vida, cujo prémio será o remorso que lhes corrói a memória.
Ainda fujo do passado.
Mas vivo feliz com a felicidade possível que construí, sem névoas a destruir a minha crença, nem o meu carácter.
Autor : BeatriceM 2021-02.27
Imagem Magdalena Russocka