Já nem sabíamos quem fingir,
meu amor.
Foram raros os barcos nos lábios,
e demasiadas as laranjas
que a manhã descobriu
por afagar.
Já não somos a glória
de um corpo à deriva noutro corpo,
as nossas mãos já não florescem
nos cantos de cada noite.
Abelhas mordidas de morte,
cães de olhar deserto,
à chuva, à pedra, ao riso,
todos somos
Ausentes para Amor Incerto.
Autor :João de Mancelos In Ausentes para Amor Incerto , Aveiro, Ed. de autor, 1994.
Foto:Szarareneta