sábado, 28 de novembro de 2009

...

Deixo o rio correr,
(o som e a cor),a agua tenho-a na alma,tudo o resto é vento que rema sombras…
Não tenho fronteiras, só o universo me cabe,para lá dele
há o olhar que O inventa e O sente.

Autor:Almaro

sábado, 21 de novembro de 2009

Fatalidade


Brotam desejos em mim
Vibrantes, quentes, vistosos,
Como as papoilas vermelhas
Se recortam nos trigais!

Brotam e murcham depois,
Como a elas acontece,
Deixando indiferente o céu
Que viu seus gritos de cor
Como sangue a escorrer
Nas mãos de quem as colheu!

Também eu, mondo os desejos
Que nascem dentro de mim,
E sei que o céu indiferente
Os deixará reviver,
Garridos como as papoilas
Que alguém jamais semeou,
Mondadeiras vão colher,
E no trigo hão-de nascer!

autor:Maria José Rijo http://paula-travelho.blogs.sapo.pt/2008/03/
26 Maio 1956
Foto:Pa Wel

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

As coisas pelo nome

Eu não sou o meu nome. Eu sou o teu nome escrito do avesso. Eu sou o meu nome encostado à tua cabeça. O meu nome que foge de mim. O teu nome e o meu nome atados com cordas. O teu nome sou eu quando me debruço por cima do teu ombro. O meu nome a fazer uma pirueta. O meu nome a cair lentamente sobre a tua cama estreita de mulher. O teu nome dentro da minha boca. Sou eu a pedir-te que repitas o meu nome, sussurro a sussurro, letra a letra. Sou eu a dizer o teu nome que trago debaixo da língua. O teu nome no meu sexo estampado. O meu nome no teu sexo estrela. O meu nome é um sexo levantado. O meu nome é uma carícia que me fazes por cima da minha cicatriz. O meu nome é a cicatriz a meio do teu corpo. O meu nome plana por cima das planícies em busca do teu nome. O meu nome cai a pique junto ao teu nome. Nunca digas o meu nome. O meu nome não existe. Não vem em nenhuma página escrita. O meu nome é um cifra escrita a verde ultramarino. Verde ultramarino é a cor de que mais gostam os nossos nomes. O meu nome sobre o teu nome. O teu nome sobre o meu nome. Os nomes muito perto. Os nomes muitos. Os nomes exaltados. O meu nome em cadência lenta. O meu nome é forte como um bicho selvagem. Os nossos nomes percorrem as paisagens como cavalos endoidecidos. Quem diz o meu nome diz amor, qualquer coisa aflita. Quem diz o teu nome deseja ser atingido por um raio, elevado aos céus. O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, inomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.
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Autor :Pedro Paixão
Foto:Bogustawsiemek

sábado, 14 de novembro de 2009

o caminho mais íngreme

o caminho mais íngreme
é melhor que se faça
sozinho.

evitemos sacrifícios
alheios

não vá a terra
despegar-se

e arrastar na avalanche
o nosso melhor amigo.


Autor: José Miguel de Oliveira
http://deliriospoeticos.blogspot.com/
Foto:Julka Toldi