domingo, 31 de maio de 2009

nascemos todos com vontade de amar

Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece...
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Autor:Miguel Esteves Cardoso

Foto:netiee

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha. Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho, sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores. Estamos na aurícola do coração do mundo. O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra. Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar e é a felicidade da língua vegetal ou a cabeça leve que se inclina para o oriente. Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.


Autor :António Ramos Rosa
Foto:Mimikra

domingo, 24 de maio de 2009

os nós da escrita

Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível separá-los.
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não passe.
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.



Autor:Luís Miguel Nava
Foto:mastercrasch


sábado, 2 de maio de 2009

...Escrevo porque não te posso falar. Não estás. Não me escutas. Se
estivesses tudo era diferente. Pelo menos tentava não cometer os
mesmos erros. E se quisesses partir de novo eu queria ir contigo
desta vez. Porque da última vez que partiste nunca mais voltaste....
Nada sabes de mim...


Foto:Roko