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terça-feira, 8 de março de 2011

PACOTE INCOMPLETO

A tempo do início da temporada, a FIA anunciou uma série de ajustes ao regulamento esportivo da Fórmula 1 após uma reunião em Paris do Conselho Mundial. O uso dos jogos de pneus ao longo de um final de semana e um novo procedimento em períodos do Safety Car foram alguns dos temas anunciados. Mas a entidade deixou ainda algumas perguntas sem resposta.

A primeira diz respeito à realização do GP do Bahrein ainda neste ano. A entidade determinou que os organizadores da prova têm até o dia 1º de maio para comunicar se ela pode ser realizada ainda neste ano. Isto significo que os times da categoria disputarão três corridas sem saber se o campeonato terá 19 ou 20 provas no total. E mantem em aberto um possível pesadelo logístico no final da temporada, caso a prova barenita seja encaixada ali. Faltou pulso para tomar uma decisão definitiva antes da ação começar.

Outro ponto que ainda está em aberto é em relação ao regulamento do uso das asas móveis traseiras. No mês passado, surgiu na imprensa um rumor de que a FIA limitaria os 600 metros finais da reta principal de cada circuito para o acionamento do dispositivo, mas o comunicado distribuído ontem nem tocou no assunto. A menos de três semanas do início do campeonato, ninguém sabe ainda como vai funcionar uma das principais novidades da temporada.

Pelo menos, a FIA agiu para ajustar algumas regras para este ano. O uso de um composto de pneu extra em algumas sextas-feiras vai permitir que a Pirelli desenvolva os compostos super-macio e médio, que tanta dor-de-cabeça causaram na pré-temporada. E os times terão direito a um jogo de pneus a mais nas pistas com maior desgaste. Mudanças na regra do Safety Car também visam eliminar polêmicas como a ocorrida no GP da Europa do ano passado, em Valência. Pelo menos aqui, os dirigentes agiram bem.

terça-feira, 1 de março de 2011

COMPLEXO DE JAMES BLENGERS

Hoje foi um dia muito bacana, correndo para cima e para baixo pelo Palácio de Exposições de Genebra para fazer algo que nunca tinha feito: cobrir um Salão do Automóvel. Vou falar mais disso aqui nessa semana, já que não consegui parar um segundo. Assim, passei esta terça completamente por fora do noticiário da F-1, a não ser com o que falei com alguns personagens do paddock que estavam no evento e que rendeu material para os próximos dias.

Assim, não fiquei surpreso ao ler agora a entrevista dada por Bernie Ecclestone ao site oficial da Fórmula 1. Fiquei, sim, espantado ao ver a reação que ela teve. Já disse uma vez aqui algo que vale repetir: o que ele fala não é para ser levado a sério. Afinal, seu verdadeiro discurso reside nas entrelinhas. Sempre.

O que Bernie fez ao falar para um site que, notem, é dele foi espertamente marcar posição na sua briga com a FIA de Jean Todt e com a FOTA das equipes pela distribuição dos lucros da Fórmula 1. Ao sugerir o GP do Bahrein em agosto, ele despreza um ponto sagrado dos times: o descanso de seus funcionários e o fechamento das fábricas no período. É como se dissesse, perdoem o vocabulário: “não venham me foder que eu fodo vocês também”.

Mas a grande discussão veio em cima de sua sugestão de molhar os circuitos artificialmente perto do final da prova para garantir mais emoção. Um pensamento na linha da ideia de colocar atalhos nos circuitos que ele disparou há algum tempo. O alvo aqui é a FIA, responsável por criar as regras da disputa. Bernie sente que o efeito de medidas como Kers e asa traseira móvel foi negativo no público em geral. E aproveita para bagunçar ainda mais o cenário. “Se vocês estão avacalhando, quero avacalhar também”, foi seu míssil.

Pelas reações, o diminuto acertou dois alvos.

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(Se você está se perguntando quem diabos é “James Blengers”, corra atrás do disco “Premeditando o Breque”, de 1979. Se não entender mesmo assim, sem problemas: você vai ter em mãos um dos grandes discos já feitos no Brasil, verdadeira pérola da vanguarda paulistana da época.)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

RUFAM OS TAMBORES

O processo de cancelamento do GP do Bahrein trouxe consigo uma interessante situação. Enquanto Bernie Ecclestone dava entrevistas à rádio BBC e se dizia em contato constante com o príncipe Salman Al Khalifa, a FIA silenciava - com exceção de umas parcas declarações iniciais de Jean Todt em um evento da entidade, dizendo que era preciso esperar para ver.

No comunicado oficial dos organizadores, Ecclestone foi agraciado com algumas linhas, lamentando a situação e coisa e tal. Horas depois, chegou um curto documento da FIA comunicando o fato. O mais interessante veio no último dos três parágrafos:

A FIA é a entidade reguladora da Fórmula 1 e, portanto, responsável pelo calendário internacional assim como todos os assuntos relativos a segurança dos participantes do campeonato”.

Foi como uma declaração aberta de que qualquer decisão sobre uma recolocação da prova no calendário de 2011 terá de passar pela aprovação de Jean Todt. Nos bastidores, ele é tido como um possível aliado das equipes numa nova negociação da divisão dos lucros da F-1, o famoso Pacto da Concórdia, que será duramente negociado durante este ano. Não por acaso também, surgem relatos de que sua posição à frente da entidade estaria ameaçada por um grupo descontente com sua filosofia.

Nesse comunicado, ele deu um tapa com luva de pelica no dono dos direitos comercias da F-1. Foi só um sinal de que a guerra está apenas esquentando.

(Imagem reprodução Internet)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O FUTURO DO GP DO BAHREIN

Nem sempre acontece quando se trata de Fórmula 1, mas o bom senso prevaleceu desta vez e o GP do Bahrein foi cancelado - ou adiado, não sabemos ainda. É claro que uma decisão destas, numa primeira linha, só tem vencedores: o povo e o governo barenitas se livraram de uma desnecessária distração num momento em que têm coisas muito mais importantes para resolver; e a própria categoria se saiu bem, dando uma rara demonstração de não ser insensível à realidade das pessoas dos lugares por que passa.

Respondendo a algumas perguntas que me fizeram hoje no twitter: não haverá uma prova no lugar do Bahrein no dia 13. Para organizar um GP de F-1 atendendo às inúmeras exigências da FOM é preciso pelo menos sete meses de trabalho. Botar um GP às pressas seria como passar o desfile das escolas de samba do Rio para o corredor de um apartamento - não daria certo nunca.

O dado acima nos direciona para as possibilidades de recolocação do evento ainda neste ano: só faria sentido mesmo realizá-lo depois da temporada européia, ou seja, a partir do final de setembro. Uma possibilidade seria entre o GP da Índia e de Abu Dhabi (aqui o calendário atual com 19 corridas), no dia 6 de novembro, colocando três domingos seguidos de provas na Ásia. Mas a F-1 sempre coloca uma prova estreante “isolada” no calendário, por não saber na prática o tempo que leva a burocracia de entrar e sair com tantos equipamentos de um país novo. Seria uma alternativa arriscada demais.

Dia 20 de novembro, uma semana depois de Abu Dhabi, também pode ser considerado. Mas como o colega Joe Saward colocou em seu blog, a turma dos Emirados Árabes Unidos não gostaria nada da idéia de ter uma prova vizinha roubando público e atenção do seu próprio evento - algo que faz sentido, embora os xeques não podem reclamar de público se a decisão do ano passado, mesmo com quatro pilotos na briga, tenha ocorrido com muitos vazios nas arquibancadas.

Essa variante também implicaria em três finais de semanas seguidos com corridas. Mas seria um verdadeiro pesadelo logístico com a última sendo bem longe dali, no Brasil. “Empurrar” a prova de Interlagos para o dia 4 de dezembro também é altamente improvável. Falei hoje com a Marília Frias, que trabalha na assessoria do GP, e ela confirmou que a organização não foi procurada para falar sobre o assunto. O fato é que os ingressos já estão à venda e mudar a data de outro GP além do Bahrein traria ainda mais complicações.

Toda essa discussão não tem a menor relevância enquanto não soubermos o que vai acontecer no Bahrein. Se o príncipe Salman Al Khalifa conseguir fazer as reformas que o povo quer e ainda assim manter o apoio do mesmo para o evento, terá provado ser um grande estadista. Mas o país pode passar por transformações profundas, ninguém sabe, e um eventual novo governo talvez prefira pegar toda a grana gasta com a corrida para investir em melhores condições para os mais necessitados. Pelo pouco que eu vi de Manama, faria o mesmo.

(Foto Luis Fernando Ramos)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

FALTOU CLAREZA NAS NOVAS IDÉIAS

As decisões da reunião de ontem do Conselho Mundial da FIA, anunciadas agora há pouco, parecem uma daquelas caixas de chocolates sortidos: existem aqueles saborosos que a gente corre para comer e também os de gosto horrível que a gente nem quer tocar. Gostei de algumas idéias, mas no final das contas achei o documento pouco esclarecedor na maioria dos pontos - quando deveria ser justamente o contrário. Vamos fazer uma análise, começando pelos itens que entram em vigor já no ano que vem:

- Fim da proibição das ordens de equipe - é curioso que a Ferrari promoveu uma marmelada em 2002 e a atitude da FIA foi criar uma regra para coibir as ordens de equipe; oito anos depois, o time italiano toma outra decisão polêmica e a mesma FIA resolve acabar com a regra que justamente deveria coibir ações como aquela. Até aí tudo bem, pelo menos seria claro para todo mundo. O problema é que o adendo diz que “ações que prejudiquem o esporte serão julgadas pelo artigo 151c” (conhecido entre os jornalistas da F-1 como “artigo-chiclete”, na qual a FIA pode punir quem ela queira praticamente sob qualquer argumento). Então fica tudo como está? Não dá para saber, a não ser que uma situação parecida com a da Alemanha ocorra novamente.

- Mudanças na lista de penalidades que os comissários podem aplicar - legal mas, quais são elas? Dez flexões por queimar a largada? Ficar sem lanche no recreio por mentir aos comissários?

- Revisões às condutas de pilotagem e dos pilotos - essa é um efeito do episódio do “burnout” de Lewis Hamilton na saída do GP da Austrália. Uma bobagem sem fim, parece que a FIA quer vigiar a conduta dos pilotos nas ruas, mas em suas vidas privadas. Oras, para isso existem as polícias locais. Depois de ter um ex-presidente exposto tomando chibatadas de cueca, quem é a FIA para vigiar a vida pessoal dos outros?

- Um limite da largura da via rápida nos pits - uma regra que tende evitar um duelo como o de Lewis Hamilton e Sebastian Vettel no GP da China deste ano, que a FIA considerou “perigoso”. Uma pena, eu acho lances como este bem emocionantes.

- A introdução de uma regra que permite ao diretor de prova fechar os boxes num período de Safety Car por razões de segurança - aqui também faltou esclarecimento: quando fecharão, quando não?

- A volta dos pneus intermediários em 2011 - me parece uma questão burocrática. Neste ano, tínhamos os chamados “wet tyres” que funcionavam como intermediários e os “extreme wet tyres” que funcionavam como pneus de chuva.

- Penalizações para o piloto que não usar os dois pneus de pista seca especificados para cada corrida - ué, não havia sanção para isso? Então todo mundo que trocou pneus nas corridas deste ano foi trouxa? Pela maneira que o texto formulado, parece isso. Mas havia sim esse ano uma pena de 30 segundos para quem não trocasse pneus. Me surpreende que ninguém tenha explorado isso. Tira os 20 e poucos segundos perdidos na troca mais o ganho na pista com o composto ideal em detrimento do outro... será que a matemática nunca pendeu para esse lado?

- Uso da mesma caixa de câmbio durante cinco corridas - neste ano foram quatro, uma alteração que vai ao encontro à filosofia de contenção de custos. Na prática, um câmbio a menos para cada carro.

- Esclarecimento de quando os carros podem ultrapassar o Safety Car - sim, mas quais? Pode ser um efeito da polêmica com Lewis Hamilton em Valência, mas ali nem precisava de esclarecimento, o inglês descumpriu a regra por um metro. Se for para “tirar a volta” de retardatários antes da relargada, só digo uma coisa: sim, por favor!

- Um refinamento dos princípios da regra do uso do aerofólio traseiro móvel - algo extremamente necessário, já que a idéia da FIA liberar quando cada piloto poderia usar o dispositivo era um barril pronto para explodir de polêmicas. Vamos ver se a emenda vai melhorar ou piorar o soneto.

- Uma melhor definição do plano de referência e o reforço dos testes de flexibilidade, especialmente na parte anterior do plano de referência - uma regra criada em cima das acusações de McLaren (e, por debaixo dos panos, Ferrari) contra o RB6 - que passou em todos os testes. Resta saber se estas novas regras terão alguma influência no conceito do RB7.

- A permissão de painéis anti-intrusão para proteger as pernas dos pilotos - um efeito do acidente sofrido por Timo Glock em Suzuka 2009, quando um braço da suspensão entrou no chassi da Toyota e fez um corte na sua perna.

Regras para 2012:
- A comunicação das equipes será liberada para quem faz as transmissões - uma idéia excelente. Se eu entendi bem, cada emissora vai poder escolher as rádios que quiser colocar no ar. Assim cada uma pode colocar o que for relevante para o resultado da corrida e também para os pilotos/equipes de seu país. Vou sugerir à FIA também que libere o áudio completo de todas as equipes para download em seu site oficial na semana após cada corrida. Seria sensacional!

- A inclusão de componentes de combustível produzidos desde biomassa - um combustível verde para a F-1, sou completamente a favor.

- Limitação na base da suspensão - o “suspension upright” é aquela peça que une todos os braços da suspensão do carro (pessoal que saiba o termo disso em português, me ajude). Resta saber o que será limitado e qual a intenção disso. Confesso que não tenho idéia.

Regras para 2013:
- Motores turbo de quatro cilindros e 1,6 litro de volume, com rotação máximo de até 12 mil rotações - uma mudança radical que vai deixar os puristas de cabelo em pé, mudando o som da Fórmula 1. Mas a promessa é de que a performance seja a mesma dos V8 atuais, com a ajuda de sistema de recuperação de energia, mesmo com as unidades consumindo 35% a menos de combustível. Eu gosto dessa filosofia. Acho uma irresponsabilidade fechar os olhos para os problemas energéticos que o planeta está sofrendo e que pode vir a sofrer se não mudarmos nosso modelo de consumo. E acho que a F-1 tem mesmo que ser usada como um laboratório e um exemplo no sentido de mudar isso. A propósito, em 2013 cada piloto terá cinco motores à disposição ao longo de toda a temporada. E apenas quatro a partir do ano seguinte.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

SURPRESAS NA LISTA

Todos os anos, a FIA publica no dia 30 de novembro uma lista provisória para o Mundial da F-1 seguinte. Como sempre, surpresas e motivos para especulações num período especialmente infrutífero em novidades para os sempre ávidos fãs do esporte. A principal do documento de hoje, sem dúvida nenhuma, está na aparição de Jarno Trulli ao lado de Heikki Kovalainen na Lotus - que afinal aparece como Team Lotus, embora todos sabemos que há uma disputa no tribunal com a Lotus Cars pelo direito de uso do nome.

Curiosamente, a equipe de Tony Fernandes ainda não confirmou sua dupla de pilotos de forma oficial, algo que não deve acontecer antes que a questão do uso do nome seja decidida. Mas a presença de Trulli na lista da FIA não deixa de ser significativa. Mesmo que no ano passado a lista de 30 de novembro ainda tenha passado por várias mudanças antes que a temporada começasse, nenhuma delas envolveu pilotos. A Brawn GP virou Mercedes, a Campos Meta virou Hispânia e a USF1 deixou de existir, abrindo uma vaga para a Sauber, mas os pilotos do documento original começaram o ano com o número e a vaga que lhes foram designados.

Resta saber se isso significa que as negociações de Bruno Senna com o time tenham chegado ao fim. Como coloquei nas últimas edições do “Credencial”, a informação que eu tinha era de que não havia nada acertado entre o brasileiro o time. E que uma corrente deste trabalhava para o italiano ficar. Há pouco no twitter Mike Gascoyne celebrou a presença do nome de Trulli na lista. Liguem os pontos.

Na Toro Rosso, o time já encerrou qualquer especulação há quatro dias com um press release confirmando Sebastien Buemi e Jaime Alguersuari, ao mesmo tempo em que apontava o australiano Daniel Ricciardo para andar no primeiro treino livre de cada GP para ganhar experiência - e colocar pressão nos titulares. A vaga no carro de número 24 da Virgin para Timo Glock também é mera formalidade - sua permanência está acertada.

No resto, o quadro é bem mais confuso: a Williams já agradeceu a Nico Hülkenberg num release e a confirmação de Pastor Maldonado é esperada a qualquer momento. Mas não há razão para ela não ter acontecido ainda se tudo estivesse acertado - o time nunca foi de perder muito tempo com suspense, que o digam campeões mundiais demitidos como Nigel Mansell e Damon Hill. Ou o dinheiro prometido pelo venezuelano não chegou, ou tem alguém com mais dinheiro por perto ou o time ainda está ganhando tempo para tentar arrumar mais patrocínio e manter Hülkenberg - que afinal ainda não assinou com ninguém -, empurrando Maldonado para correr na Hispânia.

Na Renault, a questão do nome ainda permanece incerta, com muitos rumores de que a Lotus Cars (a montadora malaia, não confundir com a turma de Tony Fernandes e Mike Gascoyne) compraria a parte dos franceses para entrar na categoria. Tudo isso está mantendo aberta a vaga do segundo piloto. Vitaly Petrov aparece com boas chances, mas precisa também aparecer com dinheiro. Questões financeiras também serão fundamentais para a segunda vaga na Virgin - embora Lucas di Grassi seja o nome preferido dos chefes, a necessidade de reforçar o orçamento impera no final. Quem está de olho em um desses dois cockpits é o belga Jerome d’Ambrosio.

Na Force Índia, o quadro também é obscuro. O empresário de Adrian Sutil disse que “só faltava assinar” e há muito circula no paddock uma história de que Vitantonio Liuzzi tem em seu contrato uma opção que o garante no ano que vem (contra a vontade do time, dizem). Mas Paul di Resta, o campeão da DTM, ainda sonha com uma vaga na equipe. E mesmo Nico Hülkenberg sondou a situação lá para se colocar entre os candidatos. Vai ser interessante saber como essa história vai terminar.

Na Hispânia, a preocupação é outra: manter a equipe viva. Depois da confusão envolvendo o fim do acordo com a Toyota Motorsport por falta de pagamentos, o time estuda iniciar o ano com uma revisão do carro de 2010 (um que nunca foi revisado desde que nasceu). E deve estar pedindo uma boa grana pelas vagas. Um péssimo negócio, afinal o que oferecem é um carro condenado a ser o último do grid. Precisa ver se sobreviverão ao inverno.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O PREÇO DO TRAMBIQUE

Com cem mil dólares, cerca de 175 mil reais, você pode realizar aquele seu velho sonho de infância. Tudo bem que seja um modelo usado, mas é uma autêntica Ferrari 360 Spider, apenas 18 mil quilômetros rodados, com câmbio seqüencial no volante, bancos de corrida e aquele motorzão V8 que faz um barulho característico.

Para a própria Ferrari, o valor tem outro significado. É o preço que se paga para quebrar o regulamento da Fórmula 1. Para eles, é dinheiro de pinga. Ou de Limoncello. No GP da Alemanha, depois de Fernando Alonso ter choramingado à vontade pelo rádio, o time resolveu atendê-lo e deixou claro a Felipe Massa que ele deveria ceder a vitória ao companheiro de equipe. Quem falou com o brasileiro foi seu engenheiro de corridas e grande amigo pessoal Rob Smedley, que não conseguiu esconder sua dor em dar uma ordem que teria de ser aceita.

A ordem de equipe ficou tão caracterizada que os comissários de prova em Hockenheim ouviram estes personagens, consideraram que o time realmente havia quebrado o artigo 39.1 do regulamento desportivo da F-1 e deram uma multa de cem mil dólares, a maior pena possível que poderiam fazer naquele dia. Levaram também a questão ao Conselho Mundial, que teria poder para aplicar uma sanção mais apropriada.


A sessão aconteceu hoje e, todos sabemos, a Ferrari saiu ilesa – mesmo considerada culpada de ferir o regulamento também no Conselho! Já pagou a multa dada em Hockenheim e a vida segue, com Alonso como vencedor de uma prova ganha no grito. Ao invés de cuidar do valor das suas próprias regras, a FIA colocou uma etiqueta com um preço bem baixinho para quem quiser quebrá-las. As outras equipes certamente não ficarão contentes com o veredicto, mas pelo menos sabem o quando terão de desembolsar caso queiram usar do mesmo expediente.

É óbvio que a Fórmula 1 precisa discutir o que fazer com a regra que proíbe as ordens de equipe, já que todas as participantes do campeonato acham que ela não faz muito sentido e, mesmo veladamente, acabam tomando decisões que favoreçam um ou outro piloto. Mas a discussão não é esta de ordem moral, de que ordens de equipe fazem parte do esporte e não há como coibí-las. O que houve é um tribunal esportivo reconhecendo que uma regra foi quebrada e dando uma punição leve demais ao infrator.

Os membros do conselho pode ter ganho tapinhas nas costas dos engravatados de Maranello, especialmente do advogado inglês Nigel Tozzi, um homem que já fez mais pela equipe do que Michael Schumacher e Ross Brawn juntos. Mas passaram uma mensagem equivocadíssima aos fãs da categoria, a de que vale tudo em nome da vitória, inclusive quebrar as regras descaradamente, se fazer de inocente e ficar com o benefício disso em troca do valor de um carro de luxo usado.


Enfim, uma sem-vergonhice.


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Pelo menos uma boa notícia vinda de Paris: o calendário de 2011 da Fórmula 1 volta a trazer o Grande Prêmio do Brasil como a prova que encerra a temporada, a primeira na história que conta com 20 etapas. Será uma maratona para quem vai a todas as etapas, com início no Bahrein em 13 de março e encerramento em Interlagos em 27 de novembro. Mas a logística das viagens ficou bem melhor.


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Outra decisão relevante foi a decisão em não outorgar licença para uma 13ª equipe na Fórmula 1. Diante da demora da própria FIA em tomar uma decisão, não havia mesmo outro caminho. Se uma das candidatas ganhasse a oportunidade, jamais conseguiria aprontar um carro em tempo hábil para disputar a corrida no Bahrein. Já basta o sufoco que foi a presença da Hispania na prova deste ano.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

F-1 OU MARIO KART?

As mudanças anunciadas pelo Conselho Mundial da FIA hoje indicam a cara da Fórmula 1 em 2011. São várias novidades nos regulamentos técnico e desportivo que visam melhorar as disputas em pista. Mas a entidade reguladora da categoria errou a mão desta vez. Com a volta do Kers e a introdução dos aerofólios traseiros móveis, a disputa vai ficar com cara de vídeo-game. Só faltou mesmo um botão para jogar tachinhas pela pista.

Ferrari e Renault foram as equipes que mais pressionaram para o retorno do Kers – o sistema de recuperação de energia cinética que traz uma potência extra no motor por tempo limitado a cada volta. Para tornar vantajoso o uso do sistema, uma arma importante para o ano que vem, a FIA aumentou o peso mínimo dos carros.


Mas o botão do Kers não será o único auxílio que os pilotos controlarão no cockpit. A maior novidade do regulamento será o uso do aerofólio traseiro móvel. Os pilotos poderão diminuir seu ângulo, o que facilita muito na disputa por uma posição. Mas só poderão fazê-lo depois de receber permissão da FIA. O uso só será permitido quando a diferença entre um piloto e outro for de apenas um segundo, ou menos. A idéia de gente de fora influir na disputa entre pilotos, ainda mais numa hora de calor e adrenalina, não me agrada nenhum pouco.


A novidade final do “pacotão” anunciado hoje é que a Pirelli será a nova fornecedora de pneus da F-1. Os vinte anos longe da categoria não devem ser um impecilho para que a marca faça pneus seguros. Mas a construção deles certamente será bem diferente dos atuais, o que deve trazer uma boa dose de incerteza no uso ideal dos compostos do ano que vem. Um fato positivo para reembaralhar a força das equipes.


O Conselho Mundial ainda ratificou o fim do duto de ar introduzido este ano pela McLaren e copiado por boa parte do grid. E também dos difusores de fundo duplo. São algumas idéias positivas, mas os meios artificiais para se criar ultrapassagem não são boa notícia. Parece que a FIA nem está notando o campeonato repleto de provas emocionantes que está acontecendo no momento. É precipitado mudar tanta coisa agora. Em time que está ganhando não se mexe!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MEA CULPA

Na última edição do “Credencial” eu já havia apontado um erro de procedimento dos comissários de prova da FIA como o principal responsável pela confusão ocorrida na última volta do Grande Prêmio de Mônaco. Hoje a entidade divulgou uma nota oficial reconhecendo justamente essa falta de clareza e disse que fará ajustes à regra 40.13 para que a sinalização a pilotos e equipes em situações similares de Safety Car seja mais clara no futuro.

É um tema relativamente pequeno, eu sei, mas ver a FIA descer do pedestal e reconhecer eventuais incongruências é uma marca positiva do comando de Jean Todt, algo difícil de imaginar acontecendo na administração anterior. Ainda que eu tenha minhas críticas quanto a algumas questões, é preciso reconhecer que o estilo “low profile” do francês veio em boa hora.


Ainda que o pobre Michael Schumacher pagou por um pato que não era dele, pelo menos a vontade de aprender com o erro aconteceu por parte de quem o cometeu. Agora, se o alemão perder o campeonato por seis pontos – o que parece improvável no momento –, a Mercedes vai se arrepender como nunca ao ter retirado o apelo, pensando no “bem do esporte”. Altruísmo ganha simpatia, mas não títulos.

(Foto Luis Fernando Ramos)

sexta-feira, 5 de março de 2010

AINDA DESCALÇOS

A FIA mudou silenciosamente um parágrafo dos seus estatutos que exigia que um novo fornecedor de pneus se inscrevesse na entidade reguladora um ano antes do que começaria a trabalhar na Fórmula 1, o que seria no dia 1° de janeiro desse ano. Nos bastidores, as opções vão rareando. Goodyear, Kumho e Hankook deram uma resposta negativa – e a Michelin parece cada vez menos improvável pela demora para se decidir. A saída pode ser... quem está de saída! A estratégia atual da FIA é tentar convencer a Bridgestone a ficar no ano que vem. Mas os japoneses vão gastar 70 milhões de Euros neste ano e não parecem muito inclinados a aceitar a proposta. A novela vai continuar por mais um tempo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

ASSIM NÃO, TIO!

que a Ferrari inaugurou a sessão de bordoadas na FIA neste semana, o sérvio Zoran Stefanovic pegou carona para bater também. Em uma carta aberta divulgada no site da equipe, notas fiscais comprovam o envio de material para a corrida no Bahrein. É a senha para afirmar quealguém” (leia-se um francês, baixinho, narigudo e com a cara redonda que nem o Yoda) vai ter de se explicar caso eles não corram e “alguma” das equipes inscritas (leia-se um time norte-americano que conseguiu fazer um bico) não compareça. Stefanovic foi além e disse que os sonhadores americanos também terão de se explicar, dizendo que o sucesso não chega com palavras, mas com ações e coragem. Para nós que estamos de fora, é sempre legal ver o circo pegar fogo em situações pitorescas como essa. Mas o sérvio está fazendo uma grande besteira em ir a público para bater na FIA. Em primeiro lugar, ele não desfruta de muita simpatia dentro da entidade depois de abrir uma ação na justiça contra ela depois que ficou fora do processo inicial de seleção. Em seguida, ele fez a asneira de chamar o polêmico Mike Coughlan para tocar o projeto, uma das pontas do escândalo de espionagem que vazou informações na Ferrari durante a administração de Jean Todt.

Stefanovic
não pode esquecer que a Ferrari tem suporte para encher o peito e comprar a briga. Ele, não. A carta mais me parece um ato desesperado de quem não tem nada a perder. E o ponto central dela acaba obscurecido pelos ataques. A nota fiscal fala emFormula One spare parts”. O que está no Bahrein são apenas peças de reposição. E por um motivo nada nobre, pelo que eu apurei. Embora tenha feito acordo com a Toyota, Stefanovic ainda não pagou aos japoneses – esperto, só pretende fazê-lo se e quando ganhar uma vaga no grid. Assim, os carros (só os chassis, na verdade) e motores comprados não estão no Bahrein, mas em um galpão na fábrica em Colônia. Fechado por um enorme cadeado até que o dinheiro caia na conta em Tóquio.

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EDIT: E, no dia seguinte, a Stefan GP publicou uma nota oficial mais conciliadora em seu site, reafirmando o desejo de correr no Bahrein e afirmando ter fé no bom-sendo da
família”, da Fórmula 1. Mais do que isso, tirou do ar a mensagem do dia anterior, aquela confrontando diretamente a FIA. Certamente, Zoran Stefanovic teve de ouvir um “Assim não, tio” dito por Bernie Ecclestone em pessoa.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TREZE, DOZE OU ONZE?

O xadrez político da Fórmula 1 foi bem movimentado nesta terça-feira, um sinal claro de que o relógio dos jogadores vai chegando a um momento decisivo. É hora de um dos lados dar o cheque-mate, ou um acordo selar um empate.

Fazendo uma leitura de tudo o que aconteceu hoje, tudo indica que teremos doze ou mesmo apenas onze equipes disputando o GP do Bahrein – e o resto da temporada. Dos times incertos, a Campos é a mais próxima de confirmar sua presença, mas corre contra o tempo para aprontar dois carros, juntar uma equipe de engenheiros e mecânicos e mesmo um segundo piloto para correr ao lado do praticamente certo – mas ainda não confirmado – Bruno Senna.

Só que
a informação que me chegou hoje não foi boa para esta pretensão. Colin Kolles se encontrou com um representante de Chad Hurley, o dono do You Tube, numa ponte construída por Bernie Ecclestone. Mas as duas partes não chegaram a um acordo. Ao que parece, o conselheiro do bilionário norte-americano vai sugerir que ele invista seu dinheiro em outro lugar que não essa complicada F-1.

Por
outro lado, e do outro lado do Atlântico, o mesmo Hurley aparece como possível salvador da USF1 nessa entrevista de uma fonte anônima publicada na Autosport. O “garganta profunda” acusa Ken Anderson como o responsável pela tímida evolução do projeto, mas aposta no apoio do dono do You Tube e acredita que uma injeção de dinheiro resolveria os problemas. A mesma fonte ainda admite que o trabalho está muito atrasado e que ninguém na fábrica de Charlotte acredita que o time estará pronto para correr no Bahrein.

A
FIA confirmou que conversa com Ken Anderson, mas não revelou o teor da negociação em curso. É que a polêmica carta aberta da Ferrari publicada hoje ganha relevância. O pacto da Concórdia não permite que uma equipe falte a uma corrida. Caso a FIA queira mudar isso para ajudar a USF1 e, eventualmente, a Campos, precisaria da aprovação de todas as outras. Incluindo a Ferrari e os times que estão com ela nessa briga (que permanecem anônimos, mas incluem McLaren, Mercedes, Red Bull e Toro Rosso).

Outra
variante seria a da Stefan GP entrar no lugar da USF1. Aqui também seria necessária a aprovação dos outros timescomo foi no caso da Sauber. Alguém imagina Ferrari e outras acenando positivamente a estes cenários, depois de chamar um time de “vassalo”, um segundo de “escondido” e um outro de “abutre”?

O
ataque ferrarista foi um grito público de “xeque”. Acredito que os times de ponta podem até mudar de postura desde que algumas de suas reivindicações sejam atendidas. É um cabo-de-guerra, e no momento que está puxando mais forte são eles.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

BATENDO CABEÇAS

Faltam apenas três semanas para o início do Mundial 2010 e é incrível olharmos para trás e vermos a revolução ocorrida na Fórmula 1 desde que Sebastian Vettel estourou a champanhe como vencedor da etapa de encerramento do ano passado, em Abu Dhabi. A Bridgestone anunciou que vai deixar o barco, a Toyota virou passado, a Sauber ressucitou, o grid ficou um heptacampeão mundial mais rico e o futuro de alguns participantes do Mundial ainda é nebuloso.

Do que chamamos de “salvação” da equipe Campos, pouco sabemos. O mais relevante do comunicado oficial dos senhores José Ramón Carabante e Colin Kolles é o agradecimento público à ajuda de Bernie Ecclestone para “apoiar nossos esforços e manter nossa equipe viável”. Eu não chamaria de apoio a série de declarações públicas do chefão da Fórmula 1 apostando no fracasso da Campos. Dentro desse contexto, a frase do senhor Carabante parece mais o agradecimento de um condenado a seu executor por atender a pedidos de clemência.

Do outro lado, temos uma USF1 que também foi dada como morta, mas que deixou claro no twitter que não será enterrada viva sem um mínimo de luta. Para o “New York Times”, Ken Anderson afirmou que vai consultar a FIA sobre a possibilidade de entrar no Mundial só a partir do GP da Espanha e soltou a maior pista para o que está acontecendo nos bastidores. “Não faz sentido nos darem uma franquia e tirá-la no primeiro obstáculo que surgir na estrada. E com certeza não é essa mensagem que estamos tendo deles. Eles querem nos ajudar, e não que fechemos as portas”, afirmou.

Vejamos. Na minha opinião, a longa incerteza sobre o futuro destas duas equipes (e, por tabela, da Stefan GP) foi acentuada pela aparente falta de sintonia entre as duas forças do esporte: Bernie Ecclestone e Jean Todt. Há pouco tempo, o presidente da FIA afirmou em diferentes entrevistas – uma para um jornal italiano, outra para uma revista francesa – que todas as equipes poderiam ficar de fora de três corridas, usando o documento conhecido como “Pacto da Concórdia” como base. Era um claro voto de confiança para que as novatas em dificuldades ganhassem mais tempo. No dia seguinte, porém, a mesma FIA soltou um comunicado oficial afirmando que isto não seria possível. Interessante, como se alguém de Londres tivesse ligado para alguém de Paris e explicado que a interpretação do mesmo documento na língua inglesa tem outro significado...

Foi a estaca no peito dos americanos de Charlotte, já que todo mundo sabe que não se faz um carro de corrida só com um bico. Abria-se então a vaga que Ecclestone queria ver para a turma de Zoran Stefanovic. O próximo passo consistia em impedir que a Campos caísse nas mãos do controverso Tony Teixeira. As reuniões se intensificaram e chegaram ao resultado anunciado ontem.

Vamos pensar juntos: quem assumiu a equipe e salvou o negócio foi Carabante que era... o próprio dono do negócio! Curioso não? Se ele tinha o tempo todo essa bala para garantir a saúde financeira da equipe de que era sócio, porque então todo o drama? A verdade é que há algo ou alguém por trás aí.

Fala-se na Volkswagen, mas eu não vejo o menor sentido numa marca daquele tamanho querer investir na F-1 agora. E, caso quisesse, não fariam isso em cima de uma equipe inteiramente nova, cujo desempenho é uma incógnita completa. Não muito longe da sede da Volks, existe um senhor chamado Peter Sauber que está mais do que aberto a propostas para quem queira tocar seu projeto de vida com seriedade. O idioma é o mesmo, o preço é barato e a estrutura é muito melhor. Posso me enganar mas, por tudo isso, eu descartaria essa hipótese.

O que pode ter acontecido é Bernie Ecclestone ter “adiantado a mesada”, também conhecido como “antecipar o pagamento dos direitos de imagem” da equipe. E talvez até ajudado no contato com potenciais patrocinadores. Com a condição de que Teixeira e o homem que foi atrás dele, Adrián Campos, dessem o fora. É a única explicação na qual vejo algum sentido.

Eu também não me preocuparia em demasia com a ausência do nome de Bruno Senna do acordo anunciado ontem. Se a Campos foi “salva”, ele tem contrato com a equipe. Pode-se argumentar que a mudança na estrutura da sociedade tenha eventualmente mudado a validade do acordo piloto-equipe. E que Carabante prefira agora quem pague pela vaga para ajudar a manter o negócio. É possível, mas eu duvido que Bernie assuma o risco da F-1 ficar com a imagem danificada depois que a Campos foi salva, mas o piloto que tinha contrato com ela (e, de quebra, sobrinho de Ayrton Senna) não.

Resta ainda saber quem será a 13ª equipe do grid. A USF1, Anderson deu a dica, aposta todas as suas fichas na boa vontade de Jean Todt. Como presidente da FIA, seria importante para ele a sobrevivência do time, já que um eventual naufrágio significaria que o processo de seleção executado pela entidade foi muito mal feito (sabemos que foi, mas ainda não temos como sustentar isso).

Por um lado, ele está de mãos atadas, já que o Pacto da Concórdia impede que a equipe perca as corridas iniciais da temporada. Em contrapartida, quem daria permissão para a Stefan GP disputar o Mundial de 2010 é a FIA. Se Todt quiser, os sérvios podem ficar de braços cruzados e só estrear no ano seguinte: a abertura de uma das treze vagas existentes só aconteceria oficialmente com a ausência dos americanos no Bahrein.

O que nos resta é assistir de camarote o desenrolar da queda-de-braço desses dois poderosos do esporte a motor. Tenha minhas opiniões e não tenho torcida por ninguém. Mas a história mostra que o Ecclestone sempre costuma ganhar suas disputas com a entidade reguladora do esporte. Os aposentados Jean-Marie Balestre e Max Mosley que o digam.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

DIA DE POLÍTICA

A quarta-feira foi um dia para fazer política em Madonna di Campiglio. Começou com a coletiva de imprensa de Stefano Domenicali, na qual as entrelinhas deixaram claro que a Ferrari vê com total desconfiança a capacidade das novas equipes do grid se estabelecerem na categoria, ao mesmo tempo em que reafirmou o desejo do time italiano em empregar um terceiro carro para a competição. “Os torcedores querem ver grandes nomes em grandes equipes”, afirmou, acenando até mesmo com a possibilidade de colocar um Valentino Rossi para correr, ainda mais agora que Michael Schumacher debandou para a Mercedes.

Quem chegou na hora do almoço foi Bernie Ecclestone, que depois deu uma canseira nos jornalistas presentes, chegando com duas horas de atraso para uma mini-coletiva que havia sido marcada. A espera valeu a pena, já que o dirigente estava afiado nas respostas e disposto a causar polêmica. No cenário político, apostou que uma ou duas das equipes novas “não conseguirão fazer nem mesmo a primeira corrida” e empregou um discurso surpreendentemente alinhando com o da FOTA. “Dez equipes sólidas é tudo o que precisamos”, sentenciou.

Depois, entre sério e jocoso, disse que a Fórmula 1 ainda não encontrou o caminho para a volta das ultrapassagens e sugeriu a criação de atalhos nos circuitos, os quais poderiam ser utilizados pelos pilotos a cada cinco voltas. Não dá para levar a proposta a sério. Pode ter sido apenas um devaneio meio senil. Ou, mais provável, uma maneira de fazer a categoria ganhar as manchetes de todos os jornais do planeta amanhã, ainda que com uma idéia lunática que nunca será efetivada. Estamos aqui para isso, afinal.

Não é difícil imaginar que amanhã, ou no máximo sexta-feira, Luca di Montezemolo resolverá dar as caras por aqui, para ver “o que está acontecendo”. Vai aproveitar para fazer um par de reuniões importantes com Bernie Ecclestone. No ano passado, os dois saíram de Madonna di Campiglio falando línguas diferentes e o fracasso do diálogo foi o prenúncio da guerra política que marcou a última temporada. Agora, parecem estar alinhados no mesmo objetivo. Isto pode trazer estabilidade para o decorrer do campeonato.

Mas pode significar também o fim da linha para as equipes novas, quase uma imposição de Max Mosley. No fundo, a turma de sempre topa economizar até certo ponto, mas vê com ódio a idéia de dividir o bolo com um bando de proletários que mal consegue juntar um orçamento para fazer o ano todo. Se o discurso de Bernie for sincero, elas estão condenadas. Diz ele que dez equipes sólidas bastam. E elas não entram nessa equação.

Se Jean Todt vai ou não defendê-las, este passa a ser o próximo movimento a se observar no tabuleiro dos poderosos da F-1.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

UMA VITÓRIA ESPERADA. E PERIGOSA.

A reversão do banimento de Flavio Briatore da Fórmula 1 era algo esperado desde que a FIA divulgou o veredicto com sua condenação. Os argumentos eram tão inconsistentes quanto as penas aplicadas. A discrepância entre o que foi determinado para Briatore e Pat Symonds e a anistia de Nelsinho Piquet e o puxão de orelha da Renault carimbou o selo de uma decisão política no que deveria ter sido uma punição exemplar para todos os envolvidos, incluindo a retirada da vitória daquele maldito GP de Cingapura das mãos de Fernando Alonso – que, com a maior cara-de-pau, disse um ano depois que o triunfo “não perdeu nenhum valor” depois que a falcatrua veio à tona. Na sua sede por vingança sobre um antigo inimigo, Max Mosley esqueceu todos os preceitos jurídicos e quis passar por cima dos próprios estatutos da FIA. Qualquer advogado espertalhão (e a maioria o é) conseguiria reverter a decisão. Foi o que aconteceu hoje, na justiça francesa.

Para a categoria, é a pior maneira possível de começar o ano. Não pelo inevitável retorno de uma figura tão parasita e sem qualquer compromisso com o esporte como Briatore – acho que isso vai demorar um pouco para acontecer. Mas pela triste contatação que uma canalhice tão grande como a que foi promovida naquela corrida termina agora sem ninguém punido – um sinal negativo para qualquer patrocinador em potencial, num momento em que a F-1 está mais precisando deles. Era uma chance de ouro para a categoria contestar quem acha que ali vale tudo quando se atinge o sucesso. Chance jogada no lixo. Quero ver agora como Jean Todt vai descascar esse abacaxi que seu antecessor lhe deixou.

Também vejo que o caso de hoje abre um precedente perigosíssimo para o esporte em geral. O patético remendo costurado pelo Conselho Mundial de Max Mosley foi desfeito e isto enterrou a soberania dos tribunais desportivos. Eles podiam errar, muitas vezes eram absolutamente tendenciosos, mas davam a palavra final e estabeleciam um limite para o andamento normal das competições esportivas. Agora, não vai faltar gente do calibre de Briatore avacalhando tudo ao levar questões para a justiça comum, arrastando por meses (ou mesmo anos) o resultado de um campeonato.

No final das contas, Briatore vai voltar a causar estragos no paddock com seu estilo “tropa de choque”, Symonds ficará como consultor de alguma equipe da categoria e Nelsinho... bem, ele dificilmente volta à Fórmula 1, mas isso tem mais a ver porque não mostrou a mesma capacidade de ser bem-sucedido que os outros dois vértices deste triste triângulo de Cingapura mostraram ao longo de suas carreiras. É o fantasma do muro retornando com tudo.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O QUE ELE DIZ E O QUE ELE QUER

Luca di Montezemolo não abaixou as armas, mesmo com a saída de Max Mosley da presidência da FIA. Numa conversa com o pessoal da Autosport, voltou a cobrar mudanças drásticas na Fórmula 1. E a ameaçar uma eventual saída de cena da Ferrari em 2012 caso elas não aconteçam. Como eu já coloquei diversas vezes aqui no blog e falei na rádio: o acordo costurado esse ano é apenas um cessar-fogo no front. A guerra, porém, continua, mas agora no campo da diplomacia.

A fala de Montezemolo é clara e certeira; suas intenções, nem tanto. O dirigente tem razão em cobrar mudanças drásticas para a categoria, que chega aos 60 anos vivendo uma atrasada crise de meia-idade. O show tem que melhorar mesmo, o público precisa ter mais acesso aos artistas (e isso começa baixando o custo dos ingressos), o corte de custos precisa ser racional e não pode vitimar a vitrine tecnológica que sempre marcou a F-1.

Por trás das nobres intenções, porém, há o claro objetivo de re-equilibrar a distribuição do cada vez mais farto bolo dos lucros. Uma petição justa, afinal as equipes são quem faz o espetáculo. Numa metáfora óbvia com o apelido da categoria, é como se os trapezistas, domadores, mágicos e palhaços pressionassem o dono do circo (que, aqui, é o anão) para ganharem uma receita maior da bilheteria – afinal são eles que estão dando duro no picadeiro.

Mas acho que há mais do que isso. Quando li a frase “junto com Bernie sou a pessoa mais antiga do paddock – e dividimos uma paixão genuína pela categoria”, fiquei com a nítida impressão de que Luca quer mesmo é um dia assumir as rédeas de tudo aquilo.

Vocês também não acharam?