
Faltam apenas três semanas para o início do Mundial 2010 e é incrível olharmos para trás e vermos a revolução ocorrida na Fórmula 1 desde que Sebastian Vettel estourou a champanhe como vencedor da etapa de encerramento do ano passado, em Abu Dhabi. A Bridgestone anunciou que vai deixar o barco, a Toyota virou passado, a Sauber ressucitou, o grid ficou um heptacampeão mundial mais rico e o futuro de alguns participantes do Mundial ainda é nebuloso.
Do que chamamos de “salvação” da equipe Campos, pouco sabemos.
O mais relevante do comunicado oficial dos senhores José Ramón Carabante e Colin Kolles é o agradecimento público à ajuda de Bernie Ecclestone para “apoiar nossos esforços e manter nossa equipe viável”. Eu não chamaria de apoio a
série de declarações públicas do chefão da Fórmula 1 apostando no fracasso da Campos. Dentro desse contexto, a frase do senhor Carabante parece mais o agradecimento de um condenado a seu executor por atender a pedidos de clemência.
Do outro lado, temos uma USF1 que também foi dada como morta, mas que
deixou claro no twitter que não será enterrada viva sem um mínimo de luta.
Para o “New York Times”, Ken Anderson afirmou que vai consultar a FIA sobre a possibilidade de entrar no Mundial só a partir do GP da Espanha e soltou a maior pista para o que está acontecendo nos bastidores. “Não faz sentido nos darem uma franquia e tirá-la no primeiro obstáculo que surgir na estrada. E com certeza não é essa mensagem que estamos tendo deles. Eles querem nos ajudar, e não que fechemos as portas”, afirmou.
Vejamos. Na minha opinião, a longa incerteza sobre o futuro destas duas equipes (e, por tabela, da Stefan GP) foi acentuada pela aparente falta de sintonia entre as duas forças do esporte: Bernie Ecclestone e Jean Todt. Há pouco tempo, o presidente da FIA
afirmou em diferentes entrevistas – uma para um jornal italiano, outra para uma revista francesa – que todas as equipes poderiam ficar de fora de três corridas, usando o documento conhecido como “Pacto da Concórdia” como base. Era um claro voto de confiança para que as novatas em dificuldades ganhassem mais tempo. No dia seguinte, porém, a mesma FIA
soltou um comunicado oficial afirmando que isto não seria possível. Interessante, como se alguém de Londres tivesse ligado para alguém de Paris e explicado que a interpretação do mesmo documento na língua inglesa tem outro significado...
Foi a estaca no peito dos americanos de Charlotte, já que todo mundo sabe que não se faz
um carro de corrida só com um bico. Abria-se então a vaga que Ecclestone queria ver para a turma de Zoran Stefanovic. O próximo passo consistia em impedir que a Campos caísse nas mãos do controverso Tony Teixeira. As reuniões se intensificaram e chegaram ao resultado anunciado ontem.
Vamos pensar juntos: quem assumiu a equipe e salvou o negócio foi Carabante que era... o próprio dono do negócio! Curioso não? Se ele tinha o tempo todo essa bala para garantir a saúde financeira da equipe de que era sócio, porque então todo o drama? A verdade é que há algo ou alguém por trás aí.
Fala-se na Volkswagen, mas eu não vejo o menor sentido numa marca daquele tamanho querer investir na F-1 agora. E, caso quisesse, não fariam isso em cima de uma equipe inteiramente nova, cujo desempenho é uma incógnita completa. Não muito longe da sede da Volks, existe um senhor chamado Peter Sauber que está mais do que aberto a propostas para quem queira tocar seu projeto de vida com seriedade. O idioma é o mesmo, o preço é barato e a estrutura é muito melhor. Posso me enganar mas, por tudo isso, eu descartaria essa hipótese.
O que pode ter acontecido é Bernie Ecclestone ter “adiantado a mesada”, também conhecido como “antecipar o pagamento dos direitos de imagem” da equipe. E talvez até ajudado no contato com potenciais patrocinadores. Com a condição de que Teixeira e o homem que foi atrás dele, Adrián Campos, dessem o fora. É a única explicação na qual vejo algum sentido.
Eu também não me preocuparia em demasia com a ausência do nome de Bruno Senna do acordo anunciado ontem. Se a Campos foi “salva”, ele tem contrato com a equipe. Pode-se argumentar que a mudança na estrutura da sociedade tenha eventualmente mudado a validade do acordo piloto-equipe. E que Carabante prefira agora quem pague pela vaga para ajudar a manter o negócio. É possível, mas eu duvido que Bernie assuma o risco da F-1 ficar com a imagem danificada depois que a Campos foi salva, mas o piloto que tinha contrato com ela (e, de quebra, sobrinho de Ayrton Senna) não.
Resta ainda saber quem será a 13ª equipe do grid. A USF1, Anderson deu a dica, aposta todas as suas fichas na boa vontade de Jean Todt. Como presidente da FIA, seria importante para ele a sobrevivência do time, já que um eventual naufrágio significaria que o processo de seleção executado pela entidade foi muito mal feito (sabemos que foi, mas ainda não temos como sustentar isso).
Por um lado, ele está de mãos atadas, já que o Pacto da Concórdia impede que a equipe perca as corridas iniciais da temporada. Em contrapartida, quem daria permissão para a Stefan GP disputar o Mundial de 2010 é a FIA. Se Todt quiser, os sérvios podem ficar de braços cruzados e só estrear no ano seguinte: a abertura de uma das treze vagas existentes só aconteceria oficialmente com a ausência dos americanos no Bahrein.
O que nos resta é assistir de camarote o desenrolar da queda-de-braço desses dois poderosos do esporte a motor. Tenha minhas opiniões e não tenho torcida por ninguém. Mas a história mostra que o Ecclestone sempre costuma ganhar suas disputas com a entidade reguladora do esporte. Os aposentados Jean-Marie Balestre e Max Mosley que o digam.