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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CREDENCIAL - GP DA CORÉIA

Fernando Alonso passou gargalhando sobre os infortúnios da Red Bull para assumir a liderança do Mundial na hora decisiva. Mas vai ser o suficiente para garantir o tricampeoonato? Este é um dos temas abordados nesta edição do Credencial, levando em conta a situação dos motores do espanhol e as chances da Red Bull ser superior nas duas provas que restam. Mas a conversa não se restringiu apenas aos caminhos que levam ao título: caos, chuva e escuridão na Coreia, numa pista do Hermann Tilke que agradou. Temas inusitados e, como sempre, bem discutidos. Aperte o play (ou baixe pelo link) e boa audição!

PARTE 1



PARTE 2



(Foto Luis Fernando Ramos)

domingo, 24 de outubro de 2010

DE CORPO FECHADO

A risada vibrante de Fernando Alonso no rádio da Ferrari ao final do GP da Coreia era a de um homem que não podia acreditar na sua própria sorte. Veio após uma vitória que o colocou de volta na liderança do Mundial depois de quase sete meses. Justamente antes de penúltima etapa do ano. Assim, ele vai para Interlagos como o único piloto com chances de ser campeão no GP do Brasil. Justamente o palco das suas últimas conquistas.

Foi um triunfo de sobrevivência. Como se tivesse o corpo fechado, Alonso foi passando incólume pelos problemas de seus adversários na briga pelo título. A primeira vítima das condições dramáticas de um domingo molhado em Yeongam foi justamente Mark Webber, o líder na tabela até então. Um erro de pilotagem bobo num momento em que todos andavam com cautela o fez estampar o muro (e, de quebra, levar junto a Mercedes de Nico Rosberg, que fazia um inspirado início de prova).

A sorte pareceu ter abandonado o espanhol no momento de sua parada nos boxes quando um erro da Ferrari (cuja responsabilidade ele assumiu após o triunfo) na mudança da roda dianteira direita o jogou para o terceiro lugar na prova atrás de Lewis Hamilton. Mas o inglês da McLaren cometeu um raro erro na chuva durante a relargada e Alonso prontamente recuperou o segundo lugar.

Um impecável Sebastian Vettel se mantinha na liderança, cuidando do desgaste dos pneus intermediários e da aproximação do piloto da Ferrari. Mas o destino resolveu sorrir para este quando o motor Renault do carro da Red Bull explodiu sem o menor aviso a onze voltas do final, tirando o alemão da prova e diminuindo drasticamente suas chances no campeonato.

Alonso agradeceu e partiu para sua quarta vitória em sete corridas, consumando uma virada no Mundial iniciada com a polêmica vitória de Hockenheim. Restou reconhecer que, para ter sucesso, é preciso mais do que apenas competência.

- Acho que desde Silverstone temos um carro para ir ao pódio, mas o fator sorte nos fez sofrer. Agora estamos vencendo também por causa disso. Hoje eu era terceiro, uma Red Bull bateu e outra teve o motor estourado. Como eu sempre disso, a sorte se equilibra ao longo de uma temporada.

Apesar do tricampeonato mundial e de um título em seu primeiro ano de Ferrari estar ao alcance da mão, Alonso prefere minimizar suas chances.

- Se todos perdessem o avião para o Brasil seria mais fácil. Mas as Red Bull foram melhores que nós aqui, fazendo a primeira fila no sábado. Se fizerem duas dobradinhas, será um problema para mim - raciocinou.

Do lado da Red Bull, calma. Nem parecia que Sebastian Vettel tinha sido vítima da face mais amarga do automobilismo. Nove voltas o separavam de uma vitória que o deixaria numa condição excelente para o primeiro título de sua carreira. Num instante, o sonho se evaporou numa espessa nuvem de fumaça.

- Não houve o menor aviso. Quando entrei na reta dos boxes, os quatro cilindros de um lado falharam e era questão de segundos que os quatro outros se fossem também. Até ali, estava bastante orgulhoso da corrida que vinha fazendo. Tinha tudo sob controle, mesmo naquelas condições dificílimas.

Apesar da pouca idade, o alemão da Red Bull mostrou personalidade de veterano no que deve ter sido o pior dia da sua carreira esportiva.

- Às vezes é preciso ter sorte também. Muitas vezes nesse ano tivemos altos e baixos e não daria para mudar isso agora. A vida é assim e temos que aceitar isso. Mas sou sempre o último a desistir e a chance de ser campeão existe.

O pesadelo da Red Bull foi completado pelo erro de Mark Webber logo no início da prova.

- Errei, a responsabilidade é toda minha. Mas ainda temos duas corridas pela frente e já estou pensando no Brasil - disse o australiano.

Cabisbaixo, o chefe do time Christian Horner acusou o golpe, mas garantiu que a Red Bull não fará jogo de equipe a favor de Webber, o piloto melhor colocado na tabela.

- Acho que o título será decidido na última curva em Abu Dhabi. Mark é o segundo na tabela, Sebastian o quarto, mas só uma vitória o separa de Alonso. Quantas vezes vimos a maré virar rapidamente neste ano? Não dá para pegar uma bola de cristal e ver o que acontecerá no Brasil e em Abu Dhabi - justificou.

Além da situação da briga pelo título, não faltam assuntos para o “Credencial”: a questão da demora no início (real) da prova, as inúmeras confusões na pista, as impressões de uma pista nova e de um país novo, as perspectivas para Interlagos. Enfim, como sempre, o espaço dos comentários é de vocês!

(Foto Ferrari)

sábado, 23 de outubro de 2010

A OUTRA FACE

Os organizadores do GP da Coreia e os governantes da província local tiveram a humildade de iniciar o final de semana com um pedido de desculpas à comunidade da Fórmula 1 por um evento que está sendo realizado longe da condição ideal. Seria natural e necessário haver uma reciprocidade. Mas o que a maioria tem feito até agora é reclamar. No fundo, o fato mais lamentável desse evento é que a F-1 não pediu desculpas aos coreanos.

O clima de terror foi se instalando aos poucos na sala de imprensa e nos boxes das equipes ao longo do ano. Volta e meia aparecia uma publicação com uma “testemunha local” que garantia ser impossível aprontar a pista a tempo. Faltou conferir se essa testemunha já tinha reformado pelo menos um banheiro na sua vida para lhe dar credenciais de expert no assunto.

O que a Fórmula 1 encontrou em Yeongam foi um paddock cinco vezes mais espaçoso que o de Interlagos. Os boxes são amplos, assim como os escritórios das equipes e a sala de imprensa. A Internet cai de vez em quando e a instalação das linhas de rádio demorou um pouco, mas no fundo o quadro é o mesmo em muitas corridas da temporada. O que não vi nenhum jornalista citando é o esforço e a amabilidade das pessoas do Media Center, nem a incrível cantina que prepara boas refeições gratuitamente aos homens da notícia - algo que só acontece no Bahrein.

Mas é claro que os tablóides ignoram isso completamente e preferem escrever sobre “a F-1 no cú do mundo”. Pintam com cores fortes o fato da maioria das pessoas dormirem em motéis, relevando o fato deles serem limpos, confortáveis e com Internet de alta velocidade nos quartos - uma benção para uma turma que já dormiu debaixo de goteiras em algum pulgueiro perdido por Istambul.

Eu não estou num motel, apesar de ficar num lugar chamado Women’s Plaza, na foto acima. Tampouco é um hotel, mas é confortável prá caramba, quartos espaçosos, cama macia, televisão com 60 canais, Internet turbinada. Aliás, apesar de penar no primeiro hotel que fiquei em Seul, o acesso à web neste país é o mais fácil que ja vi na minha vida.

O lugar que me foi designado é, na verdade, um edifício do governo local que cuida dos direitos e dos interesses das mulheres. Principalmente das que sofrem abusos domésticos. É um centro de excelência no assunto na Ásia tanto que o último andar, o que ocupamos, costuma acomodar representantes de outros países que vêm para conhecer o trabalho feito. Maior contraste com o chororô dos motéis, impossível.

O esforço da cidade de Mokpo também precisa ser reconhecido. Numa praça em frente ao canal que a separa de Yeongam, um palco foi montado com música ao vivo, há boas opções de restaurantes de comida local e internacional e o clima é muito bacana. Mil vezes mais agitado que lugares como Silverstone e Spa-Francorchamps. Mas isso não se comenta.

A F-1 precisa entender que é ela quem gira o mundo, não o mundo que gira em torno dela. Eu também tinha ficado impressionado com o pessimismo que cercava esse final de semana e esperava pelo pior. Me enganei redondamente. Estamos aqui como convidados e a verdade é que estamos sendo muito bem tratados. Só reclama quem quer determinar o cardápio e dormir na cama do anfitrião (e, possivelmente, com a esposa dele). Mas vou aprender com a humildade dos locais e me desculpar: mianhabnida, Korea!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

UM LÍDER DETERMINADO

O líder do Mundial começou o final da semana da Coreia na frente, com o melhor tempo do dia. Foi uma sessão de difícil leitura, com a pista melhorando radicalmente a cada volta. Quem andou no final com pneus novos e o carro leve, apareceu bem no cronômetro - o que significa que quem se classificou mal na folha de tempos não está necessariamente mal.

Mas Mark Webber saiu hoje do circuito com a moral em alta. E vai para o restante do final de semana de motor novo, um sinal claro de que como está vendo aqui uma boa oportunidade para pavimentar bem seu caminho para o título. Os sinais dessa determinação já eram claros desde a coletiva oficial da FIA com os cinco candidatos ao título. Sebastian Vettel fez as brincadeiras de sempre, Fernando Alonso esbanjou a tranquilidade de quem já foi campeão duas vezes, Lewis Hamilton demonstou espírito de luta, Jenson Button sorriu o tempo todo.

Só Mark Webber estava sério. Muito sério. Quando não era a sua vez de falar, ficava olhando o vazio como um piloto mira a primeira curva na hora da largada. E quando chegava a sua vez de falar, o discurso adotado era direto, centrado, incisivo.

“Ninguém nessa sala sabe o que vai acontecer nas próximas três corridas. Poderíamos ficar horas discutindo se acontecesse isso ou aquilo, mas só o que vale é ir para a pista e correr. O resto não é importante. Não importa se disputarei posição com Vettel, Alonso, Hamilton ou Button. Cada um de nós sabe que é importante terminar as corridas, mas nem por isso abrirei mão das disputas. É sempre uma questão de se encontrar um meio termo”, analisou.

A vantagem de 14 pontos para Alonso e Vettel (que estão empatados na vice-liderança) parece confortável. Mas o australiano da Red Bull se recusa a correr fazendo contas. “Seria ridículo, porque muita coisa ainda pode e vai acontecer. Se eu ganhar as próximas duas, a coisa acaba. Mas cada corrida traz sua história e tenho apenas de continuar a fazer o que tenho feito. Nas últimas provas, minha diferença para o segundo colocado só tem aumentado. Preciso apenas que essa tendência continue”.

No cercadinho de rádio e tevê, perguntei ao australiano se não seria um incômodo todas as incertezas que envolvem a distribuição de forças no novo circuito da Coreia para quem se senta no melhor carro do grid. “De jeito nenhum. Ninguém tem mais informações que a gente, estamos bem preparados. Somos um grupo de pessoas muito fortes em entender uma nova pista e explorar o máximo dela. Estamos prontos para a briga”, garantiu. O resultado de hoje mostra que é realmente o caso, ainda que Ferrari e, principalmente, a McLaren deram sinais claros de que vão endurecer essa batalha.

Webber esteve na Austrália entre o GP do Japão e esse. O quanto foi necessário essa espairecida antes de encarar a reta final? “Na verdade, essa viagem estava programada desde março”, revelou. “Mas no meio dela me dei conta o quanto ela veio em boa hora. Vamos ter muitos vôos daqui para frente, corridas sempre em fusos diferentes, então foi bom dar uma escapada”.

Mesmo pensando na vitória, Webber se recusa a imaginar que bastaria apenas um triunfo (seja aqui, no Brasil ou em Abu Dhabi) para liquidar os adversários. “Antes de mais nada, preciso terminar todas elas. Uma vitória e dois abandonos não vão adiantar. E para conseguir isso precisamos de um esforço coletivo: o meu, o dos meus mecânicos e dos meus engenheiros. O resto vai ser consequência de fazer o melhor trabalho possível”.

Sábado é dia de definir o grid e, no duelo interno da Red Bull, ele viu o companheiro andar melhor nas últimas corridas. Será que o título poderia ser perdido nesse quesito? Webber se mostra tranquilo. “A classificação é importante sim e pode ser decisiva nesse final. Mas não tivemos ao longo do ano nenhum piloto vencendo três corridas consecutivas, os triunfos ficaram sempre espalhados. Acho difícil que isso mude agora, mas se alguém ganhar as três corridas que faltam, terá sido porque mereceu o título”, reconheceu.

A batalha para a pole traz dados interessantes: uma pista cuja sujeira fora da linha ideal vai punir o menor erro; todas as incertezas quanto ao acerto do carro e, principalmente, o funcionamento dos pneus; um asfalto que deve estar relativamente frio; e até mesmo uma minúscula possibilidade de chuva (ligeiramente maior para a corrida no domingo). Vai se dar bem quem tiver os nervos no lugar. Pelo que mostrou até aqui, Webber tem cuidado muito bem dos seus.

(Fotos Luis Fernando Ramos)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

THE FAB FIVE

O novo circuito da Coreia serviu de palco nesta quinta-feira para a tradicional foto reunindo os candidatos ao título. Desta vez eram cinco os pilotos sentados na mureta do pitlane. As incertezas envolvendo uma pista que ainda recebe os últimos retoques e que ninguém conhece deixam todos com uma tensão a mais. Depois da coletiva de imprensa oficial de hoje, cada um buscou mostrar otimismo. Começando pelo líder do Mundial, o autraliano Mark Webber.

“Ninguém tem mais informações que a gente, estamos bem preparados. Somos um grupo de pessoas muito fortes em entender uma nova pista e explorar o máximo dela. Estamos prontos para a briga”, garantiu.

Mas a performance da Red Bull nesta pista é uma incógnita. O primeiro setor da volta na Coreia é composto por três longas retas. Uma combinação que parece ser o calcanhar de Aquiles do RB6 - ou pelo menos uma vantagem a favor de Ferrari e McLaren. Sebastian Vettel buscou minimizar o fato bem a seu estilo brincalhão. “Não é nossa pior pista na temporada, acho que Monza era pior para nós. Estaremos bem nas curvas e nas retas, bem, você pode colocar um macaco ao volante que o resultado será o mesmo”.

A disputa já começa com os treinos livres, a primeira sessão a partir das onze da noite desta quinta-feira em Brasília, dez da manhã de sexta no horário local. Cada piloto traçou sua estratégia para o primeiro dia da batalha. Fernando Alonso vai começar o trabalho com calma. “As condições de aderência no asfalto devem mudar muito de sexta para sábado, por isso esse primeiro dia vai ser mais para conhecer a pista”.

Já Lewis Hamilton da McLaren tem opinião oposta. “A chave é maximizar os treinos livres e mexer no carro o mais rápido possível. Todos tentarão aprender a pista rapidamente para conseguir um bom acerto logo de cara”, apostou.

O certo mesmo é que o final de semana promete muito drama e deve se encerrar com uma corrida que promete emoção. É o que identifica o último dos postulantes ao título, o inglês Jenson Button da McLaren. “É uma pista que vai permitir um bom show com muitas ultrapassagens”, apostou.

Neste momento, em quem você aposta para o título? Por qual motivo?

(Foto Luis Fernando Ramos)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TILKE, YEONGAM E NÜRBURGRING

Quando os carros da Fórmula 1 forem à pista para o primeiro treino livre do GP da Coréia, uma pessoa estará roendo as unhas com mais nervosismo que o normal. O alemão Hermann Tilke, responsável pelo projeto de boa parte das pistas da temporada, conta que sempre fica ansioso antes de ouvir a primeira reação dos pilotos.

- Acho que será uma pista boa, desafiadora para os pilotos e espetacular nas ultrapassagens. Vejo chances de passar nas curvas 1, 3, 4 e 10. Acho que ficou um bom trabalho, mas são os pilotos que vão avaliar. Eu mentiria se dissesse que ficaria tranquilo caso falassem que ficou uma merda - riu o arquiteto.

A principal dúvida que pairava sobre a capacidade da pista receber uma corrida de Fórmula 1 nesse final de semana dizia respeito ao asfalto. Tilke garante que o fato da camada final ter sido colocada há tão pouco tempo não vai atrapalhar o espetáculo, mas reconhece que terá uma influência crucial na corrida.

- O asfalto vai ter consequências na corrida. Vai estar muito escorregadio e vai mudar rapidamente ao longo do final de semana. Os tempos na sexta serão muito mais altos que no domingo. Mas o asfalto não vai rachar, isto está fora de questão. Ao longo das sessões, a linha ideal vai ganhar muito aderência. Mas fora dela, vai continuar muito escorregadio.

O que vai faltar é a cidade no entorno do traçado que constava do plano inicial de Tilke.

- É claro que vai faltar atmosfera. Vai demorar alguns anos para a cidade acontecer. O princípio era o de integrar um traçado permanente, que seria na parte intermediária da volta, com as ruas dela cidade, que ocuparia o entorno do resto - lamentou.

A justificativa para o atraso das obras está na ponta da língua:

- Em primeiro lugar, tudo aqui era um pântano e precisou ser aterrado. Depois tivemos um período de monções nos últimos anos que foram inesperadamente longos. Tudo isso contribuiu para a demora - disse o alemão, destacando que a responsabilidade pela construção é inteiramente do governo local.

Ao explicitar o processo que envolve um projeto, o alemão traz um dado curioso. Suas idéias só podem ser aplicadas a longo prazo:

- Eu escuto muitas pessoas. As idéias surgem, mesmo que seja só um detalhe. Mas pelo próprio processo de desenvolvimento de um circuito, uma idéia aplicada nesta pista que está abrindo agora surgiu há cinco anos atrás. Normalmente é assim.

Ao falar das influências dos pilotos nos seus projetos, Tilke elogia Lucas di Grassi - que, afinal, também tem um traçado no seu currículo, o do kartódromo em Florianópolis usado no Desafio das Estrelas:

- Não há nada específico nessa pista da Coreia que um piloto sugeriu, como uma curva por exemplo. São conceitos. Estive conversando com Lucas di Grassi, que trouxe idéias interessantes para o futuro. O que eu posso dizer é que a primeira sequência de curvas na Malásia foi idéia do Michael Schumacher. Tínhamos ela em outro ponto do traçado, mas ele sugeriu que colocássemos ela depois da largada. E estava certo.

Hermann Tilke não demora meio segundo para responder qual pista das existentes que gostaria de ter desenhado. “Nordschleife”, aponta, caindo na gargalhada. Os jornalistas em volta riem também. Afinal, não poderiam haver diferenças mais gritantes entre o sinuoso e desafiador traçado de mais de vinte quilômetros no noroeste da Alemanha e os geométricos e insossos circuitos do “arquiteto oficial” da Fórmula 1.

Este da Coreia do Sul ainda veio empacotado numa novela de atrasos e risco de cancelamento da prova. O projeto ambicioso incluía a construção de uma cidade e um parque no entorno do traçado. O que o público vai assistir neste domingo é um palco esportivo aprontado às pressas, em meio a um gigantesco canteiro de obras.

Ver milhares de soldados do exército sul-coreano designados para montar e parafusar cadeiras nas arquibancadas mostra o esforço das autoridades locais para receber a Fórmula 1. O evento é chave para um país que busca cada vez mais se firmar como uma grande potência econômica mundial. E esta economia é chave para a Fórmula 1 continuar sua marcha sobre os grandes mercados do globo.

Com o tempo, nos acostumamos a recriminar Tilke pela péssima qualidade das corridas nas pistas em que desenhou. Mas, se olharmos com calma, ele é refém das condições atuais da categoria. Se desenhasse hoje uma montanha-russa perigosa como Nürburgring, o projeto jamais sairia do papel. As exigências de segurança e da extensão da volta, além das limitações do orçamento, não permitem isso. Para se ter idéia, uma pequena elevação que criou na Coreia custou cinco milhões de Euros.

Para consolo de Tilke, há um enorme paralelo entre as duas pistas: ambas foram construídas para impulsionar uma região pobre do país. Nürburgring nunca conseguiu cumprir sua missão. Se Yeongam florescer, o arquiteto pode ficar satisfeito. Mesmo que as corridas sejam chatas.

A minúscula Yeongam é separada do porto de Mokpo por uma ponte. É nesta cidade que todos os membros das equipes da Fórmula 1 e os jornalistas ficam hospedados. Um lugar simpático e que se esforça para receber uma turma bem diferente do padrão habitual. Resta saber, com o passar dos anos, quem vai transformar quem. Espero que a cidade prevaleça.

Sobre a disputa esportiva, o traçado coreano parece premiar um carro com boa eficiência aerodinâmica, o que sugere uma larga vantagem para os carros da Red Bull. Mas vai ser um final de semana interessante, com o asfalto mudando de aderência rapidamente. Acertar bem o carro não vai ser fácil e zebras podem acontecer.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PINTANDO AS ZEBRAS

A homologação do Circuito Internacional da Coréia do Sul foi recebida no mundo todo como o capítulo final de uma arrastada novela sobre a construção do mais novo circuito do calendário da Fórmula 1. A expectativa agora fica em torno da corrida, a antepenúltima da temporada e que chega num momento decisivo da disputa pelo título.

Mas eu temo que as notícias de ontem tenham sido apenas o início de um dramalhão mexicano com toques orientais. Embora a maquiagem tenha sido feita, os defeitos certamente vão aparecer na prática. Ao que consta, todo o acabamento das instalações ainda não foi finalizado. Cenas de equipes ou jornalistas sofrendo com a falta de tomadas devem ser uma constante no final de semana do dia 24.

Ainda pior é a questão do asfalto. A última camada foi colocada a menos de uma semana e, como tem chovido na região, é difícil imaginar que ele ganhe a aderência necessária para receber os carros da Fórmula 1 nesse tempo. Tudo bem, não seria a primeira vez que a categoria faria uma prova com o asfalto se desmanchando, vide os GPs de Dallas, em 1984, e o do Canadá, em 2008.

Só dará para ter certeza da qualidade do piso nos treinos livres da sexta. Caso ele segure a onda, um outro fenômeno pode transformar a disputa esportiva numa farsa. Não é incomum que um asfalto novo acabe “suando” piche. Isso deixa a superfície mais lisa que sabão e pode transformar toda a atividade do final de semana numa prova de sobrevivência. Chegar ao final será o único objetivo.

Quem mais perde com o absoluto improviso que se transformou a prova inaugural da Coréia na F-1 foi a Red Bull, favorita natural à vitória em qualquer corrida. Como a vantagem técnica vai ser suplantada pelo imponderável, a zebra pode aparecer. É mais ou menos como um jogo entre um timaço e um de várzea num campo completamente encharcado.

Melhor para a Ferrari de Fernando Alonso e para a dupla da McLaren, que precisa mais do que nunca de um resultado fora do comum para reviver suas chances de título. O time prateado vai jogar todas suas fichas na próxima etapa.

(Foto KIC)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

QUANDO A FASE NÃO ESTÁ BOA...

O site alemão “Motorsport Total” traz a história de um curioso acidente ocorrido ontem no Circuito Internacional da Coréia, quando um guindaste, possivelmente por excesso de peso, acabou caindo com a ponta nas arquibancadas. Tudo bem, ninguém se machucou, apenas umas cadeiras acabaram quebradas, mas mostra que a fase por ali não anda nada boa.

Por outro lado, as informações que chegam de lá são menos dramáticas que eu imaginava: a pista está praticamente pronta, os boxes também, embora ainda há muito o que fazer no caminho de entrada deles. O que falta é o acabamento: zebras, áreas de escape, algumas cercas. Não é pouco, mas parece perfeitamente factível neste tempo que resta.

Para mim, o prazo de cancelar o evento já passou. Charlie Whiting vai fazer a vistoria final apenas depois do GP do Japão, mas deve encontrar um “esqueleto” de autódromo para a Fórmula 1 fazer uma etapa decisiva. Acredito que uma conclusão final das condições da pista só será possível quando os carros saírem para os treinos livres de sexta-feira.

Antes disso, o asfalto deve estar lá, descansando para garantir que a última camada se fixe junto das outras. Mas, com os carros rasgando retas e curvas, pode ser que ele se solte - e o Mundial tenha de passar por um dos maiores vexames de sua história.

Vale lembrar que o GP da Bélgica de 1985 também foi adiado de última hora. A prova aconteceria em 2 de junho, mas acabou adiada para o meio de setembro porque a nova camada de asfalto cedia mesmo com o esfregar de uma sola de sapato.

Eu ainda acredito que a corrida acontece, sem um autódromo numa condição ideal mas também sem nenhum grande drama. Não imagino um caso muito distante do GP do Canadá de 2008, quando a pista estava se soltando completamente em alguns trechos, jogaram uma “farofa” em cima e o show continuou.

Em todo caso, ficamos livres para imaginar que novela vai ser o GP da Índia no ano que vem, numa pista a 50 quilômetros de Nova Delhi. A cidade que, neste ano, está apanhando para aprontar os locais que sediarão os Jogos da Comunidade Britânica. Com esse pedigree, dá para levantar um autódromo nos próximos 13 meses?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

TV BLOGO – CIRCUITO INTERNACIONAL DA CORÉIA

O vídeo acima com algumas voltas de Karun Chandhok com o carro da Red Bull no novo circuito da Coréia do Sul nos traz duas informações interessantes sobre a nova etapa do calendário da Fórmula 1. A primeira é positiva: o asfalto está lá, o acabamento ainda está longe de ficar pronto mas o evento vai acontecer, salvo algum imprevisto muito grande. Legal, assim a disputa eletrizante pelo título não fica abreviada em uma etapa e eu não perco a passagem que já comprei para a prova.

A segunda é negativa. A parte sinuosa da pista, das curvas 5 a 17, ficou travada demais. Ainda que a primeira parte da volta, com longas retas e curvas lentas, possa projetar alguma perspectiva de ultrapassagem, o resto do traçado vai exigir uma boa carga de pressão aerodinâmica para o tempo de volta ser bom, matando as disputas nas retas. Grande novidade, mais um circuito bonitinho e ordinário para a categoria.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ALERGIA AO TILKE

O traçado do circuito de Austin, no Texas, foi divulgado ontem na Internet. Como reza o procedimento exigido por Bernie Ecclestone, o projeto ficou a cargo do arquiteto alemão Hermann Tilke. E carrega consigo suas marcas registradas: a reta dos boxes precedida por e precedendo uma curva lenta; um trecho bem travado e uma reta muito longa.

Tilke também resolveu temperar a receita com idéias “emprestadas” de outros circuitos. Colocou uma seqüência de curvas de alta velocidade que emula o complexo Becketts/Maggots de Silverstone. E outra para repetir a curva 8 de Istambul, sua criação mais famosa. O resultado é pouco promissor. O arquiteto parece carecer de inspiração e está buscando fontes no trabalho de outros para misturar com o seu. Que nunca foi lá essas coisas.


Outro circuito também está rendendo notícias nos últimos dias. O circuito da Coréia do Sul não ficou pronto a tempo do prazo-limite de 90 dias dado para a inspeção final da FIA. A entidade fez vistas grossas e espera por um milagre para a pista ficar pronta em 24 de outubro. Pelos relatos que escutamos sobre o ritmo das obras, é difícil imaginar que isto aconteça.


É de chorar. Os autódromos construídos por Hermann Tilke são modernos, espaçosos, seguros e... sem graça. O de Abu Dhabi, opulento como a riqueza dos xeques que o construíram, lembra um Shopping Center. Mas o que mais interessa, a qualidade da corrida ali, não correspondeu ao investimento. A prova que encerrou o Mundial do ano passado foi muito chata. E a deste ano, última do calendário, pode decidir o título.


Depois de uma prova como a Spa-Francorchamps, é de se lamentar a política atual de organizar provas em praças estranhas à categoria, a custos astronômicos e com pistas enfadonhas. Pude dar uma volta em ritmo de passeio nesta segunda-feira pelo circuito e o que mais chama a atenção é a maneira como as curvas seguem com naturalidade a topografia do terreno. Sem necessitar de trechos lentos, de uma curva com ângulo agudo a cada quilômetro.


Será que o mala do Tilke não vê isso?

(Coluna publicada na edição de hoje do Lance!)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A QUESTÃO COREANA

Nunca dei ouvidos aos céticos que passaram o ano insistindo que não haverá o GP da Coréia do Sul. Mas os depoimentos deles neste final de semana ganharam em intensidade, contundência e adeptos. A menos de 60 dias do evento, o fato do traçado ainda não ter sido asfaltado preocupa. Mais ainda a realidade de não haver um contingente tão grande de mão-de-obra como os que ergueram, quase no limite do tempo disponível, as pistas faraônicas nos desertos do Bahrein e de Abu Dhabi.

Se o cancelamento do evento for mesmo inevitável, fica a pergunta do que aconteceria. Existem duas correntes. Uma aponta que o Mundial ficaria com uma prova a menos. Afinal, seria logisticamente impossível encontrar uma alternativa a tempo. Contra isso, estaria o desejo de equipes como a Ferrari e a McLaren, que correm atrás do prejuízo diante da líder Red Bull e não querem ter uma oportunidade a menos para isso. Há também uma questão que afeta os milionários contratos dos direitos televisivos que, feitos para 19 etapas, seriam quebrados com um eventual cancelamento. Mas a verdade é que ninguém sabe direito como são estruturados estes contratos e se a questão incorreria em qualquer problema para a FOM de Bernie Ecclestone.

A outra turma aponta que seria possível sim encontrar uma alternativa para substituir a prova. Fala-se no circuito de Losail, no Catar, que foi recém-reformado e elevado a um nível de segurança grande o suficiente para receber a F-1. Outra solução seria utilizar o autódromo de Portimão, em Portugal, que já recebeu um teste da categoria. Realmente, organizar uma prova em dois meses parece incabível. Mas a categoria anda tão confusa e cheia de surpresas que eu prefiro não duvidar de nada. Até porque parece que os céticos, no final, tinham mesmo razão.

(Foto divulgação)