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25 de setembro de 2009


25 de setembro de 2005


valter hugo mãe (1971)



agora deixo-te morrer, vou
embora, porque o livro
oblitera as palavras e as
que recuso sustentam-me
amanhã, quando deitar o
sono na areia, o sol a
pesar-me o corpo e tu, todo
o tamanho do mar, calado,
apenas mais um
morto

valter hugo mãe, três minutos antes de a maré encher

.

25 de setembro de 2004


Mário de Carvalho(n.1944)

"Eu vejo raramente um amigo que é dado à quietação e sofrido de enfados. Trabalha nunca percebi em quê, dizem que negócios sedentários e rendíveis. Ele uma vez tentou explicar-me, mas aborreceu-se a meio, e eu também. Deixámos o bocejo para as calendas. O que nele é mais irritante é aquilo que a ciência popular designa por «saúde mental», défice de atribulações de alma. Volta e meia está casado, ou amigado, volta e meia, não. Tenho de usar de cautela para não lhe trocar o nome das companheiras, mais por elas que por ele. Tem filhos dispersos por idades, em lugares distantes, vai pagando pensões e almoços confirmativos de paternidade, pelas festas apropriadas. Não é feliz, nem infeliz, antes pelo contrário. Conhecemo-nos em miúdos no liceu e encontramo-nos quando calha. Sabe responder a um silêncio com outro silêncio, qualidade sem preço. É possível ler tranquilamente os semanários a seu lado. Numa destas Primaveras chamou-me da sua casa de praia, arribada nuns penhascos oceânicos, ao norte de Santa Rita. Detesto meter-me à estrada, mas ele insistiu: Tinha uma coisa para me mostrar. Valia a pena? Sim."

Mário de Carvalho, Contos Vagabundos


http://www.terravista.pt/ilhadomel/4201/paginas/mario_carvalho.htm
http://www.instituto-camoes.pt/bases/100livros/mariocarvalho.htm