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15 de agosto de 2008





Tempo


Não sei se te nomeie ou nomeie o vento,
isto que passa
e procura os outros lugares onde o pólen cai.
Talvez uma colmeia confie ao seu mel o que
ficou de um ano
em que a tempestade não se fez ouvir sobre
as corolas.
O que viste antes de Setembro perdeu-se,
apagou-se,
afastou-se sem dizer nada,
como os barcos que pouco a pouco se
afastaram da nossa vida,
calados e brancos,
com as suas gaivotas de asas fechadas,
envelhecendo lado a lado, sobre o convés.

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José Agostinho Baptista

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15 de agosto de 2006


José Agostinho Baptista (1948)

Parte-se

Parte-se,
como uma ânfora desmedida,
o meu coração.
É Junho,
começam a abrir-se as flores da melancolia.

Desço os degraus da casa e da terra.
Fecho os olhos.
E por dentro da sua cor,
por dentro da sua luz verde,
esses olhos partem para o mar,
quando o crepúsculo cai do outro lado dos
espelhos

Parece que os girassóis se erguem na berma
das estradas.
Parece que as cegonhas dormem.

Nem tu,
cujo rosto vi desenhar-se tantas vezes no
rosto da lua, me poderás salvar.

José Agostinho Baptista, Esta Voz é Quase o Vento

15 de agosto de 2005


José Agostinho Baptista (1948)



NÃO É MÚSICA

Não é música o que ouvimos.
Não é de água este brilho de prata.

Eu estou aqui sobre as pontes do rio.
Outros são os que espreitam pela bruma das margens.

Talvez me lembre:
tu vinhas devagar pelo lado das acácias.
Cingias cada árvore e as colunas, os braços de um
deus cruel, o saber dos templos.

Não é um salmo o que ouvimos.
Não é de harpas este lamento,
não é o ofício das mãos esculpindo um rosto,
não é a palavra de deus que ecoa nas escarpas.

Algures te ocultas e não deixas sinais.
Quem és tu
cujo perfil se desvanece, cuja doçura se perde nos
confins da tarde?

Eu estou aqui onde se unem as margens, onde escurecem
as sendas e as sombras,
onde correm as nuvens, as pedras, as águas.

Outros são os que te aguardam pelo lado das acácias.

José Agostinho Baptista, Biografia

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