Às vezes, encontro-me nas palavras dos outros. Mais raramente, nas minhas. Por pura coincidência. Em pura coincidência.
29 de abril de 2007
18 de abril de 2007
Antero de Quental (1842-1891)
SEPULTURA ROMÂNTICA
Ali, onde o mar quebra, num cachão
Rugidor e monótono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se há-de enterrar meu coração.
Queimem-no os sóis da adusta solidão
Na fornalha do estio, em dias lentos;
Depois, no inverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o árido chão...
Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpável pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar...
Com suas lutas, seu cansado anseio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
Desse infecundo, desse amargo mar!
Antero de Quental, Sonetos
15 de abril de 2007
Name of a tree
Some days I am Ana's teacher, some days she is mine.
This morning, we look through her kitchen window,
the one she can't get clean, cobwebs massed
between sash and pane. The sky is blue-gold, almost
the color of home.
Ana, I say, each winter
I get more lonely. Both of us would like the sun
to linger as that fruit in June, but Ana says
it's better to forget what you used to know...
Catherine Anderson
Some days I am Ana's teacher, some days she is mine.
This morning, we look through her kitchen window,
the one she can't get clean, cobwebs massed
between sash and pane. The sky is blue-gold, almost
the color of home.
Ana, I say, each winter
I get more lonely. Both of us would like the sun
to linger as that fruit in June, but Ana says
it's better to forget what you used to know...
Catherine Anderson
7 de abril de 2007
Almada Negreiros (1893-1970)
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
Almada Negreiros
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