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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Sondagem à boca das Furnas



Eu adoro esta foto exceptuando uma coisa. O quê?

a) A Taça dos Clubes Campeões Europeus
b) A Taça de Portugal
c) O manto vermelho
d) A outra Taça dos Clubes Campeões Europeus
e) O Marechal da Mística Pizzi
f) O único Presidente ilegítimo da História do Benfica

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

FERNANDO TAVARES - O ÚLTIMO DOS INVERTEBRADOS



"18. O ciclo findou: LFV está sentado em cima do Benfica e de lá não sai, de lá ninguém o tira (assim como à sua entourage).

19. Já Fernando Tavares propunha-se a algo diferente. A tudo o acima referido apelidou, em tempos não muito idos, de incoerência. Fê-lo quando saiu: acossado, em modo JJ, por forma a esclarecer, denunciar e demarcar-se - pois enquanto lá esteve e fizeram-lhe as vontades, o mundo era cor-de-rosa e o céu era o limite.

20. Exclamou ao mundo que o Benfica não tinha um presidente, mas um dono. Da reinvenção da história do Benfica levada a cabo e todo o espectro catastrofista recalcado incessante e vergonhosamente na mente dos adeptos – desresponsabilizando-os, estupidificando-os.

21. Denunciou o clientelismo. A natureza de muitos que por lá pululam. A má influência daqueles sobre o presidente e o clube. As suas verdadeiras intenções. Apontou inclusive nomes em concreto.

22. Denunciou o estado ultrajante das finanças do clube. A natureza perniciosa dos estatutos. Os níveis inéditos e ultrajantes que a propaganda directiva atingiu. A ausência e inadmissibilidade da crítica na vida do clube – os vulgos abutres.

23. Por tudo isso, demitiu-se (em bem, tivessem outros tantos tomates para isso). Para, seguidamente, mostrar uma combatividade assertiva e elevada que lhe proporcionou uma boa imagem junto dos adeptos. Para hoje voltar.

24. Pergunto: o que mudou entretanto? De tudo aquilo que FT apontou, com excepção da bola que (por ora) vai entrando, o que mudou verdadeiramente? Não terão, inclusivamente, alguns desses cenários que apontou piorado de sobremaneira? O que levou então a tamanho “volte-face”? A experiência que vem com a idade? A reflexão ponderada e a frio? A crença no presente projecto? Os superiores interesses do clube?

25. Nada disso. As pessoas são fundamentalmente as mesmas, assim como as práticas tidas ou o rumo traçado. Ou seja: nada mudou. Somente FT: que, não ficando mais novo a cada ano que passa, percebeu que, a tudo quanto apontou, se sobrepunham não os superiores interesses do clube, mas os seus: seja a nível material, seja ao nível da sua vontade em abraçar novamente o projecto então deixado.

26. Não o faz pelo Benfica, pela direcção, por LFV, pelos adeptos. Mas por si. Para si. Pela vantagem pessoal – independentemente da respectiva natureza. Não é grave: pelo menos, não para os padrões de todos quantos ali o acompanharão. Nesse capítulo, FT enquadra-se perfeitamente no projecto.

27. FT não pode ter reais aspirações a mudar seja o que for. Mais: por tudo o acima referido, entra numa posição ainda mais fragilizada do que aquela quando entrou. Que os seus proveitos sejam, na exacta medida, proporcionais ao desgosto que causou a todos quanto nele acreditaram.

28. Tudo quanto possa alguma vez ter defendido ou simbolizado, evaporou-se num simples acto: o do compromisso. Ao sair e, sobretudo, defender reiteradamente ao longo do tempo tudo quando referiu, deixou de ter quaisquer condições não para defender o Benfica, mas para fazê-lo enquanto parte da presente direcção.

29. Não ter (ou, mais grave, não querer ter) noção disso, é a mais flagrante manifestação da sua incapacidade para assumir o cargo e, assim, servir o Benfica.

30. Prestou um péssimo serviço ao Benfica. Se benfiquista, devia sentir-se envergonhado. Se humano, devia sentir-se desonrado."

RED MIST

terça-feira, 23 de junho de 2015

Um atentado ao Sport Lisboa e Benfica



Ontem foi uma data histórica: fez anos o ÚNICO PRESIDENTE ILEGÍTIMO DA HISTÓRIA DO BENFICA. Cada dia com Vieira na cadeira presidencial é uma facada em Cosme Damião, na tradição democrática do Glorioso e nos princípios fundamentais do Benfiquismo.

Parabéns por isso ao Presidente e a todos os benfiquistas que fingem não saber ser uma vergonha forjar uma candidatura para liderar os destinos do nosso amado clube. O Benfica revela assim todo o seu ecletismo, juntando às modalidades históricas uma mais recente: o contorcionismo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Paulo Sousa - o génio maldito

Ameaças de morte, um Vice-Presidente a ir perguntar por mim ao local de trabalho, insultos, ódios, calúnias, mentiras, ataques soezes por parte de vários blogues ao Ontem - em 6 anos e tal de blogue já quase tudo nos aconteceu. E, no entanto, nada ou quase nada é justificado. Na verdade, somos atacados por defender o Benfica do ÚNICO PRESIDENTE ILEGÍTIMO DA HISTÓRIA DO CLUBE.

Pensem um pouco nisso: o Presidente actual não ganhou legitimamente o poder; antes o roubou, forjando um número de sócio que não tinha e assim adulterando os estatutos que ele próprio havia criado para se manter no poder. Voltem a reler as últimas frases e questionem-se: será que um benfiquista vertical, sério e profundamente apaixonado pelo seu clube pode aceitar uma situação deste tipo sem recorrentemente lutar contra tal? Podem (devem) discordar de nós, não vejam é outras motivações que não as naturais, legítimas e altamente compreensíveis: queremos defender o Benfica. Nem mais nem menos. É o Benfica que nos guia. Os seus valores, a sua histórica democraticidade, o seu emblema livre e desapegado de caciques. É esse que defendemos todos os dias. Se tiverem a fórmula mágica para fingir que isto não aconteceu numas eleições, por favor expliquem-me como se faz porque eu não consigo olhar para o lado. O Benfica não mo permite.

Portanto, e para que nos odeiem legitimamente e não de forma injusta, vou agora escrever um texto sobre outro odiado do Benfica. A partir de hoje os vossos insultos, ameaças, calúnias, ódios e perseguições por parte de Vice-Presidentes a quem critica a forma como o clube é desgovernado já poderão ser aceitáveis. Vou escrever sobre Paulo Sousa.

Comecei a ver este extraordinário jogador quando a Luz ainda era vista por mim como um gigante de betão com relva dentro. Ligava mais para a cor das camisolas, para a cara das pessoas, para a águia a dar a volta ao Estádio antes dos jogos, para as queijadas de Sintra, para as 4 torres de iluminação a anunciar «BENFICA CAMPEÃO NACIONAL 90/91», para os painéis de publicidade, para as almofadinhas de sentar o traseiro, para as bandeiras ao vento, para os milhares de rolos de papel higiénico que caiam por cima de nós quando a equipa entrava em campo, para a equipa a entrar em campo, para o golo, o golo, o golo do Benfica. Os abraços entre estranhos no golo do Benfica, o olhar do meu Pai no golo do Benfica, o olhar das pessoas no golo do Benfica. Era dentro do golo do Benfica que eu via o Benfica todo, assim todo inteiro, popular, feliz.

Mas houve um jogo em que passei a ver com mais atenção o que ia acontecendo dentro de campo para além do golo do Benfica. Enquanto eu olhava maravilhado para 120.000 almas sob um sol glorioso, o meu Pai disse-me para esquecer as bancadas, esquecer a bola, esquecer as balizas: «fica só a ver aquele miúdo ali no centro do campo». No meio-campo passeava-se com elegância um jovem da nossa formação. Cabelos grandes, passada lenta, olhos abertos sobre o jogo, cabeça levantada, pezinhos de ouro. Paulo Sousa não caminhava sobre o relvado; deslizava. Quando o víamos correr junto de um adversário tínhamos a sensação de que o outro usava chuteiras e ele patins para o gelo - era como se a terra não sentisse os seus passos ou se os seus passos nada pesassem sobre o mundo; gravidade zero, uns pés com asas acima do relvado.

Paulo Sousa é o responsável por ter sido criada a expressão «falso-lento» porque os comentadores não sabiam o que dizer de um rapaz que parecia estar em todo o lado ao mesmo tempo, a dobrar laterais e centrais, a antecipar os lances, a desarmar o adversário, a movimentar-se antes do futuro acontecer. Chamaram-lhe «falso-lento» porque em pique não era rápido mas por alguma razão parecia sempre mais rápido do que os outros. Na verdade, Paulo Sousa não era um falso-lento, era mesmo lento. Não tinha velocidade de ponta, se o puséssemos a correr os 100 metros barreiras com os outros 21 jogadores iria ficar em último, atrás dos guarda-redes. O que ele tinha era a supersónica rapidez de pensamento, que lhe dava a capacidade de ver a jogada antes dela acontecer. E por isso chegava primeiro à bola, por isso desmarcava em passes de 30 ou 40 metros o Paneira na ala direita, o Isaías pelo meio, o João Pinto pela esquerda.

Fazia tudo como se nem suasse. Olhávamos os outros jogadores e todos com um ar desgastado, língua de fora, suor na testa, meias sujas de relva e terra, camisola para fora dos calções, peito aos soluços, costas arqueadas para o relvado. Na disputa do meio-campo daquele princípio de anos 90, tão repleto de equipas com médios sarrafeiros prontos a levar as pernas dos adversários para casa, Paulo Sousa ficava com a bola só com um ligeiro toque. Na «dividida» não usava o corpo para bater de frente; usava-o antes para fingir ir para um lado e logo sair pelo outro. O corpo era assim uma distracção, não um tractor. Com um movimento mentiroso, tirava o jogador do caminho e depois ficava com o terreno todo, com o tempo todo, com a magia toda para entregar de bandeja mais um passe que era três quartos do golo.

Antes de Pirlo, houve Paulo Sousa. Da família genético-genial de Guardiola ou Redondo, coordenava a equipa desde perto dos centrais. Sempre em elegância, suavidade, ternura. A bola procurava-o como refúgio de 90 minutos a ser maltratada. Chegava aos seus pés e ganhava outra cor, outro brilho, outra chama. Era nos pés de Paulo Sousa que ela ganhava fôlego para ir outra vez ser pontapeada por um Celestino, violada por um Paulinho Santos, caluniada por um Bobó. Como este génio pensava muitos segundos antes dos outros, quando a bola ia perdida aos saltinhos para o meio-campo depois de um ressalto qualquer, parecia mesmo que o adversário, que estava mais perto dela a ia ganhar, mas já Paulo Sousa a sabia de cor. Vemos agora o lance em câmara-lenta: o vento passa sobre o corpo dos dois jogadores, a bola vai no meio deles, o público parou todo a tentar perceber quem vai ficar com ela. O adversário estava mais perto mas partiu depois porque não percebeu o futuro que ela levava e assim Paulo Sousa, meio-segundo antes de passarem uns pitons em riste na zona onde estava a bola, só com a pontinha da bota já a desviou do massacre a que iria estar sujeita. Um toque, um pormenor, um samba de uma nota só.

No passe, parecia uma máquina de atirar bolas de ténis. Era só dirigir a mira para onde queria e lá ia ela direitinha cair no espaço atrás das costas da defesa contrária; lá sobrevoava ela todo o campo na horizontal para mudar um flanco que desequilibrava o adversário e deixava um dos extremos com o relvado da Luz todo inteiro para fazer a assistência ou para ir directo para o golo. No futebol, a mania da estatística fura os planos da análise que deve ser feita. A preponderância está em quem marca; às vezes em quem dá. Mas ninguém fala do gajo que faz as assistências para as assistências que dão golo. E é esse, normalmente, aquele que criou o golo, aquele que o potenciou ao expoente máximo de golo que é. 

A assistência para a assistência é o que define o desequilíbrio. Quando a assistência para a assistência ocorre já o golo está para nascer ou se calhar até já nasceu - nós é que ainda não o vimos. Mas Paulo Sousa já o havia visto quando ainda no seu meio-campo deixou de rastos um médio adversário. O resto já está feito e vemo-lo agora: Paneira faz a diagonal da direita para o centro, vai aparecer no espaço entre o central e o lateral, vai cruzar para trás, rasteiro, e o João Pinto já atirou para o golo do Benfica. As bancadas saltaram todas ao mesmo tempo, a Luz está toda cheia de abraços, beijos bandeiras, fumos e vermelho no vermelho. 

No centro do campo, Paulo Sousa com as duas mãos mete o cabelo por trás das orelhas para ouvir melhor o grito de 120.000 almas a gritar: BENFICA, BENFICA, BENFICA, BENFICA, BENFICA!