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domingo, 5 de novembro de 2017

Os Caminhos do 4-3-3

Em Março de 2013 Jorge Jesus dizia:

"Não é necessariamente um modelo para as equipas pequenas mas, para mim, é o mais fácil de anular."

Realmente se olharmos para a táctica no papel é com esta ideia que ficamos.

Quatro defesas como normalmente as equipas se apresentam.
Três homens no meio campo a assegurar o equilibrio e a posse de bola mas longe dos sectores ofensivos.
Dois extremos sem apoios. Isolados junto às linhas.
Um avançado preso no meio dos centrais numa luta titânica de um contra o mundo.

No papel, na base da construção do 4-3-3, é isto que vemos. Esta táctica transmite-nos um equilibrio defensivo com um meio-campo controlador mas com uma quase total inoperância ofensiva.

Basta fechar o avançado e encostar nos extremos e o adversário não ataca.

O 4-3-3 fica então anulado, incapaz de criar e de projectar jogadas ofensivas.

No papel o actual treinador do Sporting tem razão. O 4-3-3 é o sistema mais básico, é a táctica que menos exige a quem o defronta e mais exige a quem o utiliza.

É esta a grande magia do 4-3-3 - A exigência que impõe a quem actua nele.

Um 4-3-3 defensivo, com três motas no ataque, pode ser utilizado sempre naqueles duelos de Pequenos vs Grandes.

O 4-3-3 ofensivo só pode ser utilizado por Grandes que tenham uma mente brilhante no comando (Pep Guardiola por exemplo).

Este sistema só por si oferece estabilidade defensiva, equilibrio no meio-campo e posse de bola. Um treinador que seja também um maestro irá oferecer-lhe um caracter ofensivo não advinhável.

Batuta na mão, indicar os intérpretes e começa a música.

A linha de 4 defesas perde três elementos.

Um lateral é extremo. O outro é médio.

Um defesa dá dois passes em frente. O outro visita o trinco.

O trinco é construtor.

Os médios são vagabundos. Pac-Men das linhas de passe. Comem todas.

Os extremos perderam a linha. Um troca os olhos aos centrais. Outro junta-se aos médios, abrindo espaço ao lateral.

O avançado? Outro Pac-Man. Come todos os espaços.

Um carrossel de emoções. O 4-3-3 rapidamente se transforma num 1-7-2. A bola avança e aparece o 1-3-6.

Os médios que construíam andam agora pelas zonas de finalização.

Que defesa a 4 consegue lidar com 6 avançados? Que dupla de centrais não perde o norte quando a sua referência de marcação desaparece e lhe surgem dois criativos pela frente?

E o lateral o que deve fazer? Agarra o extremo que fugiu para dentro? Corre atrás do lateral adversário que aparece que nem uma flecha? Fecha no avançado que ali apareceu na procura da tabela?

Mas agora perdeu-se a bola. Como defender com só um defesa?

Pressionando alto. Dos 6 avançados 3 atiram-se aos defesas. Os outros 3 cobrem-lhes as costas, juntando-se aos 3 que estavam na linha média do campo. E já estamos num 1-6-3.
O adversário sobe, quatro médios vão à pressão, outro recua para junto do central e o outro cobre o espaço. Estamos num 2-7-1, com os extremos a recuperarem a zona de pressão do segundo terço do terreno.

A bola não vai chegar controlada ao nosso terço defensivo. Pelo menos não pelo adversário. Mas chegando estão lá 2. Aliás, já estão 4. Ou 5. Ou 6.

É que o Futebol, pelo menos aquele que mais me encanta, é um jogo de apoios, é um desporto colectivo onde todos jogam unidos em cada zona do campo.

E esta é a maravilha do 4-3-3. De um equilibrio parte-se para um desiquilibrio trabalhado.

É a táctica que mais exige dinamicas, mais exige inteligência, mais exige criatividade e mais exige trabalho. É portanto uma táctica talhada para os melhores.

Sempre quis um 4-3-3 no nosso Benfica. O Jorge Jesus é um treinador de dinâmicas mas avesso à posse de bola e ao controlo do jogo. Gosta de uma equipa de ataques rápidos. Pelos menos assim o era no Benfica. Deixava a criatividade para os atacantes e por isso jogava logo com 4.

Sabia que para vencer em Portugal não tinha de controlar mas sim de esmagar. E o caminho mais fácil para tal era largar 4 atacantes criativos nas defesas adversárias. Daí o seu muitissimo trabalhado 4-2-4.

Já o Rui Vitória é um fã do 4-3-3 - sistema de jogo que tentou implementar no Benfica assim que cá chegou.
Faltou talento e faltaram ideias. O 4-3-3 que trazia era um 4-3-3 de contra-ataque e não o soube transitar para um clube dominador.

Rapidamente cedeu aos processos que já eram naturais a esta equipa. Os maus resultados assim o exigiram.

Mas o 4-2-4 não é o seu habitat. Tem vindo a procurar variações que o deixem mais confortável, que deixem a equipa mas próxima de um sistema de 3 médios. Seja jogando com um médio interior direito ou jogando com um segundo avançado em zonas de construção.

Olhemos para o papel.

Fejsa com Renato; Pizzi mais encostado à direita mas procurando espaços interiores; Jonas a cair para a direita; Nico na esquerda; Mitro no centro do ataque. 4-3-3.

Fejsa com Pizzi; Salvio na direita; Cervi na esquerda; Jonas a vir buscar jogo ao centro do terreno; Mitro no centro do ataque. 4-3-3.

São algumas variações do 4-3-3. São variações que criam maiores equilibrios e apoios no 4-2-4 de Jorge Jesus, perdendo-se aquela vertigem que era sua marca.

O actual treinador do Benfica continua na sua senda por criar uma equipa à sua imagem. Quer recuperar o seu 4-3-3. Nada contra Mister. Só não gosto do caminho que tem seguido.

Esta época já vimos Rui Vitória lançar um 4-3-3 puro. Contudo é sempre num contexto defensivo. Quer os 3 médios não para os apoios ofensivos mas para tapar os buracos defensivos. Por isso apresenta sempre o um triângulo não invertido, com dois médios trabalhadores na base.

E esta é uma base da qual parece já não abdicar.

O vértice mais ofensivo tem sido oferecido ao Jonas, pelo menos enquanto não puder abdicar de um sistema com dois avançados.

Neste caminho temos perdido os nossos dois construtores de jogo. Pizzi e Jonas. A inteligência, a criatividade, a mobilidade. A cola da equipa. O mister começa a não saber o que fazer com eles.

E não são os únicos. Olhemos ao Zivkovic, extremo a quem "falta rasgo".

No entender de Rui Vitória o 4-3-3 é um sistema de contra ataque. 3 médios para fechar, dois extremos para rasgar, um avançado para finalizar.

Mas num clube grande, numa equipa que tem de partir uma linha defensiva de 10 jogadores, tal sistema não funciona.

Esta época os problemas defensivos eram óbvios. O treinador do Benfica respondeu reforçando defensivamente o meio-campo. Assim surgiram agora os problemas criativos.

É que ainda por cima "O Jonas não pode jogar em 4-3-3 pois não consegue actuar sozinho na frente". Esquecendo-nos nós que neste sistema, pelo menos quando montado para dominar dinamicamente, nunca um avançado actua sozinho no centro do ataque.

O Rui quer um 4-3-3. Terá dedos para este piano?

Os caminhos do 4-3-3 são infinitos. Receio que o nosso treinador esteja a optar pelo caminho da perda dos criativos.

E a magia do 4-3-3 está na criatividade.



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Ederson e Rui Patrício



Sem qualquer facciosismo, considero o Ederson superior ao Rui Patrício. O guarda-redes do Sporting é seguro nas bolas altas, é rápido a sair e tem  bons reflexos mas como ele há muitos. Já as qualidades do guarda-redes do Benfica são raras, entre as quais a invulgar capacidade de jogar com os pés (é, no fundo, o guardião perfeito para o modelo de Guardiola). Não custa adivinhar que será o melhor do mundo nos próximos anos.

domingo, 8 de setembro de 2013

Dentro e fora de campo, Aimar sabe tudo sobre futebol

Há espaço no futebol moderno para o número dez puro? Um dez como Aimar?

Tem de haver. O Barcelona joga com três números dez, no mínimo. Iniesta, Xavi e Messi são verdadeiros números dez, adaptados a funções diferentes. São jogadores que em qualquer outra equipa do mundo seriam um puro dez. Sabem, muito claramente, o que têm de fazer com e sem a bola. Inteligentíssimos.

Nos últimos anos apaixonou-se pelo futebol de alguma equipa?

Sim, pelo Barcelona de Pep Guardiola. Sobretudo por ter demonstrado ao mundo o prazer que é possível ter com uma bola nos pés. Se tivermos a bola, o adversário não a tem. E não só por isso. Se perdem a posse, recuperam na perfeição a posição defensiva e recuperam a bola com facilidade. Além do Barcelona, tenho de elogiar o Borussia Dortmund. Seja como for, nos últimos anos todas as equipas ficaram muito longe desse Barcelona.

Os adeptos puristas do futebol querem mais equipas como esse Barcelona? Ou, se preferir, quem gosta de futebol gosta desse Barça?

Eu creio que sim, mas todas as opiniões são válidas. Por um simples motivo: o futebol não é uma ciência exata e está aberto às mais variadas influências. Tudo é aceitável. Do meu ponto de vista, não há dúvidas: o Barcelona é a melhor equipa da última década.

Qual foi o treinador que melhor entendeu o futebol de Pablo Aimar?

O melhor treinador que tive foi Marcelo Bielsa. Ramón Diaz, no River, até Jorge Jesus, no Benfica, também me aproveitaram bem e entenderam o meu futebol.

E no futebol atual, qual é o treinador que mais admira?

Vejo o Bayern Munique a jogar e percebo que o Guardiola conseguiu impor muito rapidamente o que pretende: ter bola, pressionar, reduzir o espaço do campo. E fazer isto numa cultura radicalmente distinta não é para qualquer um. Para mim, Guardiola é o melhor treinador do mundo.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Obrigado, Barcelona.

Um clube, uma equipa, um treinador brindam-nos durante 5 anos com o futebol mais maravilhoso de que há memória, um futebol que fez evoluir o desporto para novos patamares, que criou, desenvolveu, inovou. Um futebol que abriu os horizontes quando parecia que não havia mais horizontes que aqueles onde o futebol estava metido, quase estagnado. 

Esse clube, essa equipa, esse treinador ganharam consecutivamente tudo o que havia para ganhar. Durante esse tempo, os mais cépticos sujeitavam-se a um "oh isto dá sono, oh é aborrecido", não compreendendo o que ali estava, desconhecendo o fabuloso contributo que o Barcelona trouxe a todos nós - pelo menos, os que gostamos de bola. 

Quando chega o momento dessa equipa ser verdadeiramente atropelada por outra grande equipa, quando, provavelmente, estaremos a observar o fim de uma viagem maravilhosa, todos os gritos de incompreensão e raiva, loucura e ódio saíram ecoando das gargantas dos cheios de sono e incompreensão. Como diria o outro: o futebol é isto.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

7

1) Esquecendo a peça humorística dos jornais sobre uma suposta vontade por parte do Anzhi de dar 25 milhões de euros pelo Gaitán, é fundamental que se definam, de forma escrupulosa, os jogadores que podem sair em Janeiro como solução de compensar as asneiras que andamos há anos a cometer. A sair alguém, terá de ser sempre um ou dois jogadores que não deixem o plantel desequilibrado e/ou fragilizado. Nesse sentido, ponho logo de parte: Luisão, Garay, Enzo, Nolito, Salvio, Aimar, Rodrigo e Cardozo. A venda de um ou mais deste lote será um erro monumental. No resto, e olhando para quem ainda tem valor de mercado suficiente para um encaixe simpático, temos Gaitán na linha da frente e depois talvez Jardel, Bruno César ou Sidnei. Os três menos do que o primeiro, que é quem eu venderia de pronto: por ter sido um activo totalmente desvalorizado por Jorge Jesus (sim, também existe o fenómeno contrário ao que é apregoado), porque neste momento a sua saída não teria qualquer peso nos objectivos da época e porque, pelo talento que tem, ainda tem valor de mercado. Acima de 15 milhões de euros, punha-lhe um lacinho.

2) Fala-se em Diego Reyes como possível contratação para Janeiro. Desconheço o valor do jogador, das informações que tirei junto de quem conhece a fundo o atleta fiquei com a ideia de que é mesmo um talento puro, com qualidade para jogar ao mais alto nível. Agrada-me a possibilidade de compra de um central/médio defensivo, aliás defendi em Agosto a necessidade de dotar o plantel de mais um central e de mais um médio de características defensivas. Se o Diego é 2 em 1, melhor: menos gasto na compra e menos sobrecarregar nos ordenados. Só espero que esta contratação, a acontecer, seja por haver uma estratégia definida de equilibrar o plantel e preparar o jogador para o futuro e não por ser um remendo à saída de Garay. Se for esse o caso, será mais um tiro nos pés.

3) «Há momentos em que o silêncio é de ouro» - Luís Filipe Vieira.

Como há uns meses, quando o Benfica tinha uma vantagem de 5 pontos e tu foste todo vaidoso para a televisão dizer que não havia problema nenhum com a arbitragem em Portugal? É raro, mas desta vez concordamos, Luís. Por mim manténs o ouro silencioso até 2016.

4) No Benfica-Olhanense estiveram 24.104 espectadores, a pior assistência da época até agora. É um problema real, sobre o qual escrevi há uns dias, que não tem sido abordado por parte desta Direcção com a inteligência e sensibilidade que ele merece. Já o disse: um clube como o Benfica tem de ter SEMPRE pelo menos 50.000 adeptos no estádio. Compete a quem governa criar as condições para que isso aconteça. Se não se preocupam com o lado humano e de apoio, vejam a coisa pelo lado financeiro, que tanto apreciam. E resolvam lá isso.

5) Está prevista uma romaria em grande escala a Alvalade. Seremos uns bons milhares a acreditar que o Benfica pode fazer um grande jogo contra o Sporting e trazer de lá não só uma vitória como uma exibição concludente neste que continua a ser sempre um jogo mais do que especial. Peço aos senhores que nos dirigem que se calem, a sério, ponham um açaime ou agrafem a boca. Depois dos espectáculos oligofrénicos dos oligofrénicos Sílvio Cervan e Rui Gomes da Silva, espera-seque não venha mais nenhum membro da Direcção ou dela próximo dar trunfos e motivação aos nossos adversários. O Benfica nasceu do trabalho e da humildade, de valores solidários e simples; nunca foi um clube de dirigentes emproados armados em papagaios que desvalorizam os outros clubes, achando que as vitórias vêm por decreto antes de entrarmos em campo. Competência, seriedade, organização, estratégia: bastarão estes valores para irmos a Alvalade lutar pelo jogo. E a palavra é essa: lutar. Não subvalorizar.

6) Ronaldo, Messi e Iniesta nomeados para o Melhor jogador do Mundo; Guardiola, Mourinho e Del Bosque para o Melhor treinador do Mundo. Há uns anos que mantenho os mesmos votos: Iniesta e Guardiola. 

7) Scolari a Seleccionador brasileiro. De rir. Se chegar aos quartos-de-final será uma sorte.

sábado, 28 de abril de 2012

1000 euros a quem conhecer 10 jornalistas portugueses [desportivos, no activo, conhecidos da populaça] que admitem o clube de que são adeptos

Isto - este nojo, que é a capa do jornal "A BOLA" de hoje - é resultado da inexistência de jornalistas desportivos em Portugal. Menos cáustico e mais verdadeiro: eles existem, só que não têm poder, estão arrumados em prateleiras, na horizontal ou então servem cafés aos directores e aos sabichões - aqueles que, com dois candidatos à Presidência do Sporting, fazem notícia com a vitória do candidato errado, por exemplo. Ou então aqueles que abdicam dos serviços de um cronista sportinguista só porque o mesmo respondeu à letra a um cronista portista - igualdades, sim, mas só no dia 25 de Abril e de cravo ao peito! 

Há ainda aquele que não aceita, bem, uma pequena indiscrição de Gobern - quando o comentador festejou um golo do Benfica, pensando não estar a ser filmado - mas não tem problemas nenhuns, o Santos, em manter num programa de grande audiência um senhor totalmente embezanado que, além da estupidez latente que já lhe percorre as veias e a massa encefálica sempre que respira, com o álcool atinge momentos de grande qualidade humorística e até laivos de hilaridade. Mas para o senhor Santos, que gosta de rir, está tudo bem. O Senhor Gobern é que com aquele espasmo faltou ao respeito aos portugueses.

Não há, no mundo desportivo português, muitos que se mantenham direitos. Por medo, por cobardia, por ambição, por degredo mental. Basta ver que é raro o jornalista que tem clube conhecido. Geralmente o jornalista desportivo português é do Casais de Revelhos ou do Cantaria da Alçoita - isto porque são clubes que verdadeiramente mexem com o jornalista. Entende-se: o clube "lá da minha terra" passa os anos a disputar o campeonato, a Champions, a Intercontinental - quem são Benfica, Porto, Sporting, Académica, Belenenses, Vitória ao pé deles?

O jornalista desportivo português é um bicho estranho. Ele sabe de tudo o que se passa no mesmo mas, por ordens superiores e instinto de sobrevivência, tem de fingir que nada sabe. Ele tem de escrever loas ao Porto, ainda que ele saiba que o Porto é o principal beneficiado - mas de muito, muito longe. Ele vê que os penáltis a favor do Porto muitos deles são dúbios e que lances iguais nunca são assinalados a favor dos restantes clubes mas ele tem de dizer que "a vitória por 1-0 de penálti foi o resultado justo, tal foi a torrente ofensiva dos dragões". 

Ele sabe que, nos momentos cruciais, o Porto leva o empurrão que o deixa quase sempre com as taças na mão mas ele não pode deixar de escrever que "estes títulos são a consequência de 30 anos de competência". Ele nunca viu o Benfica ganhar um jogo no Porto com um golo em fora-de-jogo, mas ele lá vai ter de dizer que "um lance não resolve jogos". Ele estranha que Sporting e Benfica nunca possam resolver aqueles encontros bloqueados com um penaltizinho em cima da hora, meio dúbio, ou, como na semana passada, fora da área e com o atacante do Porto a puxar a camisola do defesa adversário - ele nunca viu tal coisa. Ou se viu, foi uma vez, há muito tempo, e provavelmente num amigável ou na Taça de Portugal contra uma equipa fraca. 

Ele leva os cafés aos senhores que mandam nele e ele às vezes, por ressaca, está meio fora da realidade e meio naquela neblina de cansaço e álcool e pergunta, inocentemente: "mas ó xôr director, a gente não investiga?", "a gente sabe que isto não é igual para todos, toda a gente que anda nisto há 30 e tal anos conhece o que se passa, não há forma de ajudarmos a limpar o futebol desta gente?". Pobre do sonhador, que no dia a seguir já tem lá uma cartinha em cima do portártil: "ou deixas-te de merdas ou amanhã podes ficar a dormir".

O jornalista desportivo português escuda-se com a Lei: "isso é coisa para juízes, nós não temos obrigação de julgar em praça pública". Pois não. Mas devias ter a obrigação - e até o prazer, e até a vontade, e até a decência - de querer saber e divulgar a verdade e não este lamacento atirar areia para os olhos dos outros, como se vivêssemos num mundo de cegos em que só passando as mãos pelas notícias podíamos saber e viver a realidade. 

Eu quero lá saber se as escutas não são legítimas nos tribunais, caralho. Eu quero é saber o que elas demonstram e quero que tu e os teus amigos jornalistas vão atrás daquilo que elas dizem e não se elas são aceites ou não em julgamento. Que jornalismo de merda é este que se acanha perante as hipócritas e desviantes formas de evitar a verdade que os dirigentes executam nem sequer com tão grande qualidade artística? Onde vivem as vossas consciências, o vosso brio, as vossas entranhas? Perdidas entre favores e gestos de assentimento com a cabecinha olhando para o chão.

Não têm clube, mas gostam de futebol. Têm um trabalho que envolve maioritariamente um desporto específico, dizem-se amantes do futebol, adoram citar Nelson Rodrigues ou Valdano, mostram-se tão cultos e tão defensores da pureza e arte e génio e transcendência do desporto na sua forma mais primária e depois dizem-nos que não têm clube, que não sabem de nada, que não viram nada, que desconhecem como chegaram até aqui - se de gaivota, andorinha ou cegonha. Que o mundo vos é estranho, que não o entendem. Que, no dia a seguir ao Guardiola se despedir do Barcelona, nem sequer estavam na redacção quando alguém, provavelmente agarrado a um leitão e dois javalis, decidiu esta nojeira de primeira página.

Porque são todos muito puros, não têm provas de nada. Eles amam o futebol. Por eles, se fosse por eles, ai se me deixassem, agarrem-meagoraqueuvoumaeles, isto só lá vai com uma limpeza, estive quase quase para, ou muito me engano ou.

Cortem as asas. Comprem uns colhões.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Villas-Boas recusou, Scolari reflecte e o Benfica incompetente continua (e outras derivações)

- Se eu tivesse chegado hoje a Portugal e não soubesse já da patológica incompetência da Direcção do Benfica (são 10 anos disto, é muito frango a ser mal virado), bastar-me-ia ter em minha posse a informação que me chegou aos ouvidos para que não tivesse dúvidas de que no clube não há qualquer tipo de organização estruturada e organizada para o sucesso. Quando, em menos de uma semana, Scolari é convidado para ser treinador do Benfica e Villas-Boas também (recusando), penso que está tudo dito sobre a forma como se reflecte sobre estes assuntos. Aliás, o perfil de um e de outro têm tudo a ver. Benfica, Benfica, estás entregue à bicharada.

- Há quem diga que Witsel está de saída. Obviamente, espera-se que seja mentira. Não é possível criar uma equipa competitiva se os grandes jogadores não durarem mais do que um ano no clube e a regra passar a ser a rotatividade de entradas e saídas de atletas todos os anos e em doses industriais (ainda estamos em Abril e quantos já comprámos, mesmo?). Witsel tem de ficar, como têm de ficar todos os bons jogadores do Benfica, exceptuando Gaitán que deverá (deveria) servir como garante de um encaixe financeiro suficiente, aliado à venda de pelo menos 10 por cento dos 40 (?) emprestados que temos pelo mundo, para que o "equilíbrio das contas" seja executado. Equilíbrio que - vem garantindo Soares Oliveira há anos a fio - não está dependente da venda de jogadores. Ou tem estado a mentir aos sócios do Benfica este tempo todo? Não posso acreditar numa coisa dessas.

- Há dois anos que Éder Luís e Fellipe Bastos vão servindo, bem, o Vasco da Gama sem que o clube brasileiro tenha de pagar por eles - para além de uma percentagem dos salários. É uma política que se estende a mais umas dezenas de jogadores que temos emprestados e que perfaz a maravilhosa quantia de quase 40 milhões de euros enterrados em activos que nos não dão absolutamente nada - um até está emprestado por ano e meio (!) a um dos nossos rivais. No entanto, hoje soube-se que o Vasco irá tentar uma "engenharia financeira" para, finalmente, gastar dinheiro com os nossos jogadores. Conhecendo o histórico de solidariedade que temos com o Vasco (e com o Real e com o Atlético e com o Braga) - mas só de cá para lá, já que de lá para cá o Dedé não pôde vir -, ainda acabaremos a emprestá-los por mais uma época. Mas tenhamos esperança.

- Marcelo Bielsa, depois de assumir a responsabilidade pela derrota em Alvalade - aprende, Jesus -, vem agora limitar a sua participação na passagem do Atlético de Bilbau à final da Liga Europa. Volta a aprender, Jesus. É disto que se fazem os grandes treinadores: humildade, defesa dos seus, noção colectiva, altruísmo em prol do grupo e qualidade mental e psicológica para lidar com derrotas e vitórias. É a diferença entre um bom treinador e um excelente treinador. Infelizmente o que temos, pelo menos enquanto não existir uma estrutura competente a dirigir o Benfica que o saiba limitar à suas funções e o ensine o saudável talento da inteligência e humildade, não dá para mais.

- Guardiola saiu do Barcelona. Uma triste notícia por pôr fim a uma relação de grande paixão e conquistas. Só posso agradecer o trabalho fantástico que fez no clube catalão. Foram anos de grande prazer, Pep, obrigado. E tenho a certeza de que, por um lado, o Barcelona irá continuar - porque sabe, ao contrário do Benfica, que antes de nomes vem um perfil que é estudado e escolhido e não em sistema anárquico - a vencer e, por outro, que Pep  terá sucesso no seu futuro clube. Que podia ser o nosso, se houvesse visão e estratégia. 

- O Sporting saiu de Bilbao sem a final da Liga Europa e acima de tudo - para mim, pelo menos - com uma estranha sensação de impotência. Não é muito compreensível que tenha havido tanta falta de ambição e tantos erros consecutivos num jogo crucial para o clube. Comecei por elogiar o que me pareciam ser boas ideias sobre o jogo por parte de Sá Pinto, quando chegou ao Sporting. Continuei a gostar do que ia fazendo, muito para além da "raça", "atitude guerreira", "motivação", mas ontem apercebi-me de algumas falhas graves no seu perfil, especificamente a debilidade com que pensou e executou as mudanças que a equipa pedia. Ontem Sá Pinto ajudou, de forma bastante evidente, a que o Athletic passasse uma segunda parte inteira em cima do Sporting. Esperarei para ver os jogos importantes que o clube tem até final da época. Mas, Sá, se calhar não chegas, pá.

- Llorente. O passe para o primeiro, o terceiro, mas acima de tudo o jogo que fez e aquele fantástico trabalho para o segundo golo. Que maravilha: