É porventura uma das épocas mais decisivas da história recente do Benfica. É uma época cheia de oportunidades e ameaças e portanto convém perceber o que está para vir.
O modelo de gestão do Benfica pressupõe a venda de activos importantes no final de cada época desportiva para equilibrar as contas. Basta ver o gráfico presente na Bola, o qual nem inclui a venda do David Luiz, o que aumentaria as vendas de 2011 para 64,9 milhões de euros para percebermos o quão importante é esta parcela nas receitas da Benfica SAD.
A verdade é que estes são os valores brutos, pois temos que contar com o valor de aquisição dos passes, os custos com o fundo de solidariedade da UEFA e outros encargos. No entanto este talvez venha a ser um modelo com o futuro em risco.
A aplicação do fair-play financeiro, segundo a UEFA, já teve consequências no mercado de Inverno deste ano, já o número de transferências baixou 20% face ao mesmo período dos quatro anos anteriores, ou seja, entre 2008 e 2011. Além disso a UEFA prometeu dar a conhecer em breve os nomes dos clubes cujas contas são duvidosas e por isso não lhes paga já os dinheiros das participações nas provas da UEFA. Os clubes têm até 30 de Setembro para esclarecer as dúvidas à contabilidade criativa que têm apresentado e que têm os encaixes financeiros congelados.
As mega-transferências que aconteceram este ano já foram substancialmente menores que nos anos anteriores e para os clubes beneficiarem das verbas distribuídas pela UEFA terão que cumprir com as regras do fair-play financeiro. Isto quer dizer, que os clubes terão que encontrar outras fontes de receitas para complementar a futura queda de receitas com origem na alienação dos passes.
A Benfica SAD tem apresentado um crescimento constante de proveitos operacionais excluindo as transacções com atletas. Em 2010/11 os proveitos operacionais, excluindo transacções de atletas, ultrapassaram os 82 Milhões de Euros. Com base nos resultados apresentados nos 3 primeiros trimestres podemos antecipar que os proveitos operacionais, excluindo transacções de atletas na época 2011/12, podem variar entre os 87 e os 90 Milhões de Euros.
Porém a época 2012/13 tem várias ameaças que poderão fazer baixar este valor:
- O Benfica não disputou nem a 3.ª Pré-eliminatória nem o Play-off de acesso à UEFA Champions League, pelo que tanto o prémio da UEFA como a receita de bilheteira serão inferiores, excepto se o Benfica ultrapassar os Quartos-de-final da UEFA Champions League.
- O Market-pool da UEFA Champions League será a dividir por 3 equipas (Benfica, Porto e Braga) e não por 2 (Benfica e Porto) como no ano passado.
- O aumento do preço dos Red Pass entre 15 e 20%, devido ao aumento da taxa do IVA sobre espectáculos desportivos, implicará uma natural redução do número de cativos vendidos, sem que isso seja contrabalançado para a Benfica SAD com o aumento dos preços unitários.
- O agravar das condições económicas do país com o aumento do desemprego e o continuar da aplicação das medidas de austeridade terá impacto nas receitas de bilheteira e de Corporate, visto que as empresas terão menos disponibilidade para investimentos em marketing, bem como nas receitas originadas pelo Merchandising.
Em termos de necessidades de tesouraria, a Benfica SAD terá que reembolsar 2 empréstimos obrigacionistas, em Dezembro 50 milhões de Euros da Benfica SAD 2012 e em Abril 40 milhões de Euros respeitantes à Benfica SAD 2013 sem contar os juros inerentes a estas operações. Não é previsível que a Benfica SAD tenha recursos para fazer esse reembolso, pelo que existirá uma operação de "revolving" dos financiamentos.
Obviamente que a Benfica SAD continuará a suportar os juros relativos ao total dos financiamentos obtidos, incluindo os empréstimos obrigacionistas, que durante a época de 2011/12 devem ter ascendido a cerca de 21 a 22 milhões de Euros, embora a este valor devam ser diminuídos os proveitos financeiros, cerca de 5 a 6 milhões de Euros.
A época de 2012/13 é a última época em que estará em vigor o contrato com a PPTV, Olivedesportos para os amigos, pelo qual o Benfica recebe 7,5 milhões de Euros por época.
Posto isto, penso que todos entenderão a presença na UEFA Champions League é fundamental para o equilíbrio económico-financeiro da Benfica SAD e consequentemente para que existam recursos disponíveis para investir na equipa de futebol. O Benfica recebeu 19,757 milhões de Euros em prémios da UEFA relativamente à presença nos quartos-de-final da Liga dos Campeões na época 2011/12 enquanto que o Sporting atingindo as meias-finais da Liga Europa apenas recebeu 4,319 milhões de Euros.
Partindo do pressuposto da qualificação do Benfica para a Liga dos Campeões 2013/14, existem todas as condições para que se invista na equipa com o objectivo de chegar à final e ganhar a Liga dos Campeões que será disputada no Estádio da Luz.
Em primeiro lugar, com as vendas de Javi Garcia e Alex Witsel a Benfica SAD terá alguma liquidez até o mercado voltar a abrir em Janeiro de 2013. Em minha opinião, essa liquidez deve ser utilizada para reduzir significativamente o(s) empréstimo(s) obrigacionista(s) anteriormente referido(s). A amortização de 25 a 30 milhões de euros permitiria que a uma taxa média de 6 a 8%, a Benfica SAD poupasse 1,5 a 2,4 milhões de Euros por ano. Além da diminuição sensível do passivo oneroso e do aumento dos capitais próprios, a Benfica SAD poderá renegociar os financiamentos e parar o crescente aumento dos spread que está a pagar pelos diferentes financiamentos devido à diminuição do risco o que se traduzirá pela diminuição dos encargos financeiros.
Consoante o desempenho da equipa de futebol até Janeiro, logo se avaliarão as necessidades de investimento em jogadores para a equipa titular devendo a abordagem ao mercado ser criteriosa. Após as eleições de Outubro, a Direcção eleita terá 4 anos para desempenhar a sua função pelo que tem toda a capacidade para negociar em posição de força os direitos de transmissão, em especial porque a Benfica SAD terá liquidez e não necessitará antecipar receitas, bem como estará a negociar os direitos quer da equipa A como da equipa B, ou seja 15 ou 17 jogos da primeira liga e 21 jogos da segunda liga.
Por outro lado, é provável que a abertura de capital da Sport tv mude o panorama nacional no que respeita ao mercado das transmissões televisivas. Relativamente às transmissões temos que considerar que já não estamos apenas a falar de transmissões para televisão, mas antes é uma questão de transmissão multi-plataformas. Devemos ainda considerar que os direitos de transmissão podem dizer respeito não só a Portugal como aos mercados estrangeiros, nomeadamente e numa primeira fase onde se encontram as comunidades portuguesas - Europa, Brasil, Angola, EUA e Canadá, etc.
No entanto o objectivo deverá ser atingir novos mercados, nomeadamente China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Rússia, EUA fora do âmbito das comunidades portuguesas. A melhor forma de ganhar notoriedade junto desses novos mercados é através de uma vitória na Liga dos Campeões.
Conforme referi, penso que será possível abordar a época 2013/14 com liquidez suficiente para investir no reforço qualitativo da equipa de futebol, incluindo equipa técnica, não só pela liquidez originada pelos negócios de Javi Garcia e Alex Witsel descontando os valores utilizados para a amortização dos empréstimos obrigacionistas, como também pelo enorme crescimento do valor das transmissões televisivas. Bem sei que não é unânime que o Benfica deva vender as transmissões em vez de as explorar directamente, mas a assinatura de um contrato de curta duração, por exemplo 3 a 4 anos, permitiria no mínimo triplicar as receitas, ou seja garantir um influxo adicional de pelo menos 15 milhões de euros.
Adicionalmente o Benfica deveria procurar reduzir significativamente o número de atletas sob contrato, em especial os que não terão capacidade evolutiva expectável para virem a fazer parte do plantel principal por forma a libertar recursos para investir em melhores atletas. A generalidade dos atletas que estão emprestados na América do Sul não conta para Jorge Jesus. Porém, eu defendo que visto que o contrato de Jesus chega ao fim, o mesmo não deverá ser renovado, dando lugar a outro técnico que possa levar o Benfica a novos patamares, pelo que deverá também passar pelo novo técnico a avaliação de todos os jogadores sob contrato.
Na minha opinião, Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira, para além de tudo o resto, têm em comum o facto de mostrarem serem incapazes de levar o Benfica a um novo nível, pois desde o campeonato ganho em 2009/10 que o Benfica não mostra evolução sensível no futebol apesar do aumento significativo dos custos com o pessoal, em 2008/09 a Benfica SAD gastou 37 milhões de Euros, valor semelhante a 2009/10, enquanto que em 2011/12 deverá gastar entre 48 a 50 milhões de Euros, ou seja subiu cerca de 30 a 35%.
No final da época 2008/09 o Benfica tinha 47 atletas sob contrato e no final da época de 2010/2011 esse número já ascendia a 71 sendo que a 31 de Dezembro de 2011 o número voltara a subir para 78. Se em 2012/13 o Benfica passou a ter 2 equipas,a principal e a B, então não existe justificação para que o número ultrapasse os 60 a 65 atletas, ou seja, devemos visar a redução de pelo menos 20 a 25% do número de atletas sob contrato.
Claro que é mais fácil dizer do que fazer, até porque os passes de vários dos atletas sob contrato que não interessam ao treinador Benfica foram alienados em parte ao Benfica Stars Fund e a rescisão de contratos pura e simples não é solução. Obviamente que também não será solução as situações actuais de Schaffer, Sidnei e Urreta que nem sequer foram inscritos. Dada a idade dos atletas, penso que a solução passaria em Janeiro pela tentativa de aproveitamento desportivo dos mesmos, uma integração no plantel tipo Júlio César, com vista a uma futura alienação ou o empréstimo a uma equipa de um país europeu mesmo que isso implique o suportar de parte dos custos dos salários dos atletas.
Acima de tudo, penso que não faz sentido continuar a contratar atletas como Nuno Coelho, Michel ou mesmo Luisinho, além dos anteriormente referidos, que nem contam para o treinador apesar de este ter aprovado as suas contratações. Será que faz sentido contratar um atleta como Oblak que custou mais de 3 milhões de euros para fazer várias épocas emprestado a equipas de segunda linha porque se lhe reconhece valor, mas está tapado no Benfica e posteriormente despender mais 1 milhão de Euros em Mika e outro qualquer valor em Copetti, sendo que a probabilidade de qualquer um destes 3 jogadores chegar à titularidade na baliza do Benfica nos próximos anos é muito reduzida ?
Conforme expliquei num post anterior, acho que existe uma grande oportunidade de quebrarmos a maldição do Guttman. É óbvio que há riscos, mas há que reconhecer que há essa oportunidade. Pessoalmente não acredito que a dupla JJ-LFV seja capaz de aproveitar essa oportunidade, pelos desempenhos passados. Não sei se será culpa de JJ, ou de LFV ou dos dois, mas há 2 oportunidades de mudança se os sócios e a administração da SAD assim o desejarem, isto partindo do pressuposto que surgirá uma candidatura credível alternativa a LFV, o que não é garantido.
Os sócios serão chamados a decidir o futuro do SLB no próximo dia 26 de Outubro. A administração da SAD tem a oportunidade de não renovar o contrato com Jorge Jesus que termina no final desta época e convencer efectivamente um treinador, ao contrário do que supostamente terá acontecido no Verão, a desenvolver um projecto com um orçamento muito interessante para aplicar cirurgicamente em reforços, dada a qualidade já existente no actual plantel.
PS - Quando escrevi o texto pensei que o Benfica teria recebido o valor da cláusula de rescisão do Witsel por inteiro, mas ao que parece foi faseada em duas prestações. Assim sendo, é possível que não exista liquidez suficiente para efectuar a amortização referida no texto, mas pelo menos dever-se-ia tentar amortizar qualquer coisa como 10 a 15 milhões de Euros nesta época desportiva e o remanescente na próxima época.
PS2 - A confirmação que a cláusula não foi accionada e o Benfica poderia ter recusado a venda, visto que o Zenit não pagou no imediato a totalidade do valor, e que o Benfica só aceitou a venda após a confirmação da aquisição do Hulk, leva a crer que terá sido uma decisão estratégica da SAD a venda do Witsel, provavelmente efectuada para dar cumprimento do decidido com a aprovação do Relatório e Contas relativo à época 2010/11 na Assembleia Geral da SAD, nomeadamente a recuperação dos capitais próprios.
Mais criticável que esta decisão, é o tentar passar a imagem que o Benfica nada podia fazer por ter sido accionada a cláusula. Assuma-se a responsabilidade dos actos de gestão pois é isso que esperamos de quem lidera. Afinal não foi incompetência a saída do Witsel, foi um acto de gestão.