"Chuva"

.

.

A chuva entorna na paisagem calma

Uma indolência de abandono e sono

Paisagem triste como a de minha alma...

A chuva é um longo sono de abandono...

.

Olho através do espelho da vidraça.

Dorme o jardim sob soluços d'água.

Na rua, alguém cantarolando passa,

Cantarolando a minha própria mágoa.

.

Quem será esse vulto que se apossa

Da firme dor que em minha vida existe,

Para cantá-la assim num ar de troça,

De uma maneira que me põe mais triste?

.

E olho através do espelho da vidraça:

Dorme o jardim sob os soluços d'água.

Na rua adormecida ninguém passa.

A chuva canta a minha própria mágoa.

.

Onestaldo de Pennafort

"Confidentes"

.

.

Há uma estrela no céu que te conhece...

Quando à noite me deito, ela aparece

bem defronte à janela do meu quarto.

E, sozinho com ela, não me farto

de falar deste amor que me consome.

Digo-lhe tudo: teu olhar, teu nome,

quantas vezes me olhaste ou me sorriste,

se estavas muito alegre ou meio triste,

que vestido trazias, de que cor...

Tudo isso eu conto à estrela, meu amor!

E ela escuta isso tudo atentamente,

com a paciência de uma confidente.

Ora, acontece que outra noite, quando

passei por tua casa contemplando

o céu, onde uma estrela cintilava,

ouvi meu nome em voz que do ar baixava.

.

Não é que desde há dias me parece

que há uma estrela no céu que me conhece?

.

Onestaldo de Pennafort