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Hoje é dia 15, dia de TERTULIA VIRTUAL, uma adorável interação entre os Blogs participantes, promovida por Jorge Pinheiro (
Expresso da Linha) e Eduardo P.L. (
Varal de Idéias). Neste mês de Março o tema é
DESEJO.
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..Optei por postar três poemas dessa que considero a POETISA DO DESEJO:
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Os versos de Gilka falam do desejo da mulher de se libertar dos preconceitos e falsos moralismos do início do século passado (... que sobrevivem nos dias de hoje). Falam sempre sobre a condição feminina, de forma super audaciosa para sua época.
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Apreciem:
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Fecundação
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Teus olhos me olham
longamente,
imperiosamente
de dentro deles teu amor me espia.
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Teus olhos me olham numa tortura
de alma que quer ser corpo,
de criação que anseia ser criatura
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Tua mão contém a minha
de momento a momento
é uma ave aflita
meu pensamento
na tua mão.
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Nada me dizes,
porém entra-me a carne a persuasão
de que teus dedos criam raízes
na minha mão.
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Teu olhar abre os braços,
de longe,
à forma inquieta de meu ser,
abre os braços e enlaça-me toda a alma.
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Tem teu mórbido olhar
penetrações supremas
e sinto, por senti-lo, tal prazer,
há nos meus poros tal palpitação,
que me vem a ilusão
de que se vai abrir
todo meu corpo
em poemas.
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.Esboço
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Teus lábios inquietos
pelo meu corpo
acendiam astros...
e no corpo da mata
os pirilampos
de quando em quando,
insinuavam
fosforecentes carícias...
e o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,
com os guizos
do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
e no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...
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Volúpia
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Tenho-te, do meu sangue alongada nos veios,
à tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.
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Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo sutil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus coleios,
minha íntima, nervosa e rúbida serpente.
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Teu veneno letal torna-me os olhos baços,
e a alma pura que trago e que te repudia,
inutilmente anseia esquivar-se aos teus laços.
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Teu veneno letal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.
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