Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Essa que eu hei de amar perdidamente

 

Portrait of Edith Warren Millet, (1885)
Detail. by Jules Joseph Lefebvre (1836 - 1911)

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.

E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,

Quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…

E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!

Guilherme de Almeida



domingo, 23 de setembro de 2018

Natureza-morta



Na sala fechada ao sol seco do meio-dia
sobre a ingenuidade da faiança portuguesa
os frutos cheiram violentamente e a toalha é fria
e alva na mesa.

Há um gosto áspero de ananases e um brilho fosco
de uvaias flácidas
e um aroma adstringente de cajus, de pálidas
carambolas de âmbar desbotado e um estalo oco
de jabuticabas de polpa esticada e um fogo
bravo de tangerinas.

E sobre esse jogo
de cores, gostos e perfumes a sala toma
a transparência abafada de uma redoma.

Guilherme de Almeida

Pintura de Antonio Arena


domingo, 9 de março de 2014


Fotografia de Fernando Campanella

Não precisa bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.

Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.

O cão amigo pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.

Dorme. Sonha. Desperta. Da colméia
nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
e vai. Há sol nos frutos dos pomares.

Não olhes para trás quando tomares
o caminho sonâmbulo que desce.
Caminha - e esquece.

Guilherme de Almeida


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Indiferença"



Desconheço a autoria da imagem

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado.

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

Guilherme de Almeida


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"A Canção do Tédio"



Anda uma estrela pelo céu,
sozinha, arrastando um véu
de viúva.
- É a chuva.

Rola um soluço leve no ar,
bem longo no seu rolar,
bem lento.
- É o vento.

Perpassa o passo oco de algum
fantasma, quieto como um
segredo.
- É o medo.

Batem à porta. Abro. Quem é?
Uma alta sombra, de pé,
se eleva.
- É a treva.

Mas, desde então, alguém está
comigo. É inútil. Não há
remédio.
- É o tédio.

Guilherme de Almeida

Imagem Google, sem autoria mencionada



sábado, 29 de maio de 2010

"Sobre a ambição"

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Imagem Google
.
de pó
Deus o fez.
Mas ele, em vez
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu... Ser tudo, enfim!
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas — ah! — foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó
molhado, ficou sendo lodo — e lodo só!

Guilherme de Almeida
in "O Livro das Horas de Sóror Dolorosa"

.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

"Romance"

.
imagem daqui
.
E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.
.
Guilherme de Almeida
.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Sobre a Ambição"

.
.

de pó
Deus o fez.
Mas ele, em vez
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu... Ser tudo, enfim.
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas ah! foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó,
molhado, ficou sendo lodo - e lodo só!
.
Guilherme de Almeida
.

domingo, 21 de setembro de 2008

"Você"

. .
Escute aqui uma coisa:
- Você é linda!É tudo para mim!
Você é esta terra
Morena e quente, que eu não sei ainda
Que tamanho que tem, nem o que encerra,
Nem o que vale... .

Você é este ar cheiroso
Que eu respiro com medo que se acabe...
Você é este sol bonzinho e preguiçoso
Que faz tudo bonito e que não cabe

Na terra, mas que cabe até no fundo
Dos meus olhos... .

Você é esta vida boa
Que eu levo sem sentir...
Você é este mundo... Você...
Mas eu estou falando à toa,
Porque eu sei que você não acredita...

Você não sabe que você é bonita,
Não sabe como eu gosto de você...
Nem eu sei , imagine! (...)
..
Guilherme de Almeida

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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