Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
Mostrando postagens com marcador Alberto Caieiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alberto Caieiro. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Poema XXI

Fotografia de Pillery Teesalu "Imperfect Reflection"

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Alberto Caieiro
in "O Guardador de Rebanhos"




 

terça-feira, 28 de julho de 2020

O sentido oculto das coisas


"Um par de sapatos", de Vincent Van Gogh

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos.
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja mais nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

Alberto Caeiro
XXXIX, O Guardador de Rebanhos




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"Criança Desconhecida"



Fotografia de Sebastião Salgado

Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,  
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.  
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,  
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,  
Nem aqui vinhas.  
Brinca na poeira, brinca!  
Aprecio a tua presença só com os olhos.  
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,  
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,  
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.  
O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.  
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,  
Sabes que te cabe na mão.  
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?  
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.  

Alberto Caeiro


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Quanto Tornar a Vir a Primavera"

.
.
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
.
Alberto Caeiro

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

.

.
Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
.
Alberto Caeiro

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"O Amor é Uma Companhia"

.
.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito
do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim
como um girassol com a cara dela no meio.
.
Alberto Caeiro

domingo, 4 de maio de 2008

"Verdade, Mentira"

.

.

Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada.
Desliguei as mãos de cima do joelho.
Verdade mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade;
os meus joelhos e as minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.

Alberto Caeiro

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

Postagens populares

Total de visualizações de página