O novo álbum de
Rudolfo (Ruru Comix + Cafetra Records + Monster Jinx; 2012) tem um título homónimo ao seu criador mas parece muito pouco Rudolfo tal como o conhecíamos. É um disco caótico de direcções e intenções que só mostra que o Rudolfo foi apanhado pelo seu próprio avatar e que mostra que não sabe o que fazer com uma carreira que não chega a ser como as das "boy bands" - estas são intensas, fantasiosas e curtas porque rapidamante os ídolos passam de moda mas também porque os rapazes crescem, mudam de voz e sofrem outras dores do crescimento. Rudolfo não sendo um "star" vive com a mortalidade normal do povão, criou uma imagem mítica mas esta agora mostra o barro nos pés do mundano. Desonrientado resta a Rudolfo gozar com os otakus, hipsters e outros monstros (em
Subitamente ou
Balas Perdidas) mas não pode ser "profundo" sem cair na demagogia Pop (
Contagem descrescente ou
União) nem frequentar música "out" seja na vertente electrónica seja Rock - com ou sem amigos como
Ricardo Martins e os
Cafetras - porque não se dedicou a tempo inteiro a trabalhar em música como fazem os músicos "à séria". O Rudolfo perdeu a sua espontaneidade "teenager" onde qualquer merda que fizesse teria piada, é neste disco visivelmente um puto desonrientado. Talvez tenha mesmo de fazer como as "boy bands" e parar para depois regressar à grande e à francesa daqui uns anos para gozar com a sua geração de Peter Pans todos fodidos. R.I.P. / Rudolfo in Peace. Claro que um regresso de um Rudolfo não irá significar estádios cheios de gajas cheias de tusa, frustração e crise da meia-idade...
Mais um disco homónimo... os
Surveillance (auto-edição; 2012) que é um duo - ela bateria, ele baixo, ambos cantam - de Rock que soa a algures dos anos 90 mas que a minha RAM recusa-se a dar nomes por lerdice pura - Belly? Breeders? Nã!!! Algo mais obscuro de alguma forma... Girls Against Boys? Soa também a
Beehoover mas creio que isso é por causa pelo uso dos mesmos instrumentos e aquele ruído lixado da guitarra-baixo. Parece faltar tecnicismo para convencer e acredito que ao vivo deva ter mais energia para nos dar - pena que o concerto deles na Laica tenha sido cancelado pois gostaria de os ter visto! A gravação de tão ruídosa que é merecia ter sido materializada em K7 embora a embalagem do CD seja super-cool! É de estar atento a desenvolvimentos destes duo-putos...
Por falar em duos...
Throes + The Shine são dois duos num projecto
Rockduro (Lovers & Lollypops; 2012) em que se mistura Kuduro (The Shine) com Rock (Throes), ideia excelente num país cinzento que sempre teve problemas em lidar com África. É excelente ver projectos destes sairem por aí em mestiçagem cultural e sonora, para onde aliás o Futuro sempre rumou - neo-nazis, nacionalistas e outros estúpidos vão aprender História, sff. O único senão deste projecto é que ele é um projecto comercial que junta aquele hedoísmo parvo do Rock com a primitivismo intelectual do Kuduro, quando justamente o mundo o que menos precisa é de mais diversão monga. Nada mais fixe que soltar a franga mas ser um saco de chavões com nova roupagem não me interessa assim tanto. É só "dança, curte, etc..." com uma curiosa instrumentação - e é tudo. Infelizmente, nem todos podem ser
Ghunaganghs...
Os
E.A.K. já cá andam há alguns anos - ainda me lembro da primeira edição de autor em 2003 - mas pelos vistos estrearam-se em formato álbum oficial com
Muzeak (Major Label Industries + Raging Planet ; 2011) - é na verdade o segundo álbum. Definem o seu som como "musclecore" mas o que temos mesmo é Metalcore, género contemporêneo de fusão de Metal com Hardcore que têm sobretudo os defeitos do Hardcore, ou seja, há milhares de bandas assim, com berros pseudo-desesperantes e riffs já ouvidos. As letras em inglês são de uma pobreza extrema - talvez o mais extremo da banda esteja aqui - cheio de chavões de quem está chateado com o mundo: a violência, a estupidez, a falta de amor, a futilidade dos media, etc... Curiosamente se tanto criticam o mundo de plástico então porque a fotografia promocional da banda parece uma parada da Casa dos Segredos? E estranhamente o único momento sonoro de interesse no álbum é o final de
Sunday Afternoon Freak Show Cabaret um tema que parece criticar a xungaria dos "reality shows". Os opostos atraem-se muito fácilmente...
Outra estreia é
Besta com
Ajoelha-te perante a Besta (Raging Planet; 2012) que apresenta-se como Crust - mas os elementos da banda acho que tomam banho e só um é que tem um cão rafeiro. é barulho, barulho, barulho como bem falta às bandas portuguesas de Metal, sem letras no disco para se perceber o que se grunha por aqui, só nos podemos levar pela imaginação que os títulos sugirem:
Pai das mentiras, Misantropo, Já foi tudo dito, Finantropia absurda ou
O céptico, o crente e o bode... Um bocado linear, faltando loucura para ilustrar o século XXI... Podia ser ainda mais fodido? Eu acho que sim afinal o
Scum já foi há mais de 25 anos, né?
Bernardo Devlin tem um novo álbum mas enquanto não o oiço ficou-me pelo anterior
Ágio (Sinal 26 / Nau; 2008) que tem uma capa prateada deluxe que o scanner não apanha. Mas o facto da luz do scanner transformar a capa num negro néon talvez resume melhor o que é este disco na realidade, um "Pop de câmara" na linha dos álbuns de Scott Walker dos anos 90 para cá. Ao que parece as letras envocam os anos 70 de Lisboa à procura da modernidade que não chegou (é o que se lê na nota de imprensa do disco) mas por mim tudo isso passa ao lado, apenas parece música de cortar os pulsos numa noite em que tudo corre mal - o dealer enganou-nos, a gaja mandou-nos à merda, os amigos ficaram em casa a ver TV, os bares e discotecas fecharam / não te deixam entrar e sozinho um gajo anda por aí a meter nojo e/ou a passar-se. A música é um misto de electrónica e instrumentação eléctrico, ambos lentas e intimistas como qualquer produção portuguesa que se preze, que mostra o bom compositor que é Devlin - este é o quarto álbum, só conheci
o terceiro. É o melhor álbum deste lote e deixa-nos a pensar que se toda a Pop fosse assim...
Obrigado ao REP pela oferta deste disco.
O
Tombo Primeiro (Raging Planet; 2012) da
Tertúlia dos Assassinos é uma espécie de marco histórico na edição fonográfica portuguesa. Se em Portugal houve muitos discos de recitais de textos ou "spoken-word", é muito raro encontrar material deste editado desde os meados dos anos 80. Recentemente tem havido um regresso à oralidade da poesia ou de textos, seja com os
Poetry Slams, episódios de
combate social ou com uma atitude editorial definida como a excelente
Mia Soave. A Tertúlia reúne cinco criadores a trabalhar neste campo, que por minha ignorância da sua existência (ou pelo menos regularidade pública de actividade) admira logo pela quantidade e qualidade dos intervenientes. Querendo fazer da literatura perigosa outra vez (uma utopia revivalista na realidade), estamos bem longe de Ary dos Santos, Manuel Alegre ou Mário Viegas (as origens "spoken-word" de Portugal?) para não dizer que estamos antes em campo oposto porque o que temos nesta Tertúlia é sátira (bocagiana?) de
Charles Sangnoir, misantropia (
Aires Ferreira o recitador tecnicamente mais impressionante!), esoterismo (
Gilberto Lascariz), solipsismo (
Melusine de Mattos) e ensaio com
David Soares num poderoso, glorioso e (o mais) longo texto. O disco vêm acompanhado de um livro com a reprodução dos textos recitados (ou é o contrário?), gesto redundante depois da interessante gravação áudio. E infelizmente, o livro como objecto é terrível: em design (teen-goth?), paginação (esta malta gótica nunca viu os livros da
&etc?), impressão e acabamentos. Espera-se com alguma ânsia por um "segundo tombo", tal como um ouvinte espera um novo capítulo do seu programa de rádio favorito...
Por fim, ufa!,
David Soares volta com
Charles Sangnoir para fazerem um horripilante CD intitulado
Os Anormais : Necropsia de um Cosmos Olisiponense (Raging Planet; 2012). Soares explora o tema da "anormalidade" encarnando o papel de
cicerone assustador e que é bem acompanhado por Sangnoir que faz uma banda sonora ambiental minimalista bastante eficiente - aliás, é ele que faz a parte musical da Tertúlia também? Tira-se o chapéu para ambos casos se se confirmar... Dois defeitos apenas, a monotonia na recitação do texto e falta de riqueza gráfica do CD. Deficientes em Lisboa daria pano para mangas para se fazer um livro com desenhos ou reproduções de material documental e gráfico a que Soares se baseou - quem sabe até seria uma boa desculpa para ele voltar a fazer alguns dos seus desenhos grotescos que não vemos há uma década. Seja como for, é um disco para se ouvir com muita atenção!