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terça-feira, 24 de maio de 2016

SplitNot

A quem ache que ser Punk é nunca crescer [I'd rather stay a child / And keep my self-respect / If being an adult / Means being like you - Life Sentence (Dead Kenndys)] o que até pode ser uma boa ideia se já toda a população não tivesse parado de crescer (ver Comicons e Cosplays). O punk português são sempre os mesmos velhadas a fazerem discos e bandas que não conseguem abrir terreno para fora de meia-dúzia de resistentes e/ou nostálgicos e/ou coleccionistas anais. Passaram a ter melhor meios de produção sem que tenham melhorado a sua razão de ser. Sim ficaram crianças, eis uma "catrefa" (ou será uma cafetra?) de discos assim, pelos menos ao splits a reunir sinergias invés dos horríveis discos de uma só face.

Para quê um split-EP de Mata-Ratos e Clockwork Boys (Dog City + Raging Planet + Chaosphere + Hellxis; 2015) com o tema da bola? Porque é divertido... Mesmo um gajo como eu que odeia bola até acha fixe este tipo de xungaria como já aconteceu no passado. Há metade da edição em vinil vermelho e outra em verde, um truque bacoco de mostrar que Portugal é Futebol e que a população socialmente divide-se em vermelhos da populaça que ganha a bola mas é o "eterno enrabado" (Mata-Ratos dixit algures num disco qualquer) e os verdes aristocratas da treta que perdem na bola mas ganham muito mais guito que a populaça - é assim que se resume a bola em Portugal, certo? O lado dos Mata-Ratos não tem temas inéditos, foram retirados do álbum És Um Homem Ou És Um Rato? (Ataque Sonoro; 2004) e os Clockwork regravam o Xalana sabe-se lá porquê... Capa divertida do Pepedelrey mas com grafismo de merda poderá transformar esta edição num ícone se alguém se importasse com isso. Ganham os Clockwork!

Bola outra vez e já deixou de ter piada com o risco de se transformar num sub-género, tipo "Fut-Punk" ou "punk da bola" (tal como há "Hardcore da praia")... Nem se percebe porque a Signal Rex se deu a trabalho de fazer  este split dos Clockwork Boys e dos Scum Liquor intitulado Vitor Baptista (outro futebolista mamado como o Xalala) / Kingshit Cop (2016). Toda a edição tem um aspecto de produção Crust dos 80/90 (quando o género nasceu e cresceu) como se quisesse reclamar uma tradição que não houve cá em Portugal, ou seja, a edição de discos DIY: bandas a auto-produzirem-se, a auto-editarem-se em formatos pobres e modestos como vinil com capas em fotocópia. Isto aconteceu na Finlândia ou Inglaterra. Cá não. Houve excepções, claro como os No Opression ou Corrosão Caótica mas só se fez produtos finais em fotocópia para as "demo-tapes". Agora que a malta é velhinha e com algum guito já se pode dar ao luxo de alguma vaidade mimética e falsificações anacrónicas. Ganham os Scum Liquor porque os vocais desta banda é dos mais podres no espectro punk/hardcore/metal tuga actual. Fixe!

Ainda menos razoável é o split-Maxi de Peste & Sida e Albert Fish (Dog City + Raging Planet + Chaosphere; 2015)! Os primeiros pegam em dois temas de Não há crise (Raging Planet; 2011) e os segundos em dois outros de Still Here! (Raging Planet; 2014). Para quê? Para juntar o punk que soa a 1988 e o Hardcore que soa a 1998? Para fazerem uma capa no formato de LP? Para se sentirem como um "dream team" inter-geracional? Meus, jogo anulado!!! Voltem para o balneário e gravem músicas novas, aquelas que cantam no chuveiro depois do treino, qualquer novo...

Mais bem servidos fica-se com o split-single de Desecration e Holocausto Canibal editado por um colhão de editoras incluindo a portuguesa Chaosphere no ano passado. Três temas de Grind e Death para quem gosta de duas bandas que juntas fazem 40 anos de dedicação a estes géneros - their words. Os ingleses ganham a partida porque naquela ilha nojenta de onde eles vem sempre houve mais estúdios de gravação e ensaio, produtores, instrumentos de música, engenheiros de som, rede de circulação e distribuição e já para não dizer que tem uma cultura que criou estes sonoros grunhos (Napalm Death, por exemplo). Os Holocausto não tinham hipótese desde o início do jogo... E topa-se logo pelo desenho no "picture-disc":

os ingleses sempre foram uns badalhocos... 

sábado, 24 de junho de 2006

Zombie Pop

cineMuerte: "Born from ashes" (CD'06; Raging Planet)

E quando as coisas correm mal? A editora portuguesa Raging Planet habituou-nos a uma qualidade bastante séria de edição de bandas portuguesas que se destacavam pelo seu profissionalismo e pela sua qualidade de produção. Embora fechada a um círculo pesado das bandas Hardcore e Metal, tem nas mãos ainda umas "aves raras" que são os [f.e.v.er.] e estes cineMuerte, bandas dificeis de catalogar a priori. Sobre os primeiros já se tem falado e brevemente escreverei sobre o interessante e recente CD-EP "Bipolar" (Raging Planet; 2006).
Os cineMuerte prometiam muito, não só por virem de uma editora de "peso" e pelo "espreitar do véu" que foi a sua participação na colectânea-tributo aos Misfits, "Portuguese Nightmare" (Raging Planet; 2005), em que nos deixaram curiosos com o seu Rock Electrónico, cheiro Pop não muito óbvio no meio de um disco de mamutes Metalcore. Se o tema escolhido dos Misfits, Where eagles dare, mostrava bom gosto e alguma delicadeza, todo este "Born of the ashes" mostra o contrário. Feito com de Rock (guitarras Metal redundantes) casado com uma electrónica simples, uma voz que se estica sem contenção e artificial ao ponto de lembrar os Evanescence (é assim que se escreve?), todo ele Nu-Goth com falta de imaginação (embora tentem disfarçar) na composição de tal forma que o nome do duo (é uma gaja e um gajo) só faz sentido por serem "mortinhos" (a capa revela logo que são Zombie Pop?) e não por serem "cinematográficos".
E o "cherry on the top" é uma versão de Entre dos tierras dos Heroes del Silencio. O que é pior: o original dos pimba-góticos dos "nostros hermanos"? Pegar no original para fazer uma versão? Esta versão? Vale a pensa neste disco a arte do Pedro Zamith para a embalagem do CD (ainda assim, os trabalhos não serão inéditos tirando a capa) e o tema Alive, virado para uma pista de dança Electro mas daquelas pistas de dança mais Abba do que Nitzer Ebb... Que pena!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

R-aging Planet


[f.e.v.e.r.]: "4st"
v/a: "E se depois... Tributo a Mão Morta"

(Raging Planet; 2007)

O paradigma de produção de música urbana dos últimos anos tem sido o que foi criado pelos horrorosos Blind Zero: cópia de modelos existentes, profissionalismo, bom trabalho de imagem e boa produção sonora. Diferente da produção dos anos 80: originalidade, amadorismo, qualidade flutuante de imagem e de produção sonora. Tendo ultrapassando o ano 2000, onde estamos nós no que diz respeito à música urbana?
Com raras e cristãs excepções, o panorama tem se afundado no profissionalismo e imitação de modelos, o que se considerarmos que a democratização da tecnologia trouxe gravações e embalagens tão profissionais que nos dias de hoje ouvir uma banda de Death polaca amadora ou uma alemã editada por uma editora comercial ou uma banda da Guarda é a mesma coisa. Serve Death como para Emo ou Indie ou outra coisa. Apesar de tudo vão aparecendo as tais excepções ou ainda bandas que tem como modelos menos vulgares no mercado português. Os [f.e.v.e.r.] estão na fronteira disto tudo por fazerem um "melting-pot" de Rock pesado, Pop meio-gótico e acompanhamento electrónico, apesar de não ter muitas referências em Portugal já as ouvimos noutros lados, sobretudo lá prás "américas" com os KMFDM ou Linkin Park ou qualquer banda que cante por cima de Riffs pesados e loops... Talvez por isso que [f.e.v.e.r.] possa soar a "novo" neste retângulo ibérico e que se esta banda conseguisse apanhado um "zeitgeist" talvez fosse um sucesso a nível global - ou pelo menos para um mercado norte-americano.
Este primeiro álbum, que é na realidade o quarto registo graças a uma carreira pós-moderna que se fragmentou em dois EP's, um álbum de remisturas e ainda uns dois singles, é daqueles discos que não se deveria colocar um único defeito de tão bombom que ele é: grande produção, som "catchy", ou seja tudo perfeito. Então o que corre mal? Não sei, na essência creio que é a voz, uma lamechice melódica e falsa que se ouve bem em dois ou três temas mas que depois começa a enervar de tão bonitinha que é. Admito que cada vez tenho menos paciência para melodia convencional e beleza caucasiana, se nos EP's ou singles os [f.e.v.e.r.] convenceram-me porque os registos sabiam a pouco, num registo mais longo, tanto dramalhão Emo acaba por levar à saturação suícida. Um destaque para o tema sincopado e funky Clockwork embora seja Prong q.b.

Bem, depois da febre, a mão morta... A banda portuguesa de sempre! A banda que veio dos anos 80 e continua no activo, que sempre manteve um nível alto de originalidade e coerência intelectual. Não podiam ser só os Xutos e GNR a apanhar com tributos, os Mão Morta já mereciam e foi a Raging Planet, uma editora independente super-profissional de Rock que teve "los tomates" de avançar com a ideia. Uma tarefa difícil de realizar dada à banda homenageada ser um monstro da cultura urbana, e apesar da Raging Planet meter logo o pé na poça com a capa nojenta e design horrível do disco, conseguiu fazer um bom trabalho mesmo que não tenha conseguido agradar todos os gregos e todos troianos.
O facto de ter conseguido fazer uma colectânea de 16 projectos bastante diferentes, faz deste tributo um disco eclético como devem ser todos os álbuns de tributo - ao contrário da moda dos anos 90 em que havia álbuns de tributo inóquos como 20 bandas Punk a versionar uma banda Punk sem acrescentar nada de novo, e quem diz Punk, diz Gótico, Metal, etc... Outro facto interessante ao ouvir o disco é perceber que o universo de Mão Morta é elástico o suficiente para ser incluído nos de outras bandas sejam elas Surf, Electrónica, Metal, ao ponto de 99% dos temas escolhidos pelas bandas baterem certo com as ambições musicais. E claro que no meio deste "compacto-caos" haverá sempre o "bom, o mau e o vilão":
1. Desiluções & Surpresas: uma pena os Bunnyranch não terem pegado em algum tema do Vénus em chamas (BMG; 1994)... as As tetas da alienação apesarem de serem tetas não tem sexo para o Rock destes coimbrões. Também se esperava dos Dr. Frankenstein ao pegar em Marraquexe (Pç das Moscas Mortas) um som mais Exotica e não tão Surf. Os Dead Combo (para os quais não tenho a santa paciência) como sempre fazem um tema instrumental, e com inteligência tocam o emblemático Aum, o hino urbano-depressivo dos MM! Bem pensado e bem executado. Os Wraygunn transformaram o E se depois num Blues etnico-psicadélico "mucho cool".
2. Mau: cineMuerte (claro) e Volstad (ambas bandas com vozes melódica-pretensiosas femininas de puxar pelos cabelos... das vocalistas!), The Temple (creio que a crítica de Ricardo Amorim no último Underworld resume a questão com muita ironia, por isso nem vou bater no ceguinho!). O que representa 20% do disco, menos mal embora algumas participações como as dos Acromaníacos e Mécanosphère deixem a desejar por serem rídiculas ou "kitsch".
3. O resto é eficiente e interesante como pegam nas músicas dos MM mas bom, muito bom mesmo são os D'Evil Leech Project, extreme-cyber-metal que transforma Cão da Morte num verdadeiro festim Death-Gore para Headbanging - mesmo no escritório colado ao computador o meu cabelo liso e longo solta-se pelo ar para curtir esta música... O que só prova que esta é uma das melhores bandas portuguesas do momento, mesmo que não tenham novo álbum à 4 anos e ao que parece teremos de esperar por 09.09.09 para ouvirmos o segundo álbum, filhos-da-mãe!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ao lado...

O novo álbum de Rudolfo (Ruru Comix + Cafetra Records + Monster Jinx; 2012) tem um título homónimo ao seu criador mas parece muito pouco Rudolfo tal como o conhecíamos. É um disco caótico de direcções e intenções que só mostra que o Rudolfo foi apanhado pelo seu próprio avatar e que mostra que não sabe o que fazer com uma carreira que não chega a ser como as das "boy bands" - estas são intensas, fantasiosas e curtas porque rapidamante os ídolos passam de moda mas também porque os rapazes crescem, mudam de voz e sofrem outras dores do crescimento. Rudolfo não sendo um "star" vive com a mortalidade normal do povão, criou uma imagem mítica mas esta agora mostra o barro nos pés do mundano. Desonrientado resta a Rudolfo gozar com os otakus, hipsters e outros monstros (em Subitamente ou Balas Perdidas) mas não pode ser "profundo" sem cair na demagogia Pop (Contagem descrescente ou União) nem frequentar música "out" seja na vertente electrónica seja Rock - com ou sem amigos como Ricardo Martins e os Cafetras - porque não se dedicou a tempo inteiro a trabalhar em música como fazem os músicos "à séria". O Rudolfo perdeu a sua espontaneidade "teenager" onde qualquer merda que fizesse teria piada, é neste disco visivelmente um puto desonrientado. Talvez tenha mesmo de fazer como as "boy bands" e parar para depois regressar à grande e à francesa daqui uns anos para gozar com a sua geração de Peter Pans todos fodidos. R.I.P. / Rudolfo in Peace. Claro que um regresso de um Rudolfo não irá significar estádios cheios de gajas cheias de tusa, frustração e crise da meia-idade...

Mais um disco homónimo... os Surveillance (auto-edição; 2012) que é um duo - ela bateria, ele baixo, ambos cantam - de Rock que soa a algures dos anos 90 mas que a minha RAM recusa-se a dar nomes por lerdice pura - Belly? Breeders? Nã!!! Algo mais obscuro de alguma forma... Girls Against Boys? Soa também a Beehoover mas creio que isso é por causa pelo uso dos mesmos instrumentos e aquele ruído lixado da guitarra-baixo. Parece faltar tecnicismo para convencer e acredito que ao vivo deva ter mais energia para nos dar - pena que o concerto deles na Laica tenha sido cancelado pois gostaria de os ter visto! A gravação de tão ruídosa que é merecia ter sido materializada em K7 embora a embalagem do CD seja super-cool! É de estar atento a desenvolvimentos destes duo-putos...

Por falar em duos... Throes + The Shine são dois duos num projecto Rockduro (Lovers & Lollypops; 2012) em que se mistura Kuduro (The Shine) com Rock (Throes), ideia excelente num país cinzento que sempre teve problemas em lidar com África. É excelente ver projectos destes sairem por aí em mestiçagem cultural e sonora, para onde aliás o Futuro sempre rumou - neo-nazis, nacionalistas e outros estúpidos vão aprender História, sff. O único senão deste projecto é que ele é um projecto comercial que junta aquele hedoísmo parvo do Rock com a primitivismo intelectual do Kuduro, quando justamente o mundo o que menos precisa é de mais diversão monga. Nada mais fixe que soltar a franga mas ser um saco de chavões com nova roupagem não me interessa assim tanto. É só "dança, curte, etc..." com uma curiosa instrumentação - e é tudo. Infelizmente, nem todos podem ser Ghunaganghs...

Os E.A.K. já cá andam há alguns anos - ainda me lembro da primeira edição de autor em 2003 - mas pelos vistos estrearam-se em formato álbum oficial com Muzeak (Major Label Industries + Raging Planet ; 2011) - é na verdade o segundo álbum. Definem o seu som como "musclecore" mas o que temos mesmo é Metalcore, género contemporêneo de fusão de Metal com Hardcore que têm sobretudo os defeitos do Hardcore, ou seja, há milhares de bandas assim, com berros pseudo-desesperantes e riffs já ouvidos. As letras em inglês são de uma pobreza extrema - talvez o mais extremo da banda esteja aqui - cheio de chavões de quem está chateado com o mundo: a violência, a estupidez, a falta de amor, a futilidade dos media, etc... Curiosamente se tanto criticam o mundo de plástico então porque a fotografia promocional da banda parece uma parada da Casa dos Segredos? E estranhamente o único momento sonoro de interesse no álbum é o final de Sunday Afternoon Freak Show Cabaret um tema que parece criticar a xungaria dos "reality shows". Os opostos atraem-se muito fácilmente...

Outra estreia é Besta com Ajoelha-te perante a Besta (Raging Planet; 2012) que apresenta-se como Crust - mas os elementos da banda acho que tomam banho e só um é que tem um cão rafeiro. é barulho, barulho, barulho como bem falta às bandas portuguesas de Metal, sem letras no disco para se perceber o que se grunha por aqui, só nos podemos levar pela imaginação que os títulos sugirem: Pai das mentiras, Misantropo, Já foi tudo dito, Finantropia absurda ou O céptico, o crente e o bode... Um bocado linear, faltando loucura para ilustrar o século XXI... Podia ser ainda mais fodido? Eu acho que sim afinal o Scum já foi há mais de 25 anos, né?

Bernardo Devlin tem um novo álbum mas enquanto não o oiço ficou-me pelo anterior Ágio (Sinal 26 / Nau; 2008) que tem uma capa prateada deluxe que o scanner não apanha. Mas o facto da luz do scanner transformar a capa num negro néon talvez resume melhor o que é este disco na realidade, um "Pop de câmara" na linha dos álbuns de Scott Walker dos anos 90 para cá. Ao que parece as letras envocam os anos 70 de Lisboa à procura da modernidade que não chegou (é o que se lê na nota de imprensa do disco) mas por mim tudo isso passa ao lado, apenas parece música de cortar os pulsos numa noite em que tudo corre mal - o dealer enganou-nos, a gaja mandou-nos à merda, os amigos ficaram em casa a ver TV, os bares e discotecas fecharam / não te deixam entrar e sozinho um gajo anda por aí a meter nojo e/ou a passar-se. A música é um misto de electrónica e instrumentação eléctrico, ambos lentas e intimistas como qualquer produção portuguesa que se preze, que mostra o bom compositor que é Devlin - este é o quarto álbum, só conheci o terceiro. É o melhor álbum deste lote e deixa-nos a pensar que se toda a Pop fosse assim... Obrigado ao REP pela oferta deste disco.

O Tombo Primeiro (Raging Planet; 2012) da Tertúlia dos Assassinos é uma espécie de marco histórico na edição fonográfica portuguesa. Se em Portugal houve muitos discos de recitais de textos ou "spoken-word", é muito raro encontrar material deste editado desde os meados dos anos 80. Recentemente tem havido um regresso à oralidade da poesia ou de textos, seja com os Poetry Slams, episódios de combate social ou com uma atitude editorial definida como a excelente Mia Soave. A Tertúlia reúne cinco criadores a trabalhar neste campo, que por minha ignorância da sua existência (ou pelo menos regularidade pública de actividade) admira logo pela quantidade e qualidade dos intervenientes. Querendo fazer da literatura perigosa outra vez (uma utopia revivalista na realidade), estamos bem longe de Ary dos Santos, Manuel Alegre ou Mário Viegas (as origens "spoken-word" de Portugal?) para não dizer que estamos antes em campo oposto porque o que temos nesta Tertúlia é sátira (bocagiana?) de Charles Sangnoir, misantropia (Aires Ferreira o recitador tecnicamente mais impressionante!), esoterismo (Gilberto Lascariz), solipsismo (Melusine de Mattos) e ensaio com David Soares num poderoso, glorioso e (o mais) longo texto. O disco vêm acompanhado de um livro com a reprodução dos textos recitados (ou é o contrário?), gesto redundante depois da interessante gravação áudio. E infelizmente, o livro como objecto é terrível: em design (teen-goth?), paginação (esta malta gótica nunca viu os livros da &etc?), impressão e acabamentos. Espera-se com alguma ânsia por um "segundo tombo", tal como um ouvinte espera um novo capítulo do seu programa de rádio favorito...

Por fim, ufa!, David Soares volta com Charles Sangnoir para fazerem um horripilante CD intitulado Os Anormais : Necropsia de um Cosmos Olisiponense (Raging Planet; 2012). Soares explora o tema da "anormalidade" encarnando o papel de cicerone assustador e que é bem acompanhado por Sangnoir que faz uma banda sonora ambiental minimalista bastante eficiente - aliás, é ele que faz a parte musical da Tertúlia também? Tira-se o chapéu para ambos casos se se confirmar... Dois defeitos apenas, a monotonia na recitação do texto e falta de riqueza gráfica do CD. Deficientes em Lisboa daria pano para mangas para se fazer um livro com desenhos ou reproduções de material documental e gráfico a que Soares se baseou - quem sabe até seria uma boa desculpa para ele voltar a fazer alguns dos seus desenhos grotescos que não vemos há uma década. Seja como for, é um disco para se ouvir com muita atenção!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

«Dentes de ouro e flow de platina»

Eis uma ressaca sonora da 5ª Feira Laica, que reuniu algumas das principais editoras de livros, zines e discos. É impossível não afirmar que dada à recessão da indústria fonográfica (auto-infligida, nunca esqueçamos!) são as pequenas editoras que tem feito o trabalho todo de apostar em novos nomes e tendências nacionais com boas edições e artistas interessantes ou projectos coerentes. O que é «Nacional é bom!» é um obtuso dogma - diria antes que na maior parte dos casos que «não é mau» - e enquanto estes editores não venderem discos de platina como os bostas dos "David Fonseca's & Mariza's" merecem todo o nosso respeito por arriscarem capital em excelentes discos - muitas vezes a música é capaz de não maravilhar mas como objectos são sempre bastante cuidados e bonitos, o mesmo não se pode dizer das "majors" em que a música e a embalagem são igualmente vulgares.

Começo pela colectânea Bota'sentido! 1995-2014 (Matarroa; 2006) que foi lançada para comemorar os 5 anos de existência da editora de Hip Hop Matarroa. Hip Hop? Não só, na realidade a editora tem apostado em mestiçagens de sons Black através da edição de artistas angolanos (Verbal, Crewcial, Conjunto Ngonguenha) e ritmos jamaicanos (Prince Wadada, Bezegol) em que se ouve crioulo (Factos Reais) ou a "pronúncia do Norte (MataZoo).
Para uma colectânea de comemoração - em que os limites temporais foram esticados para a pré-história da editora e para o futuro - temos uma selecção um bocado preguiçosa (não há raridades ou versões alternativas) nem bota-tanto-sentido-como-isso (nem tudo o que foi editado é reapreciado). Realmente parece que o que se ouve aqui é pensado para 2014 e não para 1995. A tendência da Matarroa é cada vez mais o Reggae / Dancehall / Ragga do que propriamente o Hip Hop - parece-me! Entretanto as escolhas de Hip Hop neste disco (curiosamente) tratam mais de temas sobre gajas e noitadas do que as habituais diatribes da cena - embora também haja no tema (sacado para o título deste "post") de Pródigo & Virus. Faixa porreira é do(s) Nerve com uns samples Jazz bem esgalhados. O futuro são fumaradas jamaicanas o que me deixa curioso do que vai ser a Matarroa de futuro... PS: e como sempre: excelente trabalho gráfico do Chemega.

No campo do Rock pesado (Metal, Hardcore), o especialista do momento é a Raging Planet do qual a última novidade é o álbum Volume II: The hollow dos More than a Thousand. Após um CD-EP de estreia com um título engraçado como Trailers are always more exciting than movies (Raging Planet; 2004) dá vontade de dizer que o segundo registo desta banda Emocore deveria ser Don't judge a record by it cover porque é a melhor capa dos discos da Raging (que o Zamith me perdoe!) autoria do norte-americano Sam Weber mas sem o correspondente musical. Igual a mil e uma bandas do género Emocore - tipo as últimas edições da Victory - com tudo certinho e no lugar, melodioso & orelhudo até à medula, sem emoção apesar das letras serem consideradas "negras", voz plástica e aborrecida como o mundo ocidental... Não temos aqui nem Lynch ou o selecionado do ano do Festival de Sundance mas sim um filme vindo de Holywood com tudo previsível do príncipio ao fim. Foda-se, o que se passa com os putos de hoje?

Surpresa foi a edição de Sucess in cheap prices (Bor Land; 2006) do projecto Most people have been trained to be bored, aka, Gustavo Costa, aka, papa-bandas e colaborações (Genocide, Stealing Orchestra, Três Tristes Tigres, John Zorn, ...) . Este novo projecto começa com Noise inesperado - da Bor Land espera-se as melodias-mais-melodias de índios e alt.countreiros - e revela-se pelos campos do Improv electro-acústico, Jazz não-purista, Glitch e lixo sónico cheio de fantasmas, ready-mades e peças de composição clássica contemporânea entre outras mil-e-uma fontes. O que se sente ao ouvir todo o álbum é que se concentrou quase todos restos mortais das vanguardas do século XX sem nunca parecer colocá-lo num cânone. Música Experimental? Sem dúvida, agora se começarem com as sub-variações, a coisa complica-se e ainda bem.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

E elas berram!


Reltih: 13 Years in Misery (Infected Records DIY + Zerowork; 2008)
We Are The Damned: The shape of Hell to Come (Raging Planet; 2008)

Até parece moda se antes não tivessem existido os No Oppression ou os Intervenzione com as suas "co-vocalistas" femininas. Em 2008 sairam discos dos Reltih e We Are The Damned cada um com a sua Sofia, no primeiro caso como acompanhante ou no segundo como a vocalista principal. A verdade é que o sucesso de Angela Gossow nos Arch Enemy (desde 2000) tem aberto terreno para as mulheres que queiram grunhir. Caso para perguntar se estas Sofias são genuínas ou se são réplicas de fenómenos Pop/Rock.
No primeiro caso, a "Sofia Reltih" acompanha a banda com um papel colectivo - a banda assina todo o trabalho do CD como um colectivo, sem distinguir quem escreve as letras ou quem compõe a música. Este é o segundo álbum de uma banda Crust, ou seja, para quem não sabe o que é Crust, é na verdade Metal mal tocado (ou tocado por Punks o que vai dar ao mesmo) embora há quem diga que o Crust é Punk/Hardcore fundido com Metal e com letras Anarkas e/ou pessimistas, pró-direitos dos animais - também é preciso lembrar que os Crusts são tipos nómadas com montes de cachorros atrás roçando aos Hippies mas com ar mais podre. Não sei se banda é burguesa ou não mas tocam como qualquer outra banda pesada. A única malha de jeito é Abused Child que tem uma composição mais elaborada do que o resto que é aquela pantufada tum-tum-tum de sempre. Será que alguém da banda sofreu abusos quando era menor? E por isso esforço-se mais a trabalhar nesta música? Seria positivo que tal tivesse acontecido para haver um bocado de personalidade na música portuguesa, caso contrário, não sei bem o que fazem por aqui com os seus samples de entrada para as músicas que parecem mais reaccionários que "anti" qualquer coisa... E samples de entrada de músicas é a coisa mais cliché deste tipo de bandas, diga-se.
A "Sofia Damned" e a sua banda já são outra história... tudo é melhor: desde a capa e design do CD, a música é mais rica e claro sempre com a Sofia a berrar. É Metal que reúne pedaços da "velha-escola" (Trash, Heavy - até fizeram uma versão de Parasite dos KISS) e da "nova" (Crossover, Death, Post - Lucifer VIP não deixa dúvidas o quanto Post que é) parecendo mais uma das bandas Metalcore que a Raging Planet costuma editar (TwentyInchBurial, etc...). Ainda assim a voz de mulher furiosa sempre é mais original do que meninos chateados. Não é uma maravilha mas também não é mau.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Miss Fava


Miss Lava (Raging Planet; 2008)

Desde que tiraram as favas e os brindes do Bolo-Rei - será que foi o Cavaco que proíbiu isso? - que essa iguaria natalixa deixou de ter piada. Por mais frutos cristalizados o facto de sabermos que não poderemos trincar num pedaço de metal envolto em papel e sair-nos uma Nossa Senhora ou uma figa para colocar num colar, tira imediatamente o gosto e gozo de comer o bolo. E é o que acontece com os Miss Lava, tem actualmente as capas mais porreiras do Rock português, a começar por este EP de estreia ao CD Blues for the Dangerous Miles (Raging Planet, 2009) envolveram Designers / ilustradores que criaram belos objectos de luxo para conter as suas músicas.
Este EP em vinil cor-de-sangue tem uma capa desdobrável que se transforma num impressionante cartaz, feito por José C. Mendes, que consegue cumprir o que o briefing da banda: psicadélico e sexy do Stoner Rock, uma piscadela ao passado Hard'n'Heavy mas com a contemporaneidade q.b. para o projecto ser Retro. O Designer percebeu e fez um bom trabalho. A banda é que se engana a si própria porque de sexy nada tem, psicadélico muito pouco, pisca mesmo para o passado confundindo o Hard dos anos 70 com o lado light do Grunge dos anos 90. Tendência essa que vai piorar no álbum de estreia - aliás, a melhor faixa desse álbum é justamente uma música das sessões deste EP que não entrou - mas por enquanto na rodela vinilica vermelha ainda não é grave. Ouve-se bem, o primeiro tema até nos apanha e o objecto é giro! Mas voltando à gastronomia tradicional: trinca-se uma fatia e não partimos os dentes, afinal era só uma... fava.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Poststressthing (2/3): discos



Continuando a saga dos artefectos recebidos nos últimos meses, para dizer a verdade neste acaso, apenas durante a Feira Laica:
- Ovoo (ed. de autor; 2010) de Felipe Felizardo é um CD-R limitado a 100 cópias, de uma improvisação do Felizardo em Abril deste ano na ZDB dentro da lógica Drone / guitarra e voz, em que existe uma tentativa cosmogónica que se concretiza em 30 minutos de deambulação hipnagógica que pode lembrar obscuros projectos ambientais da Suécia por exemplo. Não sei se foi por este caminho que o Filipe tocou na Feira Laica, seja como for, para quem gosta Do Inexplicável E Do Estrangeiro é favor de pedir o disco no myspace dele.
- Share the fire (Raging Planet; 2010) é o segundo álbum dos Murdering Tripping Blues é um grande álbum de Rock para quem ainda acreditar em Rock. Bem gravado, com potência orelhuda, energia suada e até alguns experimentalismos em doses homeopáticas. Há alturas que a voz lembra Mark Lanegan noutras que é um gajo português a cantar em inglês, noutras outra coisa qualquer de referência... Mas a pica deste trio perdoa todos os defeitinhos do Rock da Aldeia Global. Olha! a Raging Planet descobriu que a contra-capa dos CDs são melhores para capas - como os CD's dos Melvins e a rapaziada Man's Ruin. A pintura da Ana Batel fica bem assim...
- Old Age (Skinpin; 2009) dos norte-americanos The Pope... marca o fim das edições da Skinpin - por cansaço, vulgo, «já ninguém compra discos»... o que significa que ainda por cima tive de digitalizar a capa invés de a encontrar por aí, na 'net. Ainda por cima a capa é feia! Mas pior ainda é a banda que é feia: parecem os Marretas a fazerem Noise Rock. Grande barrulheira rock'n'rolesca com ruído cheia de interlúdios meramente Noise para picar-miolos. Dão-lhe bem os sacanas! Foi bem escolhida a banda para o catálogo da Skinpin mas Kaput! Agora não há uma editora portuguesa de Rock contemporâneo...

sábado, 9 de junho de 2012

Eu quero que o Fado se Foda! (mas os portugueses são mesmo saloios!)

Português ou não, o mundo do Pop desde os anos 90 que insiste em criar "dream teams" para fazerem discos, filmes, livros, etc... Como se a soma de nomes sonantes possam melhorar um produto na maior parte das vezes débil desde a nascença. Se é verdade que um encontro inesperado entre Faith No More e Boo-Yaa T.R.I.B.E. é capaz de criar uma bomba já Rammstein com Marilyn Manson é uma redundância triste. Em discos, seja de bandas de Hip Hop seja de Metal, tem sido uma procissão e convidados especiais que entram para nada acrescentarem à música. Servem apenas servirem de arma de marketing, para manter as figuras velhas em notícia sem terem de fazer nada de especial, para projectar os novos projectos que precisam de publicidade dos velhos, tudo isto colocando os fãs à espera de algo surpreendente, que acaba por não acontecer. A maior parte nem dá conta da fraude porque ficam satisfeitos em ver os seus "heróis" em situações diferentes.
Todos fazem isto... já nem admira ter mais um vocal do Adolfo Luxúria Canibal numa treta qualquer ou algo do tipo. Estas três edições partilham estas ideias não todos da mesma forma e nem todas com resultados iguais.

Cabaret Portugal (Necrosymphonic / Chaosphere + Helloutro + Raging Planet + Raising Legends; 2012) de La Chanson Noire é o pico de como neste país se consegue fazer uma saloiada sem sentido e oportunista. Ao contrário de outras acusações às produções portuguesas neste blogue, há que dizer no entanto que La Chanson Noire (um tipo apenas) não sofre de falta de pica nem é um tipo calmo! Desenvolveu um projecto com alguma originalidade - pelo menos para este canto europeu - um "cabaret rock" em que a sua voz e piano são mais do que suficientes para entreter as hostes. Diria que o projecto em si é "arriscado" porque sendo um projecto solitário, não poderá partilhar ou esconder a vergonha com outros elementos da banda. Assim, só resta ao Chanson Noire "ou vai ou racha", o que lhe deve ter dado pujança para "ir" e "não rachar". Muito mau seria se não conseguisse o assumir o papel em que se colocou. Não há forma de tirar crédito à essência do projecto. É de se tirar o chapéu porque são poucos os artistas ou músicos portugueses que o conseguem fazer.
Mas falha nesta edição - e apesar de estar sozinho leva outros atrás - que é um livro de prosa e fotografia com um CD de música. A ideia de base do livro é o jogo surrealista do "cadáver-esquisito" em que atirou "frases" (títulos de futuras músicas suas) a vários criadores para gerarem textos e fotografias em volta delas. Chanson por seu lado fez músicas. No caso da parte literária conseguiu reunir uma "dream team" bastante curiosa que se divide entre os "suspeitos do costume" quando pensamos em "Darkismos" e que vão desde figuras "underground" como Gilberto de Lascariz ou Hyaena Reich até malta famosa como Fernando Ribeiro (Moonspell), Adolfo Luxúria Canibal e David Soares, e um segundo grupo de gente inesperada como o "rapper" Chullage ou duas mediocridades mediáticas como Nuno Markl e Fernando Alvim. Os resultados diferem como se podia esperar, a maior parte dos resultados são fáceis de esquecer com excepção de David Soares que até inventa um falso ritmo "cadáver-esquisito" sem que ele esteja ipso facto a participar num. Chason Noire arrotou apenas frases, os autores não andaram a continuar os textos um dos outros («da maneira que deseja, porém, dobrando o papel para que os demais colaboradores não tenham conhecimento do que foi escrito.»). Escusado dizer que o Fernando Alvim é um imbecil seja ao vivo na TV seja em papel impresso e se o Chason Noire gosta de brincar com a "iconoclastia" e o "kitsch" de Portugal, não conseguiu cozinhar esta caldeirada. Por um lado ficamos pelos clichés do "Gótico" com as habituais cabeças de porcos, campas de cemitérios e bonecas antigas, e por outro meia-dúzia de bocas a Portugal sem conseguirem ser profundas. O som entre o cabaret, a euforia dos Muse e a música de telenovela dos anos 90 não consegue ser ser subversiva - suponho que o autor gostaria de usar o Pop para "minar por dentro" mas só consegue ser azeiteiro. Não há glamour porque sentimos vulgaridade por todos os poros - essa vulgaridade também elimina o "choque" da mensagem libertina num mundo há muito habituado a imagens S/M, swing, etc... As composições repetem-se bem como a forma de cantar. Investigando na 'net, houve discos dele mais interessantes do que este, apesar de o músico apontar este como o derradeiro produto.
Gosto de dizer que cá em Portugal só gostamos das pessoas quando elas estão na merda, e quando um gajo tenta sair dela gostamos de o trazer de volta ao caldo de coliformes fecais. Eu gosto de pensar que sou uma excepção à regra - fico feliz pelo sucesso dos outros e o catano - mas o Chason Noire vai achar que não.Resta dizer que tenho muita pena...

Apesar de também colaborações inesperadas - David Soares (outra vez), o Chanson Noire (olha!) ou Fuse do grupo de Hip Hop Dealema  - neste quarto álbum dos Holocausto Canibal, Gorefilia (Raging Planet + Raising Legends; 2012) - pouco adiantam em alguma alteração do som da banda. Estamos perante Death Metal brutalizante de serial-killer Gore pornográfico, que é aliás um sub-género do Death Metal. Nada de novo por aqui, basicamante todas as letras são sobre "quero foder essa vagina toda gangrenosa desse teu cadáver infecto" sejam escritas pela banda seja pelos convidados - ei, isto é Death Metal e não um recital de poesia, meu!
Num lado ou noutro há algumas diferenças de som no típico Death (género e/ou banda), como por exemplo o recital dramalhão de Fuse (que parece ter sempre os polegares enfiados no anús), a parceria de Miguel Newton (Mata-Ratos) resulta numa correria Hardcore e há alguns "glitches" a lixar o disco - mas neste último caso trata-se do humor de merda da banda que os Holocausto Canibal habituaram nas suas produções. Para 15 anos de carreira faltam os tomates inchados de sangue para convidarem os Stealing Orchestra para os remisturar como fizeram no segundo disco, Sublime Massacre Corpóreo (So.Die.Music / Division House; 2002). Mas quem quer ouvir inovações no Death Metal? Aqui interessa atingir um orgasmo "porno-gore" conseguido pela falocracia do som e vaidade (do visual do disco que faz concorrência ao Fredox). Sobretudo são 15 anos de carreira a provar que se pode grunhir em português! Parabéns meus grandas javardolas!

Por fim, o disco de remisturas... Os Process of Guilt são actualmente venerados pela crítica especializada da cena Metal facção Doom / Sludge. The Circle (Bleak; 2012) é um tema do álbum anterior e é misturado neste CD por diferentes músicos como Sanford Parker, Echoes of Yul, DJ Mofo, Bosque, Sons of Bronson. Falta dizer que foi masterizado pelo grande monstro James Plotkin como manda o figurino - nos dias de hoje todos discos de Rock portugueses são "masterizados" por cromos estrangeiros, o que se suspeita a dada altura que também faz parte das manobras de marketing do "convidado especial".
Longe de completar um círculo musical - ou qualquer outro, assim me parece visto de fora - é sobretudo um exercício do que se pode fazer com um tema Doom transformando-o em algo"dronesco", Noise ou ambiental, sendo interessante as alterações da sua forma. Talvez seja um mau disco para começar a ouvir esta banda porque vamos parar a dimensões que não lhes são habituais. Este disco de misturas (como todos os de mistura aliás) é nitidamente para fãs embora não seja de todo inutil ou ofensivo à inteligência de quem os segue. Interessante apesar da sua eterna lentidão lusa...

sábado, 24 de dezembro de 2022

Lamento morto


Eis um CD que tem tudo para correr mal: o nome do projecto a lembrar os anos 80/90 com os "k" a substituir os "c" na disKoteca ou na Kafetaria, já para não falar do próprio título que traduz para português o género que é tocado - Dark Ambient. Sei lá, como hoje é noite do nascimento do porco nazareno, este Ambiente Negro (Raging Planet; 2022) d'A Kriatura até está a soar bem e até tem som de criancinhas a curtirem a vidinha. As peças musicais são flocos de Drone Giallo, sintetizadores à Goblin, pós-industrialismo (metal remix), temas curtos que isto não é para ficar em transe! Não tem o volume e dimensão de Beherit nem de Metadevice mas serve para o que hoje se quer: um Bom Natalixo!

sábado, 16 de março de 2013

Lado B? Mas que lado b?



A Tree of Signs : Salt
Capitão Fantasma  : Canção do Carrasco 
(Chaosphere + Raging Planet; 2012)




Jíbóia (Lovers & Lollypops; 2012)

Eis três discos cuja única coisa que partilham é o facto de serem editados em vinil e ocuparem apenas uma das faces do disco... sim, é isso mesmo, só há um "lado A" ou se preferirem, uma vez que deixa de fazer sentido escrever "lado a e b", o que há é um "lado gravado" e outro não.

Na Era do Bandcamp para que raios quer uma banda ser lançado por uma editora fonográfica? Uma editora para gravar quando qualquer música consegue gravar em casa? Para lançar discos que não se vendem? Para lançar discos de poucos exemplares para meia-dúzia de fetichistas de discos físicos? O Bandcamp permite as bandas colocarem música para se ouvir gratuitamente, para descarregar gratuitamente ou não, e já agora ainda se pode vender objectos físicos (discos em vinil ou CD). Teoricamente ter uma editora pouco interessa às bandas nos dias de hoje no entanto! No entanto muitas das bandas underground pagam aos editores para as lançar - não sei se é aqui algum dos casos, acho que não acontece com nenhuma delas - isto porque uma editora ajuda naquilo que os artistas não sabem ou são incapazes de fazer, que é promover e distribuir o seu próprio disco.

O que significa que nos dias de hoje, o trabalho de um "editor" esteja em risco de desaparecer porque não pode fazer lá grande coisa quando é a própria banda que lhe está a financiar a empresa (quem vai mandar numa situação destas? quem paga a conta afinal?) e porque os artistas não parecem saber "editar" o seu trabalho. Esta última questão é mais ou menos grave, significa que os músicos ou artistas não conseguem ter uma visão do que deve "sair" ou "entrar" no seu trabalho quando exposto publicamente, ou não tem confiança em si próprios para arriscar no formato certo ao qual a sua música deveria se materializar.

Se incluirmos as restrições orçamentais - convenhamos que nem a banda nem a editora sejam ricas - vamos assistir a estas deformidades que temos aqui presentes. Gravar um disco em vinil porque é "cool", é uma espécie de vaidade - "o vinil voltou" é o chavão que se aplica. O que é lamentável é que estas bandas não tiverem nem coragem nem vontade de fazer a coisa como deve ser, como por exemplo editar os discos de 10" (que é mais caro que fazer um maxi de 12" mas muito mais sexy! Vide Çuta Kebab & Party) ou fazer mais músicas para ter dois lados, ou convidar outra banda para fazer um split. Na produção musical portuguesa vive-se um estranho e renovado solipsismo e confusão mesmo que se vivam estes tempos da crise eterna do "fim dos discos" e da crise económica. Adiante!

A Tree of Signs tem elementos ligados ao Black Metal português (Corpus Christii, Mother of Hydra) mas deixaram isso na prateleira para fazer um disco de Doom assim "soft", em formato de power trio com voz feminina que também toca orgão - soa mal escrever isto assim, bem sei. A gravação é limpinha como um cu de gatinho depois de lambido pelo próprio. Somos levados para um Heavy clássico que prefere ser ritualista do que demoníaco, talvez por isso que temos um meio-LP de cerca de 24m justamente para não interropermos a cerimónia para mudar de lado, né?

No segundo caso há ainda mais mitrice, além de só termos um lado gravado de um single 7", ainda para mais temos apenas um tema seguido pela sua versão instrumental - teoricamante para quem quiser fazer Rock'n'Karaoke. A capa é preto e branco sem atrair muito mas o vinil é vermelho sanguinário q.b. Tema Rock'n'Roll com laivos de Surf como sempre muito bem feito por estes veteranos que é impossível apontar defeitos. O disco serve para alimentar o culto envolta da banda... Acho que vou comprar um leitor mp3 depois disto!

Jibóia é a revelação de 2012! E será de 2013 agora que há finalmente disco! Depois de ter tocado em toda a sala de espectáculos, bares, teatrinhos e espaços exóticos (hoje toca num restaurante Kebab no Porto!!! vão vê-lo CARAGU!!!), finalmente saiu o maldito disco - verdadeira saga exaustiva para o encantador de serpentes Óscar da Silva. Jibóia é um "one-man-band" que usa guitarras digna do Rock turco e beats sujos de um Omar Souleyman (embora num dos temas vêm à cabeça o House manhoso do Cães de Crómio, tema Techno dos Mão Morta do álbum Vénus em Chamas). É portanto um verdadeiro apetitoso caldeirão da Aldeia Global que merecia uma capa decente e um Lado A. Vale pela música, o objecto temos tantas dúvidas como os outros acima referidos, shame on the nigga...

sábado, 17 de junho de 2017

Cego pelo sol


Se os Pink Floyd ouvirem este mini-LP vão-se cagar todos. Nesta década os portugueses já sabem o que é Doom ou Sludge e seguem em frente como é o caso dos Wells Valey cuja a estreia deixou-me indiferente mas com este The Orphic (Chaosphere + Bleak + Raging Planet; 2017) já se pode dar o título de "disco metal português do ano". Tal é dinâmica e peso que o disco transmite pela psicadelia (sim, tem uma versão de um tema dos Floyd), Post Black, ruído e pára-arranca, que mostra que lá porque se faz este tipo de música não se precisa ser um lobotomizado. O laranja do vinilo indica que estamos em zona radioactiva e quem tocar nisto irá morrer de cancro, talvez seja melhor ouvir na 'net onde o som não terá o mesmo impacto que pela via analógica... Eu preferi o vinilo mas vocês é que decidem como querem ouvir este monstrinho!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

XVI Feira Laica


cartaz de Salão Cauboi

Nos jardins da Bedeteca: concertos, segunda mão, workshops de tipografia e claro editores independentes e artistas gráficos: A Estante, Ana Oliveira, Associação Chili Com Carne, Atac, Averno, zine B74, Blam Blam + Toys Are Evil, Dr. Makete, zine É fartar vilanagem + Dedomau + Antónia Tinturé, grupo Entropia, Fade In - Associação de Acção Cultural, discos F.Leote + Ana Menezes, Os Gajos da Mula + revista Detritos, Imprensa Canalha, Mike Goes West, Mini Orfeu, MMMNNNRRRG, autor Nevada Hill (EUA), Noori, Oficina do Cego, Opuntia Books, Pedranocharco, Quarto de Jade, Raging Planet, Reject'zine, Ruru Comix + Latrina do Chifrudo, Soft Porn Coloring Book, Thisco e zine Znok.

Novidades editoriais:
- Comboio da Noite (Mike Goes West), serigrafia de Jakob Klemencic
- Detritos 04, revista com o tema Terror / Terrorismo
- É fartar vilanagem! #3, zine de Alexandre Esgaio
- Grimm Portraits of Doom (Ruru Comix), zine de Conde Rudegrarrr
- Mass #3, zine de Nevada Hill
- O Pénis Assassino (MMMNNNRRRG, 2ª edição), livro de bd de Janus
- Putan Club (Mike Goes West), serigrafia de Igor Hofbauer
- A Segunda Vida de Djon de Nha Bia (Chili Com Carne), romance de Nuno Rebocho
- serigrafia de João Chambel (Mike Goes West)
- Simplesmente Rudolfo #1 (Ruru Comix), fanzine dedicado ao Rudolfo
- Soft Porn Coloring Book, zine de ilustração
- Souffle au Coeur, serigrafia de Miguel Carneiro
- To A stranger (Opuntia Books), graphzine de Tommi Musturi

Concertos:
Sábado:
Filipe Felizardo + Rudolfo nos jardins da Bedeteca de Lisboa durante a tarde;
Nevada Hill (violino + electrónica) com Pedro Sousa (saxofone), Nuno Moita (electrónicas) e Gabriel Ferrandini (bateria + percussão) na loja Trem Azul às 22h. DJing: unDJ MMMNNNRRRG (a confirmar)
Domingo:
Filho da Mãe + Nevada Hill (violino + electrónica) com R- (electrónicas), Travassos (electrónicas) e Manuel Gião (guitarra) nos jardins da Bedeteca durante a tarde.

sábado, 3 de julho de 2010

Perguntas sem respostas...

[f.e.v.e.r.] : Resurrection (Raging Planet; 2009)

Um single, "um lado b", remisturas do tema-single, 4 postais e uma faixa multimedia (que não consegui ver). Tudo isto empacotado numa caixa de DVD (nunca percebi porque os DVD's tem caixas maiores que os CD's...) e prontos! Mais uma peça marada para se tentar compor o puzzle [f.e.v.e.r.], banda de "Electronic Dark Rock" que tem das carreiras menos convencionais no que diz respeito a gravações de discos. 
Começaram com dois EP's, um álbum de remistura, colaborações aqui e acolá... até finalmente gravarem o primeiro álbum. Agora, voltaram à fragmentação em que este CD é exemplo. Pouco adiantam ao que já construiram, ou seja, Rock Electrónico orelhudo que se ouve bem. Claro que quando se faz 5 remisturas do mesmo tema poderá aparecer um certo enjoo, mesmo se puxa mais para o Rave (N3xu5) ou mais para o Electro Minimal (Malaguetta).
Mas o que é mais estranho nesta carreira da banda é tentar perceber, pelo facto de se meterem em todas e estarem sempre a inventar "conceitos", é se tiram mesmo proveito disso? Há mesmo uma comunidade que se interesse por aquilo que a banda faz? Alguém se interessa por todos estes artefactos que vão deixando? Existe alguma estratégia nesta dispersão do percurso discográfico? É para ir envenenando os vários segmentos de mercado? Ou apenas existe o acaso nesta vida da banda?
Mais uma vez seja como for, a banda safa-se bem em pequenos formatos porque nunca chega a irritar - graças à voz demasiada plástica Pop, única mácula que sinto neste grupo... Ainda bem que demoram imenso a gravar LP's!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dossiê 2010 : Fanzines

Não sei se o sítio www.bedeteca.com terá futuro, para já é verdade que o habitual Dossiê anual do Estado na Nação da BD Portuguesa nem está funcionar mais... Como a papa já estava feita, vêm para aqui a publicação deste "relatório" sobre os Fanzines de BD de 2010. Podem (re)ler este outro texto que repete algumas coisas e acrescenta outras.

Talvez já tenha mostrado o optimismo no blogue da Chili Com Carne, numa onda de “Mensagem do Presidente para 2011”. Aqui a análise é retroactiva, menos ampla, mais focada e isenta mas os sintomas de optimismo sentem-se – por ter sido escrita pela mesma pessoa, claro está. Aliás, é preciso mesmo olhar para o passado, neste acaso, em 12 meses para perceber que aconteceu muita coisa, tanta que a cabeça ficou tão cheia e insensível que se esqueceu da actividade dinâmica. Foi bom rever o que aconteceu em 2010 ao fazer a pesquisa para este Dossiê.

Com a decadência das grandes estruturas comerciais e institucionais são os “pequenos” que suportam e criam novas estruturas. Este ano faço questão até de fazer uma listagem em vertical para mostrar a força da coisa.

Lista a) Começamos pelo básico! Continuaram a editar:
- Reject’zine (de Andreia Rechena)
- Opuntia Books
- Imprensa Canalha
- Gambuzine
- MMMNNNRRRG
- Associação Chili Com Carne
- El Pep
- Zona BD
- Le Sketch
- Plana Press
- Boletim CPBD
- Kingpin Books
- É Fartar Vilanagem! (de Alexandre Esgaio)
- autora Jucifer (Techno Allah)
- Pedranocharco
- Venham +5
- Toupeira Comix
- colecção Filme da minha vida
- autor Rudolfo (vários títulos)
- Tertúlia BD’zine
- Cleópatra (De Tiago Baptista)
- Znok (de Filipe Duarte)

Lista b) Regressaram:
- Polvo
- Kzine

Lista c) Agora sim, o importante (já explico). Apareceram novos projectos:
- Yoshi, o puto dragão (edição de autor e reedição profissional pela Raging Planet)
- Apupópapa
- Soft Porn Coloring Book
- B74
- Thou the Latrina spoken
- Sou daquelas (de Sílvia Rodrigues)
- Fígado da República (de José Smith)
- dois zines de David Campos
- dois zines de João Ortega
- Intro Espectro (de Tiago Araújo)

A Lista a) mostra uma continuidade de trabalho que insinua uma “profissionalização” dos projectos como é o caso da MMMNNNRRRG, El Pep, Zona BD, Plana Press e Kingpin Books – esta última nitidamente é uma casa comercial que coloca problemas em estar aqui a ser metida mas tendo em conta a pequena expressão no mercado faz sentido estar aqui.
No meio da lista a biblio-biodiversidade domina em objectos e objectivos: do carácter mais coleccionista do Boletim CPBD ao lúdico Le Sketch, do fetichismo dos Opuntias Books à necessidade de exteriorização artística de Andreia Rechena, do conteúdo programático da colecção Filme da minha vida (da Associação Ao Norte) ao institucional de Venham +5 (editado pela Bedeteca de Beja)... Há de tudo para todos neste universo de edição independente em que misturo aqui fanzines, zines, livros de autor, livros impressos em tipografia ou em digital, colecções organizadas, números únicos, etc… Ao acrescentarmos os debutantes da Lista c) ficamos ainda mais ricos: zine/CD contra o Papa, Manga Cosplay-Metal, pornografia para colorir ou bds de continuação a seguir (mesmo!) com atenção.
Duas notas para a lista b) a Polvo que em tempos foi uma editora “média” (para a “média portuguesa”) e detentora de um catálogo histórico, inclui-se nesta análise porque suspeito que o capital da empresa, as tiragens dos livros e a sua projecção comercial está reduzida actualmente a quase qualquer outra iniciativa privada de “edição independente”. O Kzine é um fanzine dedicado à Manga (bd japonesa comercial).
Como repararam a Lista c) além de aplicar novidades em termos de conteúdo também mostra pujança em quantidade, isto se comparamos em relação com os últimos anos – a queixa mais bem registada está no Dossiê de 2007.
Durante os últimos anos, os zines em papel desapareceram gradualmente – ou melhor perderam a força ou foram substituídos pela febre “graphzine”. Em 2010 num “zeitgeist” qualquer apareceram não só novos títulos e novos autores, em que modéstia à parte, deve-se juntar o esforço da antologia Destruição (Chili Com Carne) que reuniu 15 novos talentos da bd portuguesa. Esta lufada de ar fresco há muita que era esperada dada ao fim do ciclo produtivo da geração dos anos 90. A questão que se colocava era se a bd de autor tinha desaparecido de completo? Que não havia novas pessoas a criarem bd de autor?
Talvez até tenha acontecido isso mas estão aqui as novas raízes que esperamos ver florescer em 2011 e para a frente. Quem sabe talvez do panorama desolador dos últimos anos venha a dar frutos como aconteceu há 20 anos atrás quando só havia Meribérica-Liber, Jim Del Monaco e o Clube Português de BD.

Internacional:
+ do mesmo, isto é a Aldeia Global já é uma Cidade em que não estranha os estrangeiros que entram nos seus terrenos… Miguel Carneiro e Marco Mendes publicados na revista eslovena Stripburger (Mendes duas vezes!), André Lemos no Lazer Art’zine (Bélgica), no ZI-NE (Roménia), na antologia Gazeta (EUA) e provavelmente em muitos mais sítios mas que não conseguimos seguir todos; José Feitor, Marcos Farrajota, Pedro Zamith e Pepedelrey no calendário brasileiro Pindura 2011, vários autores da Chili Com Carne no zine espanhol Combate (Ediciones Valientes), Teresa Câmara Pestana na La Bouche du Monde (França) e ainda um livro de autor de Marta Monteiro pela Café Royal (Inglaterra). Também houve presenças em festivais internacionais como o Crack (Itália) e Alt Com (Suécia), para além de participação de André Lemos nas exposições “Leaf and Signal” e “Not Tex Not Mex #1” (ambas nos EUA). Seis criativos da Chili Com Carne fizeram uma “tour” pela Europa fora, iniciativa inédita que passou por Espanha, Itália, Eslovénia, Sérvia, Áustria, Alemanha e França. Estas “férias peculiares” irão gerar um livro de viagens até agora no prelo.
Mais autores estrangeiros das veias alternativas que visitaram Portugal: o esloveno Jakob Klemencic no Festival de BD de Beja com o projecto europeu Greetings from Cartoonia, o croata Igor Hofbauer para duas exposições de sucesso em Lisboa e Beja, o texano Nevada Hill para a Feira Laica de Verão, e o sueco Mattias Elftorp, o francês Albert Foolmoon e o espanhol Martin Lopez Lam na Feira Laica de Natal. E claro, ainda tivemos um ícone da bd alternativa, a Dame Darcy que passou por Beja e por várias datas nortenhas.

“Profissional”
Apareceram duas novas associações, a Oficina do Cego dedicada à arte de bem imprimir – tendo já lançado dois números do jornal homónimo – e a Tentáculo que se dedica à publicação da antologia Zona BD. São obviamente associações sem fins lucrativos mas que dão um cunho mais profissional e de continuidade a projectos de edição. São mesmo bem-vindas!
A MMMNNNRRRG comemorou 10 anos, uma longevidade a respeitar para o tipo de material que edita e pelo ódio que lhe é alvo pelos agentes da “cena”. Talvez por isso tenha ido para o Porto lançar o Pénis Assassino, trabalho Janus feito em 2001 mas que só em 2010 alguém teve os “tomates” para o editar. Aliás, para uma editora odiada até houve “amor” logo no início do ano quando lhe foi atribuído o Prémio Titan para o livro Já não há maçãs no Paraíso (2007) de Max Tilmann (Tiago Manuel).
A Chili Com Carne e a El Pep ganharam um prémio em Itália para melhor fanzine (3º prémio) com o Seitan Seitan Scum (Mesinha de Cabeceira #22) no evento Slow Comics. Só o Festival da Amadora é que o fenómeno da edição independente é que lhe passa ao lado, não admira que este ano tenha estado às moscas…

Exposições
Em compensação, apesar da filosofia “easy come, easy go” que afecta as galerias / lojas / espaços lisboetas, as exposições “O Último Fósforo” (colectiva internacional vinda da Estónia), Mike Diana (recriação da exposição de 2008) e Igor Hofbauer (cartazes) na Artside estiveram cheias. A galeria de artes urbanas já fechou entretanto… Ao contrário das galerias portuenses Dama Aflita (ilustração) e Mundo Fantasma (bd) que são estáveis e mantêm uma programação exemplar. Que durem todos os anos que quiserem! Voltando a Lisboa. Porque sou lisboeta e tenho sempre Esperança que esta cidade melhore, as lojas de música Matéria Prima e Trem Azul deram o ano passado os primeiros passos no sentido de terem patentes exposição gráficas nas suas instalações. Se fosse cristão até acendia duas velinhas…

Extras
Na falta de espaços para divulgação da edição independente, a Associação Chili com Carne promoveu várias sessões sobre o assunto na Casa da Achada. O PEQUENO é bom! tratou de lançamentos, discussões sobre zines, música e animação DIY. Acabou o verão e teve se retirar, talvez volte em 2011.
Nem tudo o que vem da ‘net é mau – pelo menos ao que diz respeito à bd – como se provou este ano quando Simples Alquimia entrou em linha em http://spiraltap.net/simplesalquimia, aplicando as teorias que Scott McCloud apresentou em Reinventing Comics (2000) sobre a expansão da forma narrativa da bd pelo espaço infinito das páginas Web. Demorou 10 anos até alguém fazer a coisa com o deve ser. Parabéns ao Diogo Barros.

É caso para escrever com orgulho e expectativa o clássico “(continua…)”.

domingo, 20 de outubro de 2013

À sombra de Deus



Sacred SinThe Shades Behind (Glam-O-Rama + Chaosphere + Raging Planet ; 2013)

O bom trabalho de recuperar o património Metal nacional continua nas mãos de Luis Lamelas, agora chegou a primeira demo (de 1991) e primeiro EP (de 1992) dos Sacred Sin a serem reeditadas em vinil na série The Kult Series. Acompanhado com fotografias da altura e um texto sobre a banda e a sua influência nesses tempos pioneiros de Metal realmente pesado e da edição underground nos anos 90, o disco reproduz justamente esses objectos raros do Metal em Portugal. Os Sacred Sin são Thrash pesado já no caminho do Death sem marcar muito musicalmente, só que numa altura que há mais bandas per capita em Portugal perfeitamente inócuas e fáceis de esquecer passados poucos minutos, seja de que género ou sub-género for, recordar uma banda nacional que seja seminal não é um acto tão absurdo como isso. Neste caso até muito antes pelo contrário porque como banda portuguesa foi das que teve mais momentos de glória antes do fenómeno Moonspell. Que venham assim mais discos de culto!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Como é possível?

v/a : Metropolis Club 79-89 (Chaosphere + Metropolis Club + Raging Planet; 2009)

Porque odeio tantos os 80's? Simples... porque há 30 anos que oiço os 80's e parece que ninguém tem juízo para achar que em qualquer discoteca ou festa ainda há razões para ouvir a pior música dessa década. Se soubesse nunca tinha começado as Xungas Partys quando os meus pais deixavam-me em casa nos meados dos anos 90. Por alguma razão absurda - e esta colectânea colabora nisso - instituiu-se que os 80's não foram uma década rica em sons. Que não houve grandes evoluções no Punk, no Dub, no Metal (Slayer? por favor!!!), Hip Hop, Industrial (ninguém conhece Foetus?), Indie... Ou seja, querem uma visão limitada de que nesses tempos só houve Pop Xunga (Kim Wilde, Europe, etc...) ou Rock Dark (Cult, Sisters of Mercy, etc...).
Se o projecto até tem a sua piada ao pedirem a bandas nacionais para versionarem o que quiserem do período de 1979 a 1989, a verdade é que fica tudo a fazer a versão tró-ló-ró que nada acrescenta (CineMuerte, Mofo, Secrecy, Tarantula) ou a versão javardada óbvia (Twenty Inch Burial acelera bem o rabo e as mamas à Samantha Fox!), começando pelos Moonspell que dão um tiro nos pés ao fazerem de Love Will Tear Us Apart (Joy Division) - música que já mete nojo porque até nos supermercados Continente se ouve - uma versão tão asquerosa que parece um ensaio de uma banda de liceu. E quando disse começando, é porque o CD abre com os Moonspell... depois disso é o bordel cheio de gonorréia de mediocridade e putedo "kitsch" do pior.
Safam-se os Darks, curiosamente... Os [f.e.v.e.r.] com uma complexa versão de Cure, os góticos Phantom Vision repescam Lene Lovich (quem? exacto! seja quem for não é óbvio e a versão é solida!), N3xu5 que reduz os Sisters of Mercy a Techno Gó-Gó (é nestas alturas que é verdadeira a afirmação: "mais vale ser estúpido do que não ter tomates") e La Chanson Noire que transforma Hollow Hills (Bauhaus) num piano mais voz a caminho do cabaret - interessante, resta saber o que poderá reservar mais esta "Canção Negra" de futuro...
Com este disco é de chegar à conclusão que pior que a "música dos anos 80" só mesmo a da década passada porque apresenta-se sem imaginação, cheia de tiques e profissionalismos que só a levarão ao grandioso buraco do esquecimento. Um buraco imundo e profundo tão funcional como da mesma forma que nos impingem que os 80's foram os Frankie Goes to Hollywood*!
Por fim, resta dizer que o grafismo do CD está ao nível do "Fido Dido Apresenta Mega Remixes'97". Estamos mesmo na discoteca da província portanto...

*Por acaso um versão Doom do Power of Love feita por uns Desire teria ficado giro mas enfim...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não resisti ao mash-up



 Joana Sá & Luís José Martins : Almost a Song  (Shhpuma / Clean Feed ; 2013)
Thormethor : Dissolved in Absurd  (Glam-O-Rama + Chaosphere + Raging Planet ; 2012) 

Há tanta música neste planeta que nem temos tempo para ouvi-la como deve ser, da minha parte assume mesmo isso, muitas vezes meto dois discos a tocarem ao mesmo tempo. De vez enquando dão mash-ups porreiros como é o caso destes dois!!!
Thormethor é uma das bandas portuguesas seminais do Death Metal, ou pelo menos a primeira a gravar oficialmente – sem ser demo-tapes – em disco. Recentemente, o Luis Lamelas decidiu fazer o seu sonho de Peter Pan e recuperar uma série de bandas de Metal para vinil – um bocado como já tinha acontecido com o Rock dos anos 50/60 e o Prog nos últimos anos. Dito e feito, já saíram os dos Thormethor e dos Moonspell (quando estes eram barulhentos do Black e não os pussys que são agora do Goth). 4 temas retirados em formato maxi 12” mostram que os Thormethor eram mais do que uma banda Death portuguesa – um feito tão extraordinário como ser a primeira banda dubstep do Luxemburgo – mas uma banda com ideias e força (o rótulo Death Prog fica-lhes bem!), em que claro sentimos influências de Sepultura e de Carcass, man, estávamos em 1990! Os gajos na altura devem ter pago um balúrdio na Bimotor para ouvir o LP Beneath the remains, por exemplo... Boa (re)edição!!!
Um dos temas dos Thormenthor tem um pianito xunga como "Intro" o que vai dar muito bem com o CD da Sá e do Martins. Estes tocam uma série de instrumentos mas com prominência para o piano e guitarra clássica, e se esperam daqui a calmaria típica dos portugueses ou Indie Rock dos Pinhead Society (Sá fez parte) ou algum terror Deolinda (Martins faz parte), esqueçam. As peças invocam música de câmara cheia de silêncios e reflexão só que… de repente entra em drones barulhentos que estragam o ramalhete estético todo – e ainda bem! Um mimo este disco, um mimo!
De resto, é pô-lo a tocar, passados alguns minutos é de por o de Thormethor ao mesmo tempo – talvez um bocadinho mais alto que o de Sá & Martins. Acaba o lado A, devagar se muda para o lado B até acabar. O de Thormethor acaba mais cedo e o de Sá & Martins dão o “Outro” necessário... perfeito!