Mostrando postagens com marcador Mia Couto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mia Couto. Mostrar todas as postagens

sábado, 23 de maio de 2015

EM ALGUMA VIDA FUI AVE




Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.

E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.

Vivo a golpes de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.

Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.

Mia Couto,
in  Lembrança Alada

sexta-feira, 1 de maio de 2015

MOA COUTO



Olhei o poente e vi as aves carregando o sol,
empurrando o dia para outros aléns.

MIA COUTO
in "O último voo do flamingo" 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MIA COUTO



Sabes qual é a diferença entre borboleta e gente?
A pessoa tem alma, borboleta é alma.

- Mia Couto


domingo, 26 de janeiro de 2014

IDADES


No início,
eu queria um instante.
A flor.

Depois,
nem a eternidade me bastava.
E desejava a vertigem
do incêndio partilhado.
O fruto.

Agora,
quero apenas
o que havia antes de haver vida.
A semente.



Mia Couto
(in idades, cidades, divindades)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MIA COUTO



"O que faz andar a estrada?
É o sonho.
Enquanto a gente sonhar a estrada
permanecerá viva.
É para isso que servem os caminhos,
para nos fazerem parentes do futuro."

Mia Couto
in "Terra sonâmbula"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

NOITE ESCANDINAVA



Num instante,
o tecto se torna céu
e o escuro se torna leito.
A noite é escassa
para tanta saudade.

MIA COUTO,
in "Tradutor de chuvas"

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A ADIADA ENCHENTE




Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.


Mia Couto

sexta-feira, 13 de julho de 2012

TRADUTOR DE CHUVAS


Um lenço branco
apaga o céu.

A fala da asa
vai traduzindo chuvas:
não há adeus
no idioma das aves.

O mundo voa
e apenas o poeta
faz companhia ao chão.


Mia Couto

terça-feira, 1 de maio de 2012

IDENTIDADE


Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem inseto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço

Mia Couto
In Raiz de Orvalho