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sexta-feira, 11 de julho de 2014

DA CERTIDÃO DE NASCER




Nasci onde?
Nasci onde a geografia se faz de sentimento
Ali nasço
Ali nasço ainda.
Cada manhã.
Em cada manhã de medo.
Arremedo.
Degredo a degredo.
Em cada impulso, incompetência.
Na eterna e suave ironia do destino
de mais sentir que saber.
De saber
apenas sei
de quantas palavras
se faz a canoa de afetos.
Embora caminhe torto
por sonhos retos.
Muito aprendi
da palavra engolida em seco.
E da palavra abatida
por palavras de equívoco
e sutis alvenarias de cinismo.
Permaneço aqui
mesmo assim.
Nasço onde a geografia se faz de sentimento.
Entre princípio e fim de mundo.
Aurora a aurora.
Segundo a segundo.


Lindolf Bell,
in O Código das Águas

sábado, 8 de março de 2014

A MAGNÓLIA




Na noite a magnólia
no ramo a magnólia,
no jardim no ramo
a magnólia, a branca,
a chegada, a aconchegada
na noite, a magnólia
na rama do ramo, calma,
magnólia, doce óleo
na noite sem data, a magnólia
arde na noite sem data, a magnólia
brilha no pouso na noite,
na florescência de estar ali,
sem alarme, amarrada ao ramo,
a magnólia plena como um olho
aberto ou fechado ou derramado,
a magnólia na véspera, vespertina,
a magnólia no tempo.


Lindolf Bell
In Incorporações

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

XII




Quero viver esta terra como a árvore.
Frutificar a árvore como um tempo.
Purificar-me no tempo como o girassol
que do tempo tem a haste e o farol.

Quero a essência da essência,
a que fixa ao forte
para que o forte sobreviva.

Quero brincar neste beco como a roda
que se caminha
e se repete.

E repetindo é roda
e barca ao mesmo tempo
e coração que aguarda
e sofre morrer docemente.

Quero serenar a ternura
e distribuir o amor demasiado
em destino para toda multidão.


Lindolf Bell
In Ciclos

ANDORINHAS ESCREVEM NO AR




Guardo da infância
andorinhas escrevendo
no ar


Hoje
recolho ainda
andorinhas escrevendo
no ar


Andorinhas
não publicam
nem declamam
o que escrevem
no ar


Entendi a escrita minha
ao entender a escrita da andorinha



Lindolf Bell
In: O Código das Águas







quarta-feira, 16 de outubro de 2013

XI



O pássaro
conhece o horizonte.
A redondez
da terra.
E a primavera que anuncia
no canto solitário.
E na espera.

O pássaro não sabe
que eu sei, solitário,
atrás da vidraça
estas coisas que ele sabe.

Mas o pássaro
sabe de coisas
que nunca saberei
atrás das vidraças.


Lindolf Bell
In Código das águas