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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

EM VIAGEM



Pelo caminho estreito, aonde a custo
Se encontra uma só flor, ou ave, ou fonte,
Mas só bruta aridez de áspero monte
E os sóis e a febre do areal adusto,

Pelo caminho estreito entrei sem susto
E sem susto encarei, vendo-os defronte,
Fantasmas que surgiam do horizonte
A acometer meu coração robusto...

Quem sois vós, peregrinos singulares?
Dor, Tédio, Desenganos e Pesares...
Atrás deles a Morte espreita ainda...

Conheço-vos. Meus guias derradeiros
Sereis vós. Silenciosos companheiros,
Bem-vindos, pois, e tu, Morte, bem-vinda!
          

Antero de Quental,
 in "Sonetos"

sábado, 1 de setembro de 2012

EVOLUÇÃO



"Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,
Tronco ou ramo na incógnita floresta ...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo ...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo ...

Hoje sou homem - e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, na imensidade ...

Interrogo o infinito e às vezes choro ...
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade."

Antero de Quental