A Economia do Golo - Texto de Opinião

Replicamos o texto publicado na página "A Economia do Golo", da autoria de Vasco André Rodrigues:

"Rio Ave - Um Verdadeiro Atentado À Sua Dignidade!

Antes de qualquer outra consideração, importará, desde já, assumir que os problemas que advêm do match-fixing são dos mais difíceis de resolver no futebol mundial.

E minam, efectivamente, a confiança no jogo e nos seus intervenientes...

Ora, isso numa indústria, se assim podemos chamar, que vive da "incerteza" e do elemento aleatório, tal poderá ser conducente à morte do jogo!

Porém, não obstante isso, há um importantíssimo preceito que num estado de direito, como é Portugal, não pode ser olvidado e que passa que todo e qualquer arguido é inocente até a sua condenação transitar em julgado.

E, tal jamais poderá ser esquecido!

E este preceito tem de ser válido para quem se encontra a ser investigado por ter furtado um pacote de bolachas, como para os cidadãos José Sócrates, Ricardo Salgado, ou outro qualquer mediático!
E, aplicando ao futebol, tal tem de ser aplicado seja ao Benfica e aos seus dirigentes como ao Rio Ave e aos seus jogadores! Sem margem de qualquer concessão...

Efectivamente, nos últimos dias, após ter vindo a lume a questão que envolvia o clube vilacondense e os seus jogadores, rapidamente foi feito um juízo público sobre a culpabilidade dos intervenientes.
Certas publicações e certos meios audiovisuais apressaram-se a "queimar em praça pública" o clube. Fizeram-se primeiras páginas, como se quando o clube, ou outro menos mediático, ostentasse vitórias - e o Rio Ave até mereceria, atento ser, neste momento, talvez, o clube que melhor futebol joga em Portugal -também acabasse por figurar no galarim das manchetes.... ouviram-se especialistas já a prever as penas a aplicar... quase se linchou em praça pública os intervenientes... e algumas publicações de vão de escada chegaram ao cúmulo de afirmar que era essa a razão de Luís Castro ter abandonado o clube por não pactuar com o que ocorria.

Porém, em Portugal corre outro processo, ainda mais, mediático: o dos mails. Mails esses que foram enviados pelos serviços do tetra campeão nacional. Mails esses, que a serem verdadeiros, podem manchar indelevelmente o futebol português como o conhecemos.

Porém, das publicações que quase exigiram a automática despromoção do Rio Ave, nem uma palavra... nem uma manchete... e simples quadrados em páginas interiores, procurando sempre ressalvar princípios basilares de direito como o supra mencionado, e dando o benefício da dúvida.
Ora, sabemos que determinados clubes são mais apelativos do que outros... que a imprensa se rege por critérios editoriais em busca do lucro, mas... e esse mas é importantíssimo!

Mas, uma imprensa de um estado democrático jamais poderá perante dois casos de justiça tratar os suspeitos de modo diverso...quase absolvendo um e simultaneamente atacando outro, até a opinião pública estar contaminada e a verdade não ser a dos factos, mas a que foi impingida...

Quanto à realidade, aguardemos... os factos, enquanto correr o inquérito, estarão em segredo de justiça e, até ao momento, apesar de existirem arguidos, somos da opinião que a imprensa empolou a questão. Apesar das diligências de prova, as medidas cautelares aplicadas não parecem tornar a questão tão dramática como "foi vendida"... ou será que se os indícios levassem a um juízo de prognose de forte culpabilidade, como medida cautelar os jogadores não seriam proibidos de exercer a sua actividade, de modo a prevenir outros crimes?

A bem do futebol respeite-se o trabalho da justiça e não se façam juízos de valor e sentenças antes do tempo...além do Rio Ave não merecer, o futebol português ainda merece menos!

Vasco André Rodrigues"