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sábado, 8 de agosto de 2015

O POSTAL DA VARININHA

MARINA TAVARES DIAS
em

 OS MELHORES POSTAIS ANTIGOS DE LISBOA

«Fosse ou não pela notoriedade da sua imagem quase logotipo, orgulhavam-se do mester de vender. Desde pequenas, consideravam-no vocação. Seria o caso desta minúscula varininha fotografada por Paulo Guedes? Há quem a considere apenas mascarada, num qualquer carnaval por volta de 1900. Seja como for, é o mais celebrado postal da melhor série sobre costumes de Lisboa (Lisboa na Rua), o que equivale a dizer um dos melhores postais portugueses. Numa análise mais minuciosa (a partir do negativo original), nota-se indumentária idêntica - incluindo tecido utilizado - à da figura da esquerda. Provavelmente, o mesmo sangue nas veias, o mesmo sangue na guelra. O que quer dizer não se tratar de máscara, mas de encaminhamento. Dada a exiguidade da canastrinha, é de crer, contudo, que ainda não pregoasse...»

Raríssimo e muito valioso, este é um dos exemplares escolhidos pela escritora Marina Tavares Dias como fazendo parte das melhores edições cartófilas de sempre, no livro de 1995 «Os Melhores Postais Antigos de Lisboa»




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ainda as típicas varinas de Lisboa

Lisboa muda muito, após 1755. Os lisboetas, também. Mas a cidade do final do século XVIII e de todo o século XIX é ainda um imenso carrocel de costumes e de animados pregões. Símbolo do novo abastecimento, surgem, no século XIX, os grandes mercados cobertos. Pela madrugada, continuam a chegar, de carroça, os víveres cultivados nos arredores. São vendidos também de porta em porta: o leite, a hortaliça, a fruta, a criação. O século XIX vê também nascer a mais famosa figura das ruas: a varina de Lisboa.

gravura da Biblioteca Nacional


Fotografia 'carte-de-visite' 
do estúdio Solas


Fotografia de Joshua Benoliel


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

JOSHUA BENOLIEL por MARINA TAVARES DIAS





Conhecia meio mundo e tinha fotografado mais do que isso. Aparecia nas visitas régias, nos banquetes e nas inaugurações oficiais, nas comemorações, nos comícios e nos cortejos. Estava às primeiras horas da madrugada entre os pregoeiros da lota, de máquina fotográfica em riste, para imortalizar os pés descalços dos pequenos ardinas ou o esforço hercúleo das peixeiras nas descargas do carvão. Conheciam-no bem e à légua, abriam alas para que passasse, com os seus ajudantes e as toneladas de acessórios, facultando-lhe o ângulo ideal em que fotografava os tumultos duma greve ou os prantos por um assassínio. E havia uma frase mágica que Joshua Benoliel lançava sempre ao vento e aos circunstantes, na sua luta para captar o fugidio instante do retrato: “É para ‘O Século’! É para ‘O Século’!”



Retiremos hoje as aspas desse título, a própria evocação de um jornal centenário que morreu pelas ruas da amargura; façamos da História a ciência amoral que é; espraiemo-nos então nesta insuspeitada analogia: Joshua Benoliel dizia a todos a verdade mais pura e simples, com as suas palavras destinadas apenas, talvez, a que o deixassem passar. Ele estava, realmente, a fotografar para o século.



A herança fotográfica das cidades não é obra daqueles que julgaram estar a criá-la. A herança fotográfica das cidades é obra de contingências várias, determinantes do destino de cada pessoa e de cada espólio. Nunca saberemos o que se perdeu com o desaparecimento de “ateliers”, estúdios e casas centenárias onde, ao longo de décadas, muitos fotógrafos se dedicaram à recolha de imagens da tão celebrada “Lisboa na Rua”. Sabemos que, daquilo que chegou até nós, nada se compara com a vasta e talentosa obra de Joshua Benoliel. Para todos os efeitos, para todos os tempos, será ele o fotógrafo da Lisboa de sempre e do Portugal de 1900. Os nosso Atget dos pequenos misteres da rua, o nosso Nadar dos retratos célebres, a nossa referência no olhar remissivo sobre locais desaparecidos, personagens mortas, modos de vida agora incompreensíveis, eventos históricos dos quais teria ficado, apenas, a análise transfiguradora da palavra. Mas, frente a D. Carlos no hipódromo ou a D. Manuel no Parlamento, frente a Teófilo Braga no carro eléctrico ou a Sidónio Pais no gabinete, Benoliel montou o seu tripé e fotografou para o futuro, para o século. É dele a herança fotográfica portuguesa – se é que essa herança existe. Na árvore do seu estilo entroncaram muitos ramos e muitas escolas, e dela nasceram, depois, muitas análises e muitas investigações.



Joshua Benoliel, britânico e judeu de origem, nasceu em parte incerta, a 13 de Janeiro de 1873. Embora vários jornais o tenham dado como alfacinha de gema, alguns investigadores crêem hoje ter sido Gibraltar a cidade natal, hipótese essa que ouvi, em tempos, confirmada por um dos seus antigos assistentes, o fotógrafo Horácio Novaes. Não se sabe quando arribou à capital ou mesmo quando terá começado a fotografar. A sua primeira série fotográfica conhecida, para o jornal “O Tiro Civil”, é de 1898. Assina-a como “amador”. Nesse tempo seria ainda, de acordo com o investigador José Luís Madeira, empregado alfandegário. O seu primeiro trabalho “profissional” conhecido é um álbum de fotografias oferecido ao rei D. Carlos em 1903. Apenas por volta de 1906, em pleno apogeu da revista “Illustração Portugueza”, Joshua Benoliel se transforma no sinónimo de um género então emergente: a foto-reportagem. Contratado – inicialmente sem pagamento certo – pela poderosa empresa do jornal “O Século”, são-lhe então franqueadas as portas de quase tudo o que é comemoração régia ou recepção no Paço. Mas nem por isso Benoliel deixará de regressar à rua, à lida quotidiana da cidade popular, para captar aquelas que virão a ser, no futuro, as suas imagens mais famosas. E é na rua, entre barricadas e festejos, que a jovem República o irá encontrar. O fotógrafo das visitas dos monarcas estrangeiros, das gincanas reais na parada de Cascais, do jovem e recém-aclamado D. Manuel, transformar-se-á em retratista semi-oficial dos primeiros Presidentes portugueses.



Era o tempo em que, trabalhando com máquinas enormes e negativos de vidro, cada fotógrafo arrastava consigo um autêntico arsenal, o que dispunha muitos a largar um tema assim que dele julgavam ter extraído a imagem desejada. Benoliel, morador num andar alto da Rua Ivens, não se dava por satisfeito com uma só abordagem de cada assunto. A sua obra regressa ciclicamente aos mesmos costumes lisboetas e aos cenários importantes do seu tempo. Muitas vezes terá ido de propósito à Redacção de “O Século” deixar o equipamento, só para não ter de subir para casa com tudo aquilo às costas. O escritor e jornalista Rocha Martins – que para ele inventa o epíteto de “Rei dos Fotógrafos” – diz que, por altura da sua morte (em 1932), Benoliel tinha em casa cerca de 60 mil negativos, todos arrumados no corredor. Uma boa parte das fotografias que fizeram as reportagens da “Illustração Portugueza” foi dispersa (provavelmente vendida pelo filho, Judah, também ele fotógrafo) logo após a sua morte. Algumas dessas chapas (cerca de 4 mil) estão hoje no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. A Assembleia da República, o Museu de Marinha, o Automóvel Clube de Portugal, a Guarda Nacional Republicana e alguns arquivos particulares possuem também pequenos conjuntos do seu trabalho. Em 1970, a segunda geração dos herdeiros de Benoliel entregou ainda vários milhares de negativos ao jornal “O Século”. Extinto este poucos anos depois, transitaram os “clichés” para a Fototeca do Palácio Foz onde, graças ao desvelo do seu conservador – Avelino Soares –, puderam ser preservados e postos à disposição dos investigadores.



Além de vastíssima colaboração na segunda série da “Illustração Portugueza” (de 1906 até, pelo menos, 1918) e em várias outras publicações dela contemporâneas, o trabalho de Benoliel está divulgado, em estilo de “balanço”, no “Arquivo Gráfico” (colecção comemorativa, editada postumamente em 1935, da qual foram publicados apenas seis números). Rocha Martins traça-lhe, aí, breve biografia, deixando para a posteridade algumas histórias com o fotógrafo como protagonista. Uma delas passa-se no dia da procissão da Senhora da Saúde. O infante D. Afonso (irmão do rei D. Carlos) desfilava habitualmente, como artilheiro do reino. Estrategicamente colocado nas ruas da Mouraria, Benoliel espera pelo momento que dará a capa da próxima “Illustração Portugueza”. Ao avistar D. Afonso, brada, gesticulando: “Parem lá!” E a multidão pára, como se tivesse ouvido a voz de Deus, parando com ela, inteira, a procissão no meio da rua. O fotógrafo bate então o seu “cliché”, gritando após ele nova ordem: “Pode seguir!” Quase se pode dizer que, adivinhando por escassos segundos a importância futura da obra de Benoliel, foi a própria História quem ali parou, para estar à altura duma fotografia.

Marina Tavares Dias











Fotografias:
As varinas de Lisboa, fotografadas dezenas de vezes por Benoliel 
(negativos pertencentes ao Arquivo Municipal de Lisboa)



sexta-feira, 21 de março de 2014

VENDEDORES E PREGÕES




No início do século XX, os vendedores ambulantes pululam nas ruas da capital, pregoando quase tudo o que é necessário ao quotidiano doméstico: água, leite, peixe, fruta, vegetais, enchidos, azeite, petróleo, carvão, camisas, sapatos, facas, vasos, cadeiras ou “abat-jours”. 

As favas vendem-se já cozinhadas em caldo (“fava-rica”), o amolador também conserta chapéus-de-chuva, os garotos mercam palitos e meninas fazem flores para os chapéus. Alguns ficarão célebres, como o gorjeio dos rapazes dos jornais: “Século-Nooootícias!”. 

Ou o grito mais repetido pelas ruas, o das varinas: «Viva da Costa!» Apesar do folclore alusivo e dos poemas que as louvaminham, as peixeiras da capital vivem realidade muito menos poética, passando a madrugada no cais a descarregar carvão e depois o dia a pregoar pelas ruas todo o peixe que se come às mesas de Lisboa. À noite, de regresso a casa, embalam os filhos nas mesmas canastas, sempre com o cheiro intenso do peixe.

MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA

quarta-feira, 27 de março de 2013

AS VARINAS DE LISBOA





 

 

 

 

 
«A indumentária pode variar, de ilustrador para ilustrador, ou em diferentes edições de postal ilustrado. Mas a varina lisboeta enverga invariavelmente um corpete de flanela, uma cinta de lã a altear a saia axadrezada, um avental, um lenço de ramagens cruzado sobre as espáduas e um chapéu redondo de feltro, achatado, com as abas reviradas. A rodilha ou "sogra", sobre a qual assenta a canastra forrada de oleado, e a "patrona", bolsinha lateral para o dinheiro, completam o quadro. Temos, então, a varina, tal como a vemos nas estampas. » 
 
 
 
- MARINA TAVARES DIAS
 em LISBOA DESAPARECIDA,
volume III, capítulo «Vendedores e Pregões».
 
Postais ilustrados do início do século XX. Arquivo MTD.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Varininha


Varininha, por Stuart Carvalhaes. Com pregão anexo.

Em Lisboa Misteriosa,
de Marina Tavares Dias,
capítulo «As Varinas Eram Fenícias?»

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Varinas


Em dias de festa, na Madragoa, comparavam-se arrecadas de ouro, trancelins e enormes corações de filigrana.

No último quartel do século XIX, as varinas estiveram em moda entre a nobreza.

A rainha D. Maria Pia foi fotografada no seu costume de ovarina para um baile de máscaras, gostando tanto da fotografia que quis, depois, retrato a óleo sobre o mesmo tema.