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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O voo da codorniz (XL)

Isabel Silvestre - Ao Sul
Found at bee mp3 search engine

Isabel Silvestre, Ao Sul



Algarve, Portugal

São Rafael


Rocha Baixinha

Calheta, Luz

Mercado de Olhão


Ilha da Culatra

Faltam nas fotos a sopa de coentros com amêijoa, os mergulhos, as sardinhas de escabeche, os velhos amigos, os gelados, as gargalhadas, as conquilhas, os beijinhos, as morcelas, a música francesa, os queijos, as barrigas, o vinho verde e o tinto, os suspiros, as bruschettas, os protestos, os doces regionais, os mapas, a pasta de chouriço, o cansaço, os pâtés, o descanso.

Lá longe
Inventei o dia azul
E o desejo de partir
Pelo prazer de chegar
Ao sul

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O voo da codorniz (XXXIX)

Paseo del Arte, Madrid, Espanha


Com uma vénia aos dois génios abaixo, que foram o pretexto de mais uma peregrinação. E outra vénia aos mais de 50 que hoje ficaram feridos num atentado da criminosa, estúpida e assassina ETA. ¡No pasarán!


Joaquín Sorolla, Idilio en el mar


Henri Matisse, Intérieur au violon

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O voo da codorniz (XXXVIII)

Prainha, Baleal, Portugal



Como sempre,
lugar de (re)encontros


segunda-feira, 11 de maio de 2009

O voo da codorniz (XXXVII)

Serpa


São Gens


Pulo do Lobo


Aldeia da Luz


Monsaraz


Alentejo, Portugal


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O voo da codorniz (XXXVI)

Suomenlinna/Sveaborg, Finlândia

O frio e a chuva sugerem um saltinho a este complexo de seis ilhas (Kustaanmiekka, Susisaari, Iso-Mustasaari, Pikku-Mustasaari, Länsi-Mustasaari e Långören) ao largo de Helsínquia, a que os finlandeses chamam Suomenlinna (fortaleza finlandesa) e os suecos Sveaborg (fortaleza sueca).

Por lá andámos há quatro anos - já?! -, de visita à minha irmã Filipa. Foram dias de cachecol e luvas, dias de passeio com neve quase pelos joelhos e um frio delicioso. O barco que nos levou teve de quebrar o mar gelado, as fotografias saíam cheias de névoa e a temperatura corporal restabelecia-se com bifes de rena e sidra de pera.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O voo da codorniz (XXXVc)

Eixo Rua da Lapa-Rua Raul Brandão
Baleal, Portugal

(continuação disto, que era sequela daquilo e que fica por aqui)

Os réveillons do Baleal evoluem com o tempo. Recordo o de 2000-2001, em que houve festa no Clube (e banho para mim, claro, às cinco da matina), depois de opíparo jantar numa tasca ferreleja. Antes desta ainda demos um salto a um velório em Lisboa, para nos despedirmos de um grande amigo, Avô de uma prima que tinha vindo passar o Ano Novo connosco e acabou por dizer adeus à festa mais cedo...

Estive, depois, vários anos sem dobrar a meia-noite na ilha. Celebrava-a entre nuestros hermanos, quando por cá ainda eram onze. Só regressei ao Baleal, feliz, para entrar em 2008).

A festa começou na "casa biológica" e cedo se alargou à "casa por afinidade". Ao jantar na Travessa Hyde Catanho de Menezes, com amigos, seguiu-se a folia na Travessa Major Baltazar, com muitas outras famílias à mistura. Dançava-se na exígua sala do Duarte. Cada um que chegava trazia mais uma garrafa de espumante. E a cereja no topo do bolo foi a visita à Guida Formosinho, que reunira todo o clã para comer as passas. Bonito de se ver!

Foi tão bom que, este ano, repetimos quase o mesmo modelo. Instalados noutro poiso, não menos familiar, e juntando ainda mais família do que da vez anterior, gozámos de vários dias de ar, terra, água e fogo balealenses, com outros périplos pelo Oeste - Toxofal de Baixo, Atouguia da Baleia, Óbidos...

A passagem de ano propriamente dita compôs-se de jantar courtesy of João Maria & Cláudia, meia-noite na Ginha, berraria frente à praia, com forte representação dos primos Baltazares, e música numa tenda que alguns comerciantes locais montaram no parque de estacionamento por trás do Clube, y compris quiosques de cerveja, DJ e conjunto piroso/rockalhada. De avós a bebés de meses, foi com alegria e sem pensar em crises que demos as boas-vindas a 2009.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O voo da codorniz (XXXVb)

Pedras Muitas, Baleal, Portugal


(continuação disto)
Um dos encantos de entrar no Ano Novo em solo balealense é a pausa que a ilha oferece entre o ciclo que acaba e o que vai começar. Os dias antes e depois da Grande Noite são de partilha, descanso, risos e, em o tempo permitindo, passeios. Às Pedras Muitas, Almagreira ou mais longe, ao Forte, a Óbidos, ao lado de Peniche, ao Toxofal, à volta da ilha, ao café, a casa dos primos, onde quisermos.

Tabuleiros de Monopólio ou Pictionary, mesas com shisha ao meio (ou narguilé, nome que prefiro), baralhos de cartas, livros, leitores de DVD, chávenas de chá ou cálices de ginjinha, mantas quentes, máquinas fotográficas, cadernos para escrever e leitores de MP3, guitarras e livros com letras de canções estão entre os acessórios mais cobiçados. Todos gostavam de ter o que não trouxeram, mas as redes de toma-lá-dá-cá ou dá-cá-que-o-dono-não-está funcionam bem.

Foi quando nos preparávamos para ir buscar entreténs deste género, há dez anos, que o Gonçalo Formosinho nos gritou, do quarto dos rapazes, onde tinha ido buscar o casaco, pois caía uma chuvinha molha-tolos: "Epá, venham cá, preciso de ajuda!". O segundo e meio de que dispusemos para imaginar que raio de carga nos ia pedir para levarmos não durou mais do que isso... corremos para o pátio e descobrimos o motivo da aflição: o quarto dos rapazes estava a arder!

A culpada? A proverbial humidade da ilha, que obrigara a acender um velho aquecedor a gás para secar os colchões. Houve o cuidado de colocar aquele longe destes, mas uma labareda mais atrevida fugiu da resistência e atirou-se aos colchões e aos cortinados. Acto contínuo, uns telefonaram para os bombeiros, outros ligaram a mangueira, conseguiu-se arrastar o aparelho para fora do quarto e a chuvinha molha-tolos ajudou a arrefecer os ânimos (mas não impediu a querida Lija Baltazar, de quem guardo tão boas recordações, de ir para a sua varanda, do outro lado da travessa, de guarda-chuva em punho, para ver o que se passava).

Balanço final: uma cama queimada, armários enegrecidos, cortinas para o galheiro. O impulso de ir não-sei-onde buscar não-sei-quê surgira no momento certo, impedindo estragos maiores. E os reflexos do Gonçalo evitaram o prejuízo mais temmido: a guitarra eléctrica recém-trazida pelo Pai Natal. Foi por um triz, disseram os bombeiros, que a botija de gás não rebentou. O dia seguinte foi passado a pôr tudo em ordem e a verdade é que ninguém que entrasse no quarto após a nossa labuta diria que lá houvera um fogo. Ficou tudo impecável e nem sei se o Avô Nico chegou a saber do incidente. Mas deviam ter visto as nossas caras de pânico quando na manhã seguinte (a de um dia passado a limpar, a pintar, a arrumar) apareceu, sem aviso prévio, a Bli, tia de vários intervenientes. Perante a atrapalhação de quem lhe abriu a porta, e antes de saber do sucedido, só dizia: "Eu estou só de passagem, nem entro. Os meninos estão cá à vontade, não quero saber nada do que andam a fazer...".

Ainda hoje nos rimos ao recordar este episódio rocambolesco. O quarto dos rapazes já não está lá, a casa velha dos Formosinhos também não, mas há nisto tudo coisas que não morrem...
(a saga das passagens de ano no Baleal termina amanhã)

domingo, 4 de janeiro de 2009

O voo da codorniz (XXXVa)

Eixo Formosinho Sanchez-Baltazar-Catanho de Menezes
Baleal, Portugal


A codorniz voa pela ilha onde tem andado pousada e dá voltas à memória para responder à pergunta do Miguel: como é o réveillon no Baleal? Alonga-se a codorniz, como de costume, e há que dividir a resposta em várias partes. Três devem chegar; eis a primeira.

Para este teu amigo, meu caro, a passagem de ano na ilha já assumiu vários formatos. Quando era adolescente, reuníamo-nos na casa velha dos Formosinhos (hoje cratera arrepiante onde florescem toscos de nova casa). Vinham a maioria dos 11 primos dessa família (Bernardo, Guilherme, Marta, Gonçalo, Pedro, Henrique, Carmo, Maria), o Vinícius e as primas Joana e Diana (Baltazar-Holbeche Beirão), a Nica e o Pedro Teixeira Duarte, um ou outro Formosinho "lá de trás", a minha irmã e eu. Alguns trazíamos namorad@s (alguns, hoje, mulheres e maridos, babados pais e mães) ou amig@s (Mariana Furtado, Pitu, JP, Maria João, Maria Ana, Margarida, Pedro Castanheira, to name but a few...). Éramos umas dezenas, em suma. Nem todos dormíamos naquela saudosa casa, mas era ali o centro dos festejos. Reproduzia-se o ambiente de Agosto, quando o querido Nico Formosinho abria a porta a três gerações de várias famílias, que vinham ver o Herman José, nos tempos em que ele tinha graça. Do sofá ao pátio, com as janelas abertas, tudo era casa.

A ementa do jantar de 31 de Dezembro era Tunatta Balealense, único prato que conheço nado e criado na ilha, à base de esparguete e atum (fica para outro dia a história desta iguaria e para outro, ainda, a narração de um incêndio à chuva). Cozinhávamos o Vini e eu, que éramos dos primeiros a chegar à ilha, lá para 27 ou 28 de Dezembro. Era das poucas vezes no ano em que ir ao supermercado me divertia... e lá se conseguia um repasto que saía a 200 paus a cada comensal. Os extras iam sendo trazidos por todos; havia bebida a rodos, acepipes vários, guitarras eléctricas e jogos de sociedade.

A contagem decrescente para a meia-noite gerava discussão entre aquele cujo relógio já dizia 00:01 e o outro, que ainda ia nas 23h58. O desempate acabava ditado pela televisão e alguém pegava num pequeno gongo que por lá havia para assinalar o dobrar do Cabo das Tormentas, enquanto outro alguém fazia saltar a rolha do champanhe. Vínhamos para a rua, abraçávamos quem saía de outras casas, víamos gente que não sabíamos que estava no Baleal, tirávamos fotografias, bebíamos, comíamos e comíamos e bebíamos. Soou mal? Sabia bem...

Era no meio desta loucura toda que o PTD e eu íamos ao banho. Suscitávamos gargalhadas a uns, exclamações de "loucos!" a outros, palavras solidárias a mais alguns. O mergulho era e continua a ser um rito, sendo que àquela hora não tinha, sequer, o carácter purificador de hoje, quando dado de manhã. Se intoxicados entrávamos na água (e como, de comida e bebida, em doses suficientes para tornar desaconselhável a empreitada!), intoxicados saíamos e, pior, dispostos a prosseguir a intoxicação após um duche quente, como aliás os que ficavam na areia ou no muro a ver. Não me lembro de acidente mais grave do que a ressaca ou beijinhos a putativas (ou não) caras-metades.

A festa terminava umas horitas mais tarde, decapitada pelo grito de alerta d@s desgraçad@s que tinham de estar em Lisboa à hora do almoço (nunca fiz parte desse grupo, graças a Deus!). Se o sol ou a luz dele apareciam por trás da Almagreira, era preciso começar a limpar. Sim, que aquela casa e as demais ficavam impecáveis, como as tínhamos encontrado. Depois, os mais sortudos prolongavam o idílio por uns dias, a um ritmo mais pausado, mas nem sempre menos disparatado...
(continua)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O voo da codorniz (XXXIV)

Planalto das Cesaredas, Lourinhã, Portugal

Terra de passeios por entre pedras, de pão por entre pedras, de cavalos por entre pedras, de febras, de castanhas, de água-pé por entre pedras. Caminhantes às dezenas, por entre pedras, como numa procissão a santo nenhum, sem mais deus do que o prazer de andar, olhar, sentir.

Céu azul de encomenda, o Verão de São Martinho a proporcionar o constraste perfeito com o verde-escuro dominante e o cinzento - perdão, os cinzentos, pois que a gama é vasta - da pedra que aflora por toda a parte. Surge a meio de uma verda, encostada a uma casa ou no meio de um pátio onde os miúdos brincam e alguém teve a boa ideia de instalar luzes. Havemos de cá voltar.

Há quem diga que o caminho se faz caminhando e este abre-se-nos a cada passo, com vontade. Inflecte, às vezes, por um desvio improvável, uma descida até a um ribeiro com ancestrais estruturas hidráulicas, uma subida que nos deixa aos pés de um moinho eólico. No fim, o consolo do repasto, do convívio e uma sensação efémera, mas gloriosa: quem chegou até aqui pode chegar onde quiser.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O voo da codorniz (XXXIII)

Sarrià, Barcelona, Catalunha, Espanha

Um gesto amigo lembra-me outro amigo. Saudades de um acentuam as saudades do outro. A viagem daquele à cidade deste, a que também chamo minha, dá-me vontade de lá voltar. E de aterrar como da última vez, depois de sobrevoar toda a linha costeira, do Llobregat ao Besòs, dos contentores da Zona Franca aos toldos das varandas da Barceloneta, aqui o mar, ali a cidade, lá atrás o Tibidabo, deste lado Montjuïc. Una abraçada, Miquel i Oriol!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O voo invejoso da codorniz (XXXII)

Avenue des Champs-Élysées, Paris, França

Que os quatro que por lá andam respirem bem a cidade. Que este que cá ficou a roer-se possa fazê-lo um destes dias. E que não tarde a encomenda, que só podia vir dali.

Joe Dassin, Aux Champs-Élysées
NOTA: Mais Paris no codornizes aqui, ali e acoli.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O voo da codorniz (XXXI)

Paço d'Arcos, Portugal

É das baías mais queridas que conheço. Os barquinhos de pesca, o pequeno areal, as árvores, Lisboa ao fundo. O repuxo dispensava-se, mas também não chateia. Amigo da Marginal, passo por aqui vezes sem conta. Gosto mais ao fim da tarde.

À vila propriamente dita ia em miúdo, a casa de uma tia, numa rua que depois mudou de nome. Ainda me lembro do número de telefone. Um dia, da varanda, vimos um veleiro que encalhara no Bugio. Outro dia, provei raclettes. E comi Nucrema.

Estive muito tempo sem pôr os pés nesta terra. Passava de carro e, não fora o paço dos arcos - amarelo e velhinho, quem cuida dele? -, nem me lembraria do seu nome. A baía era bonita e bastava. Até que a vida profissional me trouxe de volta, há três anos e meio. Não trabalho ao pé do mar, mas vejo-o da janela, por trás dos prédios feios que algum autarca-modelo deixou construir. Os prédios onde ficam uma farmácia, um multibanco, um supermercado e até uma repartição de finanças a que já me habituei. A estrada que percorro, quase todos os dias, vindo da estação de comboio, onde um letreiro impediria - caso fosse preciso - que me esquecesse do nome deste lugar.

Paço d'Arcos faz, de novo, parte da minha vida. As vivendas, o café dos Queques da Linha, a Escola Primária que o Governo quer fechar, o cão que às vezes me faz saltar, o comboio-fantasma do Isaltino, caríssimo e sempre vazio, o mercado e a estação de correios são elementos da paisagem do meu quotidiano. Desde que aqui estou, até o quartel dos bombeiros já mudou de sítio. Como não desenvolver sentimentos de pertença?

Ontem estive, pela terceira vez, nas Festas do Senhor Jesus dos Navegantes, em Paço d'Arcos. O jardim que se vê na imagem fica pejado de barracas de feirantes, quiosques de caipirinhas (e caipiroskas, ou até caipivinhos!), cachorros e farturas. Com música surpreendentemente boa em pano de fundo, passase um bom fim de tarde no final do Verão. Não andei no carrossel, mas comprei dois belos livros, comi uma bifana deliciosa, passeei, namorei a baía e não só e fui feliz. E lá somei esta à longa lista das terras a que chamo minhas...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O voo da codorniz (XXX)

Vulcão dos Capelinhos, Faial, Açores, Portugal

Um lugar de silêncio. Desculpem, pensei que já se tinha ido embora, mas não.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O voo da codorniz (XXIX)

Lake Disappointment, Austrália

É um lago salgado que nem sempre existe. Quando existe, fica numa zona perdida da Austrália Ocidental. Foi baptizado por Frank Hann, que o descobriu em 1897. Chegou lá guiado por pequenos regatos e na esperança de encontrar um enorme lago de água fresca. Vivem lá muitas espécies de aves aquáticas. Nunca lá fui. Ou já?

Nota: Imagem captada pelo satélite Terra, da NASA

terça-feira, 8 de julho de 2008

O voo da codorniz (XXVIII)

Jardin du Vert Galant, Île de la Cité, Paris, França

Fica na pontinha da ilha onde nasceu a Cidade-Luz, com o Pont Neuf - o mais velho de todos - a delinear-lhe a estrema. É pequeno, mormente à escala de Paris, mas veremos que é grande. A pequenez deste quarto de hectare resulta da concatenação de pequenezes ainda mais pequenas, ilhotas que houve no Sena em tempos idos. Numa delas, foram queimados os últimos templários.

O verde galante que dá o nome a este recanto é Henrique III de Navarra, que foi IV de França no limiar dos séculos XVI e XVII. Casou sem amor com Margarida de Valois (filha da megera Catarina de Médicis, vejam o filme com a Isabelle Adjani) e teve incontáveis amantes. Ela não se ralou, preferia o provençal Joseph Boniface de La Môle, cuja cabeça terá embalsamado quando Carlos IX o mandou esquartejar. Não divaguemos, porém: verde e galante era Henri, imortalizado em estátua no jardim que aqui nos traz. Verde e galante é este square, ainda poiso dilecto de galantes enamorados, não importa se verdes, se maduros. Quem me dera lá neste fim de tarde...

Tinha 10 anos quando visitei Paris pela primeira vez, com o meu Pai, a minha irmã Filipa e a Avó Gina. Apaixonada pelo Vert Galant, foi ela que me contou a história deste jardim, uma de muitas. E que guiou os meus primeiros passos pela cité, do alto da Torre Eiffel (que detestava) aos estaminés dos pintores da Place du Têrtre, do impressionista Quai d'Orsay à impressionante Sainte-Chappelle, y compris Louvre, grands boulevards, Quartier Latin, bouquinistes e esse bolo de noiva a que chamam Sacré-Cœur.

Há que explicar que o meu Pai ia em trabalho e só se nos juntava ao fim da tarde. Durante o dia, a Avó metia-se connosco no métro e lá íamos calcorrear Lutécia. Nós delirámos e ela também. Já voltei à cidade muitas vezes e em nenhuma deixei de sentir saudades dela e daquela estreia prodigiosa. Sempre bem disposta, aguentou uma suspeita de bomba no avião à ida (palavra!) e, com ainda maior estoicidade, ensinou Paris a dois netos frenéticos (os 11.º e 14.º dos 21 que tem, sendo que os bisnetos serão 26 antes do fim do ano). Se fosse viva, a minha Avó faria hoje 90 anos. Este apontamento sobre o seu querido Vert Galant é o beijinho de parabéns que gostava de poder dar-lhe.

NOTA: As fotos são, por ordem, de Robert Doisneau, Eugène Atget e Marcel Bovis

terça-feira, 24 de junho de 2008

O voo da codorniz (XXVII)

Vale de Chelas, freguesia de Marvila, Lisboa, Portugal

Muita gente não dá nada por esta zona da cidade. Mas eu gosto de Marvila e das coisas bonitas que por lá há para quem quiser vê-la com olhos de ver. Quero centrar-me em duas palmeiras magricelas que há ali entre Chelas e as Olaias. Vêem-se melhor na imagem abaixo, do LiveSearch da Microsoft, do que na do Google Earth. Estas árvores estão num texto que escrevi, em 2001, para um projecto chamado Lisboa, capital do nada. Foi publicado num livro que recolheu tudo quanto se produziu para esta iniciativa da Associação Extra-Muros. E republica-se, hoje, aqui.


Nada… estranha palavra. Nada, na voz dela. Mais limpa e num timbre algo diferente do habitual, pareceu-lhe. Nada ou talvez o sol a pôr-se entre duas palmeiras exíguas e restos de luz coalhada a tornar especial um terreno indigno de se reparar nele. Eu próprio – corrigiu – indigno de que se repare em mim. Pelo menos ela. Quanto tempo tardará o dia em que nem tocado pelo pôr-do-sol me vejas? Quantos pôres-do-sol para que volte a ser nada?

Esta paisagem... nenhures. É o nome que o nada toma quando é lugar, assim como é ninguém se se faz pessoa e nunca se se torna momento. Nunca tinha reparado nos matizes destes prédios feios. Como se para tal tivesse de me sujeitar a não ser. Claro que não embarcaria de ânimo leve em tamanha cedência – ah, o orgulho! –, mas a verdade é que fiquei ninguém quando desapareceste atrás do poste de iluminação com as tuas palavras, as tuas pestanas, as tuas lágrimas off-the-record. Afinal, tornaste-me capaz de habitar este nenhures, andando ao deus-dará, fazendo deste nunca o meu agora.

Estranha palavra – repetiu de si para si –, estranho processo de aplicá-la às coisas. Estranho ainda dizer “isto não é nada”, nomear o objecto e negar-lhe o ser logo a seguir. As palmeiras, por exemplo. Nunca tinham sido nada, mas agora dava pelo ombro encostado à da esquerda enquanto olhava para cima e pensava que deviam estar ali há muito tempo. Viram todos os nossos pôres-do-sol, concluiu, mas nessa altura nem o pôr-do-sol era mais do que um pretexto ou pano de fundo.

Será que as coisas existem em estado puro? Ou não existe nada? A força deste pronome-indefinido-advérbio-nome-comum que o diga. O nosso homem olhou a superfície metalizada do rio, ao fundo, enquanto recordava o diálogo tido há pouco com a amada perdida (ou ele para ela):

- E agora?

- Agora?!

- Sim, nós, isto... o que é isto?

- Isto não é nada!

- Nada?

- Nada, nada... que não te afogas.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXVI)

El Puerto de Santa María, Andaluzia, Espanha

Procura-se um sabor de há cinco anos. Imperativo reconhecer aquela esquina, aquela porta, aquela mesa, a travessa onde molho o pão sem que me ralhem. Ansiedade em cada fachada amarelada, em cada pátio aflorado, em cada palmeira a ritmar a avenida, em cada ladrilho a nomear as ruas. Como se houvesse painéis a indicar quantos quilómetros quedam para não-sei-onde, mas sem desvendar as terras a que a estrada conduz. Gargalhadas regateadas. Já lhes perdi a conta e são tantas e faltam tantas...

Ouço "é aqui". Não longe, a deusa Gades, de mão na fronte e seios descobertos, não deixa de olhar em redor. Tão-pouco eu, interrompendo a volta de 360 graus só pelo que ouvi e vi que era certo. Venham do oceano os que o sulcam e da terra as que crescem por ela dentro, abrindo olhinhos com bravura. Venha quem encontrou o que procuro, quem através de outro mar aceita frutos com um sabor de há cinco anos, um sabor para daqui a cinco mil. Venha quem quer que eu tenha sido, ontem, em El Puerto de Santa María. A passar as mãos por raras cãs ou franjas mais ou menos assim. Como se da mistura de umas e outras fosse feita a melena do poeta daqui ou tais filamentos servissem para fabricar as asas de quem ele queria.

Rafael Albertí, El ángel bueno

Vino el que yo quería
el que yo llamaba.
No aquel que barre cielos sin defensas.
luceros sin cabañas,
lunas sin patria,
nieves.
Nieves de esas caídas de una mano,
un nombre,
un sueño,
una frente.
No aquel que a sus cabellos
ató la muerte.
El que yo quería.
Sin arañar los aires,
sin herir hojas ni mover cristales.
Aquel que a sus cabellos
ató el silencio.
Para sin lastimarme,
cavar una ribera de luz dulce en mi pecho
y hacerme el alma navegable.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXV)

Praia de Vale de Frades, Lourinhã, Portugal

Areia grossa depois do lamaçal consola as plantas dos pés. Há-de colar-se às costas, não me ralo. Dispenso no passeio de rocha a rocha o jornal ou livro do costume. Não dirijo rancores à nuvem que - linda, negra, enorme - me chove em cima três pingos antes de seguir viagem. Podia ser pior, um tornadozito sobre o mar ou coisa que o valha. Mas há-de chover mais: vê que a Berlenga está nítida e os Farilhões à mão de semear. Só não entro no mar porque sabe bem esta pedra quente. Esta perda quente. Esta perna quente.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXIV)

Chelsea, Londres, Inglaterra

Contei hoje a um amigo uma história que passa por este bairro londrino, muito posh e vitoriano. Gosto de andar a pé pelas ruas de Chelsea, sob chuva miudinha, a ver qual dos telhados em bico chega primeiro ao céu. São fileiras de casas de tijolo vermelho, esbeltas e alinhadinhas, alternando com travessas que parecem as vilas que ainda restam em Lisboa. De Knightsbridge até ao Tamisa - onde um dia deixei cair um boné -, hei-de repetir a passeata um destes dias. Até lá, consolo-me com palavras do poeta-poetinha.


A última elegia (V), de Vinícius de Moraes
(Londres, 1939)









Greenish, newish roofs of Chelsea
Onde, merencórios, toutinegram rouxinóis
Forlornando baladas para nunca mais!
Ó imortal landscape

no anticlímax da aurora!
ô joy for ever!

Na hora da nossa morte et nunc et semper
Na minha vida em lágrimas!


uer ar iú

Ó fenesuites, calmo atlas do fog
Impassévido devorador das esterlúridas?
Darling, darkling I listen...

"... it is, my soul, it is

Her gracious self..."

murmura adormecida

É meu nome!...

sou eu, sou eu, Nabucodonosor!

Motionless I climb

the wa
t
e
r
Am I p a Spider?
Am I p a Mirror?
e
Am I s an X Ray?


No, I'm the Three Musketeers

rolled in a Romeo.
Vírus

Da alta e irreal paixão subindo as veias
Com que chegar ao coração da amiga.

Alas, celua

Me iluminou, celua me iludiu cantando
The songs of Los; e agora

meus passos
são gatos

Comendo o tempo em tuas cornijas
Em lúridas, muito lúridas
Aventuras do amor mediúnico e miaugente...
So I came

- from the dark bull-like tower
fantomática

Que à noite bimbalha bimbalalões de badaladas
Nos bem-bons da morte e ruge menstruosamente sádica
A sua sede de amor; so I came
De Menaipa para Forox, do rio ao mar - e onde
Um dia assassinei um cadáver aceso
Velado pelas seis bocas, pelos doze olhos, pelos centevinte dedos espalmados
Dos primeiros padres do mundo; so I came
For everlong that everlast - e deixa-me cantá-lo
A voz morna da retardosa rosa
Mornful and Beátrix
Obstétrix
Poésia.

Dost thou remember, dark love
Made in London, celua, celua nostra
Mais linda que mare nostrum?

quando early morn'

Eu vinha impressentido, like the shadow of a cloud
Crepitante ainda nos aromas emolientes de Christ Church meadows
Frio como uma coluna dos cloisters de Magdalen
Queimar-me à luz translúcida de Chelsea?
Fear love...

ô brisa do Tâmisa, ô ponte de Waterloo, ô

Roofs of Chelsea, ô proctors, ô preposterous
Symbols of my eagerness!

- terror no espaço!

- silêncio nos graveyards!

- fome dos braços teus!

Só Deus me escuta andar...

- ando sobre o coração de Deus

Em meio à flora gótica... step, step along
Along the High... "I don't fear anything
But the ghost of Oscar Wilde..." …ô darlingest
I feared... A ESTAÇÃO DE TRENS... I had to post-pone
All my souvenirs! there was always a bowler-hat
Or a POLICEMAN around, a streched one, a mighty
Goya, looking sort of put upon, cuja passada de cautchu
Era para mim como o bater do coração do silêncio (I used
To eat all the chocolates from the one-penny-machine
Just to look natural; it seemed to me que não era eu
Any more, era Jack the Ripper being hunted) e suddenly
Tudo ficava restful and worm... - o sííííííííí
Lvo da Locomotiva - leitmotiv - locomovendo-se
Through the Ballad of READING Gaol até a vísão de
PADDINGTON (quem foste tu tão grande
Para alevantares aos amanhecentes céus de amor
Os nervos de aço de Vercingetórix?). Eu olharia risonho
A Rosa-dos-Ventos. S. W. Loeste! no dédalo
Se acalentaria uma loenda de amigo: "I wish, I wish
I were asleep". Quoth I: - Ô squire
Please, à Estrada do Rei, na Casa do Pequeno Cisne
Room twenty four! ô squire, quick, before
My heart turns to whatever whatsoever sore!
Há um grande aluamento de microerosíferos
Em mim! ô squire, art thou in love? dost thou
Believe in pregnancy, kindly tell me? ô
Squire, quick, before alva turns to electra
For ever, ever more! give thy horses
Gasoline galore, but do take me to my maid
Minha garota - Lenore!
Quoth the driver: - Right you are, sir.

*

O roofs of Chelsea!
Encantados roofs, multicolores, briques, bridges, brumas
Da aurora em Chelsea! ô melancholy!
"I wish, I wish I were asleep..." but the morning
Rises, o perfume da madrugada em Londres
Makes me fluid... darling, darling, acorda, escuta
Amanheceu, não durmas... o bálsamo do sono
Fechou-te as pálpebras de azul... Victoria & Albert resplende
Para o teu despertar; ô darling, vem amar
À luz de Chelsea! não ouves o rouxinol cantar em Central Park?
Não ouves resvalar no rio, sob os chorões, o leve batel
Que Bilac deitou à correnteza para eu te passear? não sentes
O vento brando e macio nos mahoganies? the leaves of brown
Came thumbling down, remember?
"Escrevi dez canções...

... escrevi um soneto...

... escrevi uma elegia..."

Ô darlíng, acorda, give me thy eyes of brown, vamos fugir
Para a Inglaterra?

"... escrevi um soneto...

... escrevi uma carta..."

Ô darling, vamos fugir para a Inglaterra?

..."que irão pensar

Os quatro cavaleiros do Apocalipse..."

"... escrevi uma ode..."

Ô darling!

Ô PAVEMENTS!

Ô roofs of Chelsea!

Encantados roofs, noble pavements, cheerful pubs, delicatessen
Crumpets, a glass of bitter, cap and gown... - don't cry, don't cry!
Nothing is lost, I'll come again, next week, I promise thee...
Be still, don't cry...

... don't cry

... don't cry

RESOUND

Ye pavements!

- até que a morte nos separe

ó brisas do Tâmisa, farfalhai!

Ó telhados de Chelsea,

amanhecei!

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXIII)

Praia da Falésia, Algarve, Portugal

Vuelvo al Sur esta noite. Que saudades! O segundo voo pelo Garbe leva a codorniz a paragens mais movimentadas do que a Costa Vicentina: pairamos sobre a Praia da Falésia, que é o chapéu comum sob o qual arrumamos os vários pedaços do areal que vai de Vilamoura ao Barranco das Belharucas (Olhos d'Água já fica para lá das rochas). Une-os a fímbria de rocha vermelha que a todos bordeja: Rocha Baixinha, Tomates, Pine Cliffs, etc.

São quase dez quilómetros de passeio. Sabe bem vencê-los a pé - munido de leitura farta e, não raro, deixando a meio do caminho algum inocente que se prestou a acompanhar-me -, mas o voo de hoje tem a particularidade de ter sido mesmo feito por via aérea, no ano passado, quando este vosso amigo se estreou nas sensações do parasailing. Que maravilha, as gaivotas a passarem-nos por baixo, em silêncio, e não ouvirmos mais do que o vento!

Gosto mais da Praia da Falésia pelo acessório do que pela sua essência, que não chego a captar, tal é a miscelânea que por lá se instala no Verão. Seduzem-me os poufs dos bares, o elevador do Pine Cliffs, as bolas de Berlim, o instalarmo-nos com a maior lata nas espreguiçadeiras reservadas a clientes de hotel, um ou outro desporto aquático, caipirinhas disto e daquilo e a já referida caminhada, que me permite ignorar tudo o resto.

Prefiro a Falésia ao fim da tarde, depois de ter passado o dia noutras paragens. Assisto à debandada, ponho em dia as conversas e o bronze, tiro fotografias parvas, dou um mergulho e preparo o regresso a Vilamoura, também a pé. Esperam-me amigos para jantar, um concerto algures ou copos e ilíacos a chocalhar...

É este um Algarve descoberto há poucos anos e em tudo diferente daquele que aprendi a amar desde pequeno e que continua a ser o favorito (e do qual falarei outro dia). Vilamoura, a Falésia e os arrabaldes são um Algarve sem memórias de infância, com um valor diferente, não direi que menos importante. Este Algarve teve de me seduzir. E eu tive de encontrar nele tudo o que, à partida, me parecia que nunca ia haver. Mas há. E vejo, felizmente, que não sou o único a pensar assim.


Pedro Abrunhosa, Algarve