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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Dia das bruxas

Cabeça de abóbora, quando éramos miúdos, era só uma metáfora pouco elogiosa, ainda que não desprovida de carinho. Nada tinha que ver com noites a bailar à volta de caldeirões (embora a cucurbitácea fosse assídua na sopa), gatos pretos a dar azar (isso era nos livros do Pato Donald) ou bruxas de chapéu bicudo (já então las había, claro). Foi quando a vida dos meus pais nos levou - a mim e à minha irmã Filipa - a passar uns meses em Oxford, tinha eu sete, oito anos, que conheci o Halloween.

Divertíamo-nos, claro. Feiticeiros, salamandras, fantasmas, esqueletos e dráculas criavam, na escola, um ambiente feérico e delirante, com canções e lenga-lengas próprias. Era um Carnaval de Outono, mas com seres vindos do lado obscuro do sonho. Ou, como percebi mais tarde, a versão pagã do querido Pão por Deus (desse falamos amanhã), dos Finados, do Todos os Santos. De volta a Lisboa, o Queen Elizabeth's School reforçou o gosto por esta festa diferente. Não sou de importações forçadas, mas aquele país também foi, brevemente, o meu. Ainda é um pouco.

Há na celebração do mal algo de fascinante, para uma criança e não só. Gosto da ideia de que o feio também possa ser festejado, e não apenas pela necessidade universal de catarse. Sem confundir o bem e o mal, os ritos pagãos aceitam que a linha divisória seja menos cristalina do que às vezes desejaríamos (seria desejável?). Ao dar a um miúdo o direito de fazer partidas a quem não lhe dá doces, o trick or treat soa-me ao reconhecimento de que ninguém é perfeito. Feliz Dia das Bruxas!