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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Que tudo esteja realmente no coração


Fáfá de Belém, Coração Aprendiz


O que se ensina a um coração aprendiz? Há quatro cavidades tão perfeitas que estremecemos perante o desafio de preenchê-las. A boca altera-se sem pensar, com os lábios a reproduzirem, no sentido ascendente, a curva do arco aórtico, que há-de conduzir ao resto do corpo o que escolhermos para recheio desse brinquedo de corda. Amor, talvez? Amor, decerto, e algo mais, a fazer tinir uma canção de embalar que dite o ritmo do seu batimento.

Imagem da Anatomia de Gray

António Gedeão, Poema do coração
Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".

Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz nos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Quando o coração bate mais forte


José González, Heartbeats


Música para ouvir e poesia para ler, ou vice-versa, num dia especial. Não por se tratar do Dia Mundial de Qualquer Coisa (hipótese não descartável, porque quase todos o são), mas porque hoje o coração bate com mais força, com maior intensidade, a um ritmo alucinante. Estonteante. Esgotante. Que ninguém apanha.


Pulsação da treva, de António Gedeão

Fundiu-se a roda do Sol
entre os cedros afilados.
Desfez-se em azuis rosados,
tinturas de tornesol.

Agora, solenemente,
como um corpo que se enterra,
ao som de um sino plangente
desce a noite sobre a terra.

Campânula asfixiante.
Circula um terror nas veias.
Zumbem estrelas em colmeias
num céu alheio e distante.

Numa dormência de cova,
suspensa em leite de Lua,
toda a vida se renova
e a guerra continua.

Nas marés do protoplasma
flui, reflui, perene e forte.
Espreita as pegadas da morte,
persegue-a como um fantasma.

Cega e surda, impenetrável,
lateja, na treva urdida,
essa coisa inevitável
que é a vida.


NOTA: Imagens retiradas da Anatomia de Gray (com a e não com e, que é como quem diz do lendário calhamaço e não da simpática série televisiva)