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quinta-feira, 21 de maio de 2009

...e não segura!

Radiografia de fractura em ramo-verde



Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura

Luís de Camões, Descalça vai para a fonte

'You may certainly ask to be forgiven', said Elinor,
'because you have offended'

Jane Austen, Sense and sensibility

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

António Gedeão, Poema da auto-estrada

Waits at the window,
wearing the face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?

Lennon/McCartney, Eleanor Rigby

Não na ver o Sol lhe val,
Por não ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vê tal;

Francisco Rodrigues Lobo, Cantiga Lionor

E nunca mais ninguém soube
A não ser a Leonor, da Alice
Aqui vai, Leonor
A foto dos meus dois filhos
Se reparares melhor
Têm pinta assim, sei lá
De matraquilhos

Sérgio Godinho, Alice no País dos Matraquilhos

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Que tudo esteja realmente no coração


Fáfá de Belém, Coração Aprendiz


O que se ensina a um coração aprendiz? Há quatro cavidades tão perfeitas que estremecemos perante o desafio de preenchê-las. A boca altera-se sem pensar, com os lábios a reproduzirem, no sentido ascendente, a curva do arco aórtico, que há-de conduzir ao resto do corpo o que escolhermos para recheio desse brinquedo de corda. Amor, talvez? Amor, decerto, e algo mais, a fazer tinir uma canção de embalar que dite o ritmo do seu batimento.

Imagem da Anatomia de Gray

António Gedeão, Poema do coração
Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".

Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz nos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Quando o coração bate mais forte


José González, Heartbeats


Música para ouvir e poesia para ler, ou vice-versa, num dia especial. Não por se tratar do Dia Mundial de Qualquer Coisa (hipótese não descartável, porque quase todos o são), mas porque hoje o coração bate com mais força, com maior intensidade, a um ritmo alucinante. Estonteante. Esgotante. Que ninguém apanha.


Pulsação da treva, de António Gedeão

Fundiu-se a roda do Sol
entre os cedros afilados.
Desfez-se em azuis rosados,
tinturas de tornesol.

Agora, solenemente,
como um corpo que se enterra,
ao som de um sino plangente
desce a noite sobre a terra.

Campânula asfixiante.
Circula um terror nas veias.
Zumbem estrelas em colmeias
num céu alheio e distante.

Numa dormência de cova,
suspensa em leite de Lua,
toda a vida se renova
e a guerra continua.

Nas marés do protoplasma
flui, reflui, perene e forte.
Espreita as pegadas da morte,
persegue-a como um fantasma.

Cega e surda, impenetrável,
lateja, na treva urdida,
essa coisa inevitável
que é a vida.


NOTA: Imagens retiradas da Anatomia de Gray (com a e não com e, que é como quem diz do lendário calhamaço e não da simpática série televisiva)