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terça-feira, 1 de abril de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XX)

Hydra, Grécia

Verão de 1995. Muito calor em Atenas. Templos, souvlaki, mussaka, bugigangas no Plaka e passeios em ronceironas. Éramos quatro: a minha irmã, eu e as anfitriãs Stella e Myrto, estas em constante algaraviada, como boas mãe e filha gregas. Fugidos da capital sufocante, aliviou-nos uma ilha esguia e árida, pouco menos do que Óbidos posta em cima do mar tépido, com montanha em vez de muralha e atravessada por brisas frescas ma non troppo.

Hydra não tem carros. Uma mula diminuta levou-nos as malas do delicioso porto até à morada do casal Panagyotou, tão hospitaleiro quanto mouco. Alugavam quartos sem licença. Se aparecesse fiscal, avisaram, éramos primos. E que déssemos cumprimentos a um amigo que tinham em Lisboa, de seu nome António. Se o mesmo for leitor do codornizes, ficam entregues, com 13 anos de atraso.

O resto foram passeios de barco, kalimeras e kalisperas a cada esquina, tentativas de decifrar os letreiros em grego, um escaldão na planta dos pés para um(a) dos veraneantes e pôres-do-sol no bar Hydronetta, antes ou depois de banhos de mar numa praia de seixos, ali mesmo ao lado, onde a Myrto invectivava os psaraiki (peixinhos) que nos vinham fazer companhia. Deixo-vos uma imagem da Wikipedia e um poema que a saudade inspirou.

(cliquem para aumentar, que vale a pena)

Requiem no Mar Egeu

Dizias-me (em Hydra) que o mar leva
os que quiser, bebendo
mazagrins
fermentados em copos muito altos
no nosso canto à entrada da baía

o pintor abraçava uma sereia
muito loira, vê na fotografia
que lhe invejei as pernas nas manhãs
em que as gaivotas eram só contraltos

agora não vejo o Peloponeso
sei de uma buganvília só na cal
da ilha, candeeiro de azeite aceso
sobre o mar que te quis para maré cheia

mas diz-me, a quem se paga o funeral?
às mulas velhas? às velhas?
whatever

Lisboa, 14 Novembro 2000